Fanfic: O Feitiço da Lua

  Seus gemidos não se originavam de um momento de desfrute com um amante, e sim de trabalho de parto.

  Christopher observara seu ventre enorme, e seus cabelos avermelhados que lhe caíam pelos ombros, colados em parte de seu rosto. Seu olhar contido e firme mostrava que mal conseguia respirar.

  - Bem, imagino que tenha vindo para me buscar, enfim. - Ela suspirou. - Mate-me, mas não machuque meu bebê. Ele é inocente.

  Se sabia a razão de sua vinda, era de fato aquela a quem vinha procurando: a bruxa. Sua grande inimiga.

  Mas ela não se parecia nada com a imagem que criara. Não era idosa, não tinha verrugas, nem pêlos sobre as faces. Na verdade, era linda. Mesmo encharcada de suor, a cabeleira úmida e as roupas sujas, sua beleza era notável.

  Seus olhos eram verdes e profundos, como a floresta que a protegia. As mechas refletiam a tonalidade de um pôr-do-sol. Embora seu corpo estivesse inchado pelo nascimento iminente da criança, suas curvas eram delicadas. E estava tão frágil! Christopher poderia eliminá-la sem dificuldade alguma.

  - Ainda não - disse ela, como se pudesse ler seus pensamentos. - Deixe-me dar à luz meu filho. Eu lhe imploro, não o machuque. Depois de me matar, leve-o a uma família de camponeses. Não diga a eles onde o encontrou, apenas que está sozinho e precisa de alguém que o crie.

  Ouvir aquilo acalmou Christopher. Ela parecia aceitar seu destino; contanto que não fosse o mesmo de seu bebê. Ainda assim, não podia acreditar que aquela era a bruxa por quem procurava.

  - Você é uma feiticeira?

  - Sabe que sou. É por isso que venho até aqui, não foi?

  A dor se estampou nos olhos dela, que mordeu com força o lábio inferior, fazendo-o sangrar.

  - Ele está preso. O bebê precisa virar. Deixe-me ver suas mãos.

  Christopher lhe obedeceu, sem entender muito bem.

  - Elas o farão. Seus dedos são longos, e sua pele, delicada, apesar de sua aparência rude. Terá de enfia-las dentro de mim, para fazer o bebê virar. Só assim ele poderá seguir sua jornada.

  Christopher se agachou perto da mulher e balançou a cabeça.

  - Não posso. Não entendo nada disso.

  Quando as contrações retornaram, a bruxa cravou os dentes no graveto que segurava, até que a dor amenizasse.

  - Então não faça nada. Fique de pé e me veja morrer junto com minha criança. Será mais fácil do que ter de nos matar mais tarde.

  De fato. Christopher jamais agredira uma mulher em sua vida.

  Então, algo lhe ocorreu. A presença de um bebê implicava a presença de um homem.

  - Onde está o pai do bebê?

  Os olhos da mulher se arregalaram.

  - O senhor não sabe? Não foi ele quem o enviou?

  Confuso, Christopher fez que não.

  - Vim para mata-la por minhas próprias razoes: seus feitos nojentos contra minha família. A maldição que rogou sobre nós.

  Outra contração a fez gritar.

  - O senhor tem uma arma? - ela indagou, em meio a um gemido.

  - Não.

  - Quer dizer que era com as mãos que pretendia me matar? - Ela se apoiou nos cotovelos. - Nesse caso, faça-o agora. Já não coloca seus dedos dentro de mim, ponha-os à volta de meu pescoço e acaba com esse martírio. Sem sua ajuda, eu e meu bebê estaremos condenados, de qualquer maneira.

  Morte piedosa? Para Christopher, soou muito melhor do que um claro assassinato. Ele devia fazer aquilo. Ver toda a dor pó que passava não lhe trazia prazer algum, nenhum senso de justiça. Mas mata-la para que seu sofrimento terminasse? Conseguiria viver com isso para o resto da vida?

  Aproximou-se dela, sobre o tapete de palha, e ajoelhou-se a seu lado. A bruxa o olhava com intensidade. Sofria, sim, mas não tinha medo. Era, sem duvida, mais corajosa do que ele.

  - Vamos! - ela ordenou, oferecendo-lhe a nuca para que pudesse agarra-la. - Eu sabia havia muito tempo que todas essas suspeitas um dia trairiam meu fim. Aceito o que tem que ser.

  A passividade da jovem o irritou. Onde estava seu instinto de sobrevivência? Porque se oferecia para o sacrifício? Não deveria enfrenta-lo? Talvez merecesse a morte. Se desse um pouco de valor à vida, teria lutado.

  A pele era macia e quente por baixo de seus dedos, que já envolviam o pescoço da jovem. O contato o açoitou, como o vento forte em uma grande tempestade. E os olhos, que estavam fechados, se abriram de repente.

  - O senhor é diferente também. Não é um homem comum. E também não é um animal. É os dois.

  Não havia como negar aquilo. Sua identidade lhe servira ao longo daqueles anos todos, um disfarce que ocultara sua natureza obscura.

  - Serei um homem outra vez - Christopher assegurou. - Nada além de um homem, assim que você morrer por minhas mãos.

  - Mas que tipo será? Conseguirá viver consigo mesmo depois disso? O cheiro de licor que exala de sua boca já responde a minhas perguntas. O senhor irá se afogar nele. E, por fim, isso o tornará menos homem do que já é agora.

  Christopher lhe apertou o pescoço. O que ela disse o incomodou demais. Havia prometido a si mesmo muitas coisas, desde que a bebida e as mulheres se apoderaram dele. E aonde chegara? Ao assassínio de uma mulher indefesa e seu filho que ainda nem vira a luz da existência.

  - Por favor. - Ela suspirou.

  Mulheres já haviam implorado por sua piedade antes, mas sempre por excesso de prazer, nunca pela dor.

  A bruxa estava certa: o bebê que carregava era inocente dos pecados da mãe. Christopher afrouxou o aperto, e viu que ela chorava.

  - Como pode ser tão cruel? Vai ficar sentado aí e nos ver sofrer por qualquer pecado que acha que cometi contra o senhor?

  - Não.

  Christopher se posicionou logo abaixo das pernas da jovem. Não era um lugar desconhecido para ele, óbvio, mas com certeza aquela era uma situação que ia muito além de sua compreensão.

  - Diga-me o que fazer.