Fanfics Brasil - Capítulo 1 - A morte da suposta meretriz Silêncio Em Elvas

Fanfic: Silêncio Em Elvas


Capítulo: Capítulo 1 - A morte da suposta meretriz

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“Mulher, 1,70 metro de altura, cabelos negros e olhos verdes. Antônia fora encontrada caída de um precipício sobre uma rocha que emergia do oceano. Felizmente, na noite anterior o mar não enfrentara ressaca, mantendo o corpo visível e, desconsiderando a deformação do corpo pela queda e o sangue seco que manchava o belo rosto da mulher, relativamente limpo. A ponta do penhasco localiza-se em uma região afastada da cidade, sugerindo que a vítima fora levada ou atraída até o local. As roupas provocativas incitavam a probabilidade quase evidente de a vítima seguir uma profissão marginalizada cujos limitados méritos incluíam a consolação dos marmanjos e, possivelmente, a satisfação pessoal. Viciada em sexo? Dificilmente. O motivo de uma morte tão brutal não parecia provir de uma possível erudição pervertida. Era, claramente, uma mulher que lidava com pessoas perigosas com as quais ela, sem dúvidas, não gostaria de estar envolvida. Pessoas cujos atributos não envolveria tão somente a não saciedade de seus desejos primitivos, mas principalmente a discrição de seus atos e de suas informações. O que ela descobrira? E de quem? A dúvida parece quase retórica. Só um grupo nessa região teria pretensões obscuras o suficiente para justificar um assassinato formidável daqueles...”


      — Luiz?


      Luiz Planck fora despertado de seus pensamentos, bem como de suas anotações. O mistério daquele caso prendera a sua atenção no momento em que ele teve acesso àquela ocorrência, o que aconteceu ainda naquela manhã. Outras atividades, pois, se tornaram triviais depois que Luiz decidiu se engajar naquela investigação que, segundo seu instinto, estava para atingir proporções gigantescas.


      — Pode responder a essa pergunta? — incitou o professor que, segurando uma caneta preta próxima ao quadro branco, aguardava com certa precipitação pela resposta do aluno.


      Desorientado, Luiz procura por amparo em sua volta. Sua vista encontra a de Eduardo Becker que, gesticulando nervosamente, tenta transmitir a resposta para Luiz. Em vão.


      — Dez elevado à oitava potência? — tentou Luiz.


      O riso dos colegas, embora tímido e reprimido, fora ressoante. Luiz percebera isso, contudo optara por ignorar aquela desfeita, mantendo seu olhar focado no professor.


      — Francamente, Luiz. Até quando você pretende ignorar as aulas e fazer outras coisas? Não se esqueça de que é ano de vestibular e de que você ainda precisa de nota razoável para passar de ano. Você precisa se esforçar mais. — frisou o professor.


      Talvez se eu fosse uma garota peituda você me providenciaria essa nota.


      O senhor Ricardo T. Santos, embora um professor de matemática reconhecidamente competente pelos demais alunos, era detentor de uma indesejada fama de mulherengo. Seu porte físico poderia desmentir tal afirmação — a altura mediana e o início de calvice não eram características usualmente buscadas pelas mulheres. Recentemente, entretanto, Luiz passou a comparar a sua nota nos exames com a de sua amiga Natália. Como esperado, o sr. Ricardo, na posse de dúbios métodos de regalias, aumentava infundadamente as notas de sua “amiga” em comum.


      — Sinto muito, sr. Ricardo. Prometo me dedicar mais.


      — Foi só eu que tive um déjà vu aqui?


      A risada, dessa vez, ecoou livremente pela sala de aula. O sujeito que proferiu aquelas palavras já era lastimadamente conhecida por Luiz. Frederico Lombardi. Conheciam-se desde o início do Ensino Médio e, se Luiz bem se lembrava, ele nunca perdeu a chance de cutucá-lo. Talvez por que confrontar Luiz era a oportunidade perfeita para Frederico assegurar sua preeminência sobre a turma e, então, tornar-se alvo de admiração das garotas, pois Luiz dificilmente revidava. A aparência física de Frederico, todavia, tornava desnecessário qualquer tentativa excedente de busca por admiração feminina. Seus cabelos loiros e lisos, seus olhos castanhos profundos e sua estatura grande e magra já arrancavam suspiros de muitas garotas.


      Lombardi normalmente sentava-se no fundo da sala, junto dos seus três outros amigos que mais serviam para atrapalhar a aula do que servir de suporte argumentativo para as frequentes provocações de Frederico. Ele, contudo, era surpreendentemente capaz de cativar os professores, que faziam vista grossa ao seu mau comportamento.


      — Chega, chega — disse o professor na tentativa de suprimir as risadas — Vamos continuar.


      O professor, pois, pôs-se a prosseguir com a sua aula. Luiz voltou a concentrar-se nas anotações que escrevera em seu caderno de matemática. Estava determinado a prosseguir a análise dos fatos.


      — Não dê bola para esse idiota — consolou-o, em voz baixa, Natália Menezes.


      Todas as mesas na sala de aula eram dispostas em duplas divididas em cinco fileiras. Ao lado de Luiz, sentava-se Natália, uma amiga sua de longa data. Conheceram-se há cerca de dois anos através de Eduardo, que a introduzira a Luiz por súplica dela. O que ela esperava de sua relação com Luiz talvez fosse diferente do relacionamento que haviam construído. O forte vínculo composto, contudo, não valeria, em momento algum, ser ameaçado por um desejo passageiro. Passageiro?


