Fanfic: CORAÇÕES FERIDOS - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA

Virgil não criava uma peça decente havia mais de vinte anos. Os idiotas da galeria compravam qualquer porcaria que ele fizesse e até vendiam alguma de vez em quando. Mas sabia que só tinha produzido lixo em duas décadas. Não havia mais fluidez em seu trabalho, ou essência, ou energia.
Sua última grande criação, quase uma obra de arte, tinha sido o modelo em argila do busto de Eleanor Erskine, a voluptuosa esposa do governador, irmão do reitor da universidade. Aceitara fazer o trabalho com entusiasmo, pois, além de receber um bom dinheiro, teria o bônus de dormir com ela. Mas Anahi descobrira.
Girou nas mãos o cartão de visita da doutora presunçosa. Tinha que convencê-la a posar para ele. Queria ver uma bela mulher nua antes de morrer. Sorriu consigo mesmo. Eleanor tinha sido boa de cama, quem sabe a doutora também fosse.
Virgil foi aos fundos da garagem, procurando por algo em especial. Sabia que escondera por ali assim que a mulher tinha adoecido. Suas mãos encontraram a superfície suave da silhueta da filha. Ergueu-a com cuidado, colocou-a na bancada e se sentou. Era melhor trabalhar com um modelo natural, pois havia nuances de personalidade e expressão que só um escultor podia desvendar. Mas com fotos antigas e sua boa memória, até que tinha feito um bom trabalho.
Lembrou-se da criancinha linda que era Anahi, com cachinhos loiros e olhos felinos. Betty sempre dizia que seus olhos mudariam de cor com o tempo, o que não acontecera. Ela era uma mulher deslumbrante. Quantos anos teria? Trinta e sete? Ainda exibia um belo corpo para a idade.
Balançou a cabeça, voltando a atenção para o busto inacabado. Decidiu que o terminaria. Esculpiria Anahi adulta, com o sorriso desdenhoso que vira em seu rosto no hospital.
Ao retornar para casa naquela noite, tinha dado uma surra em Betty. Ela estava varrendo os restos de sua melhor obra até então. Dissera que a derrubara sem querer, mas ele não era tolo. Sabia que Anahiharine, para se vingar, fora a responsável por aquilo.
Betty implorara que ele não fosse atrás da filha. Desconte em mim, ela tinha gritado. Sentira ódio de Betty por sua atitude protetora. A maldita garota de olhos felinos tinha sido ingrata desde o nascimento, pois não conhecia a verdade.
Virgil levou as mãos à cabeça. Abriu a garrafa de vodca e bebeu quase a metade.
Betty fora parar no hospital e sofrerá uma cirurgia e ele tinha passado três dias na cadeia. O rei de Persuasion, Aidan Herrera, dissera-lhe que, se tocasse na esposa novamente, ele o faria perder o emprego, e sua reputação de artista iria por água abaixo. Ele o tinha repreendido por não dar valor à filha especial que tinha. Virgil tinha rido da ironia e o mandara para o inferno. Ao sair da cadeia, soubera que a menina tinha sido oficialmente declarada desaparecida. Vinte anos depois, sem nenhuma vergonha de não ter conseguido manter as pernas fechadas, assim como sua mãe, tinha retornado.
Sentia o antigo desejo voltar com força brutal. Bebeu o resto da vodca. Bater em Betty tinha sido uma forma de calar seus instintos e fugir da atração pecaminosa, proibida.
Percebeu que estava excitado. Ainda conseguia, apesar do infarto e dos remédios!
A escultura inacabada à sua frente parecia zombar dele. tirou a garrafa vazia contra a parede. Betty sabia que a filha estava grávida quando fora embora. Era esse o segredo que havia contado a Alfonso.
Virgil chorou. O grande prazer de sua vida tinha sido controlar a vida sem graça da esposa, e ela o tinha enganado.
A imagem do busto incompleto se distorceu por entre as lágrimas. Por fim, descobria a inspiração necessária para criar sua melhor obra-de-arte.
Anahi saiu de casa com um sorriso no rosto e muita determinação.
Chegou ao campus da universidade e ficou contente ao ver o prédio antigo, o gramado e todos aqueles estudantes. Fez sua inscrição na secretaria e recebeu os horários de aulas, assim como as orientações gerais.
Vendo aqueles jovens universitários, lembrou-se de Aidan. Tinha muitas saudades do filho. Ela lhe telefonava todas as manhãs, mas ele não atendia. Decidiu ligar novamente. Aidan finalmente atendeu.
— Oi, mãe.
Anahi sentou-se num banco.
— Querido, tudo bem?
— Mãe, andei pensando muito. Estou bem, mas preciso de um pouco mais de tempo.
Ela havia pedido o mesmo a Alfonso. Perdoar era um processo demorado. Ficou em silêncio, pois não queria que ele percebesse que estava chorando.
— Sei que está chorando, mãe, não adianta disfarçar. Está na hora de parar de esconder as coisas de mim.
— Eu sei, eu sei. Sinto tanto a sua falta!
— Eu também sinto a sua. Bom, estou atrasado para a aula, falo com você depois.
— Está bem, Aidan.
— Mãe?
— Sim?
— Rachel vai comigo a Persuasion. Meu pai disse que não haveria problema se eu quisesse levá-la.
Anahi sorriu.
— Rachel é sempre bem-vinda — respondeu, feliz. Aidan riu, como se pudesse ver o rosto alegre da mãe.
— Você é demais. A gente se fala depois.
— Eu amo você.
Aidan já tinha desligado, mas ela não se importou, Ele a visitaria, e tinha acabado de se referir a Alfonso como meu pai. Feliz, Anahi foi a uma cafeteria repleta de estudantes, com seus laptops e celulares. Tomou um café e saiu. Não tinha ligado para Rita, mas, se ela não pudesse atendê-la, andaria pelo colégio. Seguiu por seis quarteirões até chegar à escola. Foi direto para a secretaria, onde encontrou a mesma recepcionista, na mesma escrivaninha, vestindo as mesmas roupas. Não conseguiu se recordar do nome dela.

— Ela está aqui! — A mulher gritou por cima do ombro. Imediatamente, sua tia apareceu e estendeu-lhe a mão.
— Estava esperando por você, Anahi.