Fanfic: * Céu azul * - fic abandonada | Tema: Romance

     A noite estava calma e o prostibulo não abriu, pois era uma segunda, dia de descanso das moças que ao invés de tirarem o dia para relaxar, resolveram se reunirem em um dos quartos para conversarem. Uma mulher ruiva estava mexendo no cabelo de uma bela jovem loira de cabelos cacheados, quando uma delas disse:

- Ate que essa semana foi boa não é Lili? – ela deu um riso pequeno e olhou para a amiga.

- Nem tanto assim, já tivemos dias melhores. – Shofie falou com um ar serio no rosto.

            Lili se levantou, foi até o som e pôs um cd com uns desenhos de umas flores para tocar. A melodia suave, tranqüila e adorável ecoou pelo quarto como uma calmaria adorável. Até uma das mulheres do quarto começar a cantar:

- Questa distanza tra noi, divide i momenti a metà, con la tua voce mi vuoi, ma con le parole non va, e chi puo risolvere, i problemi di noi due? – a voz dela é suave e forte ao mesmo tempo, assim como a cantora italiana.

- Essa musica é perfeita, mas eu prefiro a cantora italiana Amanda – quem falou foi Lili.

- Eu sei que você tem inveja porque eu sei cantar e consegui conquistar o velho advogado, não é? – Amanda deu um rizinho meio sarcástico.

- Não vamos brigar ok. Vocês deveriam é pensar em como podemos resolver o problema da divida que devemos a prefeitura. – dessa vez foi Shofie que falou com a voz forte.

            O prostibulo ao qual trabalhavam e moravam doze mulheres, quer dizer treze com a Sr. Samanta, que era a dona do local. Mas, mora também um homem, que mais parece uma mulher de cabelos na altura dos ombros e olhos bem pretos, ainda mais quando se maquiava. O local é muito famoso, recebiam homens casados, solteiros, velhos e até jovens, porém nunca adolescentes. A Sr. Samanta não queria arranjar problemas com o conselho tutelar por conta de garotos com os hormônios a flor da pele. Elas ganhavam um bom dinheiro, principalmente nos fins de semana e feriados como os religiosos, quando as mulheres saem para as virgilhas e os maridos ficam a vontade para viverem suas fantasias eróticas.

            Como poderia um local tão famoso, atraente acabar por conta de uma divida boba? Que de boba não tinha nada. A Sr. Samanta já havia recebido varias ligações e cartas da prefeitura querendo o pagamento do IPTU que estava mais do que atrasado. Pobre Sr. Samanta, o dinheiro que ganhava com as meninas era bom, porém não o suficiente para quitar a divida. Isso já estava retirando o sono da pobre mulher de 45 anos de idade, mas com um corpo de 32. Um sorriso branco como as nuvens e um cabelo, apesar de pintado, era bonito com mexas loiro entre os cachos grossos.

Amanda se levantou e disse para as colegas:

- Eu sei que parece ser muito difícil, mas precisamos de 15 mil. Onde vamos arranjar tanto dinheiro assim?

Camila cutucou a amiga que cochilava na cama, porém não viu nem uma reação.

- Nós vamos arranjar uma forma, eu pensei em organizarmos um grande show. Venderemos os ingressos, o que acham? – Shofie queria encorajar as meninas.

- É uma boa ideia, mas não nos faz ganhar o dinheiro que necessitamos – Camila falou para todas ouvir, em um tom um pouco alto que fez a amiga que estava dormindo acordar com o rosto de raiva.

- Já é um começo, vamos juntado até aparecer algo melhor. Podemos negociar com a prefeitura.

- O Fernando queria fazer um show só dele no palco e prometer uma noite incrível com algum belo homem – as mulheres deram uma risada que ecoou pelo quarto.

- Ele é sempre brincalhão, você acha mesmo que Samanta o deixaria realizar algo assim? – Lili foi quem se pronunciou, ela estava falante essa noite.

- Acho pouco provável.

            A noite já avançava quando cada uma das belas mulheres resolverão dormir, teriam um dia cheio no outro dia, apesar de não ser o dia mais cheio. A lua reluzia lá fora e o vento era calmo quando Shofie se deitou. A cabeça dela estava rodeada de pensamentos, a divida da prefeitura e o garoto. Não sabia se vai demorar a revê-lo, mas sabe que se não resolver o problema da divida ela certamente poderá não ver o garoto nunca mais. Ela adormeceu tranqüila em seus aposentos, porém não tão tranqüila quanto queria estar.

