Fanfics Brasil - 036 Fiquei com o seu número [Adp] [Terminada]

Fanfic: Fiquei com o seu número [Adp] [Terminada] | Tema: Anahí e Alfonso


Capítulo: 036

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            Ainda bem que não comi os rolinhos de canela. Isso é tudo que posso dizer. Violet tem uns 3 metros de altura, com pernas finas que estão moldadas por um short jeans surrado, e enormes olhos escuros com traços e maquiagem ao redor. /Ou esse é um visual muito artístico, como se vê em revistas de moda, ou ela não tirou a maquiagem de ontem à noite. (Como se eu pudesse falar alguma coisa.)/ Ela parece um cruzamento entre uma girafa e um galagonídeo.


            Por sorte, ela mora em Clapham e só demorou uns cinco minutos para chegar. Então aqui está ela, no Costa, mastigando um wrap de frango e tomando um smoothie. Maite e Angel voltaram para o trabalho, o que é bom, porque eu não conseguiria aguentar ter que explicar a saga toda para elas. É tudo surreal demais.


            Como Violet me disse várias vezes, se ela não estivesse por acaso em Londres, entre trabalhos, e não tivesse por acaso visto as manchetes quando estava indo comprar um litro de leite, jamais saberia sobre o escândalo. E se não tivesse por acaso um cérebro dentro da cabeça, não teria de repente se dado conta de que sabia o que estava acontecendo o tempo todo. Mas as pessoas são agradecidas? Querem ouvir? Não. São todos imbecis.


_Os meus pais estão num cruzeiro idiota. —diz ela com desdém— Tentei procurar na agenda de telefone deles, mas não sei quem é quem, sei? Então tentei ligar para a linha de Alfonso, depois para a linha de Nick... mas só consegui falar com assistentes pretensiosas. Ninguém quis me ouvir. Mas eu preciso contar pra alguém. —ela bate com a mão na mesa— Porque sei de uma coisa que está acontecendo. Eu até meio que sabia na época. Mas Alfonso alguma vez me ouviu? Você acha que ele nunca ouve você? —ela se concentra em mim com interesse pela primeira vez— E, afinal, quem é você exatamente? Você disse que estava ajudando Alfonso. O que isso quer dizer?


_É meio complicado. —eu digo depois de uma pausa— Ele estava numa situação difícil.


_Ah, é? —ela dá outra mordida no wrap de frango e me olha com interesse— Como assim?


            Ela esqueceu?


_Bem... hum... Você foi embora sem avisar. Lembra? Você era a assistente dele?


_Ceeeerto. —ela arregala os olhos— É. Aquele emprego não deu certo pra mim. E a agência ligou e queria que eu pegasse um avião, então... —ela franze a testa, como se estivesse pensando nisso pela primeira vez— Acho que ele ficou meio bravo. Mas eles têm toneladas de funcionários. Ele vai ficar bem. —ela balança a mão no ar— E então, você trabalha lá?


_Nãoo. —como vou explicar? — Encontrei esse celular e peguei emprestado, e acabei conhecendo Alfonso assim.


_Eu me lembro desse celular. É. —ela olha para ele e torce o nariz— Eu nunca atendia.


            Eu sufoco um sorriso. Ela deve ter sido a pior assistente do mundo.


_Mas é por isso que sei que alguma coisa estava acontecendo. —ela termina o wrap de frango com um floreio— Por causa de todas as mensagens. Nisso aí. —ela aponta um dedo para o celular.


            Certo. Pelo menos, estamos chegando lá.


_Mensagens? Que mensagens?


_Ele tinha umas mensagens na caixa postal. Não para Alfonso, mas para um cara chamado Ed. Eu não sabia o que fazer com elas. Então ouvi todas e anotei. E não gostei do que diziam.


_Por que não? —meu coração dispara.


_Eram todas de um mesmo cara, sobre alterar um documento. Sobre como iam fazer isso. O tempo que ia demorar. O quanto ia custar. Esse tipo de coisa. Não parecia certo, entende? Mas não parecia exatamente errado também. —ela franze o nariz de novo— Elas pareciam... estranhas.


            Minha cabeça está girando. Não consigo assimilar. Recados de caixa postal para Ed sobre o memorando. Neste celular. Neste celular.


_Você contou pro Alfonso?


