Fanfic: Como eu era antes de você - Laliter | Tema: Laliter

Nicolas: Jesus Cristo — exclamou meu pai. — Dá para imaginar? Como se já não fosse castigo suficiente ficar numa cadeira de rodas enferrujada, você ainda tem como acompanhante a nossa Lali.

Gime: Nicolas! — minha mãe o repreendeu. Atrás de mim, vovô ria com a caneca de chá

Não sou burra. Quero já deixar isso bem claro. Mas é difícil não se sentir um pouco retarda quando se cresce com uma irmã mais nova que sempre sabe mais que você. Cada livro que eu lia ela já tinha lido antes, tudo o que eu contava ela já sabia. Às vezes acho que me visto desse jeito porque a única coisa que Euge não consegue é superar minhas roupas. Ela é o tipo de garota que se veste de jeans e blusa básica.

Meu pai me chama de “figura” porque costumo falar a primeira coisa que me vem à cabeça. Ele diz que sou como a tia Anne, que eu nunca conheci. É meio estranho ser sempre comparada a alguém que você nunca viu. Se eu descesse a escada de botas roxas, papai acenaria com a cabeça para mamãe e diria “Você se lembra da tia Anne com aquelas botas roxas, hein?”, e os dois ficariam rindo como se eu fosse uma super piada. Minha mãe me chama de “singular”, que é uma maneira educada de não entender muito bem como me visto.

Mas, durante minha adolescência, eu jamais quis ser como Euge, nem como qualquer outra menina da escola. Até os quatorze anos, eu preferia roupas de menino e atualmente prefiro o que me agrada, conforme o humor do dia. Não há por que querer parecer normal. Sou pequena, de cabelos escuros, não sou feia, mas acho que ninguém vai me chamar de bonita. Não tenho aquele charme. Benjamin diz que sou linda quando quer transar, mas nem sempre ele é tão transparente assim.

Eu tinha vinte e seis anos e não sabia muito bem quem era. Até perder o emprego, não tinha sequer pensado nisso. Achava que provavelmente iria me casar com Benjamin, teria filhos e moraria a algumas ruas de onde sempre morei. Exceto pelo gosto por roupas exóticas e pelo fato de ser um pouco baixa, não sou muito diferente de qualquer pessoa com que se possa cruzar na rua. Provavelmente, ninguém olharia para mim se eu usasse roupas “normais”. Eu era uma garota comum, levando uma vida comum. Para mim, estava ótimo desse jeito.

Na manhã do dia seguinte, eu já eu já estava pronta. Estava usando um terninho bem antigo da mãe, que estava muito apertado. Eu fiz uma curta viagem de ônibus, me sentindo levemente nervosa. Nunca tive uma entrevista de trabalho de verdade. Comecei a trabalhar no The Coffee Bar depois que Euge apostou que eu não conseguiria um emprego em apenas um dia. Entrei lá e simplesmente perguntei a Vico se ele precisava de ajuda. Aquele era o primeiro dia de funcionamento e ele pareceu quase cego de gratidão.

A Mansão Lanzani ficava do outro lado do castelo Stortfold. Passei por aquela casa milhares de vezes na vida sem jamais ter prestado atenção nela. Agora, ao parar em frente a ela, notei que a casa era maior do que eu imaginava, de tijolos vermelhos e fachada dupla, o tipo de casa que a gente só vê revistas de famosos.

Percorri a longa entrada para carros tentando não pensar que alguém me olhava da janela.

Eu estava pensando se deveria abaixar o topete do meu cabelo quando a porta se abriu e dei um pulo. Uma mulher de meia idade apareceu na porta enquanto me olhava criticamente.

Emília: Você deve ser a Srta. Esposito.

Lali: Mariana. — Estendi a mão, como minha mãe insistiu que eu fizesse.

Emilia: Certo, entre, por favor. — Senti seus olhos sobre mim, como se ela já estivesse me avaliando. — Vamos entrar? Conversaremos na sala. Meu nome é Emilia Lanzani. — Ela parecia exausta, como se já tivesse dito as mesmas palavras várias vezes naquele dia.

Fomos até uma sala enorme com janelas que iam do chão ao teto. — Então você veio porque viu o anúncio do Centro de Trabalho, certo? Sente-se, por favor.

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