Fanfic: Anjo da escuridão {AyA} [Terminada]

     —Diz que lhe disse isso sem razão? —seu irmão Christopher emitiu uma gargalhada. —Típico de Daisy.

Estavam comendo em um restaurante perto da companhia de segu-ros em que trabalhava Christopher.

      —Não é gracioso! por que não me avisou? —protestou Anahí dirigindo um olhar gélido ao homem da mesa do lado, que tratava de chamar sua atenção desde que chegaram.

      —O iceberg afunda a uma vítima mais —comentou Christopher, malicioso.

      —Aborreço esse mote! —espetou-lhe ela. —Não o use.

      —De acordo —levantou os braços em rendição fingida.

      —Por que não me disse que havia tornado a ver o Tomaso?

      —Imaginava qual seria sua reação —sorriu Christopher.

      —Covarde! Não te importa se Tomaso se diverte a suas costas com outras mulheres.

      —Não acredito que isso seja de minha incumbência —comentou ele, ruborizado. —E Alfonso? Está preocupada com ele?

      —Ele não tem nada que ver com isto! Embora não o suporto —reconheceu Anahí. —Mas é o bem-estar de mamãe o que me preocupa.

      —Aterroriza-te Alfonso —se burlou Christopher.

      —Não seja ridículo... odeio-o e o desprezo, não lhe temo!

      —O que foi o que aconteceu quando fez dezoito anos? —Christopher dava um sorvo ao vinho. —Nunca soube por que desapareceu Alfonso. À manhã seguinte Tomaso estava furioso e mamãe a beira da histeria.

       —Não quero falar disso —a garota empalideceu. Tinha o estô-mago revolto. Nunca esqueceria o pesadelo dessa noite. Alfonso a humilhou e a destruiu a uma idade muito sensível, despertando nela uma aversão à intimidade sexual que ainda não tinha podido superar. Não suportava que um homem lhe aproximasse. Sentia-se suja e manchada. Alfonso lhe fez isso... com sua brincadeira e rechaço.

       —Não é mais que uma prostituta. Não importa quanto dinheiro gaste meu pai em ti... Nunca sairá do esgoto! —tinha exclamado ele.

Anahí reprimiu a náusea com dificuldade. Estava perdida no passado, assaltada por uma acusação que só intensificou a vulnera-bilidade que ocultava do resto do mundo.

       —Parece que Alfonso respira a mamãe e ao Tomaso —comentou Christopher.—Se eu fosse você, manteria-me longe dele.

       —Já o viu? —exigiu Anahí.

       —Chamou o escritório a semana passada —Christopher se esclareceu a garganta. —Me ofereceu um trabalho melhor...

       —Posso ver que me fiquei sozinha —se queixou a garota.

       —É muito perigoso quando se zanga, Anahí —lhe indicou, com ansiedade. —Mantém afastada. Mamãe já é maior. Deixa que cometa seus próprios enganos. E se Alfonso estiver disposto a fazer as pazes...

       —Não! —interrompeu com ênfase. —Não tenho intenções de interferir entre mamãe e Tomaso, mas tampouco penso lhes seguir o jogo. Já não tenho dezoito anos. Tenho minha vida própria.

       —Não é tão severo como aparenta —gemeu Christopher. —E falando de ti, me diga, que tal vai?

       —Estou tratando de vender meu apartamento —fez uma careta.

       —Tão mal estão as coisas?

       —Quando a campanha Fantasy se veio abaixo, perdi a metade de meus ganhos... Depois vieram outros cancelamentos —manifestou, tensa.

       —Mas te recuperará, é famosa.

       —Conhecida —o corrigiu a garota com amargura. —Essa não é a imagem que vende cosméticos e perfumes. Meu contrato com a agência termina dentro de dois meses. Não acredito que o vão  renovar.

Christopher amaldiçoou ao Danny Philips antes de sorrir.

      —Deveria te casar com o Derek. Manteve-se a seu lado e herdará os hotéis de seu pai...

Anahí sabia que sentiria saudades da vida que tinha levado até então graças a seus altos ganhos, mas não estava disposta a casar-se só para manter seu estilo de vida.

      —Devia deixar de ver o Derek faz várias semanas.

      —Eu gosto dele —comentou Christopher. —Não lhe faça mal.

Ao arrumar-se para o jantar essa noite, Anahí fez uma careta. Já tinha tentado duas vezes deixar ao Derek. Agradava-lhe esse homem, mas ele queria formalizar sua relação e Anahí sempre fugia dos compromissos formais.

Para a maioria dos homens, ela representava um troféu, um objeto sexual cujo principal atributo era despertar a inveja entre seus amigos. Media um e oitenta, e tinha uma figura e um rosto que a câmara adorava. Sua tez era impecável, o cabelo maravilhosos e os olhos formosos. Aos dezesseis anos passou a ser de uma garota magra a uma mulher atrativa que fazia que as cabeças se voltassem para seu passo. A atenção de outros homens era um bálsamo contra os constantes ataques verbais de Alfonso.