_Mandei um e-mail para ele, e ele me disse para ignorá-las. Mas eu não queria ignorá-las. Sabe o que quero dizer? Eu tinha uma intuição. —ela balança o copo de smoothie— E então, abro o jornal hoje de manhã e vejo Alfonso falando sobre um memorando e dizendo que deve ter sido falsificado, e eu penso, sim! —ela bate a mão na mesa de novo— Era isso que estava acontecendo.


_Quantos recados tinham na caixa postal, ao todo?


_Quatro? Cinco?


_Mas não tem mais recados na caixa postal agora. Pelo menos, não encontrei nenhum. —mal consigo suportar fazer a pergunta— Você... os apagou?


_Não! —ela sorri, triunfante— Essa é a questão! Eu salvei todos. Pelo menos, meu namorado Aran salvou. Eu estava anotando um deles uma noite e ele disse: “Amor, você devia salvar no servidor”. E eu falei: “Como salvo um recado de caixa postal?” Então ele foi até o escritório e guardou todos num arquivo. Ele sabe fazer coisas incríveis, o Aran. —acrescenta ela com orgulho— Ele também é modelo, mas escreve jogos como trabalho extra.


_Um arquivo? —não estou entendendo— Onde está o arquivo agora?


_Ainda deve estar lá. —ela dá de ombros— No computador da assistente. Tem um ícone chamado caixa postal na área de trabalho.


            Um ícone no computador da assistente. Do lado de fora da sala de Alfonso. Todo o tempo, esteve bem ali, bem na nossa cara...


_Será que ainda está lá? —sinto uma onda de pânico— Será que não foi deletado?


_Não sei por que teria sido. —ela dá de ombros— Nada tinha sido deletado quando cheguei. Havia uma pilha enorme de lixo que eu tive que avaliar.


            Eu quase quero rir histericamente. Tanto pânico. Tanto esforço. Poderíamos apenas ter ido até o computador do lado de fora da sala de Alfonso.


_Seja como for, vou para os Estados Unidos amanhã, e eu tinha que contar para alguém, mas é impossível fazer contato com Alfonso agora. —diz, decepcionada— Tentei mandar e-mail, mensagem de texto, telefonar... E falei: “Se você soubesse o que tenho pra te contar...”


_Deixa eu tentar. —digo depois de uma pausa, e mando uma mensagem de texto para Alfonso.


Alfonso, você TEM que me ligar agora. É sobre Sir Nicholas. Pode ajudar. Não é perda de tempo. Sério. Liga logo. Por favor. Anahí.


_Bem, boa sorte. —Violet revira os olhos— Como falei, ele está fora de alcance. A assistente dele disse que ele não está respondendo ninguém. Nem e-mails nem ligações...


            Ela para de falar quando o som de Beyoncé cantando soa no ar. “Alfonso Celular” já apareceu no visor.


_Tudo bem. —ela arregala os olhos— Estou impressionada.


            Aperto o botão de atender e levo o celular ao ouvido.


_Oi, Alfonso.


_Anahí.


            A voz dele parece uma dádiva de luz no meu ouvido. Tem uma coisa que quero dizer. Mas não posso. Não agora.


            Talvez nunca.


_Escuta. —eu digo— Você está no escritório? Liga o computador da sua assistente. Rápido.


            Ele faz uma breve pausa e diz:


_Tá.


_Vai na área de trabalho. —continuo, instruindo-o— Tem um ícone chamado “Caixa postal”?


            Há silêncio por um tempo, mas logo a voz de Alfonso soa no telefone.


_Afirmativo.


_Que bom! —minha respiração sai como uma onda. Eu não tinha me dado conta de que a estava prendendo— Você precisa checar esse arquivo com cuidado. E agora você precisa falar com Violet.


_Violet? —ele parece surpreso— Você não quer dizer Violet, a minha ex-assistente esquisita, quer?


_Estou com ela agora. Escuta o que ela tem pra falar, Alfonso. Por favor. Vou passar o celular pra ela.


_Oi, Alfonso. —diz Violet tranquilamente— Me desculpa por ter saído de repente e tal. Mas você teve Anahí para ajudar, né?


            Enquanto ela fala, vou até o balcão e compro outro café, embora esteja tão elétrica que provavelmente não devesse. Só de ouvir a voz de Alfonso já estou confusa. Eu de cara senti vontade de conversar com ele sobre tudo. Queria me aconchegar nele e ouvir o que ele tinha a dizer.


