Fanfic: CORAÇÕES FERIDOS - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA

Para a maioria dos escultores, lixar, desgastar e polir a pedra até se tornar uma imitação da natureza era a parte mais desagradável da criação. Para Virgil, ao contrário, era um prazer. Sentia-se como um deus.
— Esta é a coisa mais horrível que já vi na vida!
Ele não se deu ao trabalho de erguer os olhos.
— Olhe-se no espelho, Rita. Vai ver coisa bem pior. — Continuou talhando a pedra.
— Alfonso me ligou. Disse que tinha encontrado você bêbado, muito nervoso e que precisa ir para o hospital. Vim buscá-lo.
— Eu pareço nervoso?
— Parece muito doente, Virgil. Você acabou de sair de dois infartos e não pode beber.
— Danem-se os infartos! Dane-se Herrera! Danem-se todos!
Rita sentou-se e Virgil continuou a trabalhar.
— O que foi que Anahi lhe disse?
— Ela me convidou para passar o dia de Ação de Graças na casa dela! Acredita nisso?
— Deve ter ficado arrasada quando soube que sua agenda já estava cheia.
— Disse a ela para sumir da minha frente. E você também, suma daqui!
— Achei que ela tivesse vindo para conversar sobre sua infância, ou sobre Betty.
Virgil jogou a lixa no chão.
— Estou trabalhando e não quero você aqui. Fora!
— A assistente de Alfonso tem me ligado — Rita continuou. — Você precisa voltar ao consultório da cardiologista.
— Não quero ver aquela estrangeira! Deixe-me em paz!
— Está se matando.
— Não me importo de morrer, mas antes disso preciso terminar meu melhor trabalho.
— Isso é uma porcaria, Virgil. Ele tentou se levantar.
— Rita, você é uma bruxa velha que nunca conseguiu arranjar um homem, portanto não pode entender nada de amor, paixão, e muito menos de arte. — Ele cambaleou e apoiou-se na mesa. — Vá embora!
Suspirando, Rita levantou-se e se dirigiu à porta.
— Odeio você — ela disse calmamente. — Sempre odiei. Não sei por que me mudei para esta cidade. Pode ser meu único parente, mas você não vale nada. Desperdicei meu tempo dando-lhe atenção, pois você não merece.
— Tenha certeza de que meu ódio por você é muito maior, sua megera enrugada.

