Fanfic: Um amor pra recordar Portiñon | Tema: RBD Anahi e Dulce Maria
Vocês já perceberam que quando parece que tudo está melhorando, vem um tsunami gigante que estraga e destrói tudo? Quando tudo está se encaixando e você está feliz, vem algo e bagunça a sua vida? Pois é. Nem tudo na vida é um mar de rosas. – Eu bem sei disso. – Minha vida anda em mil e uma maravilhas. Tenho minha mãe, meus amigos e o amor da minha vida ao meu lado. Tenho um apartamento, fiz dezessete anos, toco piano e estou no terceiro ano. Parece uma vida feliz não é? Até o momento estava realmente tudo feliz. A doença de Anahi não mostrou sinais outra vez. Minha esperança estava renascendo e um sorriso começara a brotar em meus lábios.
Olhei para a mulher deitada ao meu lado, ressonando e com um semblante relaxado e exaurido devido à noite de ontem. Senti-me completa. – Eu estou completa! – Dei outra olhada para ela e subitamente senti meu coração ser espremido. Lembrei-me do que provavelmente terei que passar daqui a mais ou menos sete meses. – Isso não pode ser real! Não pode! – Como uma pessoa tão linda e aparentemente saudável pode esconder um problema assim tão grave? Meu coração dói, sangra... Minha respiração falha e meus olhos ardem devido à queimação das lágrimas. É tão sufocante se sentir impossibilitada e impotente. E tão doloroso ser inútil! – Sim! É isso que eu sou! Uma inútil que não tem a capacidade de salvar a vida da pessoa que mais ama.
O amor é descrito como algo tão maravilhosamente forte, mas não é capaz se quer de curar a quem se ama. Ele te traí na primeira oportunidade. Basta você ficar distraída por um segundo para lhe apunhalar pelas costas. Ele te massacra, agride, e a dor é terrivelmente amarga e cruel. Ele te pisa, te esmaga e nos humilhamos ainda querendo tê-lo conosco. Nos dá uma felicidade, espera que fiquemos bem, e depois nos arranca propositalmente. Arranca sem dó e nem piedade. Nos fere, machuca, destrói e ainda ri.
Olhava para ela e tentava pensar em uma forma de arrancar aquele mau, aquela coisa que a está destruindo aos poucos. Aquele mau que está sugando a sua vida e, automaticamente acabando com a minha. Sentia-me fragilizada por estar sendo impotente. Não queria me sentir fraca; não queria ser inútil; não queria ser eu; não queria que aquele mal existisse nela, eu queria-o para mim! Eu queria ser a doente só para não vê-la sofrer.
– Dulce. Por que está chorando? – não havia reparado que Anahi já tinha acordado. Olhei para ela e seu semblante estava confuso.
Reparei o quanto ela era linda. Os cabelos dourados meio bagunçados, os olhos azuis feito safiras brilhantes com grandes cílios compridos, narizinho pequeno e arrebitado e uma delineada boca rosada.
– Não chore, por favor. – pediu ela me abraçando. – O que houve? Você está bem?
– É só que... eu não quero te perder! – sussurrei.
– Dulce, pare de chorar, por favor.
– Não me deixe! Por favor! Eu não vou suportar viver sem você. Eu sou fraca! – minha voz falhava.
– Não fale assim! Pare! Você não é fraca. Você vai sim suportar viver sem mim, você vivia antes.
– Eu sou fraca! Minha força vem de você. Se você não existir, eu deixo de existir também.
– Vamos parar ok? Você tem que ser a Dulce forte. Você é uma das pessoas mais seguras que conheço.
– Sou segura com você.
– Então seja segura! Eu estou aqui, não estou? Estou a sua frente segurando as suas mãos. – disse entrelaçando nossas mãos e me fitando.
– Está. – sussurrei abaixando a cabeça.
– Olhe para mim Dulce! – levantou meu rosto pelo queixo. – Eu já disse que estou aqui. Vou te provar isso! – disse e se inclinou para beijar meus lábios.
Fora um beijo sôfrego, urgente. Sua língua procurava a minha e seus braços se enrolaram em volta de meu pescoço. Senti o sal das minhas lágrimas se misturarem ao doce de seus lábios. Aos poucos a veemência foi dando lugar a um beijo tranqüilo e carinhoso terminando apenas a um roçar de lábios.