            Mas isso é impossível. Primeiro, porque ele está no meio de um problema enorme. Segundo, porque quem é ele? Não é um amigo. Não é um colega. É apenas um cara qualquer eu não tem lugar na minha vida. Acabou. O único lugar para onde podemos ir agora é adeus.


            Talvez enviemos algumas mensagens um para o outro. Talvez nos encontremos meio constrangidos daqui a um ano. Nós dois estaremos diferente, e vamos dizer um oi formal, já arrependidos da decisão de ir. Vamos rir sobre a bizarrice da história do celular. Jamais vamos mencionar o que aconteceu no bosque. Porque não aconteceu.


_Você está bem, Anahí? —Violet está de pé na minha frente, balançando o celular a centímetros do meu rosto— Aqui.


_Ah! —eu pego o aparelho— Obrigada. Você falou com Alfonso?


_Ele abriu o arquivo enquanto eu estava falando com ele. Está bem eufórico. Disse para te dizer que vai ligar mais tarde.


_Ah. Bem... ele não precisa. —eu pego meu café— Tudo bem.


_Ei, bela pedra. —Violet segura a minha mão. /Ninguém nunca pegou a minha mão para olhar o anel antes. Isso é definitivamente uma invasão de espaço pessoal/— É uma esmeralda?


_É.


_Legal! Quem é o sortudo? —ela pega um iPhone— Posso tirar uma foto? Estou colhendo ideias para quando Aran ficar zilionário. Você mesma escolheu? —ela faz uma pausa para nos sentarmos de novo.


_Não, ele já tinha o anel quando fez o pedido. É de família.


_Que romântico.—Violet assente— Uau. Então você não esperava?


_Não. Nem um pouco.


_E você ficou pensando assim: “Porra!”


_Mai ou menos. —eu concordo com a cabeça.


            Parece que foi há um milhão de anos agora, aquela noite em que Chritopher me pediu em casamento. Eu fiquei tão eufórica. Senti como se tivesse entrado numa bolha mágica onde tudo era cintilante e perfeito e nada pudesse dar errado de novo. Meu Deus, fui uma idiota...


            Uma lágrima desce pela minha bochecha antes que eu possa impedir.


_Ei. —Violet olha para mim com preocupação— Você está bem?


_Não foi nada! —eu sorrio e limpo os olhos— É que... as coisas não estão exatamente ótimas. Meu noivo talvez esteja me traindo e não sei o que fazer.


            Já me sinto melhor só de colocar as palavras para fora. Eu respiro fundo e sorrio para Violet.


_Desculpa. Deixa isso pra lá. Você não quer saber.


_Não. Tudo bem. —ela coloca os pés em cima da cadeira e me olha com atenção— Por que você não tem certeza se ele está te traindo ou não? O que faz você pensar que ele está?


_Uma pessoa me mandou uma mensagem de texto anônima. Só isso.


_Então ignore. —Violet me olha com mais atenção— Ou você tem um pressentimento? Parece o tipo de coisa que ele faria?


            Fico em silêncio por um momento. Eu queria tanto poder dizer “Nunca! Nem em um milhão de anos!”. Mas momentos demais estão se destacando no meu cérebro. Momentos que eu não quis enxergar; que tentei apagar. Christopher flertando com garotas em festas. Christopher cercado pelas alunas, com os braços casualmente passados nos ombros delas. Christopher quase sendo molestado por Angel.


            O negócio é que as garotas gostam de Christopher. E ele gosta delas.


_Não sei. —digo, olhando para o meu café— Talvez.


_E você tem alguma ideia de com quem seria?


_Talvez.


_Então! —Violet parece eletrizada— Encare a situação. Você já falou com ele? Já falou com ela?


_Ele está em Bruges, na despedida de solteiro. Não posso falar com ele. E ela... —eu paro de falar— Não. Não posso. Quero dizer, é apenas uma possibilidade. Ela deve ser totalmente inocente.


_Você tem certeza de que ele está na despedida de solteiro? —diz Violet, erguendo as sobrancelhas, mas depois sorri— Não, só estou deixando você mais desconfiada. —ela empurra o meu braço— Tenho certeza de que ele está. Ei, querida, tenho que ir fazer as malas. Espero que dê tudo certo para você. Mande lembranças a Alfonso..


