Fanfic: FÉLIX: A OUTRA FACE | Tema: Seriado
Estaciono o carro na garagem externa e só então me dou conta da tragédia do dia anterior. Papai havia morrido e diversas pessoas já estava chegando para vê-lo – deitado em uma caixa feia de madeira, já que não gosto de caixões.
Por mais clichê que a expressão possa parecer, a ficha simplesmente caíra agora. Após a morte dele, ficamos abalados. Cheguei em casa muito tarde e dormi logo. O meu corpo, bendito corpo, bloqueara qualquer emoção ou recordação de tristeza. Por isso não lembrei da morte dele logo que acordei.
E aqui estou eu. De volta às lembranças infelizes.
Desço do carro e coloco meus óculos escuros, para esconder as lágrimas, mesmo que o dia não esteja tão solar assim. As pessoas vão dando tapinhas nas minhas costas enquanto vou passando pelo corredor.
Ao chegar a sala principal, vejo diversas pessoas tentando acalmar a minha mãe, que chora ao lado do caixão. Aproximo-me de papai, elegantemente vestido no seu leito final, e choro. Deixo que as lágrimas rolem pelos óculos escuros.
Só então, definitivamente, considero a urgência da ligação da minha mãe. Carlos não só assumiu para a família que era gay. Mas disse isso para todos os que estavam no enterro.
Abraço ela, a única Elena da minha vida, e continuo chorando. Os meus irmãos vem me afagar também, exceto Thiago, que permanece calado em um canto. Bom, Carlos, não sei onde está agora.
Continuo por mais meia hora lá e, exausto de tanto deixar as lágrimas rolarem dos meus olhos, subo para ver se o garotão está lá.
Primeira porta à esquerda e voi lá!
_ Carlos... – digo, fechando a porta e olhando para ele, sentado no chão, na parede oposta.
_ Sai, Félix...
_ Você não é assim. – digo, sorrindo. – Gentil, carinhoso. Sempre gosta de conversar.
_ Nosso pai morreu. Não é hora de conversas sobre lições de moral. – falou Carlos, com os cabelos loiros escorrendo de suor. Seu rosto estava vermelho, tanto do choro por causa da morte do pai, como da difícil revelação que fizera.
_ Escute, Cal... Nós sempre conversamos muito, você sempre gostou de falar comigo... Contar os problemas... Então... – começo, com calma. – Já tinha ouvido boatos sobre... sobre isso.
Carlos continua olhando para o chão, mas, segundo depois, levanta o olhar para mim.
_ Acha que é invenção minha? Modinha? Não! Desde pequeno convivo com isso, desde CRIANÇA SEI O QUE SINTO, NÃO POSSO FAZER NADA, SOU ASSIM, ESTOU FELIZ ASSIM...
_Ok,ok, Cal... Eu aceito você do jeito que simplesmente é! – Falo, com toda paciência, agora sentando na cama, olhando fixamente para ele. Carlos baixa a cabeça de volta e deixa uma lágrima rolar.
Me agacho e tento segurar o rosto dele.
_ Escuta... Você é o meu irmão, o cara que gosta de desenhar, que adora o Bob Marley, filmes de terror, mas que também é educado, gentil. – paro e sorrio. – Que contradição da porra!
Exceção número dois: só falo nomes feios quando estou com muita raiva e quando costumo brincar com meu irmão adolescente.
Carlos abre um meio sorriso e, calmamente, vai subindo a cabeça.
_ Félix, você sabe como vai ser a minha vida, não sabe? Agora sabe, pelo menos. Minha família e boa parte de Gramado também. É um alívio enorme não ter que esconder mais isso... Contei tudo na morte do papai por que... – ele se segura para não chorar. – por que a confusão das emoções fez com que eu colocasse tudo pra fora. Félix, no futuro, eu serei o namorado de um homem!
Por mais estranho que isso pudesse parecer, não me assustou de forma alguma.
_ Normal. Não é doença. É sentimento.
Dou um abraço apertado nele.
_ Qualquer coisa estou... Lá. – aponto para baixo.
Carlos concorda e saio do quarto dele. Respiro fundo. Uma conversa carregada.
Descendo as escadas, vejo Victória Sá chegando, a mulher do Thiago, meu irmão. Ela usa um vestidinho azul-escuro, óculos de sol e cabelos molhados soltos. Sua expressão é a mesma, seca, apenas com o objetivo de conquistar algo. Victória me dá náuseas.
_ Oi, Victória. – falo, secamente.
_ Oi, Félix. – retribui a megera, sem vigor.
Ela segue até o marido, sem nem ao menos olhar para o caixão, e senta ao seu lado, baixando a cabeça, fingindo sentimento.
Nesse momento, penso que poderia ter sido psicólogo. Sei desvendar as expressões das pessoas como ninguém!
_ Chá, Dr. Félix?
_ Não, obrigado, Rose.
Rose Maria é a nossa secretaria, uma mulher de 35 anos, vigorosa e totalmente fiel à família Borges.
Vou até Sarah, minha irmã Médica, e sento ao seu lado. Ao contrário dela, de mim e de Thiago, Jane e Deb ficam perto da mamãe, acariciando o rosto de papai.
_ Não consigo vê-lo assim. Deitado profundamente. – falo, segurando o choro.
