Fanfics Brasil - 012 Fiquei com o seu número [Adp] [Terminada]

Fanfic: Fiquei com o seu número [Adp] [Terminada] | Tema: Anahí e Alfonso


Capítulo: 012

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QUATRO


            Agora tenho insight histórico. Sei de verdade qual foi a sensação de ter que ir andando em direção a guilhotina na Revolução Francesa. Conforme subo a colina ao sair do metrô, segurando o vinho que comprei ontem, meus passos vão ficando mais e mais lentos. Cada vez mais.


            Na verdade, me dou conta de que não estou mais andando. Estou parada. Estou olhando para a casa dos Uckermann e engolindo em seco sem parar, tentando me forçar a seguir em frente.


            Foco, Anahí. É só um anel.


            São só seus futuros sogros.


            Foi apenas um “desentendimento”. De acordo com Christopher/Acabei arrancando isso dele por telefone na hora do almoço./, eles nunca disseram abertamente que não querem que ele se case comigo. Apenas insinuaram. E talvez tenham mudado de ideia!


            Além do mais, descobri uma coisa positiva, pequena, mas positiva. Meu seguro doméstico paga por perdas, ao que tudo indica. É alguma coisa. Estou até pensando em começar a conversar sobre o anel falando do seguro e do quanto ele é útil. “Sabe, Wanda, eu estava lendo um folheto do HSBC outro dia...”


            Ai, meu Deus, quero enganar quem? Não tem como melhorar a situação. É um pesadelo. Vamos acabar logo com isso.


            Meu telefone apita e o tiro do bolso só por força do hábito. Já desisti de me agarrar a um milagre.


_Você tem uma nova mensagem. —diz a voz familiar e sem pressa da mulher do correio de voz.


            Sinto como se conhecesse essa mulher de tanto que ela já falou comigo. Quantas pessoa já não ouviram a voz dela, desesperadas para que ela falasse logo, com os corações a toda de medo ou esperança? Embora ela pareça tranquila toda vez, sempre do mesmo jeito, como se nem ligasse para o que você está prestes a ouvir. Você deveria poder escolher opções diferentes para tipos de notícias diferentes, para que ela pudesse começar assim: “Adivinhe! Ótimas notícias! Escute seu correio de voz, oba!” Ou: “Sente-se, querida. Tome alguma coisa. Você tem um recado e não é bom.”


            Aperto “1”, mudo o celular de mão e começo a andar devagar. O recado foi deixado quando eu estava no metrô. Deve ser de Christopher, perguntando onde estou.


_Oi, aqui é do hotel Berrow e temos um recado para Anahí Portilla. Srta. Portilla, parece que seu anel foi encontrado ontem. No entanto, por causa do caos depois do alarme de incêndio...


            O quê? O quê?


            A alegria percorre meu corpo como fogos de artifício. Não consigo ouvir direito. Não consigo absorver as palavras. Encontram!


            Já abandonei o recado. Estou ligando pela discagem direta para o concierge. Eu amo esse homem. Eu amo esse homem!


_Hotel Berrow... —É a voz do concierge.


_Oi! —digo, sem fôlego. — É a Anahí Portilla. Vocês encontraram o meu anel! Você é demais! Vou direto praí buscar?


_Srta. Portilla. —interrompe ele. — A senhorita ouviu o recado?


_Eu... em parte.


_Infelizmente... —ele faz uma pausa. — Infelizmente, não estamos certos do paradeiro do anel.


            Fico paralisada e olho para o celular. Ele acabou de dizer o que eu acho que ele disse?


_Você disse que tinha encontrado. —estou tentando ficar calma. — Como pode não ter certeza do paradeiro?


_De acordo com um funcionário, uma garçonete encontrou um anel de esmeralda no tapete do salão durante o momento do alarme de incêndio e o entregou para a nossa gerente, a Sra. Fairfax. No entanto, não estamos certos do que aconteceu depois. Não conseguimos encontrá-lo no cofre e em nenhum dos nossos locais seguros. Lamentamos muito e faremos o possível para...