            Quando ela sai do café, umas seis cabeças de homem de viram. Tenho certeza de que, se Christopher estivesse aqui, a dele seria uma das que se virariam.


            Olho com lerdeza para o meu café por mais um tempo. Por que as pessoas têm que ficar me dizendo para encarar a situação? Eu encaro as coisas. Várias vezes. Mas não posso ir até Christopher no meio da despedida de solteiro, nem procurar Dulce para acusá-la, do nada. Quero dizer, é preciso ter evidências. É preciso de fatos. Uma mensagem anônima não é o bastante.


            Meu telefone começa a tocar a música da Beyoncé e eu fico tensa, apensar de tudo. Será...


            Não. É um Número desconhecido. Mas qual maldito Número Desconhecido? Eu tomo um gole de café para me dar força e atendo.


_Alô. Anahí Portilla falando.


_Oi, Anahí. Meu nome é Brenda Fairfax. Estou ligando do hotel Berrow. Estive fora alguns dias, de férias, senão é claro que eu teria ligado imediatamente. Peço desculpas.


            A Sra. Fairfax. Depois de todo esse tempo. Eu quase sinto vontade de cair na gargalhada.


            E pensar o quanto fiquei desesperada para ouvir a voz dessa mulher. E agora, é tudo irrelevante. Tenho meu anel de volta. Nada disso importa. Por que ela está me ligando? Falei para o concierge que tinha recuperado o anel. A coida toda acabou.


_Você não precisa pedir desculpas...


_Mas é claro que preciso! Que confusão horrível! —ela parece perturbada. Talvez o concierge tenha sido rigoroso com ela. Talvez tenha mandado me ligar para pedir desculpas.


_Por favor, não se preocupe. Passei por um susto, mas está tudo bem agora.


_E é um anel tão valioso!


_Está tudo bem. —digo, acalmando-a— Já passou.


_Mas ainda não consigo entender! Uma das garçonetes o entregou para mim e eu ia guardá-lo no cofre, sabe? Era o que eu ia fazer.


_Sinceramente, você não precisa explicar. —sinto pena dela— Essas coisas acontecem. Foi o alarme de incêndio, você se distraiu...


_Não! —a Sra. Fairfax parece um tanto ofendida— Não foi isso que aconteceu. Eu ia guardá-lo no cofre, como falei. Mas, antes de poder fazer isso, uma outra moça foi até mim e me disse que era dela. Uma outra convidada do chá.


_Outra convidada? —pergunto, depois de uma pausa.


_Sim! Ela disse que era o anel de noivado dela e que estava desesperada procurando por ele. Falou com muita firmeza. A garçonete confirmou o fato de ela estar sentada naquela mesa. E ela o colocou no dedo. Bem, quem era eu para questionar?


            Eu esfrego os olhos e me pergunto se estou ouvindo direito.


_Você está me dizendo que outra pessoa pegou o meu anel? E disse que era dela?


_Sim! Ela foi firme ao dizer que o anel era dela. Colocou no dedo na mesma ora, e ele serviu. Ficou até bem bonito. Sei que eu deveria ter pedido prova de que ela era a dona, e vamos rever nossos procedimentos oficiais por conta dessa infeliz ocorrência...


_Sra. Fairfax. —eu a interrompo, nem um pouco interessa nos procedimentos oficiais— Posso só te perguntar... Ela tinha cabelo escuro e comprido, por acaso? E estava com uma tiara de pedras?


_Sim. Cabelo escuro e comprido, com uma tiara de pedras, como você falou, e um vestido laranja maravilhoso.


            Eu fecho os olhos sem acreditar. Dulce. Foi Dulce.


            O anel não ficou preso no forro da bolsa dela. Ela o pegou de propósito. Ela sabia que eu ficaria em pânico. Sabia o quanto era importante. Mas pegou o anel e fingiu que era dela. Só Deus sabe por quê.


            Minha cabeça lateja quando me despeço da Sra. Fairfax. Estou repirando com dificuldade e minhas mãos estão fechadas. Já chega. Talvez eu não tenha prova de que ela está dormindo com Christopher, mas não há dúvida de que posso confrontá-la quanto a isso. E é o que vou fazer agora mesmo.


            Não sei o que Dulce está fazendo hoje. Não recebi nenhum e-mail e nenhuma mensagem dela em dois dias, o que é estranho. Quando digito, minhas mãos estão tremendo.


