Fanfic: Anjo da escuridão {AyA} [Terminada]

Sua gravidez avançada lhes impedia de viajar ao estrangeiro. Não tinha podido usar o vestido de noiva tradicional por razões óbvias; e por seu estado de saúde, tampouco pôde celebrá-la recepção de rigor. Suspeitava que Alfonso se alegrava de não ter tido que comparecer em sociedade com uma noiva tão gorda.

Sem advertência prévia, ele ao tomou nos braços.

       —Me desça! —gritou mortificada, consciente de seu peso e em espera de um grunhido por sua parte pela carga excessiva.

      —Esta é uma tradição que podemos cumprir —declarou, levando-a pelo vestíbulo a um enorme salão de recepções.

      —É linda —ofegou ante tanta beleza. —Quando a adquiriu?

      —Meu tataravô se casou com um integrante da família Hedley. Lembro ter vindo aqui de menino —a deixou de pé ao chegar ao topo da escada de pedra. —De algum jeito, a mansão chegou à mãos de minha mãe. Um tio avô viveu aqui até sua morte faz um par de anos —a guiou até o dormitório principal. —Deve descansar um pouco antes do jantar. Então te apresentarei ao pessoal. Parecem haver-se ido por prudência ante nossa chegada.

Logo desapareceu. Era uma habitação muito feminina, elegante-mente decorada, que tinha seu próprio banheiro de luxo. Estava examinando o guarda-roupa vazio quando chegaram suas malas, e com elas, a governanta, a senhora Moss, quem evidentemente, não tinha intenções de esperar até o jantar para conhecer a nova esposa de Alfonso.

Quando Anahí ao fim se deitou, eram quase as seis. Estava esgotada, mas sentia saudades a ausência total da roupa do Alfonso. Era óbvio que não tinha intenções de compartilhar o dormitório com ela.

Ele se comportou como um cavalheiro enchendo a de amabilidades durante o jantar, até que quase a fez gritar. Era como se uma parede de cristal a separasse dele. Precisava derrubá-la.

       —Por qual te foste decidir? —indagou em voz baixa.

       —Por qual? —repetiu ele sem compreender.

       —Por Adele, Felicity, Caroline ou Dulce? —esclareceu garota. —Qual obteve a melhor qualificação?

       —Parece-me uma pergunta mal intencionada —lhe indicou, molesto.

       —Mas muito lógica —refutou com tom doce. —Passou os últimos seis meses procurando uma noiva adequada e eu não pertencia a sua lista original. É natural que tenha curiosidade.

Alfonso se reclinou em sua cadeira com expressão velada. O silêncio se voltava entristecedor, mas Anahí não se deixou intimidar.

       —Adele tinha o melhor pedigree... disse ela.

       —Só os animais o têm.

       —É evidente que procurava pedigree, Alfonso —sorriu a jovem com ironia. —Todas são da alta sociedade e muito ricas. Nenhuma esteve casada antes.

      —Anahí... —interrompeu-a Alfonso, com tom ameaçador.

      —Dulce é a única exerce uma profissão. Talvez resultou muito inteligente e independente para desempenhar bem o papel. Por outra parte, é a mais atraente —continuou, fazendo caso omisso à advertência. —Fez o amor com todas? Sinto muito por ti. Poderia te casar com o melhor da sociedade e agora tem que conformar com uma esposa de segunda categoria.

       —Sem sua ajuda esta noite, jamais teria sabido quão insegura é —comentou Alfonso. A garota ficou gelada, como se a tivesse golpeado. —Se sente melhor se te disser que suas insinuações me resultam muito dolorosas?

       —De fato, sim! —espetou-lhe ela. Não tinha respondido a nenhuma de suas perguntas.

       —Acredito que deve ir se deitar —sugeriu  Alfonso, tranqüilo, ao ficar de pé. —Este bate-papo terminou.

       —Não me respondeste! —a jovem tinha as bochechas acesas.

