Fanfic: CORAÇÕES FERIDOS - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA

A enfermeira indicou uma fileira de cortinas, informando-as de que Virgil Portilla poderia ser encontrado na sala de diagnósticos. Levaram exatos dezoito passos para chegar lá. Anahi os contou. Riu de si mesma pela infantilidade. Seus pais eram como todo mundo, não monstros. Não era mais criança, conseguiria enfrentá-los.
Anahi abriu a cortina. Um homem pálido estava deitado, imóvel e de olhos fechados. O barulho dos aparelhos era o único indicador de que estava vivo. Não viu sua mãe.
Anahi e Nola sentaram-se.
— É Virgil? — Nola sussurrou, segurando a mão de Anahi.
— É.
Anahi não conseguia tirar os olhos daquele homem. Virgil era mau, de uma maldade sufocante. As pessoas evitavam-no. O reitor da universidade sempre o havia tratado bem, mas somente porque seu nome dava credibilidade ao Departamento de Arte da instituição. Os alunos respeitavam seu talento, mas não gostavam dele. Sempre tinha sido assim. Inclinou-se para vê-lo melhor. Suas mãos estavam tortas e frágeis, muito diferentes das mãos ágeis e talentosas que moldavam a argila e submetiam o mármore à sua vontade. A pele do rosto estava cheia de vasos e muito enrugada. Que bom seria se a perversidade tivesse ido embora juntamente com sua juventude.
De repente, veio-lhe a imagem em argila de uma mulher. A cabeça da peça voando pelo ateliê. Argila espalhada pelo chão.
A cortina se abriu e uma enfermeira sorridente entrou, cumprimentando-as antes de se aproximar do paciente.
— Bem, sr. Portilla, vamos interná-lo agora para que possa se consultar com o cardiologista. Não é bom? Vamos levá-lo para cima.
— Bom nada! — O comentário foi seguido de uma tosse carregada. — Nenhuma enfermeira deveria ser tão gorda quanto você. Isso acaba com a confiança do paciente.
Anahi pensou que fosse cair da cadeira, e Nola apertou sua mão. A enfermeira continuou arrumando o tubo de oxigênio e respondeu, calmamente:

— Escute aqui, príncipe encantado. Ser velho e doente não lhe dá o direito de ser mal-educado.
Anahi engoliu em seco. Seu pai tinha virado a cabeça e a encarava.
— Diga a ela, Anahi Portilla. Diga que sempre fui mal-educado, vá em frente.
— Meu Deus — Nola murmurou.
— Sinto muito — Anahi desculpou-se com a enfermeira. Já se sentia exausta, sem nem mesmo ter dirigido uma palavra ao pai. Por que tinha ido até lá? Odiava aquele lugar, a viagem tinha sido um erro e ainda nem havia chegado à melhor parte: sua mãe. Anahi jurou a si mesma que nunca mais seguiria seus impulsos de vingança.
— Infelizmente, é isso mesmo. Ele sempre foi mal-educado, bruto e estúpido.
A enfermeira arregalou os olhos, mas forçou um sorriso.
— O médico virá em um minuto para conversar com vocês.
Quase imediatamente o médico entrou. Anahi sentiu o coração parar de bater. Esqueça seu pai, quem vai precisar de um cardiologista é você. O homem alto, moreno e bonito pegou a ficha do paciente.
Anahi sussurrou:
— Alfonso?
— Olá! — Nola o cumprimentou, animada.
Alfonso ergueu os olhos verdes para Anahi. Naquele segundo, ela voltou a ter dezesseis anos e estava em seus braços, sorrindo, com a vida toda pela frente. Mas o homem que estava ali tinha aparência cansada, um estetoscópio pendurado no pescoço e vestia um avental branco, com as palavras Dr. Alfonso Herrera bordadas no bolso esquerdo.
— Ele vai melhorar — Alfonso disse.
Seus olhares se cruzaram novamente. Virgil começou a rir.
— Vejam só o que temos aqui... Romeu e Julieta.
Alfonso devolveu a ficha ao nicho na parede, ignorando o comentário.
— Muito bem, Virgil. Você será transferido para a unidade cardíaca e fará alguns exames. Talvez seja necessária uma pequena cauterização nas artérias. Saberemos ao certo amanhã. — Dirigiu-se a Anahi de maneira profissional: — Gostaria de ajudá-lo a se acomodar no quarto?
Anahi sentiu-se enjoada. Levantou-se e fez um sinal para que Nola a acompanhasse. Queria sair logo dali.
— Creio que minha mãe pode cuidar disso. Precisamos voltar para a cidade.
— Ela não está aqui, Anahi Portilla.
Arrepiou-se com o tom da voz de seu pai.
— Aonde ela foi? Ao refeitório?
— Bem, isso depende do seu ponto de vista. Nenhuma religião que conheço chama a vida após a morte de refeitório. Geralmente chamam-na de inferno e paraíso. Se eu pudesse escolher, diria paraíso, mas, como sabe, Deus e eu não somos lá muito amigos.
Anahi sentiu-se sem chão.
Tudo que tinha restado era a lembrança da mãe colocando algumas notas de dinheiro em sua mão, livrando-se dela como se fosse um fardo. Nunca mais teria oportunidade de cicatrizar essa ferida.
Olhou para Alfonso, indignada.
— Quando? Como?
— Quase um ano. Câncer. Anahi abriu a cortina.
— Não vamos ficar. — Lágrimas brotavam de seus olhos, mas jamais permitiria que aqueles dois homens a vissem chorar. Sua mãe estava morta. Tinha esperado muito para voltar.
— Anahi! Espere! — Alfonso a chamou.
— Deixe que se vá — Virgil disse. — Ninguém mandou ela voltar.