            Shofie sempre foi uma mulher forte, nunca desistia das coisas facilmente, nem nas dificuldades, porém, esse caso não envolvia apenas ela, envolvia as amigas também. Ela algumas vezes se lembrava da sua infância, de brincar com o pai e de chorar por relembrá-lo. Ele era amável e carinhoso, mas faleceu quando ela possuía 10 anos em um acidente de carro. Ela viveu com a mãe até os 15 anos, pois fugiu de casa. A morte do marido a fez ser uma consumidora de drogas, e não só de cigarros, mas também de remédios para dormir. Shofie não agüentava mais viver da forma que estavam a casa sempre suja e desarrumada. Ela não possuía vontade alguma de ir ao colégio, a mãe tinha perdido o emprego.

            Por várias vezes Shofie tentou colocar a mãe em uma casa de reabilitação para dependentes químicos, mas foi inútil. Shofie não possuía o contato com parentes, parecem até que eles haviam abandonado as duas no mundo como duas inúteis. Ela tinha perdido a vontade de freqüentar as aulas tão queridas de dança e fugiu de casa depois de longas visitas de uma Assistente Social que fez a sua mãe ser internada a força em um hospital quando houve a primeira overdose.

            Depois disso Shofie não teve mais contato com a mãe e passou a viver na rua, perambulando entre as calçadas e se esquivando dos perigos. Ela sempre foi uma garota bonita, seu rosto delicado com um queixo fino, olhos bem puxados e o cabelo ondulado. Por conta das aulas de dança ela possuía uma cintura perfeita, mas não uma vida que se orgulhasse. Ela entrou para a prostituição assim que completou 16 anos, foi quando conheceu um homem que lhe deu casa, comida e roupa em troca de prazeres sexuais com a bela jovem. Ela não gostava de lembrar-se dessa sua fase, escura e dura. Preferia lembrar-se do pai e de como ele brincava com ela, correndo pela casa como duas crianças.

            Conhecer a Sr. Samanta foi a melhor coisa que poderia ter ocorrido a sua vida, pois trouxe estabilidade e um pouco de paz. Ser prostituta não era nada de se orgulhar, entretanto era melhor que viver na rua se drogando. Shofie possuía pavor por drogas, isso a lembrava da mãe.

            O sol já estava bem alegre e radiante quando Shofie apareceu na sala de jantar junto às meninas. A mesa antiga de madeira estava farta e bela, e quase todas já estavam sentas comendo cada uma um pouco. Camila enchia a xícara de café já era o segundo, ela é uma viciada em cafeína a Sr. Samanta a repreendeu:

            - Vá com calma Camila, não queremos que adoeça. Prefira um suco, olhe pegue – toando a xícara da mão da garota entregou um copo com um pouco de suco de laranja.

            - Será que eu posso tomar o meu café em paz – ela parecia furiosa.

            - Não até se comportar com prudência e... – Samanta interrompeu a sua fala ao observar Patrícia colocar uma grande fatia de bolo no prato – Paty não faça isso, você tem que manter o corpo atraente.

            - É atraente, mas não passar fome – Lili sempre tirando graça de tudo, até de manhã bem cedo.

            - Eu não quis dizer isso, bom meninas eu vou ter que sair. Quero que algumas de vocês ajudem ao Fernando a arrumar o palco e o salão que está uma bagunça. Eu volto mais tarde, acho que não almoçarei com vocês hoje.

            - Aonde a Sr. vai? – Lili além de engraçada é muito curiosa.

            - Resolver problemas pessoais, quero tudo em ordem assim que eu chegar. – Samanta deu um ultimo gole no café que havia retirado da mão de uma das meninas e saiu segurando uma pequena bolsa preta.

            Samanta se mostrou um pouco misteriosa, porém apenas Lili se mostrou interessada em saber o que ela escondia. Samanta sempre foi muito discreta e nunca falava da sua vida para as meninas, nem que saia as sextas para ir a igreja rezar pelos pecados e para que os seus problemas fossem resolvidos. As garotas nunca haviam ouvido falar da família de Samanta, ela parecia não ter família como Shofia. O que importava ter uma se ela não o apoiava a seguir a vida de uma forma melhor que aquela.

