Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

O dia do casamento amanheceu claro e perfumado como eu secretamente sabia que seria. Garotas como Maria sempre conseguem o que querem. Alguém deve ter conversado com os deuses do clima.

Peter: Observação muito rude, Esposito — criticou Peter, quando comentei isso.

Lali: Bom, aprendi com quem sabe.

Gaston tinha chegado cedo para aprontar Peter e podermos sair lá pelas nove da manhã. Levaríamos duas horas de carro até lá e eu tinha planejado a viagem com cuidado, com paradas em locais com os melhores serviços. Arrumei-me no banheiro, calcei as meias nas pernas recém-depiladas, me maquiei, depois tirei tudo, temendo que os anfitriões chiques achassem que eu parecia uma garota de programa. Não ousei colocar uma echarpe no pescoço, mas levei uma estola que poderia usar como xale, se me sentisse muito exposta.

Peter: Nada mal, hein? — Gaston deu um passo atrás, e eis que vi Peter de terno escuro, camisa azul-escura e gravata. Estava barbeado e com o rosto levemente bronzeado. A camisa fazia os olhos dele ficarem  especialmente luminosos. De repente, pareciam carregar o brilho do sol.

Lali: Nada mal — repeti, pois, estranhamente, eu não queria dizer o quanto ele estava bonito. — A noiva certamente vai se arrepender de estar se casando com aquele bundão. — Peter revirou os olhos. — Gaston, está tudo na bolsa?

Gas: Sim. Tudo arrumado e pronto para sair. — Virou-se para Peter. — Nada de ficar com as damas de honra.

Lali: Como se ele estivesse interessado — falei. — Todas estarão vestindo roupas de gola alta e terão cheiro de cavalo.

Os pais de Peter vieram vê-lo antes de irmos. Desconfie que tinham discutido, já que seria impossível a Sra. Lanzani ficar mais distante do marido, a menos que estivessem em comados diferentes. Ela cruzou os braços, firme, e continuou assim até eu dar marcha a ré no carro para Peter entrar. Não olhou para mim nem uma vez.

Emilia: Mariana, não deixe que ele beba muito — recomendou, tirando um fiapo imaginário do ombro de Peter.

Peter: Por quê? Não estou dirigindo — disse Peter.

Juan: Tem toda razão, Peter — concordou o pai. — Sempre precisei de uns bons drinques para aguentar um casamento.

Emilia: Até o seu próprio — resmungou a Sra. Lanzani, e acrescentou, mais alto: — Você está muito elegante, querido. — Ela se abaixou e ajeitou a barra da calça de Peter. — Muito mesmo.

Lali: Você também. — O Sr. Lanzani me olhou com aprovação quando saí do carro. — Muito atraente. Dê uma voltinha para nós, Mariana. — Peter afastou a cadeira de rodas.

Peter: Ela não tem tempo para isso, pai. Vamos pegar a estrada, Esposito. Não seria bom chegar de cadeira de rodas depois da noiva.

Entrei de novo no carro, aliviada. Saímos, com a cadeira de Peter bem presa no banco de trás e o seu elegante paletó dependurado sobre o banco do carona para não amassar.

Antes mesmo de chegar lá, eu já sabia como seria a casa dos pais de Maria. Na verdade, acertei com tal precisão que, quando reduzi a velocidade do carro, Peter perguntou por que eu estava rindo. Era uma enorme mansão georgiana, com grandes janelas parcialmente escondidas por uma fartura de glicínias claras e cascalho cor de caramelo na entrada. A residência perfeita para um coronel. Imaginei Maria crescendo ali, o cabelo louro preso em duas tranças perfeitas enquanto montava seu primeiro e gorducho pônei no gramado.

Dois homens com coletes refletivos, compenetrados, dirigiam o trânsito para um gramado que ficava entre a casa e a igreja. Abaixei o vidro do carro.

Lali: Há algum estacionamento ao lado da igreja?

— Madame, os convidados devem seguir por aqui.

Lali: Bom, temos uma cadeira de rodas que vai afundar no gramado — expliquei. — Precisamos parar bem ao lado da igreja. Olha, vou estacionar ali. — Os dois se entreolharam e murmuraram algo um para o outro. Antes que dissessem qualquer coisa, parei o carro num lugar isolado ao lado da igreja. E lá vamos nós, pensei, encontrando o olhar de Peter no espelho retrovisor quando desliguei o motor.

Peter: Fique calma, Esposito. Vai dar tudo certo — disse ele.

Lali: Estou extremamente calma. O que o faz pensar o contrário?

Peter: O fato de você ser ridiculamente transparente. Além de ter roído quatro unhas enquanto dirigia. — Estacionei, desci do carro, ajeitei a estola nos ombros e ativei os controles para abaixar a rampa.

Lali: Certo — falei, quando as rodas da cadeira de Peter tocaram o chão. Do outro lado da trilha no gramado, as pessoas saíam de seus enormes carros alemães, as mulheres de vermelho conversando com os maridos enquanto os saltos dos sapatos afundavam na grama. Eram todos altos e discretos, em ternos de cores neutras. Mexi no cabelo, pensando se havia exagerado no batom. Tinha a impressão de estar parecendo um daqueles potes vermelhos de ketchup. — Então... como vamos nos comportar hoje? — Peter acompanhou meu olhar.

Peter: Sinceramente?

Lali: Sim. Preciso saber. Mas, por favor, não diga que provocaremos Morte ou Pavor. Está planejando algo terrível? — O olhar de Peter encontrou o meu. Olhos esverdeados, insondáveis. Um pequeno enxame de borboletas pareceu voar no meu estômago.

Peter: Esposito, vamos nos comportar de maneira inacreditavelmente exemplar. — As borboletas começaram a bater asas sem parar, como se estivessem presas às minhas costelas. Abri a boca para falar, mas ele me interrompeu. — Olha, faremos o possível para que seja divertido — disse ele. Divertido. Como se ir ao casamento da ex-namorada pudesse ser menos dolorido do que fazer tratamento de canal no dente. Mas foi uma escolha de Peter. O dia era dele.

Respirei fundo, tentando reunir forças.

Lali: Com uma condição — falei, ajeitando a estola nos ombros pela décima quarta vez.

Peter: Qual?

Lali: Você não vai fazer papel do cara do Massacre da Serra Elétrica, senão, volto para casa e deixo você preso aqui com os elegantes. — Peter virou a cadeira em direção à igreja e pensei ouvi-lo resmungar:

Peter: Desmancha-prazeres.

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