Nos arrumamos e fomos tomar café enquanto Bia não chegava. Ficamos lá, uma encarando a outra de soslaio sem dizer uma palavra. Eu sentia que ela estava angustiada, e tenho certeza que ela sentia o mesmo emanando de mim. Meu coração pulsava lento e dolorido, a cada batimento meu peito ardia.
O interfone tocou e fui até ele para atender. Seu Lucas avisou que Beatriz já estava lá embaixo nos esperando. Avisei a Anahi e terminamos de nos arrumar, agarrei a sua mão com força lhe sorrindo e puxei-a para o elevador me forçando a ser positiva. Nos encontramos com Bia como se nada do que aconteceu hoje tivesse realmente existido, como se não houvéssemos sofrido e não houvéssemos encarado a realidade.
– O que é que você e a Anahi têm? – perguntou-me Bia depois de nos afastarmos do nosso grupo na hora do intervalo.
– Não temos nada! Está tudo bem! – sorri amarelo.
– Olha Dulce, não posso dizer para você que conheço a sua mulher, mas no seu caso, eu te conheço melhor do que você mesma. Sei quando está bem e quando está mal. Me diga o que aconteceu. – pediu.
– Na verdade... – suspirei. – É só que... que só agora eu estou me dando conta do mundo real. – soprei.
– Mundo real? Você está com febre? – disse apalpando meu rosto.
– Pára Bia! Não é febre! – afastei meu rosto de suas mãos.
– Então seja mais clara.
– Bia... Eu já estou com a Anahi faz quase seis meses. Ela só tem metade do tempo de vida. E isso é pouco. É muito pouco!– sussurrei.
– Mas Dulce... Você sabia desde o começo que seria assim. – segurou meu rosto e me fez olhá-la nos olhos. – Desde o começo você sabia.
– Eu sei disso Bia! Mas no começo foi fácil falar, mas agora que eu estou vendo que o tempo está passando, que ela está tendo crises constantemente, que eu percebo que tudo é real. Mas eu não queria que fosse.
– Ninguém queria Dulce! Mas é!
– Não Bia! Não pode ser você me entende? Não pode ser! Ela é a minha Anahi, eu amo ela mais do que qualquer coisa. Ela não pode simplesmente sumir, desaparecer. – joguei meus braços no ar.
– Dulce, escute...
– Beatriz... Escute você! Ela não pode morrer ouviu bem? Não pode! – grunhi e comecei a andar.
– Você não vai me deixar falando sozinha entende? – agarrou meu braço e me fitou. –Você acha que manda em tudo e em todos? Acha que tudo é sempre do seu jeito? Pois não é! Você não manda na vida, você realmente não manda em nada, nem em você! Agora cresça Dulce, cresça e tenta colocar na merda da sua cabeça o que está acontecendo. Não fique resmungando, sofrendo, chorando... Você só vai machucar a Anahi! Desde o começo você aceitou isso, pois então encare como gente grande. Encare como adulta que você acha que é!
– Ela vai morrer Bia! – disse. – Ela vai embora para sempre! Ela vai me deixar! – abracei-a com os olhos marejados.
– Dulce... Não chore, por favor. Desculpe. Eu não quis falar com você dessa forma.
– Ela também vai me deixar! Primeiro foi meu pai, e agora ela. – apertei-a mais forte.
– Pára amiga! Pára ok? Olha respira fundo. – encarou-me sorrindo. – Estamos no horário de aula. Vamos lá lavar esse rosto. Você não quer que a Anahi veja seu rosto vermelho quando vier nos buscar, quer?
– Não, não quero. – murmurei.
– Vamos então. – puxei em direção ao amarrotado banheiro feminino.