_Bem, fale com a Sra. Fairfax! —tento controlar minha impaciência. — Descubra o que ela fez com ele!


_Com toda certeza. Mas infelizmente ela entrou de férias, e apesar dos nossos esforços, não conseguimos contato com ela.


_Ela o roubou? —digo horrorizada.


            Vou encontrá-la. Custe o que custar. Detetives, polícia, a Interpol... Já estou de pé no tribunal, apontando para o anel num saco plástico de provas, enquanto uma mulher de meia idade, bronzeada por ter se encondido em Costa del Sol, olha para mim com raiva do banco dos réus.


_A Sra. Fairfax é uma funcionária fiel á trinta anos e já devolveu vários itens de valor que pertenciam a hóspedes. —ele parece levemente ofendido. — Acho difícil acreditar que ela faria uma coisa dessas.


_Então deve estar em algum luar no hotel. —digo, esperançosa.


_é o que estamos tentando descobrir. Obviamente, assim que eu souber de mais alguma coisa, entrarei em contato. Ainda posso usar este número, não posso?


_Pode! —eu instintivamente aperto ainda mais o telefone. — Use este número. Por favor, ligue assim que souber de qualquer coisa. Obrigada.


            Quando desligo, estou ofegante. Não sei como me sentir. Quero dizer, a notícia foi boa. Mais ou menos. Não é?


            Exceto pelo fato de que ainda não estou com o anel em segurança no meu dedo. Mesmo assim todo mundo vai ficar preocupado. Os pais de Christopher vão pensar que sou estranha e irresponsável e jamais vão me perdoar por fazê-los passar por esse tipo de estresse. Então continuo tendo um pesadelo dos brabos pela frente.


            A não ser... A não ser que eu possa...


            Não. Eu não poderia. Poderia?


            Estou parada imóvel, como uma pilastra presa ao chão, com a mente a mil. Certo. Vamos pensar nisso direito. Lógica e eticamente. Se o anel não está realmente desaparecido...


            Passei por uma farmácia Boots na rua principal, uns 400 metros atrás. Quase sem perceber o que estou fazendo, refaço os passos. Ignoro a vendedora que tenta dizer que estão fechando. E com a cabeça baixa, vou até a prateleira de primeiro socorros. Tem uma espécie de luva e alguns rolos de curativos adesivos. Compro tudo.


            Alguns minutos depois, estou subindo a colina de novo. Minha mão está coberta de curativos, e não dá para perceber se estou usando o anel ou não, e nem tenho que mentir, posso dizer: “É difícil usar anel com a mão queimada.” E é verdade.


            Estou quase chegando em casa quando o telefone toca e chega uma mensagem de Alfonso Herrera.


Onde está o anexo?


            Típico. Nada de “oi” nem explicação. Ele apenas espera que eu saiba do que ele está falando.


Como assim? 


O e-mail de Ned Murdoch. Não veio anexo nenhum.


Não foi culpa minha! Apenas encaminhei o e-mail. Eles devem ter esquecido de anexar. Por que não pede que eles mandem de novo, COM o anexo? Direto para o seu computador?


            Sei que pareço um pouco exasperada, e é claro que ele percebe de cara.


A ideia de dividir o telefone foi sua, caso não se lembre. Se está cansada disso, devolva o aparelho.


            Apressadamente, mando em resposta:


Não, não! Tranquilo. Se chegar, eu encaminho. Não se preocupa. Achei que você ia pedir que os e-mails fossem para o seu endereço.


O pessoal técnico disse que resolveria rápido. Mas eles são uns mentirosos.


            Há uma pausa curta e ele manda outra mensagem.


E aí, achou o anel?


Quase. O hotel achou, mas perdeu de novo.


Típico.


Pois é.


            A essa altura, parei de andar e estou encostada num muro. Sei que vou me atrasar, mas não consigo evitar. É reconfortante ter essa conversa virtual pelo cosmos com uma pessoa que não me conhece e não conhece Christopher, nem mais ninguém. Depois de algum tempo, mando uma mensagem num surto confessional.


