Fanfic: Anjo da escuridão {AyA} [Terminada]

Nessa ocasião, esse homem tinha a vantagem. Dessa vez era ele quem a isolava. Anahí reconheceu a habilidade de Alfonso para manipular a sua mãe e ao Christopher a seu desejo. Como era possível que eles não se dessem conta? Era evidente que ao Christopher agradava a possibilidade de voltar a ser parte do clã Herrera. Como sempre, estava endividado, e Tomaso sempre tinha sido generoso com seu dinheiro.

E como Christopher, sua mãe sempre admirou ao Alfonso. Era muito inteligente, falava meia dúzia de idiomas com fluidez admirável e tinha tanto êxito nas finanças internacionais, que logo seria o diretor de Indústrias Herrera. Dizia-se que tudo o que tocava o convertia em ouro. Tomaso acreditava capaz de caminhar sobre a água. Literalmente.

      —Devo reconhecer que foi muito amável —comentou Derek com alivio ao retornar. —Convidou a sua mesa.

      —E seus amigos? —perguntou Anahí, alarmada.

      —Não seja tão ingênua, Anahí —Derek fez uma careta. —Jamais deve rechaçar um convite como este, em especial vindo de Herrera. Têm influências nos lugares mais insuspeitos...

      —Lamento, tenho uma enxaqueca terrível. —A garota ficou de pé com expressão desdenhosa. —Pode me pedir um táxi, se o pre-ferir...

      —Anahí. —ele negava com a cabeça.

Ela não cederia. Não cairia em uma armadilha como essa. Jamais daria a oportunidade a Alfonso de denegri-la em público. Era sobressalente nesse aspecto. Houve uma época em que a jovem não teria resistido... Uma época em que teria feito algo que ele tivesse pedido... Alegrou-se de ter chegado a uma maturidade própria de seus vinte e quatro anos.

Derek estava furioso, mas Anahí não cedeu. Depois de lhe repetir que procurasse seus amigos, deixou-o e retornou sozinha para casa.

Ao acender as luzes da sala, tirou os sapatos e foi ouvir as mensa-gens da secretária eletrônica. Nada. Antes teria encontrado ao menos um par de mensagens. Agora... O iceberg que levava a inocen-tes homens casados ao suicídio era notícia passada. Teria que vender o apartamento por muito menos do que tinha pago por ele. Sua conta bancária estava quase esgotada. Tinha seguros que cobri-am quase todo o imaginável, menos o estar desempregada. Os jor-nais deram uma imagem desprezível dela ao publicar um número de fotografias da esposa de Danny com o rosto banhado em lágrimas; Anahí ignorava a existência dessa mulher, que vivia em uma cidade com seus filhos, no entanto Danny levava a vida de um solteiro despreocupado na grande cidade, exceto nos fins de semana.

Ele teve o descaramento de dizer a Anahí que nos fins de semana ia ver seus pais anciões! Com um som mesclado de soluço e risada, a garota se cobriu o rosto com as mãos. Como pôde ser tão tola? E como foi Danny capaz de lhe contar tantas mentiras? Pelo dinheiro, pensou com cinismo. A história real logo que teria despertado o desejo da imprensa, entretanto, Danny a enganou fazendo-a apare-cer como uma bruxa perversa que usava aos homens a seu desejo antes de desprezá-los como lenços sujos quando se aborrecia deles. A verdade... A verdade era muito mais patética, refletiu.

Ali estava, arrumada com um sexy vestido negro que mostrava suas curvas perfeitas e longas pernas e, o que era na realidade? Perguntou-se com dor ao ver sua imagem em um dos espelhos de seu guarda-roupa. Uma fraude completa! Menos mulher que a frágil esposa do Danny, que o amava, deu-lhe filhos e foi capaz de perdoá-lo no momento em que foi hospitalizado.

Como seria amar dessa maneira? Não podia imaginá-lo... Nunca amou, só uma vez experimentou o poder devastador do desejo... E isso nem sequer se permitia recordá-lo, pois lhe doeu tanto que terminou destroçada. Bem no fundo, a dor seguia ali como um sistema de alarme interior, e se deixava abraçar por um homem, o alarme se disparava. O que aconteceria se permitisse sentir algo?

Imediatamente, o gelo a envolveria, por completo.

O interfone junto à porta soou. Eram às duas da manhã. Com o cenho franzido, foi responder.

       —Sou Alfonso...

Um nó de temor se formou no estômago de Anahí e deu um passo instintivo para trás.

       —Vá embora! —exclamou antes de ouvir vozes afogadas como se ele falasse com alguém.

       —Te acalme, cara —ronronou Alfonso.

Piscando assombrada ante o nome afetuoso, a garota se deixou levar pelo pânico.

       —Me deixe em paz!

Afastou-se da porta com a respiração agitada e se sentou no sofá. Não estava de humor para um enfrentamento com o Alfonso. Sabia que tinha que acontecer, mas jamais imaginou que fosse tão logo.

Incrédula, ouviu que sua porta se abria. Ergueu-se aterrorizada, amaldiçoando-se por não ter posto a corrente de segurança.

      —Quer que chame o médico, senhor Herrera? —a jovem reco-nheceu a voz do vigilante noturno.

      —Não acredito que seja necessário agora que estou aqui —manifestou Alfonso. —Muito obrigado.

       —Foi um prazer lhe servir, senhor Herrera —ela ouviu o som de um bilhete que mudava de mãos e seguiu sem poder mover-se. Não podia acreditar que esse homem tivesse conseguido introduzir-se no apartamento que acreditava seguro, e com a colaboração do vigilante!

      —Se... Se não sa... Sair chamarei à polícia! —gritou-lhe a garota ao vê-lo aparecer na soleira da sala.