Caminhei naquele longo e extenso corredor branco procurando alguma coisa que eu não sabia direito o que era. Olhava para todos os lados e não via nada, o fim nunca chegava. Continue por horas andando e andando, mas meus pés não doíam. – Nada doía. – Excedo meus olhos que pareciam arder. De repente, no horizonte, um pontinho preto se foi visto. Olhei-o intrigada. Continue caminhando, mas dessa vez eu sentia que chegaria a algum lugar. O pontinho preto começou a tomar forma, primeiro a de um retângulo escuro, pra logo depois se transformar em uma porta. Coloquei a mão na maçaneta e tentei girá-la. Não houve movimento. Tentei outra vez: Nada. Tentei várias outras vezes e nada. Subitamente coloquei a mão no bolso da minha calça e senti um objeto. Agarrei-o com a mão e retirei uma pequena chave. Levei-a até o trinco da porta e girei duas vezes. Voltei a minha mão até a maçaneta e consegui com facilidade abrir aquela porta. Emburrei-a com pouca força e adentrei aquele lugar até então desconhecido. Observei cada detalhe daquele cômodo. Havia máquinas, armários e uma cama. – Não uma cama qualquer. – Havia uma cama e alguém deitado sobre ela. Relutantemente diminuí o espaço entre nós. Dei alguns passos a frente e observei que o seu braço estava conectado a vários fios, tubinhos e agulhas. Senti-me enojada com aquilo e minha respiração falhou. Tentei ver a pessoa que estava deitada, e levei um enorme susto quando vi que ela não tinha rosto. Não havia olhos, nariz, cabelo, boca e nem nada. Era apenas uma cabeça vazia. Desci meu olhar para seu peito e seus movimentos respiratórios eram poucos, mínimos... Diria quase inexistentes. Fiquei minutos olhando aquele ser desconhecido que parecia estar na pior. Notei que seus músculos começaram a se contrair e a máquina ao lado da cama disparara a apitar. Fiquei atônita. Senti medo pelo desconhecido. Corri até a porta e tentei abri-la. Nada. Estava trancada. Automaticamente coloquei as mãos no bolso da calça, mas não tinha nada, estava vazio. Gritei, esmurrei a porta, mas tudo parecia normal. Exceto pelo ser se contorcendo e o bip se apressando. Voltei em um pulo até a cama e em um impulso coloquei as minhas mãos sobre o corpo. Os movimentos do seu peito começaram a diminuir consideravelmente. Olhei para a máquina e observei o ritmo do bip ficar lento, lento, lendo e parar. O medo subiu pela minha espinha e com olhos arregalados voltei minha atenção para o corpo. Minhas mãos começaram a tremer, as minhas pernas foram perdendo as forças e o desespero me tomou. Agarrei a mão daquele corpo e estava fria, gelada. Olhei seus olhos e estavam sem brilho, vagos. Sua respiração não mais existia. Sua vida não mais existia. Meu coração doeu, meus olhos se encheram de lágrimas e chacoalhava convulsivamente minha cabeça tentando fazer aquilo tudo mudar. O lugar já não era mais o quarto. Agora era um jardim, um grande jardim. Sua mão deslizou através da minha, e quando tentei agarrá-la outra vez, um vidro me impediu. Tentei socá-lo com as mãos, mas não ele não apresentava nenhum pingo de rompimento. Afastei-me do corpo coberto pelo vidro e olhei seu rosto. Minha alma doeu. Minha alma gritou para que ela voltasse. Minha alma gritou para que me levasse com ela. Minha alma gritou para tê-la comigo. Olhei seu rosto mais uma vez, e acariciei o vidro sobre ele. Observei os seus lindos olhos azuis que antigamente eram brilhantes, se tornarem opacos. Observei sua boca que antes era rosada, se tornar palita e sem cor. Observei o amor da minha vida ali. O amor da minha MORTA. Ela estava morta. Anahi estava morta e eu morri junto com ela.
– Dulce, acorda! Acorda! – ouvi ao longe.
– Não! Anahi, volta! Volta! – berrei.
– Acorda Dulce! – senti meus braços serem pressionados com força e meu corpo ser chacoalhado.
– Não vai! – pedi.
– Dulce! É só um pesadelo. Acorda! – o aperto começou a ficar mais forte e fui abrindo meus olhos lentamente.
– A-anahi? – minha visão estava embaçada e minha cabeça doía.
– Foi só um pesadelo. Fica calma. – abraçou-me e afagou os meus cabelos.
– Você... Você está bem? – indaguei.
– Estou meu amor. Não aconteceu nada. – sussurrou.
– O que houve? – Anita entrou desesperada no quarto.
– Ela teve um pesadelo. – disse Any.