Oi, Dulce! Como você está? O que está fazendo? Posso ajudar? Anahí.


            Quase imediatamente, ela responde:


Só estou resolvendo algumas coisas em casa. Não se preocupe, não é nada que você possa ajudar. Dulce.


            Dulce mora em Battersea. A vinte minutos de táxi. Não vou dar a ela tempo de montar uma história. Vou pegá-la de surpresa.


            Chamo um táxi e dou o endereço, depois me sento e tento ficar calma e forte, embora, quanto mais eu pensei nisso, mais chocada eu fique. Dulce pegou meu anel. Isso significa que ela é uma ladra? Será que fez uma cópia, ficou com o original e o vendeu? Olho para a minha mão esquerda, desconfiada de repente. Tenho tanta certeza assim de que este é mesmo o anel verdadeiro?


            Ou será que ela estava tentando ajudar, de alguma maneira? Será que esqueceu que estava com ele? Será que devo confiar nela... ?


            Não, Anahí. Sem chance.


            Quando chego ao prédio de tijolos vermelhos onde ela mora, um cara de jeans está abrindo a porta da frente. Eu rapidamente entro atrás dele e subo os três lances de escada até o apartamento. Assim, ela nã vai ter aviso nenhum de que estou aqui.


            Talvez ela abra a porta usando o verdadeiro anel, além de todas as outras joias que roubou de amigas que nem desconfiam. Talvez ninguém atenda porque na verdade ela está em Bruges. Talvez Christopher abra a porta enrolado num lençol...


            Ai Deus. Para, Anahí.


            Bato na porta tentando parecer um entregador, e deve ter funcionado porque ela abre com o rosto enrugado de irritação, com o celular na orelha, antes de ficar imóvel com a boca num círculo perfeito.


            Eu olho para ela, igualmente sem palavras. Meus olhos vão para trás de Dulce, para a enorme mala na sala, para o passaporte na mão dela e de novo para a mala.


_O mais rápido possível. —diz ela— Terminal quatro. Obrigada. —ela desliga e me olha com raiva, como se me desafiasse a perguntar o que está fazendo.


            Estou revirando meu cérebro em busca de alguma coisa inspirada e ácida para dizer, mas minha garotinha de 5 anos interna é mais rápida.


_Você pegou meu anel! —quando as palavras saem, sinto minhas bochechas ficando vermelhas, para aumentar o efeito. Talvez eu devesse bater o pé também.


_Ah, pelo amor de Deus. —Dulce enruga o nariz com desprezo, como se acusar a cerimonialista do casamento de roubo fosse uma terrível falha de etiqueta— Você pegou ele de volta, não foi?


_Mas você o pegou!


            Eu entro no apartamento, apesar de ela não ter me convidado, e não consigo evitar uma olhada ao redor. Nunca fui ao apartamento de Dulce antes. É bem grande e fica óbvio que foi decorado por um profissional, mas é uma confusão de superfícies e cadeiras entulhadas, com copos de vinho para tudo quanto é lado. Não é surpreendente que ela sempre queira marcar encontros em hotéis.


_Olha, Anahí. —ela suspira, mal-humorada— Tenho coisas pra fazer, tá? Se você quer ficar fazendo comentários ofensivos, vou ter que pedir para ir embora.


            Hã?


            Foi ela quem fez uma coisa errada. Foi ela quem pegou um anel de noivado valiosíssimo e fingiu ser dela. Como ela conseguiu ignorar esse fato e fazer parecer que sou eu a errada por mencionar isso?


_Se isso é tudo, eu estou bastante ocupada...


_Pode parar. —a força da minha própria voz me toma de surpresa— Isso não é tudo. Quero saber exatamente por que você pegou meu anel. Estava planejando vendê-lo? Estava precisando de dinheiro?


_Não, eu não estava precisando de dinheiro. —ela me olha com raiva— Você quer saber por que peguei, Senhorita Anahí? Porque ele deveria ser meu.


_Seu? Por q...?


            Nem consigo terminar a palavra, muito menos a frase.


_Você sabe que Christopher e eu somos ex-namorados. —ela solta a informação casualmente, como um pedaço de tecido sobre a mesa.


_O quê? Não! Ninguém nunca me disse isso! Vocês ficaram noivos?


