Fanfic: Anjo da escuridão {AyA} [Terminada]

Capítulo 7

PÁLIDA e tensa, Anahí não reprimiu um olhar de recriminação a sua mãe.

       —Vejo que não perdeste o tempo —comentou.

       —É lógico que sua mãe confie em mim —interpôs Tomaso, molesto. —Sou seu marido e seu padrasto. É certo? Está esperando um filho?

       —Mamãe, como pudeste me fazer isto? —murmurou Anahí, envergonhada.

       —Sairemos de lua de mel e não quero te deixar só —manifestou Daisy. —Só lhe pedi conselho.

       —Sempre foi tão... vulnerável —murmurou Tomaso, entre dentes.

       —Não é de sua incumbência! —estalou a garota. Já não era uma menina.

       —Mas sim do Alfonso? —os olhos ardilosos de seu padrasto a olharam com insistência.

       —O que tem isto que ver com o Alfonso? —perguntou a senhora, com evidente surpresa.

       —Não acha que Alfonso seria preferível a um estranho que conheceu em uma festa? —Tomaso tirou a carteira e extraiu um recorte de periódico que entregou a sua esposa.

       —O que é isso? —exigiu saber a jovem a beira da histeria.

       —Quando tiraram esta foto? —perguntou Daisy, assombrada. —Por que não me disse isso? Sou sua mãe.

        —Foi tirada em Pisa faz umas seis semanas. O edifício do fundo é o do aeroporto —manifestou Tomaso. —Foi publicada em um periódico italiano e alguém me enviou isso faz algumas semanas. Não queria te alterar, cara.

Anahí arrebatou o recorte das mãos de sua mãe. Era uma foto deles beijando-se no aeroporto. Alfonso era facilmente distinguível, ela nem tanto aos olhos de quem não a conhecesse bem.

       —Estiveram juntos na Itália —declarou Tomaso, entre dentes.

       —Quer dizer que os dois fingiram... que nos enganaram? Por que? —Daisy estava horrorizada.

       —Dado que sua filha parece ter perdido a voz terei que depender de Alfonso para obter respostas...

       —Não, por favor! —suplicou a garota. —Não é de Alfonso... Quero dizer... Não, não o é... —estupefata pelo descobrimento do Tomaso, Anahí não podia pensar nem expressar-se com coerência.

       —Não? —seu padrasto a observava atento. —Esteve sozinha com o Alfonso... três dias? Eu não lhes deixaria sozinhos nenhuma hora.

       —Tomaso! —reprovou-lhe Daisy.

       —Alfonso desejou a sua filha desde que a conheceu —insistiu ele com frieza, —e a julgar por certo incidente faz seis anos, Anahí não...

       —Não é filho de Alfonso! —exclamou a jovem antes de soluçar, cobrindo o rosto com as mãos.

      —Então, não pode te importar que fale com ele —persistiu Tomaso.

Anahí desceu do carro e correu por volta da casa onde tinha vivido tantos anos. Sem responder a saudação amável da governanta, foi encerar se em um banheiro.

Quando voltou a fazer ato de presença, os convidados estavam instalando-se no salão de baile onde se serviria o banquete de recepção. Jamais se alegrou mais de estar entre tanta gente, embora seu ânimo decaiu ao ter que sentar-se na mesa principal a curta distância de Alfonso e de Dulce.

A noite passou entre brumas para ela. Tomaso a tinha destroçado. Nunca se tinha dado conta do parecido que havia entre pai e filho. Seu padrasto jamais se mostrou assim com ela. Queria retirar-se depois do banquete, mas tinha que permanecer ali. Quando começou o baile, vários pessoas foram convidá-la a dançar e teve que aceitar para cobrir as aparências. Seu olhava evadia de Alfonso e a de Dulce cada vez que se encontrava com eles.

Quando de repente Alfonso trocou os casais na metade de uma dança, Anahí não estava preparada para o enfrentamento. Esticou-se imediatamente e uma mão firme a suas costas a aproximou dele.

