Fanfic: CORAÇÕES FERIDOS - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA

A vida tinha se complicado para Anahi na beira da estrada, sobre um cobertor estendido na grama ao lado da caminhonete de Alfonso. Era lá que sempre se encontravam. Na maioria das vezes, ficavam somente deitados, conversando. Em outros momentos, perdiam-se em beijos doces e quentes, deliciosos e incomparáveis. Acariciavam-se mutuamente, explorando a sexualidade latente de seus corpos adolescentes. Tinham um pacto, porém, um devia impedir o outro de avançar o sinal. Por mais que se desejassem, o importante era que se formassem no colegial com ótimas notas e fossem para boas universidades, deixando Persuasion para sempre. Juntos.

Anahi fechou a torneira da banheira e deixou-se envolver pela espuma. Era evidente que precisava conversar com Alfonso e contar-lhe tudo. Porém, após as perguntas que ele fizera, imaginava o quanto ele sabia e de que forma descobrira.
Eles haviam estado completamente cegos pela paixão naquela fria noite de outubro. Nem planos, nem pacto, nada conseguira impedi-los de consumar seu primeiro ato de amor. Quero você, Anahi. Só desta vez. Preciso de você. E o mundo parará...
Três meses depois, Anahi conseguira deixar Persuasion, porém não da maneira como tinha sonhado. Partira de casa com a benção da mãe e a imagem repulsiva do pai na memória. Encolhida no banco de um caminhão de entrega de lenha, tinha deixado os limites da cidade em menos de uma hora, com apenas oitenta e três dólares no bolso, mas muita sorte.
Anahi afundou-se na água. Como tinha sido tola! O que poderia ter acontecido se não fosse Cliff Turner a parar e lhe oferecer carona? Sentia-se doente só de pensar no quanto fora idiota, parada na beira da estrada, com o dedão erguido e as lágrimas escorrendo pelo rosto, implorando ao mundo que a engolisse.
Tirou a cabeça da água em busca de ar. Destino ou parte de algo maior, sua vida tinha se definido pelo fato de aquele homem bom tê-la resgatado na estrada. Cliff a alimentara antes de levá-la até Baltimore, para a casa de sua irmã, uma mulher magra de cerca de cinqüenta anos, que lhes abrira a porta vestindo um roupão e com bobes nos cabelos. Tantos anos depois, Anahi ainda achava graça ao se lembrar de como Cliff a tinha apresentado:
— Phyllis, esta é Tina, uma adolescente grávida do Iowa. Na verdade, Anahi havia dito que se chamava Gina e que tinha vindo de Ohio, negando a gravidez.
A senhora a medira dos pés à cabeça.
— Entre, Tina. Espero que não tenha medo de pássaros.
Phyllis tinha preparado omelete e batatas fritas no café da manhã, mas Anahi só conseguiu comer uma torrada com geléia. Depois, fora levada para um quarto, onde havia uma cama e três gaiolas com papagaios. Tinha dormido doze horas naquele primeiro dia e ficara com Phyllis por sete anos.
Anahi brincou com a espuma, perguntando-se, pela milésima vez, o que Alfonso teria feito da vida. Estaria casado? Seria feliz? Teria outros filhos? O pai dele ainda seria o prefeito? Começou a imaginar também o que tinha acontecido com os próprios pais. Será que a mãe pensava nela e sentia saudades? Teria se arrependido de expulsar de casa a única filha? Será que ainda apanharia do marido?
Seus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta.
— Anahi, abra! — Era Nola.
— É uma emergência! — A segunda voz era de Madeline.
Anahi pulou da banheira e enrolou-se na toalha.
— Já vou.
No caminho até a porta Anahi pegou a bolsa, para salvá-la do incêndio.
— Desculpe incomodar — Madeline disse, calma demais para avisar que o lugar estava em chamas.
— Seu pai. — Nola segurou seu braço. — Ele sofreu um infarto.