Fanfics Brasil - Mauricio Perseverança

Fanfic: Perseverança | Tema: Amor de Verão


Capítulo: Mauricio

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Capítulo 2 – Mauricio.


 


 


BIP-BIP-BIP.


Mauricio se virou na cama batendo com força a mão no despertador, 5h30 da manhã, em pleno domingo, depois de uma festa onde ele havia bebido demais. Sua cabeça latejava, mas um sorriso fraco no canto dos lábios apareceu sem que ele se desse conta. Ele tinha beijado Laura na noite anterior.


Ela era a garota mais chata, implicante, arrogante, autoconfiante e mimada que ele já tinha conhecido, além é claro de proibida, mas a forma como ela enruga o nariz toda vez que ri, mexe no cabelo a todo o momento o jogando para o lado e morde o lábio para pensar o fazia perder a cabeça. Ele sabia que não podia ficar com ela, tanto pelos avós terem a proibido como pelo real motivo do pai odiá-lo, ele sabia que não daria certo, mas ele queria e na noite passada ela tinha mostrado que queria tanto quanto ele.


Se levantou e foi direto para o chuveiro e enquanto deixava a água quente amortecer seus músculos, a noite passada, passava como um flash em sua memória.


 


“– Achei que você nunca fosse me beijar! – Laura falou sorrindo e parecendo pela primeira vez uma menina desprotegida e desarmada.


- Eu achei que você nunca fosse me dar uma chance, -.


- Não tenho culpa se você não entende os sinais, tá? –


- Sinais? Desde quando ficar de gracinha com outro cara é um sinal? –


- Eu tentei me aproximar de você um milhão de vezes antes de fazer amizade com o Gu. –


- Ok, ok, não vamos brigar agora vai... Temos mais o que fazer – Ele falou a puxando para perto novamente e a beijando.”


 


- SAI LOGO DESSE CHUVEIRO, MENINO! – As batidas grosseiras na porta, fizeram Mauricio despertar das lembranças e fechar o registro. Quando saiu do banheiro, deu de cara com sua mãe, que parecia ter chegado naquele instante.


- Meu amor... Vai trabalhar? – Ela o abraçou com força, o conjunto azul bebê mostrando que dona Verônica tinha acabado de chegar do hospital, era enfermeira.


- Vou, preferi folgar amanhã que a Cat vai sair! – Quando Mauricio falou a mãe desmanchou um pouco o sorriso, - Ela está bem não está?


- Ah meu príncipe! – a mãe voltou a abraça-lo, - Amanhã vamos almoçar todos juntos.


- Fechado. – Mauricio sorriu se desvencilhando do abraço da mãe e indo para o quarto.


Cat tinha nascido enquanto Mauricio estava no seu primeiro ano de reformatório, ela era ainda uma neném, para ele, apenas cinco anos, mas tinha uma doença muito grave que nenhum médico conseguia descobrir a solução, ela praticamente morava no hospital há seis meses, mas nas últimas semanas ela tinha melhorado e finalmente teria alta.


- E escuta... A festa ontem foi boa? – No momento em que ela perguntou, outro sorriso escapou. – Hum... Só pelo sorriso, já tenho a resposta!


- Não viaja. – Mauricio falou brincalhão e entrou no quarto rápido, antes que a mãe fizesse mais perguntas.


Mauricio foi para a cozinha depois de se trocar e tomou um café rápido, não queria ter que cruzar com seu pai, mas quando estava saindo da casa foi inevitável fugir.


- Mau, você vai continuar fugindo de mim? – Bruno era Mauricio com mais rugas. A semelhança entre os dois eram assustadoras, Mauricio não conseguia encontrar nada de sua mãe nele, mas seu pai estava em cada traço em cada pedaço, em cada centímetro do seu corpo.


- Pai eu já falei que não quero falar com você, dá um tempo vai? – Quando o garoto estava saindo seu pai o segurou com força pelo braço.


- Eu sei que você beijou aquela menina ontem, não vai achando que vai ficar por isso mesmo viu? O Cadu vai saber... –


- E? – Mauricio puxou o braço com força, - Se isso é uma ameaça eu não tenho medo e dá licença que eu tenho que trabalhar!


- Olha como você fala! – Bruno veio andando rápido atrás do filho até o meio da rua, - Eu fiz o que fiz porque eu a amava, aposto que do jeito que você está... Por aquelazinha você faria o mesmo! – Mauricio ouviu aquelas palavras do pai e voltou praticamente voando para cima dele, o segurando pela gola da camiseta.


- Ela não é aquelazinha, ela tem nome, é Laura! E eu não seria sujo como você! Se ela não me amar de volta eu vou deixa-la ser feliz, e não tentar... Eu não sou igual a você! – Ele empurrou o pai quase o fazendo cair e saiu dali espumando de raiva.


Chegou ao quiosque e encontrou seu Romeu limpando o balcão enquanto Dona Dora estava sentada falando alguma coisa, baixinho.


- Bom dia. – Mauricio falou e os dois o olharam, Dora parecia chateada e seu Romeu escondia um sorriso. No mesmo momento Laura saiu da cozinha olhando com desespero para ele.


- Eu achei que tivesse dito que queria você longe da minha neta. – Dona Dora falou com um tom que Mauricio nunca tinha ouvido. Ela estava brava.


- Dona Dora, eu... – Mauricio tentou falar, mas ela levantou a mão pedindo para ele se calar.


- Já conversamos com Laura e não vamos tirar o seu emprego, mas vocês irão trabalhar em turnos diferentes, e será a última vez que eu irei dar uma chance. –


- Mais sem dobrar eu vou perder uma parte do salário e eu... Eu preciso. –


- Eu não preciso trabalhar então! – Laura falou, olhando unicamente para Mauricio.


- Achei que fosse importante o dinheiro que você receberia aqui no quiosque. – Dona Dora olhou para a neta desconfiada.


- Ele precisa mais do que eu. – Mauricio sentiu como se levasse um soco no estômago, ele sabia que ficaria impossível de vê-la agora, e que não poderia insistir ou perderia o emprego. Quando ele achou que tinha uma fresta da janela aberta, ele mesmo fechou de vez.


- Muito bem então... – Dora respirou fundo, parecendo cansada. – Laura está dispensada.


Laura saiu de trás do balcão, sorriu fraco para o avô e foi andando lentamente na direção de Mauricio, sua avó ficou lhe lançando olhares amedrontadores, mas ela não se importou, se aproximou mais do garoto e colocou a mão em seu rosto delicadamente.


- Não se preocupe, - Ela sorriu fraco e apenas mexendo os lábios, falou: Mensagens. Depois sorriu mais abertamente, já que percebeu que nenhum dos seus avós percebeu e saiu.


 - Eu espero que você não destrua o resto de confiança que eu tenho em você! – Dona Dora falou séria e aquilo só deixou Mauricio mais irritado do que já tinha ficado com seu pai.


- Dona Dora, - Ele a chamou tentando se controlar, - O seu filho proibiu a Laura de falar comigo por motivos que não me desrespeitam, mas mesmo assim eu fui atingido pela infantilidade dele, mas eu sinto lhe informar que a sua neta me enfeitiçou e vocês podem querer o quanto for, mas vocês não vão me fazer parar de querê-la.


