Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

Lali.

Benja: Você o quê?

Estávamos nas colinas logo depois da cidade quando contei a ele. Benjamin estava no meio de uma corrida de vinte e cinco quilômetros e queria que eu cronometrasse o tempo dele, enquanto o seguia de bicicleta. Como eu era ligeiramente menos eficiente de bicicleta do que em física molecular, a tarefa envolvia uma porção de xingamentos e desvios, de minha parte, e um monte de berros exasperados, da parte dele. Ele queria correr quarenta quilômetros, mas tive de dizer-lhe que eu não sabia se minha bunda aguentava e, além do mais, um de nós precisava fazer as compras semanais depois que chegássemos em casa. Estávamos sem pasta de dente e sem pó de café. É verdade que só eu queria o café. Benjamin tomava chá de ervas.

Quando chegamos no alto da colina, eu bufando, minhas pernas parecendo de chumbo, resolvi apenas botar tudo para fora. Acho que ainda tínhamos uns vinte quilômetros até em casa para que ele recuperasse o bom humor.

Lali: Não vou ao Norseman Xtreme. — Ele não parou, mas se aproximou de mim. Virou-se para me encarar, suas pernas ainda se movendo, e pareceu tão chocado que quase me desviei para cima de uma árvore.

Benja: O quê? Por quê?

Lali: Vou... trabalhar. — Ele se virou de novo para a estrada e tomou velocidade. Estávamos no alto da colina e precisei frear um pouco para não ultrapassá-lo.

Benja: Quando decidiu isso? — Gotinhas de suor surgiram em sua testa e os tendões saltavam de suas panturrilhas.

Lali: No final de semana. Só queria ter certeza.

Benja: Mas reservamos nossos voos e tudo.

Lali: É um voo barato. Se você quiser, reembolso as trinta e nove libras que pagou.

Benja: Não é questão de dinheiro. Pensei que você fosse para me dar apoio. Você disse que ia para me apoiar. — Benjamin podia parecer bem carrancudo. Logo que começamos a namorar, eu costumava provocá-lo por causa disso. Chamava-o de Dr. Mau Humor. Isso me fazia rir e ele ficava tão zangado que geralmente parava de ficar carrancudo só para eu parar de rir.

Lali: Ah, vamos lá. Não estou lhe dando bastante apoio agora? Detesto andar de bicicleta, Benjamin. Você sabe que eu detesto. Mas estou lhe dando apoio.

Ele correu mais dois quilômetros antes de falar novamente. Pode ter sido impressão minha, mas as batidas dos pés de Benjamin no chão pareceram ganhar um ritmo decidido e duro. Naquele momento, estávamos bem no alto da cidadezinha, eu bufando nos trechos de subida, tentando e não conseguindo impedir que meu coração disparasse toda vez que passava um carro. Pedalava na velha bicicleta de mamãe (Benjamin não me deixava chegar nem perto de sua corredora diabólica) que não tinha marchas, então a toda hora eu ficava para trás. Ele olhou para trás, diminuiu o passo uma fração para que eu pudesse alcançá-lo.

Benja: Por que eles não arrumam uma outra cuidadora, alguém de uma agência especializada?

Lali: Cuidadora de agência?

Benja: Para ficar nos Lanzani. Quer dizer, você está lá há seis meses, tem direito a uma folga.

Lali: Não é tão simples assim.

Benja: Não vejo por que não. Afinal, você começou lá sem saber nada do trabalho. — Prendi a respiração, o que foi um pouco difícil, já que eu estava completamente sem ar pelo esforço de pedalar.

Lali: Porque ele precisa fazer uma viagem.

Benja: O quê?

Lali: Ele tem de fazer uma viagem. Então, precisam de mim e de Gaston para ajudá-lo.

Benja: Gaston? Quem é Gaston?

Lali: O enfermeiro. O cara que você conheceu quando Peter foi à casa dos meus pais. — Eu podia ver que Benjamin estava pensando naquilo. Limpou o suor de seus olhos. — E antes que você pergunte — acrescentei —, não, não estou tendo um caso com Gaston. — Ele diminuiu a velocidade e olhou para o asfalto até ficar praticamente correndo sem sair do lugar.

Benja: O que é isso, Lali? Porque... porque, para mim, parece que há aqui um limite sendo ultrapassado, entre o que é trabalho e o que é... — ele deu de ombros — ...normal.

Lali: Não é um trabalho normal. Você sabe disso.

Benja: Mas parece que ultimamente Peter Lanzani está acima de tudo.

Lali: Ah, e isto aqui não está? — Tirei a mão do guidão e gesticulei para os pés de Benjamin.

Benja: É diferente. Ele chama e você vai correndo.

Lali: E você corre, e eu venho correndo. — Tentei sorrir.

Benja: Muito engraçada. — Ele virou-se para o outro lado.

Lali: São seis meses, Benja. Seis meses. Afinal, você foi um dos que acharam que eu deveria aceitar esse trabalho. Não pode me condenar por levá-lo a sério.

Benja: Não acho... não acho que o problema seja o trabalho... é só que... acho que tem alguma coisa que você não está me contando. — Hesitei por um momento longo demais.

Lali: Não é verdade.

Benja: Mas não vai ao Norseman.

Lali: Eu já disse, eu...

Ele balançou de leve a cabeça, como se não conseguisse me ouvir direito. E começou a correr pela estrada, para longe de mim. Eu podia ver pelo jeito das costas dele que estava zangado.

***