Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

A piada era apenas parcial. Mamãe entrou em parafuso só de pensar em receber um tetraplégico. Suas mãos voaram para o rosto e ela começou a arrumar de novo as coisas no aparador, como se Peter e eu fôssemos chegar minutos depois de eu ter contado a ela.

Gime: Mas e se ele precisar ir ao banheiro? Não temos um no térreo. Eu não acho que o papai consiga carregá-lo pela escada. Eu posso ajudar... mas ia ficar meio preocupada com onde colocar as mãos. Será que Benjamin pode fazer isso?

Lali: Não precisa se preocupar com esse tipo de coisa. De verdade.

Gime: E sobre a comida dele? Ele precisa que a comida dele tenha consistência de purê? Tem alguma coisa que não possa comer?

Lali: Não, ele só precisa de ajuda para cortar as coisas para ele.

Gime: Quem vai fazer isso?

Lali: Eu. Calma, mãe. Ele é ótimo. Você vai gostar dele.

E assim ficou combinado. Gaston buscaria Peter de carro e voltaria duas horas depois para levá-lo de volta para casa e cumprir as rotinas da noite. Eu me ofereci para fazer isso, mas os dois insistiram para eu “desligar” no dia do meu aniversário. Eles obviamente não conheciam meus pais.

Às sete e meia em ponto, abri a porta de casa para Peter e Gaston. Peter estava usando sua camisa chique e jaqueta. Não sabia se ficava satisfeita com o esforço que ele fizera, ou preocupada porque minha mãe ia passar as duas primeiras horas se atormentando por não ter se vestido adequadamente.

Peter: Oi, pessoal. — Meu pai surgiu no corredor atrás de mim.

Nicolas: Arrá. A rampa funcionou bem, rapazes? — Ele tinha passado a tarde inteira fazendo uma rampa de compensado para a escada externa. Gaston levou com cuidado a cadeira de Peter até nosso estreito corredor.

Gas: Muito bem — disse Gaston, enquanto eu fechava a porta atrás dele. — É ótima. Já vi rampas piores em hospitais.

Nicolas: Nicolas Esposito. — Papai estendeu a mão para Gaston e se apresentou. Estendeu-a para Peter antes de retirá-la num súbito ataque de constrangimento. — Nicolas. Desculpe, hum... não sei como cumprimentar um... não posso apertar a sua... — Papai começou a gaguejar.

Peter: Uma reverência está bem — ironizou Peter. — Papai ficou olhando e, ao ver que Peter estava brincando, deu uma risada de alívio.

Nicolas: Ah! — exclamou, e deu um tapinha no ombro de Peter. — É. Uma reverência. Essa é boa. Ah!

Isso quebrou o gelo. Gaston despediu-se com um aceno e uma piscadela e empurrei Peter na cadeira de rodas até a cozinha. Por sorte, mamãe segurava uma travessa, o quea eximiu de enfrentar a mesma preocupação.

Lali: Mamãe, este é Peter. Peter, esta é Gimena.

Gime: Gime, por favor. — Ela sorriu para ele, suas luvas refratárias indo até os cotovelos. — Que bom finalmente conhecer você, Peter.

Peter: Prazer em conhecê-la — disse ele. — Por favor, não interrompa o que está fazendo. — Ela deixou a travessa numa mesa e pôs a mão nos cabelos, o que, em se tratando da mamãe, era sempre um bom sinal. Pena que ela se esqueceu de tirar as luvas antes. — Desculpe — disse ela. — Estou fazendo um assado. Tudo depende do tempo no forno, sabe.

Peter: Na verdade, não — respondeu Peter. — Não sei cozinhar. Mas gosto de boa comida. É por isso que estava ansioso por vir.

Nicolas: Então... — Papai abriu a geladeira. — Como vamos fazer isso? Você tem um... copo especial para cerveja? — Eu disse a Peter que se papai tivesse sofrido um acidente, certamente providenciaria o copo para cerveja antes mesmo da cadeira de rodas. — Prioridades, certo? — disse papai. — Vasculhei a bolsa de Peter até achar o copo especial.

Peter: Cerveja está ótimo. Obrigado.

Ele deu um gole e fiquei ali na cozinha, subitamente me dando conta de como nossa casa era pequena e antiquada, com seu papel de parede dos anos 1980 e armários de cozinha gastos. A casa de Peter era elegantemente mobiliada, suas coisas esparsas e bonitas. A nossa casa parecia que tinha noventa por cento de todas as coisas vindas de uma loja de 1,99. Os desenhos de Thomas, feitos em papéis com as pontas amassadas, cobriam cada superfície livre de paredes. Mas, se reparou nisso, Peter não comentou. Ele e papai descobriram logo um interesse em comum, que foi a minha total falta de habilidade. Não me incomodei. Isso fez os dois felizes.

Nicolas: Você sabia que uma vez ela deu marcha a ré em cima de uma baliza e jurou que a culpa foi da baliza...

Peter: Você precisa ver quando ela abaixa a minha rampa. Eu sinto como se estivesse esquiando.

Papai rolou de rir. Deixei-os conversando.

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