- Você quer perder o seu emprego? – Dona Dora agora estava vermelha de tão nervosa,


- Não, eu não quero, mas não me peça para desistir de algo que eu apenas sonho ter. –


- Se continuar apenas no mundo dos seus sonhos já não é problema meu, será se você os tornar real! –


- Não lhe prometo nada! –


- Pois eu lhe prometo algo... – Ela se aproximou furiosa agora, - Se você encostar novamente um dedo na minha neta eu vou lhe demitir o que significa não só a sua falta de dinheiro, mas como a sua falta de assinatura para o boletim de comportamento e você sabe o que isso significa! – À volta para o reformatório. – Então não me faça fazer isso, porque apesar da raiva e desapontamento que sinto agora eu gosto de você!


- Já entendi. – Mauricio encerrou a conversa se virando e indo pegar seu avental. Aquele lembrete o fez temer e o fez começar a repensar novamente sobre se deveria ou não continuar com a loucura de gostar de Laura.


 


“- Acha que alguém vai nos encontrar aqui? – Laura sorria abertamente enquanto girava no lugar, com os braços abertos, sorrindo para a lua.


- Acho, mas não estou me importando. – Mauricio puxou a garota pela cintura para perto e lhe deu um beijo de leve que ela logo aprofundou.


- Como você é difícil viu? –


- Não sou, é que... – Ele se afastou dela, mas segurou sua mão, - Eu tenho muito a perder com tudo isso.


- A ganhar também, - Ela deu um sorrisinho fraco voltando a beijá-lo.”.


 


“Me desculpe fazer você passar por isso, odeio como minha avó está se comportando”. Mauricio leu a mensagem de Laura que chegou pouco depois do primeiro cliente do quiosque chegar, ele sorriu de imediato, mas não respondeu, guardou o celular no avental e tentou tirá-la da sua cabeça enquanto não se decidisse sobre o que iria fazer.


 


Durante todo o dia, o medo de voltar para o reformatório, fazia todas as lembranças da noite anterior parecerem erradas e cada vez mais erradas, ele não poderia voltar para lá, ele não poderia perder tudo o que já tinha conquistado, mas ao mesmo tempo ao se lembrar do sorriso de Laura, todo o resto parecia banal demais.


“Precisamos conversar, no cais hoje, as 14h.”


Ele mandou enquanto estava na cozinha, assim nenhum dos avós da garota poderiam ver. Ele precisava abrir o jogo, enganar, mentir e tentar proteger sem dar uma chance deles tentarem não parecia ser algo justo, ele contaria tudo para Laura.


- Essa menina é perigo! – Paulo, o melhor amigo de Mauricio, que trabalhava ali junto falou sorrindo fraco, - Cuidado Mau, você tem muito a perder.


- Mas muito a ganhar também! – Mauricio se lembrou das palavras dela e se sentiu confiante, saiu rindo da cozinha, deixando Paulo para trás. Nada na vida era definitivo, sua mãe vivia lhe dizendo isso, então, talvez o quiosque não fosse o único lugar que ele poderia trabalhar, ele encontraria outro lugar.


 


- Mauricio, se importa de fazer o horário de almoço às 16h ao invés das 14h? – Seu Romeu perguntou quando Mau já tirava o avental, pronto para se encontrar com Laura.


- Ah, desculpa Seu Romeu, eu tenho que resolver umas coisas... Mas tento volta mais cedo. – Mauricio piscou para o senhor e saiu correndo, entrou no carro se sentindo mais leve e dirigiu em direção ao cais.


Quando desceu do carro, sentiu a brisa fresca que vinha do mar e já se sentiu melhor, como se aquela brisa e a expectativa de encontrar com Laura, tirasse todos os medos e todo o peso dos seus ombros. Debruçou-se no parapeito do cais e ficou imaginando como sua vida poderia ser diferente se ele não tivesse tomado tantas decisões erradas, se ele não tivesse sido tão impulsivo. Se pudesse voltar no tempo, se pudesse dizer ao seu ‘eu’ do passado como nada daquilo valia a pena, ele poderia ter tomado caminhos tão diferentes...


- Achei que você não fosse aparecer de novo! – Laura apareceu do seu lado, se debruçando igual a ele. Foi instantâneo abrir um sorriso largo.


- Jamais! – Ele pensou em se aproximar para lhe dar um beijo, mas então se lembrou de que estavam em publico. – Vamos para outro lugar?


- Para onde você quiser. – Ela falou se afastando e ficando de frente para o sol. Mauricio nunca a tinha visto tão linda, os cabelos esvoaçantes brigando com o vento, a pequena faixa da barriga a mostra e a pequena tatuagem no braço que a faziam ser completamente inebriante. – Vai ficar me admirando ou vamos? – Ela esticou a mão para Mau, que antes estava tentando controlar os cabelos, sorrindo de orelha a orelha. Ele então pegou a mão da garota e saiu andando.


Laura abriu a boca como uma criança que ganha o presente certo no natal, quando viu o Jipe, e entrou na maior animação. Foi Mauricio ligar o carro e no mesmo momento em que uma música calma e gostosa começou a tocar. O vento levava os cabelos dela para trás, os fazendo dançar na melodia da música, Laura ergueu os braços deixando o vento bater firme neles e lhe refrescando do calor forte que o sol alto causava, enquanto Mauricio apenas sorria, de plena felicidade por ela estar ali.


“Here`s you and me and in between we draw a line but we can`t see where it`s bend we scratch our heads and race against the heart`s content”, a voz suave de Brandi Carlile cantava deixando aquele momento quase surreal.


-Eu amo essa música! – Laura falou balançando os braços no alto, no ritmo enquanto cantava baixinho o trecho da música.


- Linda, - Mauricio falou olhando para a menina que sorriu abertamente. – Então... Já que vamos nos encontrar escondidos temos que fazer disso grandes eventos!


- Para fazer valer o risco! – Laura falou se virando e ficando sentada praticamente de frente para Mauricio.


- Exatamente! Então o que acha de amanhã, nós nos encontrarmos antes do sol nascer? –


- Meus avós acordam esse horário para a abertura do quiosque, -


- Seus avós acordam com o sol, não antes do sol, vai dar tempo de você vir ver o nascer comigo e voltar, o que acha? – Mauricio falou estendendo a mão para que Laura a pegasse,


- Maybe we hurt who we love the most maybe it`s all we can stand, - Laura cantou e Mauricio foi desmanchando o sorriso aos poucos, ele abaixou a mão e parou no primeiro encostamento, Laura se sentou direito e ficou admirando os dedos.


- De repente eu virei mesmo o joguinho da menina mimada né? – Mauricio falou sem olhar para ela.


- Não, não é nada disso... – Laura sorriu abertamente tranquilizando um pouco o garoto, mas quando ela virou o rosto, olhando para o lado pensativa, o estômago de Mau afundou - É só que de repente eu percebi que... Pela primeira vez na minha vida eu vou mentir para os meus avós... E eu não estou me importando com isso... – Ela olhou para Mauricio que sorriu timidamente pelo canto dos lábios.


- Isso não faz de você uma pessoa ruim. –


- Isso faz de mim que pessoa então? –


- Que está tão confusa quanto eu do porque é tão importante e tão imprescindível que nós estejamos juntos. – Ele pegou a mão da menina e apertou levando até os lábios, - Eu já te conhecia...


- Como? – Laura sorriu se sentando melhor no banco.


- Há dois anos, você veio passar um final de semana, eu tinha tido as minhas últimas férias do reformatório... – Ele continuou, sabia que Laura já sabia sobre isso, e apesar da vergonha que tinha sobre seu passado sabia que naquela tarde, ele iria explicar tudo a ela, - Você estava surfando em frente ao quiosque... Você saiu do mar segurando a prancha e correndo como se estivesse em uma cena de filme, me lembro de que pensei que eu tinha que te conhecer, mas no dia seguinte quando fui atrás de você, você já tinha ido embora. –


- Então minha avó não falou nada sobre eu surfar. – Laura concluiu rindo e Mauricio tombou a cabeça no banco fechando os olhos.