_ Eu sei. – diz Sarah, apertando um lenço de pano contra o nariz. – Tão cheio de vida! E morrer assim...
_ O que o Médico disse?
_ Parada cardíaca, Félix. Eu soube desde a hora que vi... que vi a expressão dele.
Concordo e fico pensativo.
_ Onde está Gregório e Arthur? – questione sobre o marido de Sarah e seu filho, respectivamente.
_ Entrando, ali. – ela aponta para a porta, sem muito entusiasmo.
Gregório é um homem viril, de 40 anos, cabelos grisalhos, olhos azuis e pele muito branca. Trajando um terno cinza, elegante no seu corpo, ele anda sorrateiramente pelos convidados. Trabalha no seu próprio escritório de contabilidade e ama a sua família. Um bom homem.
Arthur, logo atrás, vem de cabeça baixa. Tão tímido quanto a mim ou Carlos, ele ostenta tristeza nos seus olhos. Os cabelos negros, escorridos, cobrem-lhe a face muito branca e rosada. Era dois anos mais novo do que Carlos, ou seja, tinha 15 anos.
Depois das condolescencias, ficamos mais duas horas até o momento do enterro. O carro da funerária chega e coloca a tampa no caixão, junto com minha última lembrança física de papai. Mamãe, Deb e Jane acompanham e entram no automóvel também.
Sarah, Gregório e Arthur vão no carro deles. Aos poucos, a casa vai se esvaziando. Todos os presentes entram nos seus veículos para fazer parte da procissão que levará o corpo do homem até o cemitério.
Carlos desce as escadas, confuso, e me segue. Enquanto vou à frente, vejo Thiago e Victória logo atrás, ambos fingindo algum sentimento, tenho certeza. Bom, não duvido dela. Mas meu irmão se deixou contaminar pela maldade da esposa.
Vou para o meu carro junto com Carlos e, antes que possamos entrar, Thiago se aproxima do irmão mais novo.
_ Bixa, é o que você é! Falta de vergonha na cara, seu merda... Nossa família tão bem criada e...
_ CALA A BOCA, THIAGO! – digo, gritando, fazendo alguns convidados que saíam olharem para trás.
Carlos baixa a cabeça e miro o olhar em Thiago. Ele sai e só então podemos entrar.
No caminho, não comentamos nada sobre o fato. Mas tenho minhas teorias. Uma coisa é mamãe ficar desesperada – mas, nesses casos, a mãe sempre desconfia de algo do filho, ou então, pelo menos o aceita apesar de toda a angústia. Outra coisa é o irmão influenciável, cego pela maldade alheia, querer arruinar a moral de alguém. Nada bom.
O enterro, no geral, leva uma hora para se concretizar. Após várias canções significativas, entoadas por pessoas próximas, o caixão é finalmente enterrado.
Ao sair, encontrando toda a sua família reunida fora do cemitério, mamãe fala, quase sussurrando.
_ Encontro na nossa casa, por favor.
Seguimos até a casa de Elena e Edgar Borges.
_ COMO NÃO DEIXOU TESTAMENTO?! – espavoriu Thiago.
_ Não deixou, meu filho. – falou mamãe, agora mais centrada em outro foco. – O seu desejo, era que tudo fosse passado para mim... E os filhos trabalhariam para manter o que ele nos deixou.
_ União. É o significado disso. – ponderou Sarah.
_ Respeito. Papai nos ensinou muito. – afirmou Deb.
_ Sim. Estou de acordo com o desejo dele. – seguiu Jane.
Gregório, Arthur e Carlos balançaram as cabeças, concordando sutilmente com a ação.
Não demoraria muito, Victória iria dizer algo para contrapor.
E receberia a mesma resposta em troca. Sempre.
_ Se assim papai quis... – falei, esticando os lábios, concordando.
Thiago olhou de lado para a esposa, como se pedisse a ela o que deveria ser falado. Babaca!
Victória mexeu-se um pouco na cadeira, balançou seus cabelos secos contra o vestidinho azul e começou:
_ Acho que o Seu Edgar, ultimamente, estava aderindo a ideias um pouco... antigas digamos...
_ Não, minha filha. Se antiguidade for sinal de sabedoria, então é melhor seguir os conselhos desta velha aqui. Trate-se, você tem um sério problema psicológico.
_ Não admito que falem mal... – começou Thiago.
Mamãe não sentia muita fúria. Mas estava com ela agora.
_ Não são eles que estão falando, seu banana! Sou eu! Sua mulher é doentes, psicótica! E você? Não foi criado para isso... Para deixar uma mulher o fazer de fantoche...
_ Chega! Vamos, Thiago... – fingindo choro, Victória sai da casa com o marido.
Ok. Ela realmente é uma mulher sem escrúpulos.
Lá fora, sem ninguém saber, nem mesmo Félix, Victória pensava consigo:
Hora de alguém mais morrer... Veneno no chá? Queda de escada? Adeus, dona Elena. Vou me encarregar pessoalmente disso.
Autor(a): lucasf200
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Félix acorda sobressaltado. O suor pinga da sua testa e seus olhos estão completamente esbugalhados. _ Vaca! O sonho que teve com Victória planejando a morte de Elena o deixa transtornado. Levantando-se, Félix olha a hora. Quatro horas da madrugadas. Rangendo os dentes, ele volta a se deitar, tentando ...
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