Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Anahí

Desci pisando duro! “Eu fiz papel de idiota passando horas e horas esperando por ela... E para quê? Para ela dormir fora?! Engraçado como ela consegue arrumar o que fazer até no meio do nada!”



Joguei a mala no banco de trás e entrei no carro. Peguei os CDs e selecionei
alguns que com certeza mostrariam qual o nível de conversa que eu esperava:
nenhum. Tianastácia, Raimundos, Pitty, Rolling Stones, Kaiser Chiefs, tudo o
que fazia bastante barulho e impossibilitava a conversa. Coloquei no som e
peguei mais alguns, afinal, seriam quase 8 horas de viagem, não queria correr o
risco de ter que iniciar uma conversa sequer além de “quero ir ao banheiro” e
“estou com fome”.



Alguns minutos depois Dul chegou. Colocou a mala no porta malas e entrou no
carro. Assim que entrou fez cara feia para a música que tocava, mas não mudou.
Pitty gritava “quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra.”. Não era
o meu tipo de música favorito, “masssssss”... A necessidade faz a ocasião.



Algumas horas viagem a dentro... Silêncio... Dul compenetrada na estrada, eu na
paisagem. Me perguntava o que ela tinha para falar, mas não queria de fato
perguntar. Dar o braço a torcer significava admitir estar errada e eu não
estava! Atendi o celular porque ela mandou, não precisava daquele show todo!



Adormeci, mas acabei acordando com a barulheira que fazia no som. Desliguei o
rádio, mas Dul voltou a ligar. Desliguei mais uma vez e novamente ela ligou.
Encarei-a querendo matá-la por fazer aquilo. Queria dormir, queria paz, mas ela
parecia ter resolvido me deixar mais irritada ainda.



Respirei fundo e deixei o som ligado. Conhecia Dulce, logo ela se cansaria
daquela barulheira toda na cabeça.



Dito e feito! Minutos depois ela desligou o som. Fiz questão de lançar um olhar
vitorioso e um sorriso irônico.



Algumas horas depois, recostei a cabeça no vidro e fechei os olhos, esperando o
sono me roubar mais uma vez.



- Tá acordada?Any?



Dul chamava baixinho. Pensei em responder, mas preferi ignorar.



– Anahí?



Suspirou.



- Affe, você é cabeça dura demais... Como eu consigo te explicar que não dormi
fora? Como eu consigo te fazer entender as coisas se você não me ouve? Poxa...
Eu disse que era para você atender o inferno do celular, mas não significava
que era para render o assunto!



Falava calmamente, sem alterar a voz. O monólogo estava ficando interessante.



- E quando eu escutei você falando do seu namorado, ai... Não sei... Ciúmes,
raiva... Eu só sai para esfriar a cabeça! Só isso! E quando cheguei você estava
dormindo! E quando eu sai hoje você também estava dormindo. Eu fui só na feira,
comer alguma coisa... E agora você está dormindo de novo... E eu aqui falando
que nem pobre na chuva sendo que não vai adiantar nada.



Uma pausa longa. “Ela não dormiu fora? Droga, Dulce! Por que você não me
explicou!?! Porque eu não deixei...”.



- Eu... Eu estou... Affe... Que diferença faz? Você está bem com o Poncho! E
talvez isso seja mesmo o melhor. Eu disse para você se entender com ele...



“E você, não está com a Lorena? Não esquece disso, você tem uma namorada.”



- E eu detesto quando você diz que eu tenho uma namorada! Detesto quando você
usa isso como uma forma de me punir! – disse parecendo ler meus pensamentos.



- É melhor mesmo eu te deixar... Hum... Que ironia isso... Corri tanto disso e
estou aqui. Dulce, Dulce... Você precisa de tratamento! – sorriu.



Já não sabia mais o que fazer. Queria dizer tanta coisa, mas não consegui
ordenar meus pensamentos. Fiquei durante muito tempo lutando contra o que eu
pensava, o que eu sentia...



“Será que eu estou entendendo certo ou é o que eu quero entender? Ela estava
dizendo que queria ficar comigo, mas em outras palavras? Não... Não é isso,
Anahí! Você quer que seja isso! É diferente! Ela só está se explicando... Só
isso!”



Meu coração estava disparado dentro do peito, inquieto como não se sentia a
muito tempo, desde o dia em que nos beijamos pela primeira vez.



Decidi não me mover. Decidi aceitar a explicação calada, sem replicar, sem
questionar. Talvez quando chegássemos eu conversasse com ela... Se ela ainda
quisesse conversar.



Chegamos em Belo Horizonte já era quase nove horas da noite. Além de termos
saído tarde, ficamos presas no trânsito imenso formado na entrada da cidade.



Apesar de saber que minha casa ficava perto da entrada de BH, ainda assim achei que ela pudesse querer discutir mais alguma coisa, sei lá! Me sentia culpada
por ter causado todo aquele desconforto e queria achar alguma forma de
compensar sem ter que dizer que escutei todo o monólogo. Mas assim que vi Dulce pegar a entrada pro condomínio, me desiludi completamente.



Parou o carro em frente à porta e, sem desligar o motor, desceu, pegou minha
mala e colocou em frente à porta. Eu permaneci imóvel dentro do carro. Não
acreditava na frieza com que ela estava me tratando, mas que eu mesma havia
pedido.



- Agora você está em casa. Boa noite – falou rispidamente, olhando para frente.



Fiquei boquiaberta com a postura de Dulce. Nunca tinha visto agir daquela
forma, mesmo quando estava chateada comigo. Senti o gosto do arrependimento
bailar nos meus lábios.



- Boa noite, Dul. Me liga quando chegar em casa?



- Se eu lembrar...



Fiquei olhando para ela por alguns instantes até que sai do carro.



- Me desculpe – seus olhos pousaram nos meus. Não estavam ternos como sempre,
nem quentes, muito menos brilhavam. Estavam foscos, escuros...



Ela estava realmente magoada. Caminhei em direção a porta e ouvi o barulho do
carro se afastar.