- Te digo que fiquei alucinado por você e você só se apega ao fato de como descobri que você surfava?-


- Eu estava no meu melhor momento, claro que estava alucinado por mim... – Laura falou rindo e Mauricio a olhou com os olhos arregalados, ela então riu alto se aproximando e passando a mão em seu rosto, - Eu já estou envolvida até o pescoço, então só preciso de uma resposta.


- Pergunte, - Mauricio sorriu colocando uma mecha do cabelo da menina para trás de sua orelha.


- Estamos juntos nessa? – Ela falou olhando no fundo dos olhos dele, - O porquê de eu querer tanto tudo isso eu não sei, mas eu sei que quero que eu me sinto tão bem com você como nunca me senti com ninguém, mas eu preciso ter certeza de que estamos juntos nessa!


- Estamos! Eu não sei no que, mas estamos! – Ele sorriu tentando se aproximar, mas Laura voltou a se sentar distante dele,


- Então tá, vamos surfar logo antes que acabe seu horário de almoço! –


- E quem disse que vamos surfar? Eu disse que conversaríamos! – Mauricio riu voltando a ligar o carro enquanto ela aumentava o rádio.


- Quando você me deu um bolo tinha prometido, então agora tem que compensar! –


- Ok então, senhorita, vamos surfar! – Mauricio riu novamente, se sentindo leve.


Ele não dirigiu por muito mais tempo, logo parou no estacionamento em frente à praia e desceu, Laura o seguiu e foram juntos pisar na areia fofinha.


- Só esquecemos de que para surfar precisávamos de pranchas! – Ela falou olhando de rabo de olho para ele que sorriu abertamente e saiu andando sem dizer nada, Laura apenas ficou o olhando de longe.


Ele se aproximou de uma loja de surf e saiu de lá com duas pranchas.


- Espero que esteja com biquíni. – Ele falou entregando uma das pranchas para Laura e jogando uma parafina recém-tirada do bolso.


- Certeza que você me queria surfando nua, - Ela falou rindo alto em seguida, Mauricio balançou a cabeça como se não acreditasse e riu alto. Ela era tão autentica, tão destemida.


- Você é... Bocuda. – Ele falou rindo, gostava de provocar.


- Verdadeira é melhor, - Laura terminou de passar parafina na prancha e se levantou já tirando a camiseta e saia que usava por cima do biquíni, pegou a prancha e saiu correndo em direção ao mar. Mauricio ficou parado olhando ela fazer tudo aquilo hipnotizado, ela era totalmente destemida e sem vergonha e ele adorava aquilo nela. Tirou a camiseta, rápido e correu em direção ao mar logo atrás de Laura.


Remou, mas parou, se sentando na prancha, apenas para poder vê-la de longe, Laura ao contrário saiu remando forte e pegou a primeira onda que surgiu. Ali de pé, manobrando a prancha e se equilibrando ela parecia leve, parecia satisfeita, parecia completa e no momento em que mergulhou, ficou embaixo d’água por um tempo, se Mauricio não fizesse a mesma coisa, até acharia estranho ela ficar tanto tempo ali embaixo, mas logo ela apareceu na superfície, tirando água do rosto e o procurando. Ele apenas ergueu o braço e logo ela sorriu, subindo na prancha e deixando ser levada até ele pelo mar.


- Pegou alguma ou só ficou me admirando? – Ela se sentou na prancha ao seu lado e estendeu a mão para que Mauricio a pegasse e aproximasse os dois.


- Te admirar foi inevitável. – Ele riu a puxando e lhe dando um beijo de leve, e ela arregalou os olhos, sem se afastar.


- Será que alguém pode nos ver? –


- Aqui dificilmente. – Ele passou a mão pelo rosto dela e a beijou mais uma vez, mas quando foi aprofundar o beijo sentiu as mãos geladas da menina em seu peito o empurrando, o fazendo cair da prancha.


- Vai surfar menino! – Ela apontou para o mar rindo e mandando um beijo em seguida. Mauricio então subiu na prancha e foi remando para mais para dentro do mar.


 


Depois de ficar tempo suficiente para enrugarem, os dedos das mãos eles saíram. Com a prancha em um braço e de mãos dadas com Laura, assim ele saiu do mar.


- Você disse que precisava conversar... – Laura enfincou a prancha na areia e se sentou, Mauricio a imitou sentindo um frio na barriga, ele sabia que era o certo abrir o jogo, mas era difícil.


- Eu queria... Eu quero te contar tudo, já que estamos juntos nessa, eu quero que você saiba de tudo! – Mauricio falou sem olhar para Laura, ele não conseguia olhá-la, ele tinha medo que depois que contasse tudo para ela, ela não quisesse mais ficar com ele.


- O que você acha de me contar tudo hoje de noite? – Ela colocou a mão por cima da dele, mas ele não entendeu o que ela quis dizer, por isso a olhou franzindo as sobrancelhas, - Agora já são quase três horas, você tem que voltar e pelo jeito temos muito que conversar, então... 3h nos encontramos na pracinha, o que acha?


- Pode ser. – Mauricio sorriu se aproximando da garota e lhe dando um beijo de leve e deu impulso com o corpo a fazendo deitar na areia e aprofundou o beijo.


Ficaram se beijando ali deitados por um tempo, até que ele se lembrou de que precisava voltar, então se afastou pouco, apenas o suficiente para interromper o beijo.


- Tenho que voltar, - Ele falou e Laura resmungou o abraçando forte pelo pescoço e o beijando de novo.


- Não quero voltar pra casa... – Ela fez um biquinho engraçado, que fez Mauricio sorrir abertamente.


- Nos encontraremos de novo hoje, -.


- Vou contar os segundos! – Ela falou antes de lhe dar outro beijo de leve e se levantar.


 


Mauricio deixou Laura na esquina de casa e voltou para o quiosque. Quando voltou seu Romeu parecia alucinado, ele gritou ao ver Mauricio, pedindo ajuda, o quiosque nunca esteve tão lotado.


“Chegar em casa e não ter nada para fazer, bacana!” Mauricio riu com a mensagem de Laura enquanto colocava o avental.


“Quer vir enfrentar um quiosque lotado?”.


“Com você? Enfrento até um leão faminto.”


“Gay.”


“Insensível”.


- Foi à praia no horário de almoço? – Mauricio quase caiu para trás com o susto que levou da Dona Dora.


- Fui, eu... Precisava espairecer. –


- Sozinho? – Ela perguntou cruzando os braços,


- Desculpa, mas... Quem é a senhora, e o que fez com a Dona Dora? – Mauricio falou saindo e deixando a senhora ali sozinha, que se sentiu atingida pela frase do rapaz, ela não conseguia se reconhecer também, desde que seu filho tinha lhe proibido de manter Laura perto de Mauricio ela tinha se transformado em uma velha chata, e ela nem concordava com a proibição.


“Sua avó suspeitou, com certeza vai te rondar.”


Assim que ele colocou o celular de volta no bolso viu de longe Dona Dora o olhando, mas agora o olhar era mais delicado e não tão pesado quanto antes. Ao virar o rosto viu sua mãe, descendo da picape e vindo praticamente correndo até ele, falou alguma coisa para Dora, que logo pareceu assustada e foi até Mauricio. Quando sua mãe parou na sua frente, ele já sentia como se um buraco tivesse aberto em seu peito.