            Minha mente está tremendo de choque. Christopher com Dulce? Christopher já foi noivo? Ele nunca mencionou uma noiva anterior, muito menos que tinha sido Dulce. Por que não sei nada disso? O que está acontecendo?


_Não, nunca fomos noivos. —diz ela com relutância, depois me lança um olhar assassino— Mas devíamos ter sido. Ele me pediu em casamento. Com esse anel.


            Sinto uma pontada de dor e incredulidade. Christopher pediu outra garota em casamento com o meu anel? Com o nosso anel? Quero dar as costas e ir embora, fugir, tapar os ouvidos... mas não posso. Tenho que ir até o final. Nada parece fazer sentido.


_Não estou entendendo. Não faz sentido. Você disse que deveria ter ficado noiva. O que aconteceu?


_Ele deu para trás. Foi isso que aconteceu. —diz ela, furiosa— O maldito covarde.


_Ai, Deus. Em que etapa? Vocês tinham planejado o casamento? Ele não deu o fora em você, deu? —pergunto, subitamente horrorizada— Não deixou você no altar, deixou?


            Dulce fechou os olhos, como se estivesse revivendo tudo. Agora, ela os abre e me lança um olhar cruel.


_Foi bem pior. Ele amarelou no meio do maldito pedido.


_O quê? —eu olho para ela, sem entender direito— O que você...


_Estávamos viajando, tínhamos ido esquiar. Dois anos atrás. —ela franze a testa ao lembrar— Eu não era burra, sabia que ele tinha levado o anel da família. Sabia que ele ia me pedir em casamento. Tínhamos acabado de jantar uma noite e só estávamos nós dois no chalé. O fogo estava aceso e ele se ajoelhou no tapete e pegou uma caixinha. Ele a abriu, e lá estava um incrível anel de esmeralda antigo.


            Dulce faz uma pausa, respirando com força. Não mexo um músculo.


_Ele pegou minha mão e disse: “Dulce, minha querida, você quer...” —ela inspira com intensidade, como se mal conseguisse prosseguir— E eu ia dizer sim! Eu estava toda pronta! Só estava esperando que ele chegasse ao final. Mas aí, ele parou. Começou a suar. Em seguida, se levantou e disse: “Droga. Me desculpa. Não posso fazer isso. Me desculpa, Dulce.”


            Ele não fez isso. Ele não fez isso. Fico olhando para ela sem acreditar, quase querendo rir.


_O que você disse?


_Eu gritei: “Fazer o quê, seu babaca? Você nem me pediu ainda!” Mas ele não tinha nada a dizer. Fechou a caixa e guardou o anel. E foi só isso.


_Lamento. —digo, sem jeito— Isso é horrível.


_Ele tem tanta fobia de compromisso que não quis nem se comprometer a fazer uma porra de um pedido! Não conseguiu fazer nem isso até o fim! —ela está numa fúria total, e não a culpo.


_Então por que diabos você concordou em organizar o casamento dele? —questiono, incrédula— Não faz você ficar lembrando todos os dias?


_Era o mínimo que ele podia fazer para tentar me compensar. —ela olha para mim comm raiva— Eu precisava de um trabalho. Apesar de estar pensando em mudar de carreira, na verdade. Organizar casamentos é um maldito pesadelo.


            Não é surpresa Dulce estar sempre de mau humor esse tempo todo. Não é surpresa ela ser tão agressiva comigo. Se eu soubesse por um segundo que ela era ex de Christopher...


_Eu nunca iria ficar com o anel. —acrescenta ela— Só queria te assustar.


_Você conseguiu fazer isso muito bem.


            Não consigo acreditar que deixei essa mulher entrar na minha vida, confiei nela, discuti as minhas esperanças para o dia do casamento... E ela é ex de Christopher. Como ele pôde deixar que isso acontecesse? Como pôde achar que daria certo?


            Sinto que uma espécie de filtro foi tirado da frente dos meus olhos. Sinto que estou finalmente acordando para a realidade. E nem comecei a lidar com o meu maior medo ainda.


_Eu estava achando que você estava dormindo com Christopher. —solto de repente— Não na época em que vocês estavam juntos. Agora. Recentemente. Semana passada.


            Ela fica em silêncio e eu olho para ela, na esperança de ela começar a negar, com os sentimentos feridos. Mas, quando olho nos olhos dela, ela desvia o olhar.


_Dulce?


            Ela pega a mala e começa a andar em direção à porta.