Não vou contar para os meus sogros que perdi o anel. Acha que é muito ruim?


            Não acontece nada por um tempo, mas depois ele responde.


Por que teria que contar?


            Que tipo de pergunta ridícula é essa? Eu reviro os olhos e digito:


O anel é deles!


            Quase imediatamente chega a resposta dele:


Não é deles. É seu. Não é da conta deles. Nada tão preocupante.


            Como ele pode escrever “não tão preocupante”? Enquanto respondo, aperto as teclas com irritação.


É uma maldita HERANÇA DE FAMÍLIA. To indo jantar com eles agora. Vão querer ver o anel no meu dedo. É mais do que preocupante. Valeu.


            Por um tempo, há um silêncio e acho que ele desistiu da nossa conversa. Mas quando estou prestes a sair andando, outra mensagem de texto chega no celular.


Como vai explicar o anel desaparecido?


            Tenho um momento de debate intenso. Por que não ter uma segunda opinião? Acerto a tela com cuidado, tiro uma foto da mão coberta de curativos e mando por mensagem multimídia. Cinco minutos depois, ele responde:


Tá de brincadeira.


            Sinto um ressentimento de leve e me vejo digitando:


O que VOCÊ faria então?


            Estou meio com esperança de que ele tenha uma ideia brilhante que não tinha me ocorrido. Mas a mensagem seguinte apenas diz:


É por isso que homem não usa anel.


            Que ótimo. Bem, ajudou muito. Estou prestes a digitar uma coisa sarcástica em resposta quando uma segunda mensagem de texto chega:


Parece falso. Tira um dos curativos.


            Eu olho para a minha mão consternada. Talvez ele esteja certo.


Ok. Tks.


            Solto um curativo e começo a jogá-lo para dentro da bolsa quando escuto a voz de Christopher de repente.


_Anahí! O que você está fazendo?


            Olho para a frente e vejo que ele está descendo a rua na minha direção. Desnorteada, coloco o celular na bolsa e fecho o zíper. Ouço o som de outra mensagem chegando, mas vou ter que olhar depois.


_Oi, Christopher! O que você está fazendo aqui?


_Vim comprar leite. Acabou. —Ele para à minha frente e coloca as duas mãos nos meus ombros, com os olhos castanhos me observando com carinho e brilhando de alegria. — O que houve? Está adiando o momento terrível?


_Não! —dou uma risada defensiva. — É claro que não! Estou indo para a sua casa.


_Sei o que você queria conversar comigo.


_Você... Sabe? —Olho involuntariamente para minha mão coberta de curativos e depois desvio o olhar.


_Meu amor, me ouve. Você precisa parar de se preocupar com os meus pais. Eles vão amar você quando te conhecerem direito. Vou cuidar para que isso aconteça. Vamos nos divertir hoje à noite. OK? Você só tem que relaxar e ser você mesma.


_Tudo bem. —eu faço que sim com a cabeça e ele me aperta, depois olha para os curativos.


_A mão ainda está ruim? Coitadinha.


            Ele nem mencionou o anel. Sinto uma pontinha de esperança. Talvez a noite seja boa, afinal.


_Você contou para os seus pais sobre o ensaio? É amanhã de noite na igreja.


_Eu sei. —ele sorri. — Não se preocupe. Está tudo certo.


            Enquanto ando ao lado dele, saboreio a ideia. A antiga igreja de pedra. O órgão tocando quando entro. Os votos.


            Sei que algumas noivas só pensam na música ou nas flores ou no vestido. Mas eu só penso nos votos. Na saúde e na doença... Na riqueza e na pobreza... Prometo lhe dar minha felicidade eterna... Durante toda a minha vida eu ouvi essas palavras mágicas. Em casamentos da família, em cenas de filmes, até em casamentos reais. As mesmas palavras, sempre repetidas, como uma poesia que resistiu aos séculos. E agora vamos recitá-las um para o outro. Faz minha espinha dorsal formigar.