- Mãe, o que... –


- Mau, a Cat... – A mãe deixou uma lágrima escapar e Mauricio sentiu uma dor no peito muito grande, - Ela piorou...


- Não mãe, ela... Ela tinha... Ela ia sair amanhã! – Ele se afastou sentindo as lágrimas brotarem em seus olhos e um nó forte apertar sua garganta.


- Ela... Meu amor, você precisa vir comigo, ela... – Verônica tentou segurar as lágrimas, ser forte pelo filho, mas a sua dor era grande demais também.


- ELA TEM QUE FICAR BEM! – Mauricio gritou jogando a bandeja no chão e andando de um lado para o outro sem saber o que fazer, até que foi parado pelos braços da mãe, que o mantinham perto, firmemente.


- Ela precisa de você! – Verônica sussurrou no ouvido do filho que aos poucos foi se acalmando. Mauricio sentia como se o mundo estivesse acabando, era tão injusto tudo aquilo, era injusto que a Catarina estivesse passando por aquilo. Quando ele finalmente conseguiu conter a tristeza e o ódio, ele se soltou da mãe, pegou a bandeja do chão e foi andando lentamente até o bar.


- Dona Dora eu... – Ele não conseguiu terminar, o nó na garganta o sufocou.


- Vai, pode ir... Não precisa voltar hoje. – Ela sorriu fraco, mas parecia prestes a chorar também.


Mau entrou no carro, colocou o cinto como se estivesse indo para a forca, ele não queria ter que se despedir, ele queria estar perto da pequena irmã, mas não era justo que ele tivesse que se despedir.


“Deixe ela sondar, eu sou ótima para despistar. Hihi. Contando os segundos pra te ver (e não estrague o romance)!”.


A mensagem de Laura chegou assim que sua mãe deu partida no carro e foi à única coisa que conseguiu roubar um sorriso dos lábios garoto, mas agora ele não tinha cabeça para responder nada.


 


‘ – Mauricio, você precisa começar a ser mais responsável! A sua vida é maior do que esse drama todo que você vive causando! – Bruno tentava conversar com o filho que estava andando de um lado para o outro no quarto, tirando tudo de dentro das gavetas e a jogando dentro da mala.


- Que mané drama pai! Eu to falando sério, eu vou embora! –


- Ah é? E vai ser sustentado pelo quê? Você malemá estuda, não trabalha, não faz nada da vida! –


- Eu tenho o surf tá legal? Já quiseram me contratar, eu vou aceitar! –


- Você vai deixar a sua família pra surfar? Cresce Mauricio! – Bruno se aproximou do filho o pegando com força pelo braço, - Você precisa começar a ter alguma responsabilidade!


- Pra que responsabilidade? Se eu fizer um milhão de coisas certas não vai importar, porque você vai achar um erro pra tacar na cara, sempre foi assim!-


- Meu Deus, como você pode dizer isso? Eu vivo tentando te mostrar que você é maravilhoso! Eu te safei de todas as enrascadas querendo fazer você tomar jeito! Quem acredita mais em você do que eu?-


- Me safar de tudo não é me mostrar nada pai! – Mauricio sentou na cama se dando por vencido e deixando o choro vir. – Ah Bia... Ela estava grávida.


- Ela o que? – Bruno sentiu a pressão ir parar no pé, se sentou ao lado do filho com o coração a mil.


- Ela estava... Ela tirou... O nosso bebê... – Mauricio agora soluçava alto, soltou o corpo encostando-se ao pai que o abraçou pelo ombro.


- Você... Ia assumir? – Bruno perguntou receoso e Mauricio se afastou olhando nos olhos do pai.


- Claro pai! Imagina ter um mini-eu. – Mauricio falou rindo e seu pai o abraçou rindo junto.


- E se for um mini-EU. – O pai falou sorrindo abertamente e olhou para Mauricio, - Estou te dando um motivo maior para ficar... Um irmãozinho ou irmãzinha.


- O que? – Mauricio sorriu, abertamente abraçando o pai com força.”


 


Doutor Francisco, por favor, comparecer a emergência. Doutor Francisco.”


Mauricio entrou no hospital e viu seu pai sentado em uma das cadeiras de espera, com as mãos na cabeça e o rosto vermelho. Ele ainda tinha raiva do pai ter feito tudo o que fez, mas ele não podia deixar de correr e abraçá-lo, não naquele momento.


- Pai... – Mauricio tentou falar, mas o nó só aumentava em sua garganta.


- A nossa menininha... – O pai falou soluçando alto. Mauricio sentiu sua mãe o abraçar também e os três ficaram ali por um tempo.


- Eu quero vê-la, eu... Posso vê-la? – Mauricio se distanciou um pouco dos dois, olhando para os pais, aflito.


- Pode, ela... Vai ficar feliz em te ver. – A mãe sorriu enquanto limpava as lágrimas.


 


“– Com licença, professora. – Os pensamentos de Mauricio foram interrompidos pela entrada de uma das freiras na sala. Ele estava sentado ao fundo, sem prestar a mínima atenção a nada, mas quando ela entrou ele sentiu que era com ele. – Mauricio, por favor.-


Ele se levantou, praticamente correndo e foi até a irmã, agradecendo por não ter que continuar assistindo aquela aula ridícula. Quando chegaram ao corredor, ela se virou com um sorriso largo para ele.


- Seu pai ligou, sua irmãzinha nasceu! – Ela falou e no mesmo momento Mauricio pulou, literalmente de felicidade, era a melhor noticia em meses. – Por conta do seu bom comportamento, nós vamos permitir que você viaje para conhecê-la, mas é apenas dois dias. –


- Não tem problema, já está ótimo! – Mauricio não conseguia conter a felicidade, - Obrigado irmã, de verdade! Muito obrigado!”.


 


O quarto estava pouco iluminado, a luz maior vinha da janela e mesmo assim parecia incomodar os olhinhos pequenos de Catarina, que estava deitada passando os olhos por um livro, quando ela percebeu a presença de Mauricio sorriu abertamente. Ela estava pálida, com os olhos cansados, mas o sorriso estava forte.


- Mau! Vem ler pra mim! – Ela falou estendendo o livro para o irmão que se aproximou devagarzinho se sentando a beirada da cama.


- Como você está coelhinha? – Ele perguntou fazendo carinho na perna dela por cima da coberta de ursinhos.


- Eu to bem, tão bem que a mamãe prometeu me trazer um sorvete! – Ela tentou se sentar, mas a agulha que estava presa em seu antebraço à fez sentir dor, então ela desistiu de se mexer.


- Ah é? E o médico deixou? –


- Ele falou que eu sou a princesa daqui do hospital, então eu posso tomar quantos sorvetes quiser. – Ela sorriu balançando a cabeça e aquilo só fez Mauricio sentir o aperto no peito crescer. – Agora lê pra mim?


- Claro... – Ele pegou o livro e foi para o lado dela o abrindo e começando a ler. – Era uma vez em um reino bem distante, uma rainha, que estava esperando a sua primeira filha, era um inverno rigoroso, tão rigoroso que fez com que o reino inteiro ficasse branco, parecendo que o mundo todo ficará branco, a doce rainha que adorava o inverno, costurava sempre em frente sua janela cor de ébano, roupinhas para a sua menina. Durante uma de suas costuras, a rainha acabou furando o dedo e três pequenas gotas de sangue caíram sobre aquele manto branco, por isso a Rainha admirada com a delicadeza de cores, desejou que se tivesse um filha, gostaria que ela fosse branca como a neve, os lábios vermelhos como o sangue e os cabelos pretos como o ébano, e seu desejo foi atendido, por sua linda menina que nasceu exatamente com esses traços, ganhando nome de Branca de neve.