_Vou viajar. Já cansei disso tudo. Mereço férias. Se eu tiver que falar sobre casamentos por mais um segundo...


_Dulce?


_Ah, pelo amor de Deus! —diz ela com impaciência— Talvez eu tenha dormido com ele algumas vezes, para relembrar o passado. Se você não consegue tomar conta dele, não devia casar com ele. —o telefone toca e ela atende— Alô. Sim. Estou descendo. Com licença. —ela me empurra para fora do apartamento, bate a porta e tranca.


_Você não pode simplesmente ir embora! —estou tremendo toda— Tem que me contar o que aconteceu!


_O que você quer que eu diga? —ela levanta as duas mãos— Essas coisas acontecem. Você não devia ter descoberto, mas pronto, aí. —ela leva a mala até o elevador— Ah, e aliás, se você acha que você e eu somos as únicas garotas por quem ele tirou o anel de esmeralda do cofre do banco, você está enganada. Estamos no final da lista, querida.


_O quê? —estou começando a surtar— Que lista? Dulce, espera aí! Do que você está falando?


_Descubra, Anahí. É problema seu. Eu resolvi as flores e a ordem do serviço e as amêndoas e as merdas das... colheres de sobremesa. —ela aperta o botão e a porta começa a fechar.


_Esse é todo seu.


 




 


lyu Violet veio pra ajudar :)


isajuje Você ainda não viu nada...


featanahi Quem sabe a fanfic não acabe no dia 1 de agosto? Vou pensar na ideia :)


titiz.lisboahotmail.com Ai está!!


anniesilva Sim, o Christopher é muito frio nas mensagens.


raya_ponchito As meninas são amigas né, gostei dela pedindo desculpas :)


Obrigada por estarem sempre presentes! :D



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Autor(a): AnnRBD

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QUATORZE             Depois que Dulce vai embora, fico paralisada por uns três minutos, em estado de choque. Mas, de repente, volto a mim. Sigo para a escada e desço. Quando saio do prédio, desligo o celular. Não posso ter nenhuma distração. Preciso pensar. Preciso ficar sozinha. ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 336



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  • Angel_rebelde Postado em 02/04/2014 - 22:45:11

    Posso te dizer que até gostei da história apesar de que os cap ficaram um pouco longos demais. E não sou mto fã de história deles que se passa tanta coisa e só ficam juntos no último cap. Mas teve partes divertidas e gostei mto do irmão do Ucker por ele ter sido sincero com a Anny o tempo todo e achei legal a atitude da mãe dele em se desculpar no final e realmente demonstrar o quanto gosta e admira a Anny. O final foi legal tbm, bem inusitado.

  • Angel_rebelde Postado em 02/04/2014 - 02:02:13

    Comecei a ler sua história hj e confesso que me surpreendi. Já a havia encontrado outras vezes mas não dei a devida atenção. Tô rindo mto com a Anahí loka de pedra ! kkkkkkkkkkkk. Querendo impressionar os outros. Ela nem precisa de nada disso porque é uma mulher mto inteligente. Adorando ler sua fic. Se tiver outras gostaria de ler tbm.

  • franmarmentini Postado em 19/12/2013 - 09:31:31

    vou ler essa também...mas estou aguardando as novas :)

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 19:03:47

    Lindo, lindo, lindo esse final *-* E engraçado também para variar. Alfonso mandando coração OOUNT

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 19:01:51

    O QUE FOI ISSO NESSE FINAL? Lindo, maravilhoso, perfeito, sem palavras! Ele mandou mensagem para todos os convidados para impedir o casamento e o mais lindo ainda foi quando ele disse que pensava nela, queria ouvir a voz dela e tudo mais .. Tudo muito lindo!

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:59:23

    No fim, o Ucker não passava de um GRANDE idiota, ah que raiva dele!!

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:57:37

    Olha que lindo, até para o dentista ele foi por ela kkk

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:56:47

    Gente, eu quase tive um ataque nessa reta final quando a Any aceitou voltar com o Ucker. Sério, pensei que ia acabar desse jeito!

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:55:25

    AAAA' até que fim a Any mandou uma mensagem para bruxa Perla, ela tava merecendo! Arrasou.

  • raya_ponchito Postado em 09/08/2013 - 18:54:14

    Amei ver os trechos de algumas mensagens trocadas entre eles imprimida. Só me fez já sentir saudade da web kk


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