Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

Entrei correndo no pronto-socorro. O enorme mapa do hospital e minha natural falta de senso de direção contribuíram para que eu levasse uma eternidade para encontrar a ala onde ficavam os pacientes graves. Tive de perguntar três vezes até alguém me indicar a direção certa. Finalmente, abri a porta de vaivém da Enfermaria C12, ofegante, e Gaston estava lá no corredor, sentado, lendo o jornal. Levantou o olhar quando me aproximei.

Lali: Como ele está?

Gas: Respirando com ajuda de aparelhos. Estável.

Lali: Não entendo. Ele estava ótimo na sexta à noite. Tossiu um pouco no sábado de manhã, mas... isso? O que houve? — Meu coração estava acelerado. Sentei-me um instante, tentando recuperar o fôlego. Correra sem parar desde que recebera a mensagem de texto de Gaston, uma hora antes. Ele se levantou e dobrou o jornal ao meio.

Gas: Não é a primeira vez que isso acontece, Lali. Ele tem uma bactéria nos pulmões, sua tosse não funciona como a das outras pessoas, ela piora muito rápido. Tentei aplicar algumas técnicas de desobstrução na tarde de sábado, mas Peter estava com muita dor. Teve uma febre repentina, depois começou a sentir uma dor penetrante no peito. À noite, precisamos chamar a ambulância.

Lali: Droga — eu disse, me inclinando. — Droga, droga, droga. Posso entrar no quarto?

Gas: Ele está bem grogue. Não vai conseguir nada. E a Sra. Lanzani. está lá. — Deixei minha mochila com Gaston, lavei as mãos com loção antibacteriana, empurrei a porta e entrei.

Peter estava no leito, coberto por um lençol azul, tomando soro e cercado de máquinas que emitiam bips intermitentes. O rosto estava meio oculto por uma máscara de oxigênio e seus olhos estavam fechados. A pele parecia cinza, tinha uma brancura azulada que fez algo encolher dentro de mim. A Sra. Lanzani estava sentada ao lado dele, com uma mão sobre seu braço coberto. Encarava, distraída, a parede à sua frente.

Lali: Sra. Lanzani — cumprimentei. — Assustada, ela olhou para mim.

Emilia: Ah, Mariana.

Lali: Como... como ele está? — Eu queria me aproximar e segurar a outra mão de Peter, mas não me sentia à vontade. Fiquei parada à porta. Ela estava tão abatida que só entrar no quarto já parecia invasivo.

Emilia: Melhorou um pouco. Deram uns antibióticos bem fortes para ele.

Lali: Tem... alguma coisa que eu possa fazer?

Emilia: Acho que não. Nós... nós só temos de esperar. O médico deve voltar daqui a mais ou menos uma hora. Espero que possa nos dar mais informações. — O mundo parecia ter parado. Fiquei ali mais um pouco, com o bip contínuo das máquinas gerando um ritmo na minha cabeça.

Lali: Quer que eu fique um pouco com ele? Para a senhora descansar?

Emilia: Não. Acho que vou ficar mais um pouco. — Parte de mim esperava que Peter ouvisse minha voz. Parte de mim esperava que ele abrisse os olhos por cima daquela máscara transparente de plástico e dissesse:  Esposito. Sente-se, pelo amor de Deus. Você está bagunçando o quarto.  Mas ele continuou deitado imóvel lá. Passei a mão pelo rosto. — Quer... quer que eu traga algo para beber? — A Sra. Lanzani me olhou.

Emilia: Que horas são?

Lali: Quinze para as dez.

Emilia: É mesmo? — Ela balançou a cabeça, como se fosse difícil acreditar. — Obrigada, Mariana. Seria... Seria muita gentileza. Tenho a impressão de estar aqui há muito tempo.

Eu tive folga na sexta-feira, em parte porque os Lanzani insistiram que eu merecia um descanso, mas o principal motivo foi que eu só podia conseguir um passaporte indo a Londres de trem e entrando na fila em Petty France. Na sexta à noite, quando voltei, passei no anexo para mostrar a Peter o que tinha conseguido e conferir se o passaporte dele ainda estava válido. Achei-o um pouco calado, mas nada muito fora do comum. Em alguns dias ele se sentia mais desconfortável do que em outros. Concluí que aquele era um desses dias. Na verdade, minha cabeça estava tão cheia com nossos planos de viagem que eu só conseguia pensar nisso.

Passei a manhã de sábado pegando minhas coisas na casa de Benjamin com a ajuda de papai, à tarde fui até a avenida principal fazer compras com mamãe, pois precisava de um biquíni e de algumas outras coisas para a viagem. Dormi na casa de meus pais no sábado e no domingo; ficou bem apertado, com Euge e Thomas lá também. Na segunda de manhã, levantei-me às sete para estar na casa dos Lanzani às oito. Quando cheguei, estava tudo fechado, as portas da frente e dos fundos trancadas. Não deixaram nenhum bilhete. Parei no portão da frente e liguei para Gaston três vezes, mas ninguém atendeu. O telefone da Sra. Lanzani caiu na caixa-postal. Fiquei sentada na escada quarenta e cinco minutos até receber a mensagem de texto de Gaston.

Estamos no hospital do condado. Peter está com pneumonia. Enfermaria C12

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