- Adoro a Branca de Neve! – Catarina falou batendo palminhas rápidas.


- Mas infelizmente a rainha morreu logo após o nascimento da filha, e o rei, triste tentou criar a menina, sozinho, mas depois de anos, ele se sentia solitário demais e acreditava que não seria capaz de criar a princesinha, sozinho, ela precisava de uma mamãe. –


- A bruxa! – Catarina falou bravinha, esfregando as pequenas mãozinhas.


- Ele então procurou por mulheres por todo o reino, até que encontrou uma mulher, ela era linda, mas muito arrogante, não conseguia admitir que tivesse qualquer outra mulher tão bonita quanto ela. A nova rainha tinha um espelho, a quem perguntava todos os dias: ‘Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que?’ e até Branca completar dezoito anos, ele nunca havia encontrado ninguém tão bela quanto à rainha, mas com a maioridade, a linda princesa se tornou a mais bela de todo o reino e o espelho não podia mentir. Quando a rainha soube que existia alguém mais bela do que ela ficou furiosa, e não conseguia mais olhar para Branca. Ela a invejava, ela a detestava. –


- Como alguém pode detestar a Branca? – Catarina juntou as mãozinhas e as colocou ao lado do rosto o inclinando levemente, imitando a famosa pose de Branca de Neve. Mauricio sorriu abertamente a abraçando com força.


- Você que é uma princesinha, sabe? –


- Claro né? O médico e a mamãe já me falaram isso... – Ela parou de falar e ficou pensativa, - Espera, se eu sou uma princesa... O papai é um rei a mamãe uma rainha e você... Um princeso?


- Príncipe, eu sou um príncipe! – Mauricio falou, mas Catarina pareceu confusa.


- Mas a mamãe falou que príncipe é quem casa com a princesa! –


- Não necessariamente, príncipe é o masculino de princesa, igual à filho e filha, entendeu? –


- Entendi... Então você é um príncipe! – Catarina sorriu abertamente abraçando Mauricio. – Mau... Porque o papai vive chorando?


- Ele vive? – Mauricio a olhou sem entender,


- Sim, todas as vezes que ele vem aqui ele tá com cara de choro e é só eu começar a brincar ou quando ele lê alguma história pra mim que ele começa a chorar. – Catarina fez uma careta e Mauricio sentiu um aperto no peito.


- Ele é manteiga derretida, por isso. – Ele falou sentindo um nó forte na garganta. – Cat, você sobre guardar segredo?


- Sei! – Ela bateu palminhas de novo, ela sempre faz isso quando fica excitada com alguma coisa.


- Eu conheci uma menina... – Mauricio falou puxando o livro mais para perto, - Ela parece a Branca.


- Ual, ela deve ser linda então! –


- Ela é... – Mauricio sorriu abraçando a irmã pelo ombro, - E eu queria que você a conhecesse...


- Traz ela aqui então! –


- Não dá, nós não podemos ser vistos juntos! – Quando Mauricio falou Catarina juntou as sobrancelhas, igual a ele e seu pai.


- E porque não? –


- Porque é segredo e ninguém pode saber! – Ele fez sinal de silêncio com a mão e ela o imitou, - Ela se chama Laura.


- Que lindo! Princesa Laura. – Catarina abriu os braços como se estivesse vendo uma faixa com o nome de Laura.


- Ela é uma princesa também? –


- Se ela namora um príncipe ela é! –


- Então ela é. – Ele sorriu voltando a abraçar a irmã,


- Agora continua... – Catarina voltou a puxar o livro e se encostar ao irmão.


- Verdade, verdade, então onde nós paramos? Ah aqui... A rainha a detestava tanto que se encontrou com um caçador e o ordenou que... –


- Crianças? – Mauricio foi interrompido pela mãe que entrou de fininho com o marido ao lado. – Podemos entrar?


- Vem mamãe, vem! O Mau tá lendo Branca de Neve pra mim! – Ela bateu as mãozinhas na cama para que os dois se aproximassem e aquilo fez Mauricio sufocar de vez.


- Mãe, você... – Ele nem conseguiu terminar de falar, deixou o livro em cima da cama e passou correndo em direção à porta, diferente de seu pai ele não queria chorar na frente de Cat.


 


Mauricio foi andando até chegar ao estacionamento do hospital, se sentou no meio-fio e ficou olhando para o nada, tendo lembranças do seu passado.


 


‘- Mauricio, você já tem duas expulsões, e duas pendência judicial que ainda está correndo o que mais você quer? – Verônica estava sentada na cozinha com o filho que tinha acabado de chegar com um olho roxo. Mauricio havia se metido em outra briga.


- Mãe, eu baixei a guarda por dois segundos, por isso o roxo, mas pode acreditar que o cara tá bem mais quebrado! – Ele falou rindo.


- E isso é engraçado? – Ela fechou a mão em cima da mesa o olhando sério. – Você reze para esse menino não prestar queixa.


- Idaí também? Não é como se eu fosse... –


- Ser preso? Ah é sim! – Verônica se levantou brava, - Estávamos conseguindo apenas um serviço social para você, mas outra briga...? O que eu faço com você? – Ela soltou os braços ao lado do corpo, cansada. – Quando seu pai chegar, nós vamos conversar!


- Nossa, agora eu fiquei com medo! – Ele se levantou e riu irônico tentando sair da cozinha, mas sua mãe bloqueou a passagem.


- Você vai tomar vergonha na cara ou eu vou ter que te mandar pra um reformatório? –


- Manda! Você vai sair ganhando!’


 


Ele fechou os olhos com força quando se lembrou daquele momento, ele nem se lembrava do porque tanta rebeldia. Do porque tanta raiva com o mundo. Lembrava-se de que na escola era o bad boy, o carinha que vivia zuando com todo mundo, que não levava nada a sério, mas o motivo de tanta babaquice ele não conseguia lembrar. Namorou a mesma menina desde a sétima série, mas quando ele foi para o reformatório ela terminou tudo. Bia, com quem ele quase tinha tido um bebê.


 


‘- Amor olha esse céu! – Mauricio estava na praia, de braços abertos no meio da areia enquanto Bia estava sentada, abraçada ao joelho. – O mundo é tão grande, a gente tem que viajar! –


- Mau... – Ela tentou chamar, mas ele estava muito pensativo, ele queria mudar, ele queria viajar ele queria fugir de tudo.


- Bia, a gente pode fugir! Juntos! Topa? – Ele se aproximou sentando-se de frente para ela, que estava com os olhos cheios de lágrimas.


- Mau a gente precisa conversar! – Ela segurou o rosto do menino com as duas mãos, - Eu to grávida.


- Você o que? – Ele se levantou no mesmo momento virando de costas para a menina, que ele percebeu, tinha começado a chorar. A adrenalina percorreu por todo o corpo dele e ele sentiu vontade de gritar, mas ao invés disso, voltou para perto da namorada de novo. – É certeza?


- É... Eu já fiz seis exames de farmácia e um de sangue... Positivo! – Ela sorriu fraco, passando a mão no cabelo, nervosa, - Eu pensei e... Eu vou tirar, eu não vou...


- Você não é nem louca! Bia! É nosso! Nosso bebê! – Mauricio a segurou firme pelo rosto, - Nosso filho! A gente cuida, a gente banca, a gente dá um jeito!


- Você tá falando sério? – Bia se afastou levantando furiosa, - Acabou a minha vida se eu tiver esse bebê! Acabou! Sabe o que é isso?