– Ei amorzinho. Você está bem? – minha mãe sentou ao meu lado na cama e agarrou as minhas mãos trêmulas. – Você está tremendo.
– Eu tive um pesadelo. – murmurei.
– Quer nos contar como ele era? – perguntou Anita.
Parei para pensar na pergunta que ela me fez. – Será que eu queria contar há elas que sonhei que Anahi havia... havia... ido embora? – Talvez seja melhor dizer que não e deixar tudo como está.
– Não mãe. Eu prefiro não contar. – sussurrei.
– Tem certeza? – insistiu Anahi.
– Tenho! – afirmei.
– Então tudo bem. Olha, eu vou lá para o meu quarto. Qualquer coisa podem me chamar. – deu-me um beijo na testa e outro na Anahi. – Boa noite.
– Boa noite. – respondemos em uníssono.
– Quer conversar? – inquiriu Any.
– Acho melhor não. Vamos dormir? – sibilei.
– Claro meu amor. – deu-me um leve beijo nos lábios e voltou a deitar ao meu lado.
– Any? – chamei.
– Oi amor?
– Me abraça? – pedi.
– Sempre que você quiser. – disse e cingiu minha cintura com um dos braços.
Os dias foram se passando aos poucos e já estávamos em meados do mês de maio. Com o tempo tudo parecia começar a se ajeitar. Ainda sentia aquela dor no peito, aquele sufoco que me incomodava. Aquela sensação de que alguma coisa iria acontecer, mas tentava ignorá-la. Passava o máximo de tempo possível ao lado de Anahi, não queria deixá-la um segundo sequer.
Meus amigos já não mais nos deixavam em “paz”, sempre arrumavam algum pretexto para nos divertir. Por um lado eu adorava. Ver a cara de felicidade de Anahi quando estava com eles me motivava, me dava forças para suportar qualquer coisa que talvez estivesse por vir. Beatriz sempre fora a minha melhor amiga, mas de uns tempos pra cá ela estava sendo mais do que isso. Sentia firmeza através de seus olhos, eles me passavam uma tranqüilidade e companheirismo inexplicáveis. Seu sorriso era renovador. Estava usando-a como minha base, minha estrutura. Era nela em quem eu me apoiava quando Anahi tinha crises; Era com ela que eu chorava quando via que minha pequena loira estava sofrendo; Era somente com ela que eu mostrava o meu lado fraco, as minhas fraquezas; Era nela que eu confiava; Ela me suportava em seus braços, me erguia, me ajudava. Ela sofria junto comigo, e se fosse possível arrancaria o meu sofrimento. Nunca vi minha amiga ser tão forte e ao mesmo tempo ser tão amável e delicada. Minha querida irmã não biológica. Eu a amava. Eu a amava, e amava o fato de ela fazer Anahi rir. Amava o fato de nunca nos deixar sozinhas. Amava o fato de nos amar.
– Acho que eu nunca te agradeci. – disse enquanto esperávamos Anahi terminar de tomar banho.
– Me agradecer? Pelo o quê? – indagou mexendo no ursinho que eu havia ganhado de presente de Anahi.
– Por estar comigo. Por ser minha amiga e me amar. – sorri.
– Está me agradecendo por amar você? – elevou uma sobrancelha e me fitou.
– Não somente por isso. Mas... Por ficar comigo, por sofrer comigo. Por ser a minha... a minha base, sabe?
– Sua base?
– Bia... Eu me sinto forte quando olho para você. Você não tem obrigação nenhuma de passar por tudo isso junto comigo, e o faz com gosto. Me motiva, me dá forças. Acho que eu não conseguiria se você não estivesse aqui. – suspirei.
– Você está falando sério? Porque se estiver é melhor ir parando. Qual é Dulce? Você sabe que eu nunca, nunca mesmo, deixaria você passar por isso sozinha. É barra tudo que está acontecendo. Eu não sou forte, talvez o que seja, é que nossa amizade é muito bonita. Você é a irmã que eu nunca tive, você faz parte da minha família. Crescemos juntas. – acariciou o dorso da minha mão com o polegar.
– Mesmo assim. Obrigada de verdade. – abracei-a. – Eu te amo tanto! Você é tão importante pra mim. Promete nunca me deixar? – senti meus olhos marejados.
