Fanfic: Peripécias Surreais | Tema: Seres fantásticos, mitos, loucura.
(D.E. sigla usada para citar os Destruidores de Esperanças. Nada se conhece sobre eles, além de seus atos de crueldade.
Conselho I: Humanos serão importantes apenas se considera-los importantes.)
Parte I. Destruidores de esperanças e a marcha sanguínea.
Não consigo lembrar o dia, ou ano, mas, tudo ocorreu durante a hora do almoço, por volta de meio dia e meio. Os destruidores de esperanças invadiram a cidade, durante um evento importantíssimo que ocorria no Centro. Muitas pessoas começaram a ser mortas por homens totalmente de sangue frio, sem coração para pulsar alguma humanidade, dentro daqueles corpos gélidos e revolucionários de uma forma escrota.
Estava eu com minha família; tia, mãe e padrasto. Corremos para todos os lados, não sabíamos o que fazer, era apenas uma mancha vermelho sangue por volta de tudo e de todos. Até que conseguimos entrar numa loja chamada “Ateliê da Matilde”, acho que era de bonecas, não sei direito, quando você sabe que alguém quer lhe machucar, e no meu caso, centenas de homens; você para de prestar atenção em mínimos detalhes como bonecas, e acaba sentindo apenas uma coisa. Medo de morrer.
O medo de morrer que toma conta de seu corpo é algo totalmente natural; e esse medo desperta também o seu instinto de sobrevivência. Sabe aquelas mães que criam forças sobrenaturais pra salvar seus filhos? Então, é mais ou menos por ai.
No ateliê, nos escondemos num local um pouco escuro, sem janelas, acho que era arejado apenas com ar condicionado, ou sei lá o que, mas que, respirar lá dentro era impossível sem alguma ajuda tecnológica, isso era.
Parecia o lugar perfeito pra se esconder até eles irem embora – algo que demoraria dias – já que havia comida e água, pelo menos pra dois dias. Não era muito, mas melhor que nada.
Minha mãe desesperada apenas dizia – “Temos que correr daqui, precisamos de um lugar mais seguro.”.
Mas não existia lugar mais seguro, eles tinham toda uma estratégia de invasão, planejada nos mínimos detalhes e executada com mais cuidado ainda.
Primeiro, eles determinavam como destruir as autoridades armadas. Depois, os serviços de comunicação. E assim, começava o ataque a todos aqueles que provêm da carne, e do sangue. E claro, do esperma. Humanos, enfim.
São incríveis suas habilidades, não tinha aonde se esconder. E era impossível saber se eles iam te matar, ou poupar sua vida. Lá estávamos sentados, esperando apenas os segundos passarem, quando de repente, aparece um deles, olha diretamente nos meus olhos, e aponta uma arma na cabeça de minha tia. Não tive tempo para ver nada, apenas sai correndo, e ele perseguindo-me com os olhos. Não ouvi nada. Na verdade, era tantos sons se misturando, gritos, tiros, barulho de sangue jorrando no chão, que era impossível se quer prestar atenção em algo. Tudo parecia um silencio perturbador.
Minha respiração era ofegante, sai do ateliê correndo, (Eu sei que você deve estar pensando... “Mas abandonar sua família assim?! Sem se quer tentar ajuda-los?”. Bom, os tempos são outros... Os Humanos perderam o instinto de amar e proteger. Pelo menos, alguns. E eu, fui o afortunado com essa insensibilidade.) e o caos se espalhava. Não existia local seguro, tudo era perigo. Até mesmo seus amigos ou parentes eram. Ninguém queria proteger uns aos outros. Bom, pelo menos eu não queria, pensava apenas em mim.
Estava uns três quarteirões do local onde minha família ficou, cheguei à esquina de uma rua movimentada, podia-se ver um prédio muito grande na outra esquina. Sua cor cinza e branca, e sua sensação gélida me lembravam de algum local aonde eu deveria estar.