- Lógico que não, amor! A gente dá um jeito... Juntos! – Ele tentou se aproximar, mas Bia o afastou.


- Eu vou embora, depois a gente conversa. – A garota saiu andando deixando o namorado ali sozinho.


- Bia! Bia! Volta! – Mauricio ficou gritando, mas quando percebeu que ela não voltaria desistiu, seu peito encheu de felicidade e ele gritou bem alto. – EU VOU SER PAI!’


 


Mauricio se levantou indo andar pelo estacionamento e se sentia idiota, ele tinha perdido dois anos de vida da Catarina para ficar em um reformatório ridículo, por motivos ridículos que poderiam ter sido evitados.


 


‘- Mau... – Bia apareceu na casa do menino enquanto ele estava deitado no sofá, tinha brigado outra vez na rua, na noite anterior, por qualquer motivo idiota. No momento em que ele viu a garota se sentou, nervoso.


- Hey gatinha, - Ele bateu no pequeno espaço de sofá que tinha ao lado dele, para que ela se sentasse, mas Bia fingiu não ver e continuou de pé.


- Eu só... Eu queria te contar que... –


- O que foi amor? É o bebê? – Ele perguntou e ela apenas balançou a cabeça concordando, logo começando a chorar.


- Eu... Não tem mais bebê. – Ela falou simplesmente correndo para fora da casa, mas Mauricio foi atrás.


- Como assim? Do que você... Bia, você... –


- Eu não tive escolha tá legal? Meus pais me matariam! Eu... Eu perderia toda a minha vida! – Bia abriu o braço explicando, nervosa. Ela chorava cada vez mais.


- Como você pode? Era meu filho também! – Mauricio ia atrás dela, tão nervoso que nem sabia do que seria capaz.


- E você que ficaria barrigudo? Você que teria olhares tortos? Você amamentaria? Que perderia seu corpo? NÃO! – Bia gritou rindo irônica em seguida, - Eu aposto que assim que você tivesse que acordar... Na primeira noite, que você estivesse cansado e tivesse que acordar pra cuidar, você desistiria!


- Eu jamais desistiria do meu filho! – Mauricio gritou e ela voltou a rir enxugando as lágrimas.


- Eu jamais teria um filho seu! CHEGA! – Ela parou olhando séria para Mauricio, - Chega, acabou, já foi passado! Agora vamos seguir a vida!


- Você mata o meu filho e fala pra seguir a vida? – Mauricio falou e logo sentiu seu rosto latejar com a força do tapa que recebeu.


- Era meu filho também! Não fale como se tivesse sido fácil! – Dizendo isso Bia virou as costas e saiu correndo e dessa vez Mauricio não foi atrás.’


 


Mauricio se lembrava do momento em que assim que Bia saiu, ele voltou para casa pronto para ir embora, para fugir, para ir para longe de tudo aquilo, que foi quando descobriu que Catarina viria ao mundo. Era como se tirassem e dessem um presente para ele, ao mesmo tempo. Mas ao invés dele aproveitar, não, ele se deixou levar por uma provocação idiota, de um babaca do colégio e o socou até ele cair desacordado e depois destruiu o carro do babaca com um taco de baseball, e pronto, ele foi para o reformatório. Alias foi a melhor escolha, já que ou era reformatório ou era a cadeia.


Mauricio sentia uma vergonha tão grande do seu passado que agora, de volta para casa, ajudando com as despesas, tentando voltar a estudar, para poder entrar em uma boa faculdade ele tinha medo de perder tudo de novo se envolvendo com Laura, por que com ela ele era o mesmo impulsivo de antes. E ele não queria voltar a ser quem ele era. Não agora que sua família precisava tanto dele.


 


- Mau? – Mauricio se virou e viu sua mãe, vindo até ele, com um copinho, na mão, - Cat perguntou por que o príncipe saiu correndo antes de terminar a história...


- Mãe, eu não consigo... – Mauricio se virou tentando esconder as lágrimas, mas agora já eram tantas que não tinha como.


- Meu bem... – A mãe segurou a mão de Mauricio o fazendo olhá-la, - Ela não precisa que a gente fuja, ela precisa que a gente fique! Chorando ou não!


- Mãe, ela... Ela é um bebê! –


- Eu sei meu amor, - Verônica deixou uma lágrima escapar, - Mas... Ela piorou Mau e a gente não pode tentar esconder que ela talvez... Que ela vai partir. – Ao ouvir sua mãe dizer aquelas palavras Mauricio praticamente se jogou em seu colo e pela primeira vez em muito tempo se permitiu chorar, sem tentar segurar, sem esconder, ele simplesmente chorou.


Depois de ficar quase meia hora com sua mãe do lado de fora do hospital, começou a escurecer e ele achou melhor voltar para perto da irmã.


- Hey coelhinha. – Ele falou quando voltou a entrar no quarto, mas agora Catarina parecia pior do que antes, tinha os olhos mais caídos e não parava de tossir, até que vomitou. Graças ao pai que estava com a vasilha perto, não se sujou, mas aquilo fez o coração de Mauricio quebrar mais um pedaço.


- Desculpe, - Ela falou enxugando o rosto, seus olhos sempre lacrimejavam quando ficava com vergonha, e Bruno correu sentar ao seu lado e a abraçar.


- Hey princesinha isso não é nada... Afinal eu já limpei a sua bunda cheia de coco! – Ele falou a fazendo rir, quase gargalhar, mas ela sentiu dor por isso se conteve.


- Você é nojento, papai. –


- Eu trouxe sorvete, - Verônica se aproximou com um potinho na mão e Catarina logo fez careta.


- Isso não sorvete mamãe, é iogurte! –


- Esperta! – Mauricio falou rindo e se sentando ao pé da cama, - Me desculpa sair correndo, mas... Precisava fazer xixi!


- Sem problemas, - Cat falou sorrindo de lado, - Papai terminou a história, mas... Colocou uns coelhos e bichos estranhos no meio!


- Você estava quase dormindo, precisei animar! – Bruno falou rindo e fazendo coceguinha na filha que se encolheu em seu colo.


- Ficou estranha... – Ela falou sorrindo, - Mas eu quero sorvete! E o doutor falou que eu podia!


- Mas... – Bruno tentou falar, mas Catarina ergueu seu pequeno dedinho o balançando de um lado para o outro.


- Não, não! Médico de princesa não mente e princesa quer! –


- Ok então princesa, eu pego pra você! – Mauricio se levantou indo em direção à porta e sua mãe veio atrás.


- Pegue um sem açúcar e... Mau... a Dona Dora ligou, disse que você está dispensando hoje e amanhã se quiser... – Verônica falou sorrindo fraco.


- Tudo bem, obrigado. – Ele sorriu fraco saindo do quarto. Quando virou o corredor para ir a cantina viu Laura entrando no hospital, a menina tinha a bolsa abraçada perto do peito olhando desesperada para todos os lados, quando encontrou os olhos de Mauricio sorriu fraco. Ele sorriu de volta deixando uma lágrima escapar e começou a andar em direção à menina e logo eles estavam correndo um ao outro. Laura praticamente pulou no colo de Mauricio o abraçando com toda a força que podia.


- Laura... – Ele falou baixinho apenas a apertando com mais força no abraço.


- Xiu, eu to aqui... – Ela falou fazendo carinho no cabelo da nuca do menino que agora tremia de tanto chorar. Eles foram se afastando aos poucos, o suficiente para conseguirem se olharem nos olhos. – Eu não sabia... Ela...