Esteve a ponto de impedir que se fizesse modelo. Se não tivesse sido pelo divórcio, jamais tivesse podido seguir.

       —Se a deixam ir a Londres, enlouquecerá. É muito imatura e indisciplinada —declarou Alfonso.

Este sempre se esforçou por procurar que ela não tivesse o que queria. Mas Anahí não se deu por vencida. Escalou à fama degrau a degrau até aparecer na capa do Vogue. Com infantilidade, reconheceu, enviou ao Alfonso um exemplar da edição, se por acaso não a tinha visto.

Derek chegou com um enorme ramo de rosas vermelhas e a garota se deprimiu. Logo jantaram à luz das velas em um restaurante. Por mais que Anahí se esforçava por evadir o tema, Derek a levava de novo ao casamento.

Sua consciência a atormentava. Ele tinha permanecido firme a seu lado durante os ataques da imprensa. Outros amigos a abandonaram como ratos que fogem quando o navio está a ponto de afundar-se; entretanto Derek nunca duvidou de sua inocência. Era uma lástima que não estivesse apaixonada por ele.

       —Agradeço muito sua amizade —lhe disse Anahí com cuidado extremo.

       —Não é isso o que quero! —exclamou Derek, exasperado. — Quero que te case comigo.

Durante o resto do jantar, Derek não cessou em seu empenho, entre ataques e ressentimentos. Anahí conseguiu acalmá-lo um pouco, mas ele bebeu muito. Infelizmente, tinham acordado reunir-se com amigos de Derek para ir a um centro noturno, mas seus intentos por cancelar o compromisso foram mal recebidos. Temerosa de um escândalo público, a garota se dispôs a suportar uma noite difícil. Não queria machucar os sentimentos de seu amigo.

Muito tarde, compreendeu  que não devia ter ido. No vestíbulo do centro noturno, Derek tratou de abraçá-la e Anahí lhe afastou as mãos com a fúria de uma tigresa. Se algo a aborrecia, era ser acariciada em público.

       —Se não te comportar, irei para casa —murmurou antes de afastar-se dele, esperando que isso o tranqüilizasse.

Teve que deter um segundo depois ao descobrir ao Alfonso a menos de dois metros de distância. Com seu um e noventa e dois, era dos poucos que tinha que olhá-la para baixo, embora ela usasse saltos altos.

Anahí estava paralisada, ruborizada e com o coração acelerado, antes de adquirir uma palidez cadavérica. Um olhar frio a per-furava. Cada músculo de seu corpo se esticou para o ataque iminente.

       —Suponho que queira falar, Anahí —a voz suave e educada a ameaçava. Parecia uma pantera negra a ponto de saltar sobre ela.

       —Ouviste alguém falar? —perguntou ela ao Derek, tomando-o pelo braço. —Eu não —passou frente a Alfonso muito erguida e altiva.

       —Viu quem era? —perguntou-lhe Derek ao ouvido.

       —Faz muito tempo, minha mãe esteve casada com seu pai. Esse vilão foi meu meio-irmão. E não nos despedimos em termos muito amistosos.

       —Por que não me disse que sua mãe esteve casada com o Tomaso Herrera? —ao Derek o impressionava qualquer um cuja conta bancária fosse maior que a de seu pai.

       —Não o considerei importante.

       —Está louca? Como trataste assim ao Alfonso Herrera?

       —Em uma ocasião me acusou de ter os maneiras de uma qualquer —ao sentar-se, Anahí ainda tratava de controlar-se. — Deveria alegrar-se ao ver o muito que melhorei.

        —Meu pai deve um milhão ao Banco Herrera e esperamos obter uma prorrogação do empréstimo —comentou Derek. A impressão do encontro parecia havê-lo voltado sóbrio. —O assombro me impediu de lhe falar —se voltou a levantar de repente. —Será melhor que vá desculpar me.

       —Lamento-o... não queria te prejudicar...

       —Meu Deus, deve ter instintos suicidas —murmurou ele. —Ninguém trata ao Alfonso Herrera assim e sai bem sacado.

       —Eu sim —lhe indicou Anahí com mais confiança que a que em realidade sentia.

Sabia que se excedeu. Alguma vez aprenderia? Alfonso a provocava e ela voltava a morder o anzol. Os anos da adolescência tinham ficado para trás, mas ela seguia sentindo-se como uma adolescente em sua presença. Nada tinha mudado.

Bastou um encontro para sabê-lo. Ele a contemplou com a altivez e desprezo de sempre. Não haviam tornado a ver-se desde aquela noite fatídica. Ele foi ao estrangeiro pouco depois da separação matrimonial. Os sentimentos desagradáveis que a embargavam eram  entristecedores.

Essa noite reagiu em defesa própria como no passado, reconheceu envergonhada, para não mostrar diante ele sua vulnerabilidade. Por outra parte era lógico que a hostilidade de Alfonso tivesse renascido ao inteirar-se da possibilidade de que os elos familiares voltassem a ligá-los.