Senti uma mão em meu braço. Uma senhora de uns 40 anos estava precisando de ajuda; e o pingo de humanidade que se encontrava no meu ser, falou mais alto; e tentei ajuda-la. Mas foi uma tentativa falha, quando percebi, uma faca havia rasgado sua barriga horizontalmente, e pude sentir seus órgãos caindo sobre meus pés. O destruidor de esperanças, moreno de olhos claros, limpou a faca na roupa, olhou pra mim como se eu não estivesse ali. E saiu correndo ao encontro de uma menina, de uns sete anos. Pobre coitada, já estava morta figurativamente – de medo – que nem se quer percebeu o corte na garganta.
Olhei para a velha caída no chão, vi que era uma professora, devido seu corte de cabelo padrão da escola particular perto de casa, aonde supostamente ela TRABALHAVA. E assim, um choque de lembranças ocorreu. A professora, o prédio de cores gélidas, era óbvio! O encontro dos estudantes da minha escola! Eu precisava chegar até lá; o pessoal era realmente inteligente, erámos os melhores da região, e sem dúvida poderíamos armar algum plano de sobrevivência. E sem dúvida, sobrevivermos até o fim daquela marcha da morte.
Por fim, sai desse transe de memórias, e voltei a correr em direção a casa aonde tínhamos alugado para tais reuniões de estudo, que hoje seria usada para estratégias de sobrevivências. Não vou entrar em detalhes sobre as mortes que vi pelo caminho, e todas as carnes podres que ali eram devoradas por animais de rua famintos. Para eles tudo aquilo era um grande banquete de algum Deus, ou demônio que eles cultivavam. Aliás, só os animais para acreditar nesses seres nos dias de hoje.
Depois de mais ou menos quarenta e sete minutos andando e correndo, cheguei ao bendito local. Os destruidores de esperanças ainda não tinham chegados ali. Por mais que eles tivessem estratégias incríveis de sobrevivência, e destruição. Nunca entendi as táticas de atacarem todos em apenas um local, e não se espalharem e atingirem uma cidade por um todo. Acho que, pouparia tanto o tempo deles. Mas, não sou um deles então, basta apenas aceitar o fato de que isso era sorte pra mim.
Eliena foi a primeira a me ver. Por mais que estava sem óculos – supostamente quebrados na noite passada em que seu pai deve ter ido lhe fazer alguma visita durante a madrugada – e sua miopia falasse mais alto, ela notou meus traços físicos que são inconfundíveis. Sou forte, alto, robusto e de carne quente e viva. Diferencio-me muito dos amigos gélidos, pálidos e raquíticos que ali se encontravam. Porém, era uma característica dos gênios da época, eu era um diferencial, modéstia parte.
Quando finalmente entrei, logo comecei a verificar o local. Era uma casa simples, de três quartos, um do lado do outro, um banheiro que se encontrava no outro lado do corredor, no meio dos três quartos. Uma cozinha pequena, que ficava do lado direito do banheiro, e a sala no lado esquerdo. E eu estava certo; o local era de tonalidades brancas e cinzas.
Lá estávamos em doze pessoas no total. Os nomes são insignificantes, apenas citei Eliena por que ela é a única de mérito. Pobre coitada, além de ser estuprada periodicamente, é quase cega; mas gosto dela por ser a única que compete comigo em termos de sabedoria, tenho tanto desprezo que ao mesmo tempo tenho fascínio.
Logo começamos a nos planejar, sentamos todos na sala, fechamos bem a casa, e apenas usávamos a linguagem dos sinais, para não fazer barulho algum. Posicionamo-nos em ângulos que supostamente eram favoráveis a nós já que, do lado de fora seria impossível ver qualquer presença humana na casa.
E de fato, foram inúteis, eles estavam passando de casa em casa. E por algum motivo, escolheram bem a qual estávamos para revistar primeiro. E foi nesse momento que a coisa começou a ficar interessante; pra vocês, leitores, é claro, porque pra mim foi tudo uma grande merda. Apenas senti medo e creio que minha inteligência virou merda, de tanta dor na barriga que eu sentia. E é obvio que eu não conseguia pensar em nada.