- Tá muito mal... – Mauricio enxugou as lágrimas segurando na mão de Laura e a levando para um dos banquinhos de espera. – Ela tem cinco anos Lau, sabe o que é isso? Ela é uma criança!


- O que ela tem? – A menina se sentou um pouco virada para Mauricio, podendo assim fazer carinho em sua mão e olhá-lo de frente.


- Uma doença rara, eu não sei direito, o que eu sei que é o tratamento é uma fortuna, meus pais já venderam tudo o que tinham e... Ela não melhora! – Mauricio falou rindo fraco, - E o engraçado é que ela parece nem perceber o que está acontecendo...


- Ela é criança, talvez não entenda. – Laura apertou a mão de Mauricio tentando passar força, - Mas pelo que minha avó comentou, ela já está nessa há um tempo.


- Seis meses. – Mauricio se virou sério para ela, - A primeira convulsão ela estava comigo, brincando no parquinho, foi do nada, eu a deixei cair da balança e pronto... –


- Não foi culpa sua. – Laura falou convicta e Mauricio a olhou sério.


- Como você pode acreditar tanto em mim? –


- Porque eu acredito, simples assim. – Ela sorriu fraco e ele se aproximou lhe dando um beijo de leve, depois quando se tocou de que Laura estava ali juntou as sobrancelhas.


- Como você veio parar aqui? –


- Meus avós deram um dia de alforria. – Ela falou rindo baixo, - Depois que minha avó contou o que tinha acontecido, explicou tudo, ela viu como eu fiquei desnorteada então... Me deixou vir, até porque mesmo que ela não deixasse eu viria. – Laura falou sorrindo e voltando a beijar Mauricio. – Eu estou aqui, pro que precisar.


- Obrigado... – Ele respirou fundo e se levantou, estendendo a mão para Laura. – Quer ir buscar um sorvete sem açúcar comigo?


- Adoraria. – Laura pegou a bolsa, segurou a mão do garoto indo com ele. Mauricio colocou a mão para trás fazendo assim Laura ficar abraçada a ele e foram juntos até a cantina do Hospital.


 


- Como você a deixou cair? – Laura perguntou enquanto Mauricio se agachava para pegar o sorvete da máquina, ele a olhou por cima do ombro e respirou fundo antes de responder.


- Ela estava balança e quando estava quase na altura mais alta despencou, eu tentei pegar, mas ela... Caiu, e começou a convulsionar logo em seguida. –


- Então ela deve ter desmaiado... Ela já tinha desmaiado antes? –


- Na escola acho, uma vez, mas... Por quê? – Mauricio estranhou as perguntas e voltou para perto de Laura a abraçando pela cintura, estava tão feliz por ela estar ali que até se sentia culpado.


- Porque isso significa que é algum problema neurológico. – Ela falou sorrindo fraco de canto como se tivesse tido uma ideia incrível.


- Sim, é um problema neurológico, mas agora vamos voltar? Ela deve estar louca pelo sorvete! – Mauricio queria encerrar aquela conversa, ele não queria ter que discutir sobre aquilo de novo. Foram andando juntos até o quarto, mas quando chegaram, e pararam em frente à porta Laura travou.


- Você quer que eu entre? –


- Quero que você conheça a Cat. – Ele falou sorrindo fraco,


- Não Mau, o seus pais estão ai e... Não sei se seu pai vai gostar de me ver. – Laura tentou se virar para sair dali, mas Mauricio as puxou pela cintura.


- Eu não me importo, eu quero você aqui e eu quero que você a conheça. – Ele deu um beijo de leve em Laura antes de abrir a porta.


- Coelhinha? – Mauricio chamou pela irmã que estava entre os pais que liam agora Cinderela para ela. – Trouxe uma pessoa pra você conhecer.


- Quem? – Catarina abaixou o livro para poder olhar melhor para Laura, que entrou tímida logo atrás. Verônica arregalou os olhos sorrindo abertamente, Bruno fechou a cara no mesmo momento e Catarina bateu palminhas, eufórica. – Ual, ela é mesmo a Branca de Neve.


- O que você pensa que... – Bruno começou a falar, mas foi interrompido por Cat que puxava sua blusa e de sua esposa, toda animada.


- Olha mamãe, ela é mesmo uma princesa! –


- Oi, - Laura falou tímida se aproximando da cama, - Ouvi dizer que você que é.


- Eu sou também, mas eu sou a princesa irmã do príncipe e você é a princesa namorada do príncipe! – Catariana explicava e gesticulava, quando terminou de falar respirou pesado como se tivesse ficado cansada.


- Entendido. – Mauricio falou fazendo uma careta para irmã e se aproximando mais da cama. Seu pai continuava imóvel e invocado, mas Verônica se levantou indo até Laura, a olhando com um sorriso doce e a abraçando em seguida.


- Achei que vocês estivessem proibidos de se ver! – Bruno falou sério, Mauricio fechou a cara e Verônica soltou a menina,


- Por isso o segredo! – Catarina falou alegre, mas Bruno olhou bravo para ela que se encolheu.


- Mauricio, lá fora, eu quero conversar com você! – Bruno saiu a passos firmes do quarto e Mauricio até pensou em não ir, mas Laura e Verônica lhe deram olhares que o convenceu a ir atrás do pai. Apertou a cintura de Laura antes de sair fazendo ela e Cat rirem.


- Pai o que... –


- Como você pode trazer a filha daquele babaca aqui para ver a minha filha! – Bruno parecia tão nervoso a ponto de explodir. – É muita falta de respeito comigo, Mau.


- Pai, ela é a minha... Ela é a garota que eu gosto! –


- Você nem tem uma classificação do que ela é pra você! Como pode trazê-la aqui? –


- Ela não precisa de classificação! Eu... Eu gosto muito dela, pai! De verdade! –


- Mauricio isso nunca vai dar certo! O pai dela me odeia! –


- Exatamente, ele TE odeia! Ele não me conhece! E eu... Por ela, eu provo pra quem for que eu posso fazê-la feliz, mesmo sabendo que talvez eu não a mereça! –


- Filho... – Bruno puxou Mauricio pela gola da camiseta e o abraçou. – Você merece qualquer pessoa que queira você é merecedor do melhor! Mas Mau... – Ele se afastou um pouco, - Você sabe o que ela representa?


- Um passado para vocês e um futuro para mim. – Mauricio falou sério. – Hoje, quando eu a vi entrando no hospital... Pai eu nunca me senti tão feliz, fiquei até me sentindo culpado por me permitir estar feliz num momento como esse.


- Eu seu querido, mas... Ela te faz mentir para nós, para os avós... Isso não está certo! –


- É o único jeito de ficar com ela! –


- Ah Mauricio... – Bruno respirou fundo, - Não me peça para ficar vendo a cópia perfeita daquele idiota e deixar passar... Eu vou tomar um ar, mas quando eu voltar espero que ela não esteja ai. – Bruno fez um carinho no rosto do filho de leve e saiu. Mauricio então voltou ao quarto. Assim que abriu a porta sorriu de orelha a orelha, Cat estava deitada no colo de Laura enquanto ela contava alguma história que fazia Verônica e Cat rirem.


- E depois disso tudo eu só posso dizer, que... Inventei tudo! – Laura falou abrindo os braços o que fez as duas rirem mais ainda.


- Mau, ela é engraçada. – Cat falou com os olhinhos baixos.


- Ela é? – Ele perguntou e a irmã balançou a cabeça fechando os olhos de vez e respirando fundo.