_Estou tão ansiosa para dizer nossos votos. —não consigo deixar de falar, embora já tenha dito isso para ele umas cem vezes antes.


            Houve um curto período, logo depois que ficamos noivos, em que Christopher pareceu achar que íamos nos casar num cartório. Ele não é religioso, nem os pais dele. Mas assim que expliquei para ele o quanto sempre desejei fazer os votos na igreja, ele mudou de ideia e disse que não conseguia imaginar nada mais maravilhoso.


_Eu sei. —ele aperta minha cintura de novo. — Eu também.


_Você não se importa mesmo de recitar aquelas palavras antigas?


_Amor, elas são lindas.


_Eu também acho. —eu suspiro com alegria. — É tão romântico.


            Todas as vezes em que me imagino com Christopher no altar, com as mãos unidas e dizendo aquelas palavras para ele e ele para mim com a voz clara e alta, parece que nada mais importa.


            Mas quando nos aproximamos da casa vinte minutos depois, minha sensação de segurança começa a desaparecer. Os Uckermann estão realmente de volta. A casa inteira está acesa e ouço pela janela o som de uma ópera. De repente me lembro da vez em que Antony me perguntou o que eu achava de Tannhäuser e eu disse que não fumava.


            Ai, Deus. Por que não fiz um curso intensivo sobreópera?


            Christopher abre a porta da frente e estala a língua.


_Droga. Esqueci de ligar para o Dr. Wheeler. Vou demorar só alguns minutos.


            Não consigo acreditar. Ele está subindo a escada em direção ao escritório. Ele não pode me deixar.


_Christopher!  —tento não parecer muito em pânico.


_Entra! Meus pais estão na cozinha. Ah, comprei uma coisa para você, para a lua de mel. Abre! —ele me joga um beijo e entra no corredor.


            Há uma caixa enorme com um laço na poltrona do hall. Uau. Conheço a loja e sei que é cara. Abro a caixa, rasgo o papel de seda verde-claro de qualidade e vejo um quimono japonês estampado de cinza e branco. É lindíssimo, e tem até uma combinação.


            De impulso, entro na sala de star da frente, a que ninguém usa. Tiro a blusa e o cardigã, visto a camisola e recoloco a roupa. Ficou um pouco grande, mas é linda mesmo assim. Toda macia da seda e com uma sensação de que é um luxo.


            É um presente lindo. É mesmo. Mas, para ser sincera, o que eu preferia agora, era Christopher ao meu lado com a mão segurando a minha com firmeza e me dando apoio moral. Dobro o penhoar e recoloco no meio do papel rasgado, sem me apressar.


            Nenhum sinal de Christopher. Não posso adiar mais.


_Christopher? —é a voz aguda e distinta de Wanda, vinda da cozinha. — É você?


_Não, sou eu! Anahí! —minha garganta está tão apertada de nervosismo que pareço uma estranha.


_Anahí! Entre!


            Relaxe. Seja você mesma. Vamos.


            Seguro a garrafa de vinho com firmeza e entro na cozinha, que está quente e com cheiro de molho à bolonhesa.


_Oi, como vocês estão? —digo, nervosa e bem rápido. — Eu trouxe um vinho. Espero que vocês gostem. É tinto.


_Anahí. —Wanda anda em minha direção. O cabelo desgrenhado dela foi recentemente pintado com hena e ela está usando um dos vestidos estranhos e soltinho feito do que parece ser seda de paraquedas e sapatos estilo boneca com sola de borracha. A pele dela está tão pálida, sem maquiagem, como sempre, embora tenha feito um traço torto nos lábios de batom vermelho./Christopher diz que Wanda nunca tomou sol na vida, e ela acha que as pessoas que viajam de férias para se deitar em espreguiçadeiras devem se deficientes mentais. Eu devo ser uma, então./ A bochecha dela roça na minha e sinto um aroma de perfume velho. — A nooooiva! —Ela pronuncia a palavra com um cuidado que beira o ridículo. — A “prometida”.