Uso de minhas palavras para descrever meus amigos naquele momento também. Aparentávamos um bando de taquaricomentais – é a denominação de pessoas que usam tanta droga que perdem o controle da mente e a capacidade de raciocínio – de tanto que tremíamos e não raciocinávamos. Estávamos perdidos.
Eram cinco deles, dois de qualidades duvidosas, pois adoravam sentir suas carnes se entrelaçando quando alguém começava a chorar; o terceiro que estava mais próximo de mim era o que ficava sempre rindo e aparentava ser o mais inteligente já que ordenava tudo e era muito preciso em seus atos; o quinto e último usava um chapéu mexicano, e era o que mais metia medo. Sua aparência máscula, e seu cheiro forte arrepiavam até o mais corajoso dos homens. Sem dúvida era o capanga, devia ser o que controlava na força bruta as crianças chatas e inoportunas.
Por fim, o terceiro disse com alto e bom tom que devíamos nos sentar todos no chão, um do lado do outro. E foi apenas isso.
Por algum motivo, eu consegui o ouvir dizer que, os três primeiros da ponta de sua esquerda, deviam morrer imediatamente, com um tiro direto nos miolos, e que se alguém pestanejasse se intrometer e interromper era pra ser morto com um corte horizontal na barriga – lembram-se da professora? – e assim foi feito. As três meninas da ponta, levaram tiros nos miolos, o terceiro homem não teve reação, o primeiro e segundo continuavam seus entrelaçamentos e o capanga, sorriu como uma criança que descobre o órgão genital do amigo pela primeira vez.
Eu estava sentado dois corpos depois das meninas, pois achei que era um local onde eu não estaria propenso a chamar atenção. Uma escolha sábia se assim posso dizer. E dito e feito. As meninas mortas me mantiveram alerta a qualquer olhar estranho, e me preparei para a morte de mais alguma pessoa.
Por mais que eu aparente estar tranquilo ao ver essas mortes, digo que estou tranquilo AGORA, pois antes, minha humanidade falava muito alto, mesmo sendo pouca. Mas não vejo motivo de explicação e detalhamento desses sentimentos. Hoje não importa.
E por fim eles foram embora, sem dizer nada, sem descrever motivos de tudo aquilo. Apenas entraram em seus respectivos carros e cruzaram outras ruas, outras vidas, e mais mortes em suas listas.
Enquanto todos estavam chorando e lamentando a morte das três meninas, eu apenas senti vontade de vomitar ao ver os miolos caídos no chão; o cheiro que aquilo exala é impossível explicar, não tem como comparar com outro cheiro. É único. E logo disse que era melhor, jogar tudo fora, e esconder os corpos ou enterra-los. Iríamos ficar ali um bom tempo para nossa sobrevivência, e cheiro de morte não era o melhor para minhas narinas.
Parte II. As fitas e minhas últimas deduções.
Depois de tudo limpo e supostamente sem cheiro de miolos, fui observar o local pela janela da sala. Estava tudo silencioso, mas se fechasse os olhos, deixasse a mente se esvaziar e focasse na audição, podia-se ouvir o som das pessoas morrendo longe dali. A morte estava presente em todo lugar, em todos os minutos. E nada se sabia, apenas se sentia. O que está acontecendo? Por que eles estão matando? QUEM SÃO ELES?
Tirando o cachorro morto na rua – achei que eles apenas matavam homens... – a única coisa diferente, eram duas fitas da cor rosa que estavam penduradas nos fios de eletricidade. Era até possível toca-las; tanto pela sua altura nada exagerada, e também pelo fato da energia elétrica não estar funcionando; nada perigoso.
“O que aquele idiota está pensando da vida?” Foi meu pensamento ao ver o único moreno do local ir mexer nas fitas, e era realmente idiota, pois duvido que tenha notado que a eletricidade estava desligada. E foi ele cutucar as fitas, com cara de imbecil morto – todos já estavam mortos figurativamente – e desejando saber o porquê das fitas. Não pensei duas vezes em ir avisa-lo quando notei o motivo das fitas.