- Estou... Cansada... –


- Dorme então meu anjo, - Verônica fez um carinho no cabelo da filha que sorriu fraco e manteve os olhos fechados.


- Vocês vão dormir aqui hoje? – Mauricio perguntou para a mãe que balançou a cabeça negando.


- Eu tenho plantão, vou passar em casa só pra me trocar, mas seu pai... Não sei. – Ela sorriu se encolhendo. – Não sei muito sobre ele faz tempo...


- Eu quero dormir aqui, se tudo bem. – Mau perguntou e a mãe sorriu concordando. – Quer que eu te leve para a casa? – Ele se virou para Laura que estava hipnotizada fazendo carinho nos cabelos de Catarina.


- Não eu, ligo pro meu avô... – Laura sorriu fraco saindo devagar da cama e depositando a cabeça adormecida de Catarina com cuidado no travesseiro.


- Voltei mais vezes, ela gostou de você! – Verônica se levantou indo até a menina, - E eu também,


- Eu gostei da senhora também e da Cat nem se fala... – Laura sorriu abertamente, - Ela é um sonho.


- Meu sonho. – Verônica falou olhando rápido para Cat, mas logo voltou o olhar para Laura. – você é igualzinha ao seu pai...


- É, todo mundo diz mesmo, cara de um focinho do outro. – Laura fez uma brincadeira, mas percebeu que tinha certa tensão ali.


- Bom... Vamos lá pra fora? – Mauricio deu espaço para que Laura passasse aquela situação já estava começando a ficar estranha. Saíram de mãos dadas do quarto e foram andando em silêncio até a recepção do hospital.


- Eu vou ligar... Meu avô não deve demorar, não quer ficar lá no quarto com elas? – Laura perguntou pegando o celular na bolsa, mas Mauricio não respondeu, apenas a puxou pelo rosto e lhe beijou, com vontade. Ele sentia que aquele beijo era necessário, ele sentia que precisava mostrar sua gratidão, sua felicidade por ela estar ali. – Ual, Mau. – Laura falou cambaleando quando ele a soltou.


- Escuta... Eu sei que não é amor, ainda. Mas já passou de gostar! – Ele falou segurando o rosto dela com as duas mãos e lhe dando um beijo de leve, - Muito obrigado por hoje, não só agora, o dia todo... Ao seu lado, foi... Incrível.


- Eu que agradeço. – Laura o puxou o abraçando com força. – Já passou longe do gostar. – Ela sussurrou em seu ouvido, fazendo Mauricio arrepiar. Ficaram um tempo em silêncio apenas abraçados, mas Mauricio começou a ficar inquieto.


- Eu sei por que nossos pais se odeiam! – Mauricio praticamente cuspiu as palavras e Laura se afastou o olhando melhor. – Minha mãe. Ela sempre foi apaixonada pelo seu pai, e... O meu de raiva, tentou atropelar o seu pai, mas... Atropelou a sua mãe. – Laura se afastou completamente tampando a boca com a mão.


- Como ele... – Ela parecia desnorteada, mas por algum motivo Mauricio não conseguia parar de falar.


- Eu fui para o reformatório no inicio do meu segundo ano, minha namorada que estava grávida tirou o neném e... Quando um idiota veio me zuar por causa disso eu... Eu o espanquei e quebrei todo o seu carro com um taco de baseball.


- Espancou, quanto? – Laura parecia aterrorizada, mas queria saber.


- Ele ficou em coma por dois meses e teve o rosto desfigurado. – Ela voltou a levar a mão à boca, - Eu já tinha duas ocorrências por conta de agressão e assalto, então era isso ou cadeia.


- Porque você está vomitando tudo isso em mim agora? – Ela se aproximou e lhe deu um tapa com força no braço. – O que você está tentando fazer?


- Eu precisava te falar! Eu to envolvido até o pescoço e eu preciso que você saiba! Estamos juntos nessa então você tem que saber quem eu sou! –


Laura puxou o ar e ficou abrindo e fechando a boca, como se não soubesse o que dizer nem como dizer.


- Você... O seu pai te falou alguma coisa? – Laura passou a mão nervosa pelo cabelo, - Isso tudo é você querendo me afastar? –


- Não! Eu só quero que você saiba! –


- Você roubou alguma coisa recentemente? – Ela perguntou e Mauricio arregalou os olhos. – RESPO... Responde. – Laura praticamente gritou, mas logo se recompôs.


- Não. –


- Agrediu alguém? –


- Não. –


- Você ainda presta contas para o reformatório, imagino eu... –


- Sua avó, ela assina os boletins mensalmente alegando que eu não sou mais violento, se eu for demitido eu... Tenho que voltar... –


- Por quanto tempo isso ainda? –


- Um ano, eu já tive o aval da psicóloga. – Mauricio tentou se aproximar, mas Laura ergueu a mão para que não.


- Então eu sou um risco pra você... – Ela parecia estar dizendo mais para si mesma do que para Mauricio. – Você confia em mim?


- O que? –


- Mauricio, você confia em mim? – Laura se aproximou segurando o rosto dele com as duas mãos.


- Confio. – Ele falou sem nem precisar pensar.


- Então eu vou ajudar a sua irmã e eu vou ajudar você! – Mauricio tentou questionar, mas Laura segurou seus lábios o impedindo de falar. – E você vai esquecer o que você foi e se concentrar em ser quem você é agora! E não adianta, você pode me falar qualquer coisa, eu já estou tão envolvida quanto você. Agora somos nós dois contra tudo.


- Laura... – Ela não o deixou falar, se aproximou o beijando de leve.


- Quer saber? É amor sim. – Ela falou lhe dando outro beijo rápido, - Agora eu preciso ligar para o meu avô.


- Lau? – Mauricio e Laura olharam para a direção da voz, e Mauricio sentiu um certo desconforto ao ver Gustavo entrar apressado no hospital.


- Gu? – Laura perguntou olhando surpresa para Mauricio e para o rapaz.


- Mauricio... Cara eu sinto muito, a dona Dora comentou que sua irmã não tá bem... – Gustavo deu a mão para Mauricio e até um abraço rápido que apenas de desconfortável não foi tão terrível.


- Obrigado. – Mauricio se afastou dele e segurou Laura pela cintura, podia parecer ridículo, mas ele queria que Gustavo tivesse certeza que Laura estava com ele.


- Eu fui procurar por você e sua avó me disse que estava aqui... Quer uma carona? –


- Eu adoraria. – Laura sorriu fraco e se virou para Mauricio novamente, - Nos vemos amanhã, confia em mim, sua irmã vai sair dessa.


- Eu confio. – Mauricio falou antes de dar um beijo de despedida em Laura. Gustavo sorriu fraco dando a mão para o garoto novamente e saindo do hospital atrás de Laura. Eles não conversavam, mas Mauricio sentiu ciúme pela leveza com a qual os dois saiam do hospital, ele queria ter essa leveza com ela, ele queria poder sair do hospital e levá-la para casa sem pensar que tinha uma irmã muito doente, ou que talvez no dia seguinte não conseguisse vê-la por ela ter sido mandada para casa por ter desrespeitado o pai.


Ele queria poder andar com Laura apenas como um casal despreocupado, que quer apenas se conhecer e que não tem nada de importante para decidir e balancear além do filme que vão assistir, mas ele sabia que com os dois jamais seria assim. Com eles nada nunca seria fácil, ele sabia e ao mesmo tempo em que se lamentava ele se alegrava, por que ele sabia que ela estaria ali.



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Autor(a): livg

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • manolorhcp Postado em 09/07/2013 - 11:33:15

    Primeiro a comentar, gostei da história ;D


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