Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

Emilia: Então vamos entrar e apresentar vocês. — Ela olhou para o relógio de pulso. — Gaston deve ter terminado de vesti-lo.

Hesitamos do lado de fora da porta e a Sra. Lanzani bateu.

Emilia: Oi, estão aí? Peter, a Srta. Esposito veio para conhecer você. — Não houve resposta. — Peter? Gaston?

Gaston: Ele está arrumado, Sra. Lanzani.

Ela abriu a porta. A sala do anexo era ilusoriamente enorme, pois uma das paredes era feita totalmente de portas de vidro que se abriam para o jardim. Uma lareira no canto e um sofá bege com almofadas cobertas ficavam de frente para uma grande TV de tela plana. O clima do ambiente era elegante e tranquilo

No meio da sala havia uma cadeira de rodas preta, com assento e encosto forrados por pele de carneiro. Um homem loiro, de jaleco sem gola, estava abaixado, arrumando os pés de outro no apoio da cadeira de rodas. Assim que entramos no quarto, o homem na cadeira olhou por baixo de uma cabeleira despenteada. Seus olhos encontraram os meus e, após uma pausa, ele começou a olhar como se estive me examinando.

Lali: Eu… eu sou Lali. — Minha voz, incomumente trêmula, quebrou o silêncio. Pensei por um breve momento se estendia a mão, então, me lembrando de que ele não poderia segurá-la, dei um leve aceno. — Diminutivo de Mariana.

Então, para meu espanto, suas feições se desanuviaram. Peter Lanzani me olhou firmemente, com o mais leve dos sorrisos tremulando em seu rosto.

Peter: Bom dia, Srta. Esposito — disse ele. — Soube que é minha nova guarda-costas. — Gaston tinha terminado de arrumar o descanso dos pés na cadeira de rodas.

A Sra. Lanzani segurava com os delicados dedos brancos o crucifixo em seu pescoço. Puxava-o de um lado para outro na fina corrente dourada, um tique nervoso. Sua expressão estava dura.

Emilia: Vou deixar vocês se entenderem. Podem usar o interfone se precisarem de ajuda. Gaston vai contar sobre a rotina de Peter e o equipamento que ele usa.

Peter: Estou aqui, mãe. Você não precisa falar como se eu não estivesse. Meu cérebro não está paralisado. Ainda.

Emilia: Se você vai se portar de maneira desagradável, Peter, acho que é melhor a Srta. Esposito falar direto com Gaston. — Percebi que a mãe não olhava para ele quando falava. Manteve seu olhar no chão. — Vou trabalhar, apareço na hora do almoço, Srta. Esposito.

Lali: Certo. — Minha voz saiu tremula

A Sra. Lanzani sumiu. Ficamos calados enquanto ouvíamos seus passos ligeiros sumirem pelo corredor em direção à casa principal.

Gaston então rompeu o silêncio.

Gaston: Peter, você se importa se eu falar de seus remédios com a Srta. Esposito? Quer assistir à TV? Ouvir música?

Peter: Rádio, estação quatro, por favor.

Fomos para a cozinha.

Gaston: A Sra. Lanzani disse que você não tem muita experiência com tetraplégicos, certo? — eu assenti — Certo. Vamos começar com as coisas razoavelmente simples hoje. Aqui tem uma pasta com praticamente tudo o que você precisa saber a respeito das rotinas de Peter e com todos os telefones de emergência. Sugiro que você leia quando tiver um tempo livre. Imagino que vá ter algum.

Gaston pegou uma chave de seu cinto e abriu um armário cheio de caixas e frasquinhos plásticos de remédios.

Gaston: Certo. Isso é mais a minha parte, mas você precisa saber onde está tudo, para o caso de emergências. Há um quadro de horários na parede, então você pode verificar quando e o que ele toma por dia. Qualquer remédio a mais que você der, marque aqui — ele mostrou —, mas é melhor checar tudo com a Sra. Lanzani, pelo menos por enquanto.

Lali: Não sabia que eu teria de lidar com remédios.

Gaston: Não é difícil. Ele sabe quase tudo o que toma. Mas pode precisar de uma pequena ajuda para engolir. Costumamos usar esse copo especial. Você pode amassar com este pilão e colocar em algum líquido.

Peguei uma das embalagens. Acho que nunca tinha visto tantos remédios fora de uma farmácia.

Gaston: Certo. Ele toma dois remédios para pressão: este, para baixar na hora de dormir; este, para subir quando acorda. Estes, ele usa quase sempre para controlar os espasmos musculares: você precisa dar um no meio da manhã e outro no meio da tarde… — ele continuo me explicando sobre todos os remédios que Peter tomava — Esta é a chave reserva — disse. — Não deve ser dada a ninguém. Nem mesmo a Peter, certo? Proteja-a como se fosse sua vida.

Lali: É muita coisa para lembrar. — Engoli em seco.

Gaston: Está tudo escrito. Por hoje, você só precisa lembrar dos antiespasmódicos. Aqueles ali. O número do meu celular está aqui, se precisar falar comigo. Quando não estou aqui, fico estudando, então queria pedir para não me ligar muito, mas fique à vontade até se sentir segura.

Olhei bem para a pasta na minha frente. Era como se eu fosse fazer uma prova para a qual não estudei.

Lali: E se ele precisar… ir ao banheiro? — Pensei no aparelho de içar. — Não sei se consigo, você sabe, erguê-lo. — Tentei fazer com que meu rosto não transparecesse pânico. Gaston balançou a cabeça.

Gaston: Não precisa fazer nada disso. O cateter cuida do assunto. Na hora do almoço estou aqui para trocar tudo. Sua função não envolve nenhum esforço físico.

Lali: Qual é a minha função? — Gaston estudou o chão antes de me encarar.

Gaston: Tentar animá-lo um pouco? Ele é… ele é meio mal-humorado. O que é compreensível, dadas… as circunstâncias. Mas você vai precisar insistir em pouco nele, digamos que ele na maioria das vezes é um pouco mal educado.

Lali: Por isso o salário é tão bom?

Gaston: Isso mesmo, ah, ele é legal. Não precisa ficar com medo dele. — Ele hesitou. — Gosto dele.

Ele disse isso como se fosse à única pessoa que gostava de Peter.

***