Olhei para seus olhos negros e sem vida, toquei em seu rosto suavemente e com delicadeza, para levá-lo ao encontro do meu, era até possível sentir sua barba pequena e infantil amaciar a palma da minha mão. E sem delicadeza alguma dei um tapa na cara do coitado pra ver se acordava. Expliquei que, o motivo das fitas era uma forma de marcar as casas em que eles já haviam passado. Mostrei com meu dedo indicador as outras casas na qual também havia fitas.
Sem dizer uma palavra ele observou mais uma vez as fitas, pensou em algo triste e voltou para dentro da casa. Mantive-me ali por um tempo, pensando que, o motivo das fitas não deveria ser apenas isso, eles não eram burros o suficiente pra algo do tipo. Foi quando notei que, era apenas em NOSSA casa que havia DUAS fitas. A lembrança do cheiro dos miolos veio em mente novamente e pude por um momento imaginar os meus sendo debulhados como os das meninas.
Não contei para ninguém minha dedução, apenas guardei a mim mesmo, por algum motivo imaginei que, talvez eu pudesse usar essas informações ao meu favor, poupar a minha vida enquanto alguém perdia a sua. Eu não tinha pena de ninguém ali, naquele momento minha humanidade havia sumido novamente.
Parte III. A aceitação.
Passaram-se dois dias, e sempre alguns deles passavam por ali. Quando eu os avistava era como se a morte estivesse mais perto, como se os miolos estivessem sido esfregados na minha face e aquele cheiro tivesse se tornado parte de mim, como se meu estomago estivesse apaixonado e diversos besouros ali voassem, jogando-se de um lado para o outro, mantendo sempre uma postura robusta e burra, como se meu coração parasse de bater por dois segundos e depois voltasse com tamanha voracidade que era possível sentir minha blusa ter um leve movimento de impacto sobre o ar, como se minha pele aumentasse de temperatura pelo menos uns 6 graus e diminuísse instantaneamente 8 graus, uma mistura de frio e calor em poucos segundos, como se minha boca estivesse tão seca que se eu tentasse engolir alguma partícula de saliva, minhas amídalas entrariam em choque e, cairiam direto pro meu estomago servindo de alimento aos besouros, e por fim os coitados morreriam de alguma infecção e, depois de se decompor, fossem direto ao meu sistema de eliminação de sujeira, onde ficou minha inteligência.
Ok, dramatização não é meu forte, mas o pouco de aula de literatura que eu tive oportunidade de assistir esse ano serviu de algo. Mas pra facilitar, pense no momento de sua vida em que você teve mais medo. Pois é, isso é só um pouco do que eu sentia, pois ali, eu realmente iria morrer se eles me vissem.
É... Eu disse que foram quantos dias mesmo? Ah! Dois! Verdade...
Bom, depois desses dois dias, que em diversos momentos eles ali passavam, por volta das dez e meia da manhã os cinco destruidores de esperanças voltaram e junto havia uma garota que parecia muito com uma cantora que conheço. Uma roqueira, Taylor o nome dela, mas não me lembro do sobrenome. Bem magra, dos cabelos brancos, os olhos bem escuros de tanta maquiagem e tinha fotos de Marilyn Monroe nas mãos. O motivo? Não faço a mínima ideia, e nem se quer tentei perguntar, pois ela tinha cara de ser filha ou amante de algum deles, e eu supostamente morreria se perguntasse algo. (Talvez ela pudesse gostar de mim e, querer me proteger, mas isso é uma opção de porcentagem muito pequena, não valia a pena tentar, mas juro que por alguns segundos eu olhei as fotos e sorri com os olhos). Era impossível saber os motivos que determinavam se você merecia morrer ou não. Nem se quer sabia dos propósitos evolucionistas deles!
Tudo que fiz foi continuar sentado no sofá branco – aparentemente tudo ali era branco – e me mantive de olhos pregados ao chão. Juro que senti e ouvi passos longos e apressados diferentes, parecia ser de uma mulher de meia idade, mas acho que eram apenas delírios de minha mente.