— Não, recuso-me a fazer isso — Carrie disse.
— Tem uma idéia melhor?
— Sim, várias. Esqueça. Controle-se. Encontre uma distração. Parta para outra. Eu estou namorando novamente.
— Não diga! E já marcou o casamento?
Carrie ficou em silêncio por alguns segundos. Voltou a falar com voz séria:
— Por favor, pare de me ligar, você já foi longe demais. Será que também vou ter que providenciar uma ordem judicial contra você? — perguntou, provocando em Madeline um ataque de riso. — Você nunca foi minha amiga mesmo — continuou. — Eu só usei você.
— Eu sei. Mas você não está entendendo bem a situação.
— Vou desligar.
— Você é quem sabe. Neste exato momento, vou começar a mandar alguns e-mails. Diga-me se estou esquecendo alguém: o diretor do Departamento de Saúde Pública; o presidente do Comitê Estadual do Conselho de Medicina; Alice, sua assistente; seus pais; o presidente da Câmara...
— Madeline! Você não seria louca de fazer isso!
— É só atender ao meu pedido, Carrie. Venha ao evento em Persuasion e dê o maior lance por Matt. Além de ajudar numa boa causa, vai ficar livre de mim.
— Vai parar de me perseguir depois?
— Se você fizer Nola perder a cabeça, eu paro. Prometo.
— Mas como posso saber qual vai ser a reação dela?
— Vire-se, ou então aperto o botão "enviar".
— Está bem. Vou comprar Matt no leilão e fazer com que todos pensem que estou apaixonada por ele. E aí você me deixa em paz, combinado?
— Combinado. Traga seus cartões de crédito.
Era véspera do dia de Ação de Graças. Anahi estava feliz vendo todos ao redor da lareira, comendo pizza e bebendo cerveja. Loretta dormia no tapete.
— Calzone não tem o mesmo sabor de pizza — Nola disse.
— Como não, meu bem? — Matt perguntou. — Calzone é uma pizza fechada, tem exatamente o mesmo gosto.
— Sou de família italiana. Sei do que estou falando. Calzone tem gosto diferente.
Alfonso pensava em como sua vida tinha mudado. Sentia-se tranqüilo e contente. Tinha a mulher e o filho ao seu lado. A única coisa que faltava era revelar a verdade para Matt. Resolveu aproveitar aquele momento.
— Tenho que lhe dizer uma coisa, Matt.
— Hum?
— Fiz uma grande besteira. Fique calmo, por favor. É que hipotequei a casa e me atrapalhei com os pagamentos do empréstimo.
— É mesmo?
— Sim. Eu... — Alfonso franziu a testa. — Você já sabia?
— Fiquei esperando esse tempo todo que você me contasse.
Alfonso espantou-se.
— Como descobriu? Matt riu.
— Meu irmão, metade das mulheres que trabalham no banco foram... minhas amigas, por dizer assim.
— Não ficou zangado?
— Fiquei uma fera. Mas imaginei que o dinheiro era para a clínica e que você ia me contar, mais cedo ou mais tarde. Tenho fé em você.
— Tem idéia do valor da dívida?
— Um milhão e meio de dólares.
— Nossa Senhora — Nola sussurrou. A sala ficou em silêncio.
— Quantas pessoas virão amanhã, srta. Turner?
Anahi deu graças a Deus por Rachel ter tido a sensibilidade de desviar o assunto.
— Doze, e concordei em deixar Joanna Loveless tirar algumas fotos e fazer uma entrevista comigo para o jornal.
— Que interessante — Rachel disse, sorrindo.
— Estamos muito contentes com sua presença aqui, Rachel — falou Alfonso.
O rosto da garota se iluminou.
— Ah, eu também. Quase não pude vir.
— É verdade. Os pais dela não estão muito contentes com nosso namoro, porque não sou de família indiana — explicou Aidan.
Anahi as sentiu.
— Entendo.
— Mas meus pais gostam dele — Rachel disse rapidamente, virando-se para Anahi e Alfonso. — Eles só... Bom... — Olhou para Aidan, pedindo ajuda.
— Na minha família só se diz a verdade, Rachel. Continue. Ela riu timidamente.
— Meus pais são muito antiquados. Vieram de uma pequena cidade do norte da Índia e seu desejo é que eu encontre um bom rapaz da nossa cultura.
— O que há de errado com os homens americanos? — Matt perguntou.
— Nada, é que eles preferem que eu namore alguém com um passado similar. Na verdade, eles acham que os americanos são... Desculpem... Indisciplinados e de base moral muito fraca.
A sala ficou em silêncio novamente. Rachel estava envergonhada.
— Sinto muito. Como eu disse, eles são antiquados.
Matt sorriu, dando tapinhas no coldre.
— Pode assegurar a seus pais que eu estou sempre carregando uma boa base moral aqui.
— Ele está brincando —Aidan disse, dando um beijo suave na testa de Rachel.
— Vou buscar mais cidra. — Anahi foi para a cozinha e escutou som de passos atrás de si. Virou-se e viu que Aidan tinha o semblante preocupado.
— Está tudo bem, mãe?
— Claro, meu filho!
Ele se aproximou, sorrindo.
— Esta casa é muito aconchegante. Rachel ficou apaixonada por ela.
— Espero que vocês dois venham passar muitos fins de semana conosco. Seu pai adoraria, tenho certeza.
Aidan começou a rir.
— É muito estranho ouvir você dizer isso. Nunca poderia imaginar que fosse viver uma situação como esta.
— Amo você, Aidan.
— Ah, mãe. — Ele a abraçou. Anahi não sentia essa proximidade com o filho havia muito tempo. — Desculpe pelas coisas horríveis que eu disse na lanchonete.
— Desculpe-me por ter demorado tanto para contar a verdade.
— Não tem problema, você só fez o que achou melhor.
Anahi segurou os ombros do filho.
— Há mais uma coisa que precisa saber.
— Mais uma mentira? — Aidan perguntou, tenso.
— É sobre meu pai. — Anahi percebeu que ele relaxava, aliviado. — Cheguei à conclusão de que tomei a decisão certa quando saí daqui. Seu avô é um homem muito instável, um alcoólatra. Espancava minha mãe e sempre me agrediu emocionalmente. Era questão de tempo para que começasse a me bater também.
— Não tinha idéia.
— Sei que não, meu querido. Mantê-lo afastado de Virgil Portilla foi a coisa mais inteligente que já fiz. Pelo menos nisso eu acertei.
— Você acertou em muitas coisas, mãe. — Aidan inclinou a cabeça na direção da sala. — Voltar a namorar meu pai foi uma delas.
Anahi estava emocionada e feliz.
— Acha mesmo?
— Sim. Ele é... —Aidan foi tomado pela emoção. — Acho que não existe um pai e uma mãe melhores que vocês. Finalmente, vou saber como é ter uma família normal.
Ela começou a chorar e o abraçou.
— Todo mundo bem por aqui? — Alfonso estava parado na porta, em dúvida se seria bem-vindo ou não.
Anahi soltou-se de Aidan e enxugou as lágrimas.
— Estávamos num momento mãe e filho. Parece um sonho que Aidan esteja aqui.
Alfonso assentiu.
— Quero fazer uma coisa — Aidan disse. Estendeu o braço esquerdo. — Venha aqui, pai. — Depois, o braço direito. — Venha cá, mãe. — Os três se abraçaram.
Depois de algum tempo, Aidan se afastou.
— Nunca mais vou me esquecer desta noite.

Carrie queria acabar logo com aquela tarefa desagradável. Pegou a estrada bem cedo para evitar que um congestionamento a atrasasse.
Por que Alfonso e sua corja tinham decidido marcar um evento beneficente justamente no dia de Ação de Graças? Era um dia sagrado, para se passar com a família e os amigos. E os pais de Kenneth a haviam convidado para jantar!
Suspirou. Kenneth era lindo e um brilhante consultor financeiro. Jogava golfe e tênis e se vestia bem. O único desafio para ela era seu beijo. Precisava fazê-lo melhorar.
Tinha estabelecido o limite de quinhentos dólares para satisfazer o desejo de Madeline, nem mais um centavo. Faria o lance, sairia com Matt e iria embora. Esperava que ela ficasse satisfeita e a deixasse em paz.