_A “nubente”. —diz Antony, levantando-se da cadeira. Ele está usando uma jaqueta de tweed, a mesma da foto na quarta capa do livro, e me examina com o mesmo olhar intenso e perturbador. — “O papa-figo casa-se com sua parceira sarapintada, o lírio é noivo da abelha”. Outro para sua coleção, querida? —acrescenta ele para Wanda.


_Isso mesmo! Preciso de uma caneta. Onde tem uma caneta? —Wanda começa a procurar em meio aos papéis que já tomam conta da bancada. — O dano infligido à causa feminista pelo ridículo e preguiçoso antropomorfismo. “Casa-se com sua parceira sarapintada”. Eu lhe pergunto, Anahí! —ela se dirige a mim e eu dou um sorriso sem jeito.


            Não faço ideia do que ela está dizendo. Nenhuma. Por que eles não podem simplesmente dizer “oi, como você está?”, como as pessoas normais?


_Qual é a sua visão sobre a reação cultural ao antropomorfismo? Do ponto de vista de uma jovem mulher?


            Meu estômago dá um salto quando me deu conta de que Antony está olhando na minha direção de novo. Ah, minha mãe do céu. Ele está falando comigo?


            Antro o quê?


            Se ao menos ele escrevesse as perguntas e me desse cinco minutos para pesquisar (e talvez um dicionário), sinto que eu teria um pouco de chance de dizer algo inteligente. Afinal, eu fiz faculdade. Tenho trabalhos escritos nos quais usei palavras longas e tenho uma dissertação. /”O estudo do movimento contínuo passivo após artroplastia total do joelho.” Ainda tenho guardado, dentro de uma pasta de plástico./ Minha professora de inglês até disse uma vez que eu tinha uma “mente investigativa”. /Mas não disse exatamente o que ela estava investigando./


            Mas não tenho cinco minutos. Ele está esperando que eu fale. E tem alguma coisa no olhar intenso dele que transforma minha língua em poeira.


_Bem. Hum... Acho que... é... um debate interessante. —digo francamente. — Crucial nos dias e na época de hoje. Como foi o voo de vocês? —acrescento rapidamente. Talvez possamos falar de filmes ou alguma coisa assim.


_Horrível. —Wanda tira os olhos do papel no qual está escrevendo. — Por que as pessoas viajam de avião? Por quê?


            Não tenho certeza se ela espera uma resposta ou não.


_Hum... para viajarem de férias e tal...


_Já comecei a tomar notas para um artigo sobre esse assunto. —diz Wanda, me interrompendo. — “O impulso migratório”. Por que os humanos se sentem compelidos a se lançarem de um lado para outro do globo terrestre? Será que estamos seguindo os antigos caminhos migratórios dos nossos ancestrais?


_Você leu Burroughs? —diz Antony para ela com interesse. — Não o livro, a tese de doutorado.


            Ninguém me ofereceu algo para beber até agora. Sem fazer barulho, tentando me camuflar ao ambiente, vou até a área da cozinha para servir uma taça de vinho para mim.


_Eu soube que Christopher deu a você o anel de esmeralda da avó dele.


            Dou um salto de pânico. Já estamos falando do anel. Há um tom de provocação na voz de Wanda ou foi impressão minha? Será que ela sabe?


_Deu! É... é lindo. —minhas mãos estão tremendo tanto que quase derramo o vinho.


            Wanda não diz nada, só olha para Antony e ergue as sobrancelhas de forma significativa.


            O que isso quer dizer? Por que um elevar de sobrancelhas? O que eles estão pensando? Merda, merda, eles vão pedir para ver o anel, tudo vai desmoronar...


_É... é difícil usar o anel com a mão queimada. —digo desesperadamente.


            Pronto. Não era mentira. Exatamente.


_Queimada? —Wanda se vira e segura a minha mão cheia de curativos. — Minha querida! Você precisa ir ver Paul.


_Paul. —concorda Antony. — Com certeza. Ligue para ele, Wanda.


_Nosso vizinho. —explica ela. — Dermatologista. O melhor. —Ela já está no telefone, enrolando o fio antiquado ao redor do pulso. — Ele mora do outro lado da rua.