Ouvi em alto e bom som o número três (o que aparentava ser o chefe) dizer que devíamos escrever nossos nomes numa folha de papel.
E assim foi feito, não tínhamos escolha, por mais que ele falasse calmamente e com muita serenidade, ele nos dava muito medo. Quanto mais calmo, mais se sabia que ele tinha autocontrole e estava pensando e calculando tudo piamente.
Depois que os nomes foram escritos, ele começou a pronunciar alguns, e o cara do chapéu mexicano levou-os para um van.
A moça dos cabelos brancos estava com uma aparência de tédio, parecia ansiosa pra algo. Ela tinha cara de quem sabia o que estava acontecendo e os porquês.
Mais nomes foram citados, e agora apenas o meu sobrou. Fui o único a ficar no local.
Apenas eu? Seria eu o escolhido para algo? Seria eu um novo membro dos destruidores de esperanças?
Eu estava certo, em todos os momentos, quando eu estava com minha família – supostamente morta agora – nada me aconteceu, e quando a professora morreu, ele podia muito bem simplesmente me matar, sem nenhuma dificuldade; mas não fez! E todo o percurso, nenhum mal extremo me aconteceu. E eu também pude ouvir a conversa sobre a morte das três meninas, que foi sem dúvida propositalmente para me proteger! Eu estava certo, eu era um deles, mas até agora não tinha notado isso, talvez de medo. Aquela garota, eu sabia que ela tinha gostado de mim, ela notou meus olhares sobre as fotos, ela sabia que se levassem aquelas fotos, ia chamar minha atenção. Eles sabem tudo de mim, talvez mais do que eu pense.
- Sobrou apenas você. Disse o terceiro, o chefe. Friamente.
Eu não disse nada, apenas sentia orgulho de mim mesmo.
Depois disso, as coisas começaram a passar lentamente, de uma forma gloriosa e sem sentido. Todas as desesperanças do mundo desceram sobre mim. E a seguinte palavra foi dita.
Matem-no.
Meus olhos se arregalaram, conversávamos todos apenas com olhares. Eu os sentia me dizendo que, a vida não é justa nem injusta, apenas é controlada pelo mais forte. Eu via a moça me dizendo, “sinto muito, mas pense, morrerá jovem como Marilyn, alcance a beleza imortal meu querido!” O do chapéu mexicano parecia estar tendo orgasmos com a sensação de poder me matar, e eu de certo modo, sentia orgulho de sua paixão pelo assassinato.
Os dois que gostavam de se entrelaçar, pararam um pouco de relinchar e apontaram suas armas para mim, e me disseram friamente com seus olhos azuis que, eu estava vestido muito mau pra tal ocasião. Pedi desculpas... Mas eu não fazia ideia, prometi que em outra vida eu me vestiria melhor.
Por fim, o líder que, aliás, se chamava Antônio, pelo menos era o nome tatuado em seu abdômen. Pude notar quando ele tirou a jaqueta e sua blusa branca subiu rapidamente por alguns segundos. Talvez seja o nome de seu pai, ou algum filho, mas gosto de lhe chamar de Antônio, ele tem cara de Antônio.
Antônio olhava pra mim com desejo. Não consigo dizer que tipo de desejo era, mas ele tinha algo diferente no olhar. Muito penetrante e sensual de um modo perverso, eu podia sentir sua maldade pairando sobre o local. Ele parecia um anjo caído, sua beleza pura e inocente; sua voz mansa, e ao mesmo tempo era uma psicopata narcisista. Eu me apaixonei por suas características maléficas. Por isso não sinto ódio dele. De nenhum deles.
Eu não perguntei nada, nem tentei fugir, eu gostava de sentir a morte se aproximando, era como se uma carne humana de meu gosto, estivesse se aproximando e querendo provar da minha depravação. Era gostoso sentir.
