Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

Algumas pessoas que estavam comendo no restaurante começaram a se virar em nossa direção, curiosas com a discussão na entrada. Pude ver que Peter estava constrangido. Ele e Gaston concluíram que alguma coisa estava errada.

Recepcionista: Então, a senhora devia ter comprado a tarja da Área Especial.

Lali: Certo. — Alcancei minha bolsa e comecei a vasculhá-la em busca da minha carteira. — Quanto é a tarja da Área Especial? — Lenços de papel, velhos tickets de ônibus e um dos carrinhos Hot Wheels de Thomas voaram. Não me incomodava mais com nada. Eu daria a Peter seu almoço bacana num restaurante chique. — Aqui. Quanto é? Mais dez? Vinte? — Empurrei um punhado de notas para ela. — Ela olhou para a minha mão.

Recepcionista: Desculpe, senhora, não vendemos tarjas aqui. Isto é um restaurante. A senhora terá que voltar à bilheteria.

Lali: Aquela que fica lá trás, do outro lado das pistas.

Recepcionista: É. — Nós nos encaramos.

A voz de Peter surgiu:

Peter: Mariana, vamos embora. — De repente, senti meus olhos se encherem de lágrimas.

Lali: Não — disse eu. — É ridículo. Viemos até aqui. Aguardem aqui enquanto compro tarjas da Área Especial para todos nós. E então, almoçaremos.

Peter: Mariana, estou sem fome.

Lali: Vamos ficar ótimos depois de almoçar. Podemos ver os cavalos e tudo. Vai ser ótimo. — Gaston se adiantou e colocou a mão no meu braço.

Gaston: Mariana, acho que Peter quer apenas ir para casa.

Nós éramos, naquele momento, o foco de atenção de todo o restaurante. O olhar dos clientes passou por nós e viajou por cima de mim até chegar a Peter, onde pairou com um leve toque de nojo ou pena. Senti por ele. Senti como se aquilo fosse um fracasso total. Olhei para a mulher, que pelo menos fez o favor de parecer meio constrangida depois que Peter de fato falou.

Lali: Bom, obrigada — disse eu a ela. — Obrigada por ser amável para caralho.

Peter: Esposito... — a voz de Peter era carregada de advertência.

Lali: Fico feliz por você ser tão flexível. Certamente eu a recomendarei a todos os meus amigos.

Peter: Mariana! — Agarrei minha bolsa e a enfiei embaixo do braço.

Recepcionista: Você esqueceu o seu carrinho de brinquedo — disse ela, quando deslizei para fora pela porta que Gaston segurou para mim.

Lali: O carrinho também precisa de uma maldita tarja? — perguntei, e os segui para dentro do elevador.

Descemos em silêncio. Passei quase todo o pequeno percurso tentando impedir que as mãos tremessem de raiva. Quando chegamos ao pátio térreo, Gaston murmurou:

Gaston: Acho que podíamos comprar alguma coisa nas barracas, sabe. Estamos sem comer há horas. — Deu uma olhadela para Peter, para que eu soubesse a quem ele realmente se referia.

Lali: Ótimo — disse eu, animada. Dei um pequeno suspiro. — Eu adoro um pouco de torresmo. Vamos ao velho porco assado.

Pedimos três espetos de porco, torresmo e molho e ficamos abrigados debaixo do toldo listrado enquanto comíamos. Sentei-me num pequeno caixote para ficar na mesma altura de Peter e ajudei-o a comer, partindo pedaços pequenos, usando meus dedos quando necessário. As duas mulheres que serviam atrás do balcão fingiam não olhar para nós. Pude vê-las observando Peter com o canto dos olhos, cochichando uma com a outra, quando achavam que não ouvíamos. Coitado — eu praticamente podia escutá-las dizer. — que maneira horrível de se viver. Fiz cara séria para elas, desafiando-as a olhá-lo daquele jeito. Tentei não pensar muito no que Peter deveria estar sentindo.

A chuva tinha parado, mas a pista de corrida varrida pelo vento pareceu ser absolutamente desoladora, sua superfície verde e marrom suja por papéis de apostas, o horizonte liso e vazio. O estacionamento tinha alagado com a chuva e, de longe, ouvíamos apenas o som distorcido do alto-falante enquanto outra corrida trovejava ao passar.

Gaston: Acho melhor irmos — disse Gaston, limpando a boca. — Quer dizer, foi ótimo e tal, mas é melhor não pegarmos trânsito, não?

Lali: Tudo bem — respondi. Amassei meu guardanapo de papel e joguei-o na lixeira. Peter recusou o terceiro e último pedaço do espeto.

No entanto, voltar para o carro e acionar a rampa era mais fácil na teoria que na prática. Nas poucas horas que ficamos no hipódromo, os carros que chegaram e saíram transformaram o estacionamento num mar de lama. Mesmo com a força impressionante de Gaston e meu melhor esforço, não conseguimos empurrar a cadeira nem até a metade do caminho gramado até o carro. As rodas atolavam e rangiam sem conseguir vencer os últimos centímetros. Meus pés e os de Gaston escorregavam na lama, que subia pelo lado dos sapatos.

Peter: Não vai dar — constatou Peter. Eu me recusei a ouvi-lo. Não podia aceitar a ideia de que nosso dia terminaria daquele jeito.

Gaston: Acho que vamos precisar de ajuda — concluiu Gaston. — Não consigo nem colocar a cadeira de volta na trilha. Atolou. — Peter deu um sonoro suspiro. Parecia estar mais irritado do que eu jamais o vira. — Peter, posso carregá-lo até o banco da frente, se eu inclinar um pouco o encosto. E então, Mariana e eu podemos ver se conseguimos levar a cadeira depois. A voz de Peter surgiu por entre os dentes trincados:

Peter: Não quero que o dia de hoje termine comigo sendo içado pelos bombeiros.

Gaston: Desculpe, companheiro — disse Gaston. — Mas Lali e eu não vamos conseguir fazer isso sozinhos. Escute, Lali, você é mais bonita que eu. Vá e arranje mais alguns braços lá onde estávamos, sim?

Peter fechou os olhos, endureceu o maxilar e eu corri em direção às tribunas.

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