Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

Não contamos para ela nada sobre o que aconteceu na hora do almoço — Peter me fez prometer que não contaria —, mas quando Lali chegou à tarde, estava muito calada. Parecia pálida, de cabelos lavados e puxados para trás como se quisesse parecer ajuizada. Eu meio que podia entender como ela se sentia; às vezes, quando você fica bêbado até altas horas, só se sente bem de manhã porque ainda está um pouco bêbado. A velha ressaca está só brincando com você, escolhendo a hora de atacar. Acho que a de Mariana a atacou na hora do almoço. Porém, depois de um tempo, ficou claro que não era só a ressaca que a preocupava. Peter perguntou diversas vezes por que ela estava tão quieta, e então ela respondeu:

Lali: É, bem, descobri que não é muito sensato dormir fora quando se acaba de mudar para a casa do namorado. — Ela disse isso sorrindo, mas foi um sorriso forçado, e Peter e eu soubemos que houvera uma discussão. Não dava para culpar o sujeito. Eu não ia querer que a minha garota ficasse fora a noite toda com outro cara, mesmo que ele fosse tetra. E ele nem sabia como Peter olhava para ela.

Naquela tarde, não fazemos muitas coisas. Mariana esvaziou a mochila de Peter e mostrou todos os xampus, condicionadores, minikits de costura e toucas de banho que ela conseguiu pegar no hotel. (“Não ria”, disse ela. “Com aqueles preços, Peter pagou por uma maldita fábrica de xampus.”) Assistimos a alguma animação japonesa que Peter disse ser perfeita para ressacas e fiquei por ali — em parte, porque queria ficar de olho na pressão dele e, em parte, para ser sincero, porque estava ficando um pouco malicioso. Queria ver a reação de Peter quando eu dissesse que assistiria ao desenho animado com eles.

Peter: É mesmo? — perguntou ele. — Você gosta de Miyazaki?

Ele se conteve imediatamente, dizendo que com certeza eu ia gostar... era um filme ótimo... blábláblá. Mas estava claro. Por um lado, eu me sentia contente por ele. Aquele homem tinha pensado sobre uma coisa só durante tempo demais. Então, assistimos ao filme. Fechei as cortinas, tirei o telefone do gancho e vi aquele estranho desenho animado sobre uma garota que acabava indo parar num universo paralelo com criaturas esquisitas, metade das quais você não consegue descobrir se são boas ou más. Lali se sentou bem perto de Peter, alcançando para ele a bebida e, a certa altura, tirando um cisco do olho dele. Foi muito tocante, de verdade, embora um pedaço de mim ficasse imaginando no que diabo aquilo ia dar.

E então, quando Mariana abriu as cortinas e preparou um chá para nós, os dois se entreolharam como duas pessoas pensando se contam ou não um segredo, e me contaram sobre a viagem. Dez dias. Ainda não sabiam para onde, mas provavelmente seria um lugar bem longe e provavelmente seria ótimo. Eu poderia ir para ajudar? Por acaso macaco recusa banana?

Tive de tirar o chapéu para a garota. Se alguém tivesse me dito, quatro meses antes, que iríamos fazer uma viagem com Peter — diabo, que iríamos tirá-lo de dentro daquela casa —, eu teria dito que a pessoa estava Louca. Veja bem, antes de irmos, eu teria uma conversinha com Mariana sobre os cuidados médicos de Peter. Não poderíamos nos dar o luxo de quase o perdermos novamente, caso ficássemos presos no meio do nada. Eles até contaram da viagem para a Sra. Lanzani., assim que ela apareceu, bem quando Mariana estava indo embora. Peter falou como se aquilo fosse tão normal quanto dar uma volta pelo castelo.

Tenho de admitir que fiquei bastante satisfeito. Eu até perdoei Mariana por ter sido estúpida o bastante para dar ouvidos a Peter quando ele disse que não queria que ela trocasse os cateteres. E, acredite em mim, fiquei muito chateado com isso. Portanto, tudo parecia ótimo, e eu estava assoviando enquanto vestia meu paletó, já pensando em areias brancas e céu azul. Estava até imaginando se eu conseguiria combinar a viagem com uma breve visita a Auckland, minha terra.

Foi então que as vi — a Sra. Lanzani do lado de fora da porta dos fundos, enquanto Lali esperava para começar a descer a estrada. Não sei que tipo de conversa estavam tendo, mas as duas pareciam sérias. Só pude entender a última frase e, sinceramente, foi o suficiente para mim.

Emilia: Espero que saiba o que está fazendo, Mariana.

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