– Eu prometo! Nunca irei te deixar. Eu amo você demais! – acariciou meus cabelos. – Eu te amo muito mesmo!
– Se eu me sinto fraca agora, depois será muito pior. Então... por favor... cumpra o que está dizendo.
– Eu tenho palavra ok? – gargalhou. – Vamos morar perto uma da outra. Ficaremos velhinhas juntas e passaremos a tarde toda na varanda das nossas casas fofocando sobre os vizinhos. – riu.
– Você pensou nisso agora? – gracejei.
– Não! – encarou-me séria. – Nunca imaginei minha vida sem você, nem quando estivesse velhinha. – sorriu.
– Eu te amo! – beijei sua bochecha.
Olhamo-nos por alguns segundos, uma sorrindo para a outra. De repente escutamos um estrondo vindo do banheiro e corremos desesperadas até a porta.
– Amor? – chamei e não houve resposta. – Anahi? – insisti gritando.
– Anahi? Aconteceu alguma coisa? – perguntou Bia.
– Anahi me responde. Abra essa porta. – berrei.
– Anahi? – continuou Bia espancando a porta. – Você tem a chave disto? – perguntou-me ela.
– Eu... eu... fica para o lado de dentro. – exclamei.
– Veja se a Sueli tem a reserva. Eu vou continuar chamando ela.
– A... a...
– Vai logo Dulce! – gritou e se virou para a porta. – Abra essa porta Anahi.
– Tá! – afirmei. – Já venho!
Corri até a cozinha e encontrei Sueli fazendo alguma coisa no fogão.
– Sueli, Sueli. – entrei esbaforida no cômodo.
– O que aconteceu pivete?
– A chave... a chave...
– A chave o quê?
– Você sabe onde está à chave reserva do banheiro do meu quarto? – indaguei rápido.
– Chave do banheiro do seu quarto? Pra quê?
– Anda logo Sueli. Sabe ou não?
– Sei, sei. Vou pegar. – disse indo a até o armário. – O que houve?
– Ouvimos um barulho no banheiro aí chamamos a Anahi, mas ninguém responde. A Bia pediu a chave para abrir. Acho que aconteceu alguma coisa. – disse com a voz embargada.
– Aqui. Toma! Vou com você. – entregou-me o objeto e seguimos de volta para o meu quarto.
– Bia, aqui! – gritei e entreguei-a para a Bia que continuava a bater na porta e chamar por Anahi.
Ela pegou a chave e colocou no trinco com as mãos trêmulas, talvez de dor por tanto bater ou de nervoso igual a mim. Rapidamente ouvimos o barulho da porta se destrancando e Bia a empurrando com força. A cena a seguir foi algo totalmente arrepiante. Dentro do box um corpo estava caído no chão enquanto o chuveiro derramava suas águas sobre ele. Fiquei estática, atônita. Meu corpo não obedecia meu cérebro que me mandava ir até lá. Beatriz e Sueli correram até Anahi estendida no chão e a pegaram. Tudo estava silencioso, eu não ouvia nada. Apenas fiquei observando as duas tentando fazer a minha namorada acordar.
– Pelo amor de Deus Dulce. Precisamos de ajuda, não está vendo? – Bia me agarrou com força e me chacoalhava. – Me ajude a levá-la até a cama. – me pediu.
Eu não disse nada, apenas me deixei ser arrastada por Beatriz e agarrei o corpo inerte e molhado em meus braços. Sinceramente? Não sei de onde eu consegui arrumar tanta força, quando eu percebi já havia deitado o corpo de Anahi em cima de nossa cama.
– O que a gente faz? – perguntou Bia.
– Eu... eu...
– Vou ligar para a Anita. – avisou Sueli.
– Bia? – chamei-a quando estávamos sozinhas. – Deita ela de lado. – pediu.
– Hã?
– Deita ela de ledo e levanta uma perna. É assim que acorda alguém que desmaiou. – disse.
– Tá. Espera. – disse e fez o que eu havia dito.
Passados alguns minutos depois, as pálpebras de Anahi começam a tremer e elas se abrem. Percebi que seu olhar era disperso, confuso. Sentou-se na cama enquanto nós a observávamos e deu-se conta de que não estava vestida.
– Oh meu Deus. Por que eu estou toda molhada e pelada na frente de vocês duas? – perguntou ela se cobrindo com o lençol.