            O prostibulo se chama Coroa de ouro e se situava em pequeno bairro. O prédio já estava gasto pelo tempo, precisava de uma reforma, porém o seu interior não precisava de tanta reforma quanto o lado de fora. Samanta fazia questão de manter o letreiro com letras douradas bem arrumadas, sempre que possível novo, isso era para chamar a atenção dos clientes e se destacar diante do prédio.

            As meninas terminaram o café deixando a mesa uma bagunça, porém não se importaram e foram para o grande salão que possuía muita sujeira e cadeiras desarrumadas assim como as mesas.

            - Alguém pode vir aqui em ajudar? – foi Fernando que se pronunciou, ele estava no palco que estava mal iluminado. Ele estava segurando a cortina e Camila foi logo ajudá-lo a arrumá-la.

            O palco estava ficando bonito com a cortina nova, vermelha com detalhes dourados. Ao fundo a parede possuía uma cor cinza metálico e no canto esquerdo um piano preto reluzente.

            - Obrigada Camila, agora pode limpar o piano para mim? – falou Fernando mais uma vez. A moça vez que sim com a cabeça e saio para realizar o ato – e vocês vão ficar ai apenas olhando é? Podem pegar a vassoura, pano e arrumando toda essa bagunça.

            Shofie começou arrumando umas mesas e logo todas estavam ocupadas limpando todo o local. Terminado o trabalho, todas estavam exaustas e famintas, porém tinham se esquecido de uma coisa importantíssima, quem preparou o almoço?

Amanda sempre fazia essa função, mas como ficou muito ocupada acabou esquecendo. Duas das moças foram para a cozinha e perceberam essa falha, seus estômagos roncavam muito, entretanto se lembram que havia macarão na despensa e um pouco de frango que sobrou do fim de semana. Lili bem habilidosa se encarregou de preparar a comida enquanto Helena limpava a mesa.

            Elas adoravam viver juntas com a Sr. Samanta, ela era uma espécie de mãe para elas, pois a maioria delas não falavam com a família a muito tempo. Viver neste local é um refúgio aos males da vida. Elas faziam tudo por esse lugar e pela Sr. Samanta, as vezes dura, entretanto muito amiga. Nenhuma das garotas pensavam que deixar aquele local, casar, ter filhos, construir outra vida fora daquelas paredes. Onde poderiam encontrar conforto como aquele? Elas davam duro todos os dias, mas valia apena, pois eram recompensadas. Não tiravam férias nem um só tempo do ano, mas mesmo assim gostavam do que faziam. Menos Shofia, ela nunca acho aquele trabalho muito bom, porém sua vida estava calma e tranqüila.

            As outras moças foram para a cozinha ajudar no almoço e outras foram tomar banho quando de repente escutaram um musica dançante ecoar no salão, elas correram para ver o que eram e encontraram Fernando no palco de costas. Quando a musica de Rihana deu seu alto ele se virou e começou a rebolar, estava com um shortinho rosa choque bem curto e uma camisa que deixava o pé da sua barriga amostra. Ele mexia os lábios como se estivesse dublando a musica Russian Roulete com emoção, parecia que algo havia tomado todo o seu corpo. Ele estava dançando muito bem, essa parecia uma apresentação de um show gay, que as moças estavam adorando. Para alguns poderia parecer cômico, mas para outros bem atraente era só escolher a roupa certa e a maquiagem que ficaria muito bom. Finalizada a apresentação, Fernando finalizou em uma posição muito sexi.

            As moças ecoaram em um couro de palmas e assovios, Fernando desceu do palco e perguntou se a apresentação havia sido boa e todas responderam que sim o abraçando. Ele pensou em falar com a Sr. Samanta para ver se ele poderia realizar um pequeno show, as meninas não acreditavam muito nele não, entretanto após essa pequena mostra puderam perceber o talento que Fernando possuí pela dança. Elas afirmaram que darão bastante força e apoio a ele. Amanda parou por um segundo e disse:

            - Vocês estão sentindo um cheiro esquisito? – parecia que ele vinha da cozinha.

            - Eu estou sim, meu Deus o macarão queimou. – Lili correu em direção a cozinha, mas para a sua surpresa apenas havia derramado um pouco de água no fogão e quase que a comida ia por água a baixo. Era muito divertida a vida agitada das moças do Coroa de ouro.