       —Sorri —lhe ordenou ele, observando a intensa palidez que a invadia. —Do contrário, diria que está ciumenta por minha culpa.

       —Para ti jamais sorrirei, Alfonso.

       —Exceto em minha cama —replicou ele com tom satírico e a fez perder o passo. —É verdade, hoje está muito sensível —murmurou entre seu cabelo.

       —Não pudeste alugar ainda meu apartamento? —interrompeu-o ela.  —Espero que perca dinheiro.

       —O vendi a um árabe impaciente —assinalou Alfonso. —Mas não me tivesse importado não lhe tirar utilidade. Obtive o que queria... e se desejo voltar ao ter, estou convencido de que não ficaria decepcionado. Não é difícil te conseguir...

Mortalmente pálida, Anahí se separou dele no momento que a música se detinha.

       —Maldito —murmurou entre dentes ao dirigir-se furiosa a seu lugar na mesa.

       —Tomaso se tranqüilizou —lhe informou Daisy ao sentar-se a seu lado.

       —Que bem... lamento-o —suspirou à garota. —Te danifiquei o dia.

       —Tolices. Nunca fui mais feliz. E se for filho de Alfonso, isso arrumaria as coisas. Tomaso diz que terá que casar-se contigo e o fará por ter seduzido a minha menina...

       —Não sou uma menina, mamãe! —vaiou Anahí, afligida.

       —Tomaso diz que o tem merecido...

       —Não é do Al...

       —Não me minta mais, Anahí.

       —Sinto muito.

       —Está perdoada —com um sorriso forçado, Daisy se levantou e se foi.

Sufocada, a garota decidiu sair do salão. Logo poderia partir. Tomaso e Daisy não sairiam de viajem até o dia seguinte. Na biblioteca encontrou a umas senhoras italianas em animado bate-papo. Encaminhou-se para o estufa, segura de que ali estaria sozinha.

Mas a estufa também estava ocupado... Alfonso e Dulce estavam fundidos em um apaixonado abraço que só os velhos amantes se dão. Alterada, partiu dali sem que a vissem.

Estava destroçada. Tivesse querido ir separá-los... Não teria sido a forma ideal de acabar o dia? Enjoada, foi sentar se a uma poltrona, abraçando-se para afastar a intensa dor que sentia.

      —Viu ao Alfonso? —perguntou-lhe Tomaso ao aparecer pela porta.

Anahí se limitou a assinalar para o estufa com a mão. Esteve tentada a lhe dizer que se encontrava ocupado, mas não conseguiu pronunciar as palavras. Estava tão doída, que acreditava que se derrubaria. Em sua mente imaMaiteva em uma situação mais íntima. Apertou as pálpebras angustiada, mas a imagem não desaparecia. Via-os apaixonados entre os lençóis compartilhando o prazer que ela conheceu, e quis morrer.

Alguém lhe separou as apertadas mãos e as apertou com força.

       —Lamento-o —manifestou Tomaso. —Sinto muito que tenha visto isso.

A compaixão que havia em sua voz quase acabou com ela. Não se atrevia a falar.

       —Anahí, o que quer que faça?

       —Nada —respondeu, suplicante. Seu padrasto não lhe soltava as mãos.

       —Alfonso tem direito ou seja o...

       —Não, agora não —se obrigou a lhe dizer. —Eu não poderia suportá-lo.

       —Ama-o —o senhor soltou o fôlego em um longo suspiro, afastando o olhar da cara da garota.

       —Não... —mas a negativa lhe soava falsa, vazia, ridícula a ela mesma.

       —Casaria-se contigo... —Tomaso se interrompeu ante a expressão da jovem. —Pediria um carro para que te levasse a casa, mas é melhor que fique aqui. Não me agrada a idéia de que esteja sozinha.

       —Estarei bem —de algum jeito, Anahí conseguiu sorrir. — Acredito que preciso estar sozinha.