– Hã...
– Digam! – pediu ao mesmo tempo em que deitava outra vez.
– Você desmaiou de novo. – respondeu Bia.
– Ai minha cabeça, dói demais. – levou as mãos ao rosto e pude ver as manchas nos seus braços ficarem mais nítidas.
– Dulce, olha o braço dela. – sussurrou Bia.
– Amor, você está bem? – inquiri indo até ela.
– Faz parar Dulce. Faz. – suplicou. – Isso tá doendo demais. – disse com a voz embargada.
Fiquei sem ação diante das palavras dela. Mas uma vez o termo impotência se aplicou de mim. Meus olhos se encherem de lágrimas e abracei o seu corpo acariciando seus cabelos.
– Ela já está vindo para cá. – avisou Sueli entrando no quarto. – Como ela está?
– Com dor. – movimentei meus lábios. – Me esperem um minutinho lá na sala, eu vou secar ela. – disse.
– Ok. Qualquer coisa pode chamar. – exclamou Bia.
Esperei para que as duas saíssem do quarto para voltar a dar atenção a Anahi.
– Você está bem? – indaguei e voltei a repousar seu corpo sobre a cama.
– Não consigo nem abrir os olhos de dor de cabeça. – murmurou.
– Eu vou te secar. Me espere aqui. – pedi.
– Nem que eu quisesse levantar. – sorriu amarelo ainda de olhos fechados.
Peguei suas roupas e uma toalha dentro do meu guarda-roupa e comecei a secar o seu corpo lentamente. Conforme eu passava o tecido sobre sua pele, me dava conta de que as poucas manchas deram lugar a uma infinidade delas. Fora o fato de que estavam muito mais roxas e escuras.
– Prontinho. – avisei depois de vesti-la.
– Deita aqui comigo. – pediu.
– Sempre que quiser. – disse e me acomodei ao seu lado colocando sua cabeça sobre meu ombro.
– Hoje é que dia? – indagou ela depois de alguns minutos.
– Acho que dia nove ou dez. Sei lá. – respondi.
– Um colega meu de faculdade me disse que entre os dias dezenove de abril e vinte e oito de maio ia ter uma grande chuva de meteoros.
– Sério?
– Uhum. Mas só com telescópios turbinados que dá pra ver. Eu queria tanto. Deve ser lindo. – disse.
Ao ouvir essas palavras, algo passou pela minha cabeça rapidamente e fiz uma anotação mental para não esquecer.
– É. Deve ser mesmo. – concordei.
– Eta-Aquarídeas.
– Que troço é esse? – perguntei e ela riu com dificuldade.
– É o nome da chuva. – explicou.
– Ah... Entendi.
Não sei exatamente por quanto tempo ficamos deitadas assim. Aos poucos fui percebendo que a respiração de Anahi havia ganhado ritmo e ela dormia profundamente. Com mínimos movimentos eu retirei sua cabeça de meu ombro de repousei-a sobre o macio travesseiro. Antes de sair do quarto ainda parei e olhei-a por alguns segundos.
– Filha! – exclamou Anita ao me ver chegar na sala. Estavam ela, Sueli e Beatriz sentadas nos sofás.
– Oi mãe. Não sabia que você já tinha chego. – disse.
– Você estava no quarto com a Any. – titubeou. – Falando nela... Como ela está?
– Está dormindo agora... Mas acho que ta melhorzinha já. – sentei-me. – Eu não sei mais o que fazer. – apoiei meus cotovelos nos joelhos e cobri meu rosto com as mãos.
– Não fica assim Dulce. – Bia sentou ou meu lado e me abraçou.
– Você não pode fazer nada, meu amor. – disse Anita.
– Eu devia fazer mãe. Ela é a minha vida, sem ela eu não posso existir. – sussurrei.
– Eu também achava o mesmo quando seu pai morreu. – sentou do meu outro lado. – E no entanto, estou aqui, não estou?
– Ela está morrendo e eu não posso fazer nada, mãe. Sabe como eu me sinto? Sabe como eu me sinto sabendo que a qualquer momento minha mulher pode morrer? Simplesmente desaparecer, sumir. – murmurei. – Ela está sofrendo mãe. Ela sente dor, ela desmaia, tem manchas no corpo, não come. Que vida é essa? Me diz que merda de vida é essa? – aumentei meu tom de voz.