      — Tudo bem. Já me acostumei com a estupidez dele — disse Luiz enquanto adicionava mais anotações escritas ao seu já lotado caderno.


      — E aí... — dizia Natália, enquanto passava os olhos pelo caderno de Luiz — Qual é a história da vez?


      Natália estava ciente do trabalho que Luiz desempenhava em suas horas vagas. Ano passado, ele encontrara-se com o sr. Tomas George, o editor do jornal local, em virtude de uma ocorrência pouco ortodoxa. Luiz, revoltado com as reportagens frequentemente tendenciosas e passivas d’O Locutor, enviara uma carta de reclamação relatando a incapacidade da equipe do jornal em se comunicar de forma imparcial. Surpreso com a habilidade escrita de Luiz, bem como com sua perspectiva moral ingênua ou incorruptível, Tomas decidira se encontrar com o garoto.


      “Você gostaria de se juntar à equipe de nosso jornal?”


      Sem qualquer contrato assinado, o garoto passara a escrever, eventualmente, reportagens para O Locutor sob o pseudônimo de Márcio Beltrão. A sessão investigativa revelaria ser o foco do garoto, que tentava relatar e interligar as ocorrências violentas. “E como tinham ligações”, pensava. Quando, meses depois, o editor foi questionado por Luiz sobre a impossibilidade de ser devidamente efetivado, Tomas fora sucinto: “Ambos sabemos o porquê”.


      Ele tinha razão.


      — Uma prostituta foi encontrada morta — respondeu Luiz.


      Natália, observando as anotações de Luiz, voltou sua atenção para um rabisco bem desenhado que formava a imagem de um penhasco e rochas planas no final do abismo.


      — Ela se atirou do penhasco? — arriscou Natália.


      — Exatamente.


      — Isso é o que você dirá em sua reportagem, certo? Agora, de verdade, o que foi que houve? — perguntou Natália, com curiosidade perceptível.


      Luiz surpreendeu-se com a perspicácia de Natália. Ela tinha ciência da adulteração inevitável dos fatos a que Luiz tinha que se submeter para ter sua reportagem veiculada, entretanto a inteligência de sua amiga não deixava de ser admirável. Após fitar Natália por momento suficiente para perceber resquícios de vanglória em sua expressão facial, Luiz soltou um sorriso pequeno e sacou de sua mochila uma fotografia.


      A fotografia da cena do crime.


      Tomando cuidado para restringir o campo visual daquela imagem para ninguém além deles dois, Luiz começou:


      — Note que as roupas que ela vestia na hora crime eram características de sua profissão. O que supõe que, momentos antes de sua morte, ela estava trabalhando. Não me parece sensato alguém se importar em atravessar 2 km de rodovia à pé para cometer suicídio sem sequer vestir uma roupa elegante. Por que suicidar-se com roupas vulgares sabendo que o caso seria noticiado? Se quisesse uma morte tranquila, ela poderia simplesmente ter se enforcado no banheiro de sua casa. Além disso, ela não deixou qualquer carta de suicídio e, se você notar bem — Luiz apontou para o corpo da mulher na fotografia — ela caiu de costas. Os suicidas, normalmente, jogam-se com a face voltada para o chão, esperando ter visualização da queda ou, simplesmente, por receio instintivo de cair sem saber sua posição.


      — Você sugere, então, que alguém derrubou ela no precipício?


      — Bem, não exatamente. Quando eu lhe disse que ela se atirou do penhasco, eu não estava mentindo — disse Luiz, com firmeza.


      Luiz, novamente, mexe em sua mochila e tira dela quatro novas imagens.


      — Nesta madrugada, quando ocorreu o incidente, chovia bastante. Tal fato deve ter despreocupado os agressores.


      Ele mostrou a Natália as imagens de pegadas de diferentes tamanhos e formatos, sugerindo que quatro pessoas, incluindo a vítima, passaram por lá recentemente. Só um tipo de pegadas, contudo, atravessara até a borda do penhasco. As de um sapato.


      — Minha teoria: a vítima foi perseguida pelos três agressores até o penhasco. Lá, eles a circundaram até que ela perdesse o equilíbrio e caísse — Luiz fitou Natália e então coçou o queixo — Só há um problema...


      — E qual seria? — perguntou Natália, não percebendo qualquer brecha naquela teoria.


      — Por que os agressores, provavelmente portando armas de fogo, esperariam que ela se matasse em vez de atirar nela de imediato? — Luiz pensou por alguns instantes, e então prosseguiu — Aparentemente eles não queriam que ela morresse.


      — É uma teoria ousada.


      — E se estiver correta, ela provavelmente possuía algo que lhes interessava.


      Mas o que seria?


      — Mas eu estou curiosa... — disse Natália — O que esse caso possui que despertou esse interesse descomunal em você?


      Luiz analisou-a por alguns instantes, indeciso se compartilhar o que sabia seria correto. Inevitavelmente, seria necessário que essa informação espalhasse, portanto, não encontrou problemas em começar essa tarefa por ela.


      — Casualmente, eu possuo uma informação privilegiada, e estou certo de que, com base nela, o caso tomará proporções colossais.


      — E o que seria?


      — A prostituta, digo, a vítima... Ela era filha de Luca Gambini.


      — Luca Gambini? O mafioso?


      — Correto. O chefe da máfia, mais precisamente.



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Autor(a): rodrigoheck

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • rafaelas Postado em 15/07/2013 - 13:08:35

    Interessante o enredo,vou acompanhar!


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