       —E não o farei... enquanto te encontre nesse estado de ânimo —ele saiu do salão e Anahí foi atrás dele.

       —Logo que estamos casados há oito horas e já estou farta! —gritou-lhe.

     —Desagradaria-me ser o único que sofre —lhe indicou ao voltar-se com um sorriso duro.

Isso lhe doeu mais do que a garota imaginava. Chorou até que o sonho a venceu. O que queria? O que esperava? Segurança, ternura, afeto, mas só um homem que a amasse lhe daria isso. E Alfonso não a amava. Era sua noite de núpcias, mas dado que não podiam ter relações sexuais, ele não se incomodou em ir para seu lado. Oito horas e já se perguntava se não teria cometido o maior engano de sua vida.

Alfonso se desculpou durante o café da manhã. Fez-o de muito bom aspecto e até lhe sorriu várias vezes. Manifestou que estaria de retorno para o jantar e que poderia ser localizado em qualquer momento pelo telefone sem fio antes de subir ao helicóptero que foi recolhê-lo.

Foi menos formal durante o jantar essa noite. Estava de um humor excelente. Sugeriu vários nomes ridículos para o bebê e prometeu que a acompanharia a todas suas visitas ao médico. Logo, mostrou-lhe onde seria o quarto do bebê. Quando foi deitar se, Anahí rezou para que esse bom humor durasse nele.

E assim foi. Durante as três semanas seguintes, Alfonso participou de todas as atividades relacionadas com os preparativos para receber o bebê. Examinou amostras de papel para as paredes, escolheu o mobiliário e mostrou sua surpreso ao ver a roupa diminuta para um recém-nascido.

Quatro dias depois, começou a sentir as dores do parto. No princípio não deu importância a crescente dor nas costas. Quando o fez, era muito tarde para chamar o Alfonso ao Glasgow, onde participava de uma conferência internacional.

Anahí deu a luz no pequeno hospital do povoado, não na luxuosa clínica que seu marido queria. O parto durou duas horas. Alfonso chegou quando tudo tinha terminado.

       —Não acha que devia ter me avisado? —reclamou-lhe ele da porta do dormitório.

       —Tudo foi tão rápido que não tive tempo —Anahí se endireitou em sua cama, cansada, mas cheia de orgulho. —Olha-a —exigiu ao Alfonso.

Muito pálido, aproximou-se sem fazer ruído para aparecer ao berço. A pequena escolheu esse momento para chorar.

       —Bons pulmões —murmurou ele. —Tem meu cabelo e seu nariz.

Anahí se deprimiu. Procurava os genes dos Herrera? Ainda tinha dúvidas? Temerosa, tomou a sua filha em seus braços.

      —Tem a cor de seus olhos.

      —Suponho que não me avisou porque não queria que estivesse aqui —declarou Alfonso, em tom inexpressivo.

      —Não tive tempo de te avisar!

Mas se dava conta de que não acreditava. E se fosse sincera, não lhe teria gostado de o ter a seu lado na sala de partos. Como estavam às coisas, não queria compartilhar algo tão íntimo com ele.

Estaria decepcionado porque não era um menino? Alfonso se sentou na cama e, tímido, tocou com um dedo a mãozinha da pequena e lhe acariciou uma perna. Em um gesto inconsciente se secou uma lágrima que se deslizava por sua bochecha.

       —Posso pegá-la nos braços? —quando a deixou de novo em seu berço, voltou-se emocionado para Anahí. —Aconteça o que acontecer entre nós no futuro, muito obrigado por me dar isso lhe indicou, emocionado.

A jovem teve que inclinar a cabeça para ocultar suas lágrimas. De alguma forma, esperava que a abraçasse, talvez até que a beijasse, mas não a tocou. A única mulher a que Alfonso queria abraçar pesava só uns quilogramas e, se chorava, obtinha sua atenção imediata. Anahí nunca sentiu mais rechaço que nesse momento.