– Fale baixo Dulce. – pediu Anita. – Ela está dormindo, não lembra?
– Droga! – sibilei com olhos marejados. – Ela quer ver uma chuva de meteoros. – disse.
– O quê? – perguntou Sueli.
– Uma chuva de meteoros. Ela disse que foi um amigo dela que comentou e tal. Mas só com supertelescópios que dá pra ver. – expliquei.
– E por que não ajuda ela a ver? – indagou Bia. – Você sempre realiza as coisas que ela quer. – revirou os olhos.
– Eu pensei em comprar um telescópio melhor, mas é meio difícil achar um muito bom. – disse.
– Vamos fazer um então. – sorriu minha amiga.
– Hã? Você é louca? – disse incrédula. – E como você acha que se faz isso? Pega uma lupa e um cano PVC? – ironizei.
– Ai, mas você é chata mesmo hein. – riu.
– Podemos tentar ué! – encorajou minha mãe.
– Ah pronto! Olha só onde é que eu fui amarrar meu jumento. – sorri.
– A gente consegue! – disse Bia. – Prometo te ajudar. – sorriu.
– Eu ajudo também! – silvou Sueli que até então estava quieta.
– Eu amo tanto vocês! – exclamei.
– Também amamos você. – respondeu Anita. – Agora deixe-me ir até o quarto ver como minha norinha está. – sorriu.
Depois que minha mãe saiu, Bia e eu corremos até o computador e pesquisamos tudo o que conseguimos para poder realizar mais esse desejo de Anahi. Confesso que não foi nada fácil achar as coisas, nem mesmo na internet. Pedimos ajuda para o Juliano, Cris, Letícia, Mariana e Gustavo. – Nossa grande família. – pensei. Eles não hesitaram em nenhum momento em nos ajudar, na verdade, estavam tão ou mais empolgados do que nós. Isso foi algo que me deixou muito feliz, mas por outro lado, os exames de Anahi ficaram prontos e as notícias não foram das melhores. Doutor Thomas nos disse que minha mulher não estava muito bem, que provavelmente daqui em diante ela só tenderia a piorar. Foi diagnosticado que a leucemia teve grande avanço e que o prazo dela não era lá muito grande. Essas informações foram como uma adaga em meu peito. Senti como se meu chão estivesse sumindo e tudo parecia cinza e sem cor. A cada respiração de Anahi, era como se espremessem meu coração e ele ficava mais dolorido.
Já fazia uma semana que estávamos trabalhando no SUPERTELESCÓPIO, e durante todo esse tempo, Anahi ficou pior. Ela já não mais saia da cama, não mais ia para a faculdade e minha vida se acabava junto com a dela. Eu queria arrancar aquela coisa que estava sugando a sua vida aos poucos, aquela coisa que a estava tirando de mim. Eu passava horas e horas construindo aquele negocio sem ela saber. Quase todos os dias depois das aulas, nos reuníamos na casa de Beatriz – era lá que iria ficar. – e trabalhávamos feito doidos para conseguir terminar o objeto gigante.
– O que é que você tanto faz depois das aulas? – perguntou Anahi em um sussurro quando estava me vestindo.
– Estou te traindo. – disse séria.
– O quê? – indagou com olhos arregalados.
– Estou brincando amor. – ri. – Eu nunca faria isso. – fui até a cama e deitei ao seu lado.
– Quase morri agora. – gracejou. – Nunca mais brinque com isso, ouviu? – apontou o dedo para mim. – E nem ouse me trair.
– Ok! Sem traições. – sorri e selei nossos lábios delicadamente.
Ultimamente as nossas carícias tendem a ficar cada vez mais delicadas, sinto medo de machucá-la. Sinto medo de quebrar minha boneca de porcelana. Ela está tão frágil que me sinto uma ogra quando a beijo com um pouco mais de intensidade. Na verdade, eu estou parecendo uma virgem com medo da minha primeira vez. Sempre sou eu quem para, vai devagar ou coisa do tipo. – Sim! Já levei muitos esporros por isso.
– Eu te amo! – sussurrou antes de morder o lóbulo da minha orelha.