Depois de alguns segundos – que na minha mente pareciam horas – eu ouvi o som dos tiros, mas não consigo ver aonde foram, e também não senti nada. Acho que quando você está morrendo de imediato, você não sente nada. É como se estivesse indo dormir para sempre.
Eu os vi abaixarem as armas lentamente, o ferro quente delas estava satisfeito pelo serviço finalizado. Pude perceber um olhar enojado da moça quando uma gotícula de sangue espirrou numa de suas fotos. Limpou com a mão e lambeu os dedos. Creio que ela ainda tenha uma parte de mim dentro de sua carne.
No começo eu achei que não estava morto, achei que eles tivessem errado os tiros ou sei lá o que, eu achei estranho o fato de ainda estar vendo tudo. Só fui perceber meu falecimento quando notei que não era mais preciso respirar. Não respirar, não sentir essa necessidade é incrível! É tipo quando você anda cem metros e depois pega uma carona; você se sente aliviado, sem preocupações com tempo ou saúde física, apenas se deixa levar pelo prazer de alívio. Mas não nego que demora um pouco pra se acostumar com a desnecessidade de ar.
Depois de me acostumar com o fato de estar morto, diria até a aceitação disso. Tudo começou a se desfragmentar, o materialismo não importava mais, eu conseguia sentir outro mundo sobre minhas mãos, e outras pessoas ao meu redor. Vi um anjo negro, e um branco, perguntavam a mim se eu estava lícito.
Não entendi a pergunta, então os ignorei. E continuei observando meus assassinos, como se eu amasse-os tanto que gostaria de sentir seus corpos morrendo como o meu, era um prazer descomunal. Mas isso era impossível.
Senti meu corpo cada vez mais leve, quando a moça do cabelo branco deixou uma foto de Marilyn sobre meu colo, não senti o peso da foto, mais uma vez tive a certeza. Faleci.
Observei Marilyn por alguns segundos, e quando me virei para a moça dos cabelos brancos, para agradecer – mesmo que ela não estivesse vendo nada, educação é primordial – ela estava do meu lado, olhando fixamente nos meus olhos e disse. Não precisa agradecer, e vamos logo.
Mais uma vez meus olhos se arregalaram, fiquei mais surpreso do que quando eu ia ser morto.
Vi seus olhos esbranquiçarem e logo duas asas gigantes e vívidas se abriram por trás delas. Ela segurou minha mão e disse para eu ignorar os dois outros anjos que ali estavam, eram apenas subordinados do demônio.
Depois de um tempo, sem conseguir pensar ou agir – já que é uma transição muito rápida, pra um local totalmente desconhecido – chegamos num local que apenas existia papéis, canetas e arpas. Mas eram arpas feitas de ossos e cabelos pubianos, disso eu tenho certeza, pois o cheiro era inconfundível. Não nego, não morri virgem e, eu já tinha visto muitos ossos durante a invasão, o cheiro é bem marcante.
Quando finalmente tomei coragem de falar, perguntei:
- Por qual motivo eles, os destruidores de esperanças estão fazendo isso? Quem são eles, e porque me matar? E meus amigos? Estão vivos?
Todas minhas questões foram respondidas pelo anjo do cabelo branco. Depois ela me deu um cigarro dourado, acendeu um fósforo, e ali ficamos olhando um para o outro.
Talvez vocês estejam pensando, “se você está morto, como conseguiu escrever isso?”.
Voltem quatro parágrafos, leiam atentamente. Está óbvio o modo que eu usei para escrever tudo isso.
Mas, como chegou até vocês?
São mistérios que nem anjos, e nem humanos sabem.
Autor(a): Denis Pinheiro
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Enquanto descia as escadas, levianamente incrédulo com o tempo chuvoso, Sr. Morment pensava se tinha feito à escolha certa ao contratar P para cuidar de sua mansão. Era um sentimento duvidoso e ao mesmo esperançoso. Deixou o tempo falar por si mesmo. Quando estava chegando perto de sua poltrona favorita as 09h45min, ouviu o som da campainha. Seu ...
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