            Do outro lado da rua?


            Fico paralisada de pavor. Como as coisas puderam dar tão errado tão rápido? Tenho uma visão de um homem enérgico com valise de médico entrando na cozinha e dizendo “Vamos dar uma olhada”, e todo mundo se reunindo ao redor para ver enquanto tiro os curativos.


            Será que devo correr para o andar de cima e procurar um fósforo? Ou água fervente? Para ser sincera, acho que eu preferiria a dor agonizante a ter que admitir a verdade...


_Droga! Ele não está em casa. —ela coloca o fone no gancho.


_Que pena. —consigo dizer quando Christopher aparece na porta da cozinha seguido de Felix, que diz “Oi, Anahí” e mergulha de volta no livro acadêmico que estava lendo.


_E então? —Christopher olha para mim e para os pais, como se estivesse tentando avaliar o astral no ambiente. — Como vocês estão? Anahí não está ainda mais bonita do que o normal? Ela não é linda? — Ele pega meus cabelos na mão e depois os solta.


            Eu queria que ele não fizesse isso. Sei que está tentando ser legal, mas me faz encolher de medo. Wanda parece confusa, como se não tivesse ideia de como responder a isso.


_Encantadora. —Antony sorri com educação, como se estivesse admirando o jardim de alguém.


_Conseguiu falar com o Dr. Wheeler? —pergunta Wanda.


_Consegui. —responde Christopher. — Ele diz que o foco é a gênese cultural.


_Bem, eu devo ter lido isso errado. —diz ela com irritação. — Estamos tentando ver se conseguimos ter artigos publicados no mesmo periódico. — Wanda se vira para mim. — Todos nós seis, incluindo Conrad e Margot. Trabalho familiar, sabe. Felix fará o índice. Todos envolvidos!


            Todos menos eu passa pela minha cabeça.


            E isso é ridículo. Porque será que eu quero escrever um artigo acadêmico num periódico obscuro que ninguém lê? Não. Será eu que sou capaz? Não. Sei o que é gênese cultural? Não. /Embora eu seja boa em notas de rodapé. Poderiam me deixar responsável por elas./


_Sabe, Anahí já publicou artigos na área dela. —anuncia Christopher de repente, como se ouvisse meus pensamentos e desse um salto em minha defesa. — Não foi, querida? —Ele sorri para mim com orgulho. — Não seja modesta.


_Você já publicou? —Antony desperta e olha para mim com mais atenção do que nunca. — Ah. Isso é interessante. Em que periódico?


            Olho com impotência para Christopher. De que ele está falando?


_Você se lembra! —diz ele para mim. — Você não disse que tinha saído uma coisa sua naquele periódico de fisioterapia?


            Ah, Deus. Não.


            Vou matar Christopher. Como ele pôde falar nisso?


            Antony e Wanda estão esperando que eu responda. Até Felix está olhando com interesse. Estão obviamente esperando que eu anuncie uma descoberta na influência cultural da fisioterapia nas tribos nômades, ou algo do tipo.


_Foi no Physiotherapist’s Weekly Roundup —murmuro por fim, olhando para os meus pés. — Não é exatamente um periódico. É mais... uma revista. Publicaram uma carta minha uma vez.


_Sobre uma pesquisa? —diz Wanda.


_Não. —eu engulo em seco. — foi sobre quando os pacientes têm ce-cê. Falei que talvez devêssemos usar máscara de gás. Foi... você sabe. Era para ser engraçado.


            Silêncio.


            Fico tão envergonhada que não consigo nem erguer a cabeça.


_Mas você escreveu uma dissertação para se formar. —arrisca Felix. — Você não me contou uma vez?


            Eu me viro com surpresa e vejo que ele está me olhando com seriedade e encorajamento.


_Sim. Mas... não foi publicada nem nada. —dou de ombros de maneira desajeitada.


_Eu gostaria de ler um dia.


_Tudo bem.