– Eu te amo minha vida! – voltei a beijar seus lábios.
Aanahi com uma das mãos agarrou a minha nuca e me puxou para ficar sobre ela. Hesitei por um momento e inverti as posições. O medo de machucá-la com o peso do meu corpo não me permitiu deitar sobre ela. Enrolei meus braços em sua cintura enquanto ela segurava meu rosto entre as mãos. Ela começou a descer seus beijos pela minha mandíbula até o pescoço e dava algumas mordidinhas. Minha respiração estava descompassada, mas ainda sim não conseguia me deixar levar. Suas mãos foram subindo a minha blusa e voltou a me beijar com mais urgência.
– A-anahi. – sussurrei entre os beijos.
– Não Dulce. – disse e arrancou a parte de cima do meu pijama.
Devagar ela desceu seus lábios até meus seios e começou a mordiscar, beijar, sugar. Já estava perdendo toda a minha razão. Se perguntassem meu nome eu certamente não conseguiria me lembrar.
– Any. – tentei outra vez.
– Por favor, não faça isso. – murmurou com a voz rouca e tirou o meu short me deixando somente com a peça íntima.
Embolei meus dedos em seus cabelos enquanto ela beijava meu abdômen. Sentia seu hálito quente contra o meu corpo, e minha pele se incendiava, queimava. De repente senti que minha última peça fora retirada, então puxei seu corpo outra vez para cima de mim. Beijei-a com volúpia, com urgência. Com o maior cuidado e rapidez, despi-a por completo e abracei-a fortemente.
– Estou com medo! – sussurrei ofegante. – Não quero te machucar.
– Não irá me machucar. – sorriu e beijou-me outra vez.
Acordei com os raios solares iluminando o meu rosto e senti meu corpo sendo coberto por um corpo menor. Olhei para o rosto sereno de Anahi e a vi ressonando tranquilamente com a respiração cravada em meu pescoço.
Autor(a): Miaagron
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Hoje seria o dia em que Anahi veria a tal chuva de meteoros. O trabalho valeu muito a pena, o telescópio tinha uma visão de longo alcance. Quem visse não nunca iria acreditar que fomos nós mesmos que construímos. – Nem eu acreditava. – Sem modéstia, ele realmente ficou fantá ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 11
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AnBeah_portinon Postado em 02/04/2018 - 18:17:54
Chorei horrores aqui! DEUS! quase morri por falta de oxigênio pelo meu choro compulsivo, ainda mais porque assisti os últimos capítulos ouvindo only Hope e You re missing It. No epílogo cry. Quase morri kkk. Amei!
AnBeah_portinon Postado em 02/04/2018 - 18:18:55
Quer dizer, li os capítulos kk
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flavianaperroni Postado em 06/10/2014 - 18:53:57
Meu Deus eu chorei como um bb..não não eu chorei PIOR que um bb,que susto você me deu cara,Jurei que a Annie tinha morrido mesmo...Mais trando meu choro convulssivo eu AMEI DE PAIXÃO a web..ela é PERFEITA demais..Parabpens
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brunamachado Postado em 02/09/2013 - 02:59:52
Muito boa a história,emocionante,chorei igual uma cabrita pq pensei que ela tinha morrido mesmo,mais foi um lindo final feliz.
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lunaticas Postado em 27/07/2013 - 04:19:25
Nossa gostei demais ;)
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Vondyreis Postado em 25/07/2013 - 21:55:03
Que bom q a Any ñ morreu,vc conseguiu me enganar direitinho não foi?parabéns. pela fic ela é otima,ate a próxima eu espero!!!!
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Vondyreis Postado em 24/07/2013 - 21:34:01
Como vc pode matar a minha Any?!!!?!!?brincadeirinha!!serio eu chorei muito...E sua web é muito boa
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lunaticas Postado em 24/07/2013 - 00:24:35
amandooooooooo a Fic ;)
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lunaticas Postado em 19/07/2013 - 03:40:50
Adorei!!! Posta mais ;)
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lunaticas Postado em 18/07/2013 - 04:00:09
Oi adorando sua Fic!!! Espero q haja um milagre :( Ansiosa para os próximos cap.
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rebecabel19hotmail.com Postado em 16/07/2013 - 10:05:02
Posta mais...espero que continuem juntas;...