Fanfic: CORAÇÕES FERIDOS - AyA - Adaptada - Finalizada | Tema: AyA

Sob a chuva forte, e com a ajuda de uma lanterna, Anahi procurava pelo túmulo da mãe. Encontrou as palavras que procurava numa lápide de forma incomum, as letras aparecendo como sombras no mármore branco.
BettyAnn Portilla, esposa e mãe devotada...
Anahi agachou-se para olhar de perto e foi envolvida por uma onda de dor. Não conseguia falar, gritar, chorar. Sua mãe estava ali, embaixo daquela lápide estranha, a visão artística de Virgil mantendo a esposa em seu devido lugar por toda a eternidade.
Nola acariciou as costas da amiga.
— Sinto muito, querida.
Anahi balançou a cabeça.
— Vamos sair da chuva. — Nola a fez levantar-se. — Voltaremos amanhã, com algumas flores.
Anahi ergueu-se, desligou a lanterna e guardou-a no bolso, perguntando-se como seria estar morta e não sentir nada.
— Sinto muito, Anahiharine. —A mãe fechou a porta de tela entre elas.
— Está me expulsando porque estou grávida ou porque estraguei a ridícula escultura da esposa do governador?
— Era o melhor pagamento dele desde os tempos de Nova York.
Anahi não acreditava no que ouvia,
—Mãe! Eles estavam fazendo sexo no ateliê! Você não se importa?
— Jamais questionei o comportamento de seu pai e não é agora que vou começar. Vá embora. Eu me entendo com ele.
Anahi ficou sem palavras. A mãe queria se livrar dela. Naquela tarde, no ateliê, tinha conseguido enxergar a realidade. Seu pai era desumano e mentiroso, e nunca havia amado a mulher e a filha. Sentia-se perdida e sozinha.
— Para onde eu vou, mãe?
— Vou pensar. — Com as mãos trêmulas, abriu um pouco a porta e empurrou algumas notas na mão de Anahi, sorrindo para disfarçar o medo. — Vá para a casa de sua tia Rita. Vou avisá-la de que está a caminho. Ligue-me de manhã, depois que seu pai tiver saído para dar aulas, e combinaremos algo, está bem?
Anahi olhou para o dinheiro e para o rosto assustado da mãe. Naquele instante se convenceu de uma coisa da qual sempre havia desconfiado: se Betty tivesse que escolher entre o marido e a filha, certamente optaria pelo marido.
— Estou com tanto frio, Nola.
Nola a puxou pelo braço.
— Eu também. Estamos encharcadas.
Sentada na poltrona, Anahi olhava fixamente para a lareira. Nola entregou-lhe uma taça de vinho e recolheu os vários lenços molhados.
— Desculpe-me por estar neste estado — disse, tentando evitar chorar novamente.
— É natural, você está abalada com tudo que aconteceu.
— Obrigada por ter ido comigo. Precisava ver com meus próprios olhos.
— Eu sei.
— E muito obrigada por estar aqui.
Nola ajeitava algumas coisas na copa.
— Querida, não estou fazendo nada que você não tenha feito por mim antes, sempre que fui abandonada, ou nas vezes em que me divorciei. Lembra-se de quando descobrimos que Joey estava vendendo as jóias da minha avó pela internet? Devo ter chorado por duas semanas seguidas. — Nola voltou para sua poltrona junto à lareira. — Para ser sincera, estou gostando de ser uma pessoa sensata pelo menos uma vez na vida.
Anahi deu um sorriso forçado.
— Quer que eu fique no seu quarto esta noite? Seria um ótimo assunto para Madeline fofocar amanhã.
Anahi riu, e admirou-se por ser capaz disso, depois de ter chorado tanto.
— Você vai se conformar, querida — disse Nola, sorrindo. Anahi apenas assentiu.
— Havia duas mães em sua vida e acabou de perder as duas, é normal que esteja sofrendo. Não se sinta culpada, amiga. Você não sabia que sua mãe estava doente.
— Eu poderia ter ligado.
— É verdade.
— Ou mandado uma carta.
— Sim.
— Ou ter vindo antes. Mas estava zangada, magoada e não queria vê-los nunca mais.
— Certo.
Ela pegou mais um lenço e riu.
— Parece piada. Descubro que minha mãe morreu, e tudo que gostaria de fazer agora era desabafar com Phyllis, mas ela também se foi!
— Sinto muito a falta dela.
— Aquela mulher era incrível. — Anahi assoou o nariz. — Acolheu-me, não me fez perguntas, ofereceu um lar para mim e meu filho.
Nola assentiu.
— Phyllis Turner tinha o maior coração do mundo.
— Sim. — Anahi ergueu sua taça. — A Phyllis Turner, uma mulher que viveu todos os seus dias sendo orgulhosa de quem era.
— A Phyllis. — Nola tocou sua taça na de Anahi. — Cujo faro para investimentos era apuradíssimo.
As duas ficaram em silêncio por alguns minutos. Quando Nola bocejou, Anahi olhou o relógio. Já passava das onze horas. Levantou-se.
— Vamos dormir. — Acompanhou Nola até a porta. — Quero pegar a estrada amanhã bem cedo, antes que mais alguma coisa ruim aconteça.
Nola pareceu confusa.
— Mas, e a bruxa da sua tia Rita, a diretora do colégio? Ela não estava na lista de pessoas que lhe devem um pedido de desculpa? Não tinha algumas coisas para dizer a ela?
Anahi riu. A lista que tinham feito durante a viagem parecia ridícula naquele momento.
— Não tenho cabeça para lhe dizer nada agora. Talvez eu escreva uma carta quando chegar em casa.
— Está certo. Durma bem.
— Você também. Espere um pouco, Nola...
Nola virou-se, bocejando novamente.
— Vou ser breve. É uma tolice, mas... Acha que alguém com dezesseis anos é capaz de compreender o que é o amor?
— Está pedindo a minha opinião?
— Estou,
— Acho que depende da pessoa. Eu, com certeza, não soube o que era o amor aos dezesseis. Ou aos vinte e um. Ou aos trinta anos. Talvez eu não seja a melhor pessoa para opinar. Está se referindo a você e ao dr. Herrelindo, não é?
— Sim.
— Você acha que foi amor?
— Bem, se não foi, chegou bem perto disso. Nola abraçou a amiga.
— Não desista, Anahi. Se alguém merece ser rica, bonita e estar apaixonada, esse alguém é você.
— Obrigada.
— Sei que veio para se vingar, mas não feche todas as portas. Quem sabe não encontre algo ainda melhor do que esperava. Vejo você de manhã.