            Dou um sorriso, mas para ser sincera, é patético. É claro que ele não quer ler, só quer ser gentil. E é fofo da parte dele, mas faz com que eu me sinta ainda pior, porque tenho 29 anos e ele tem 17. Além do mais, se ele estava tentando aumentar minha confiança na frente dos pais dele, não deu certo, por que eles nem estão ouvindo.


_É claro que o humor é uma forma de expressão que é preciso levar em conta na narrativa cultural da pessoa. —diz Wanda sem muita segurança. — Acho que Jacob C. Goodson fez um trabalho interessante sobre “Por que os humanos fazem piada”...


_Acho que era “Os humanos fazem piada?” —corrige Antony. — É claro que a tese dele era a de que...


            Eles recomeçam. Eu expiro, com as bochechas ainda quentes. Não consigo lidar com isso. Quero alguém com quem falar sobre férias, a novela ou qualquer coisa, menos isso.


            Quero dizer, é claro que eu amo Christopher e tal. Mas estou aqui há cinco minutos e estou tendo um ataque de nervos. Como vou sobreviver ao Natal todos os anos? E se nossos filhos forem todos superinteligente e eu não conseguir entender o que eles estão dizendo e eles me desprezarem porque não tenho doutorado?


            Há um cheiro forte no ar, e de repente me dou conta de que o molho à bolonhesa está queimando. Wanda está ali ao lado do fogão, tagarelando sobre Aristóteles e nem reparou. Eu gentilmente pego a colher na mão dela e começo a mexer. Graças a Deus, não é preciso ter Prêmio Nobel para isso.


 




 


raya_ponchito Angel acha que o Christopher era pra ser dela. Esse capítulo fala um pouco do anel ;)


A história pode parecer um pouco `enrolada` mas é divertida! Como tem na capa do livro :p



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Autor(a): AnnRBD

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 336



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  • Angel_rebelde Postado em 02/04/2014 - 22:45:11

    Posso te dizer que até gostei da história apesar de que os cap ficaram um pouco longos demais. E não sou mto fã de história deles que se passa tanta coisa e só ficam juntos no último cap. Mas teve partes divertidas e gostei mto do irmão do Ucker por ele ter sido sincero com a Anny o tempo todo e achei legal a atitude da mãe dele em se desculpar no final e realmente demonstrar o quanto gosta e admira a Anny. O final foi legal tbm, bem inusitado.

  • Angel_rebelde Postado em 02/04/2014 - 02:02:13

    Comecei a ler sua história hj e confesso que me surpreendi. Já a havia encontrado outras vezes mas não dei a devida atenção. Tô rindo mto com a Anahí loka de pedra ! kkkkkkkkkkkk. Querendo impressionar os outros. Ela nem precisa de nada disso porque é uma mulher mto inteligente. Adorando ler sua fic. Se tiver outras gostaria de ler tbm.

  • franmarmentini Postado em 19/12/2013 - 09:31:31

    vou ler essa também...mas estou aguardando as novas :)

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 19:03:47

    Lindo, lindo, lindo esse final *-* E engraçado também para variar. Alfonso mandando coração OOUNT

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 19:01:51

    O QUE FOI ISSO NESSE FINAL? Lindo, maravilhoso, perfeito, sem palavras! Ele mandou mensagem para todos os convidados para impedir o casamento e o mais lindo ainda foi quando ele disse que pensava nela, queria ouvir a voz dela e tudo mais .. Tudo muito lindo!

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:59:23

    No fim, o Ucker não passava de um GRANDE idiota, ah que raiva dele!!

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:57:37

    Olha que lindo, até para o dentista ele foi por ela kkk

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:56:47

    Gente, eu quase tive um ataque nessa reta final quando a Any aceitou voltar com o Ucker. Sério, pensei que ia acabar desse jeito!

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:55:25

    AAAA' até que fim a Any mandou uma mensagem para bruxa Perla, ela tava merecendo! Arrasou.

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:54:14

    Amei ver os trechos de algumas mensagens trocadas entre eles imprimida. Só me fez já sentir saudade da web kk


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