Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Anahí

Eu não entendi o que Dulce estava fazendo. Não entendi como ela podia provocar ainda mais Michele e por, alguns segundos, achei que ela pudesse estar querendo realmente ser assassinada. Mas aos poucos fui entendendo que, na verdade, ela estava tentando desestabilizar a segurança emocional que Michele tinha.

Incrivelmente deu certo. Ela foi ficando cada vez mais vulnerável, mais absorta na culpa e no desespero. Quando vi Michele se deitar, percebi que aquela era a chance que teríamos. Sem pensar duas vezes, movida pelo desespero, fui para cima dela, chutando a arma e pulando sobre seu corpo, dando socos por toda parte!

A raiva por tudo o que eu e Dulce passamos, o nojo que sentia por ela ter compactuado com o desaparecimento de tantas garotas me faziam ter forças de não sei onde! Que direito ela tinha de ter ajudado a estragar a vida de tantas famílias? Como ela podia ter tramado o assassinato da própria irmã? Eram as perguntas que me fazia enquanto desferia golpes contra o rosto dela e ela gritava palavrões e xingamentos.

Bati com toda vontade até que senti alguém me puxar com força, me tirando de cima de Michele. Me debati contra a pessoa até finalmente perceber que se tratava de um policial. Olhei para Michele e outro homem fardado estava segurando ela.

- Vocês não sabem com quem estão lidando!!! Vocês vão pagar por isso! Vou acabar com todas vocês!!! Vocês vão pagar por terem destruído minha vida!!! – disse aos berros.


Com dificuldade, o homem algemou Michele enquanto outro desamarrava Dul e Lorena. Um quarto homem vasculhava o apartamento com uma arma na mão. Olhei para a porta e vi papai, com um pedaço da camisa estancando o sangue do nariz. Corri para abraçá-lo.

- Está tudo bem, Anahí? Você se machucou! – falou tocando meu lábio. Só então notei que estava cortado. - Cadê a Dulce?

- Tá tudo bem sim, papai! Agora terminou tudo! A Dul tá... – virei o rosto em direção ao sofá onde ela estava e vi Dulce abraçada a Lorena.

Nesse momento eu quis matar Dulce com minhas próprias mãos!

Todo meu corpo ficou tenso, senti a raiva tomar conta de mim, pra logo após ser derrubada pela tristeza. Papai percebeu.

- Calma, Any! Temos que ir para a delegacia, prestar depoimento e essas coisas.

Me agarrei a papai chorando e desejando que aquela noite jamais tivesse acontecido.

Acompanhamos um dos policiais à delegacia. Estava extremamente irritada e triste! Era uma hora difícil e eu não tinha o direito de ser egoísta daquela forma, mas eu esperava que aquele abraço fosse meu, que fosse eu em seu ouvido dizendo que estava tudo bem agora. Mas ao contrário, era Lorena para quem ela havia se virado, era nos braços de Lorena que ela estava aninhada.

O caminho todo me corroí com a visão de Dul agarrada a Lorena! Não que eu tivesse feito aquilo para que ela se sentisse agradecida e viesse para os meus braços, mas eu esperava pelo menos um “como você esta?”.

Alguns minutos depois de chegar na delegacia, Lorena chegou acompanhada de outro policial e de Michele, que estava algemada. Notei que Dulce não estava junto e supus que estaria a caminho. Alguns minutos se passaram e ela não chegou.

- Papai... A Dulce não veio...

- Vou perguntar ao policial.


Papai se levantou e foi até o homem que havia trazido Lorena e Michele. Assim que papai chegou perto do policial, Lorena caminhou em minha direção.

“Não! Não vem pra perto de mim senão eu que vou tentar matar alguém agora!”

- Er... Eu queria agradecer por você ter salvo a vida da gente. Muito obrigada.

- Ok. Vocês teriam feito o mesmo – “não, ela não teria feito o mesmo, tanto que não fez!”

- Eu e a Dul ti...

- Olha, Lorena, não é porque aconteceu tudo o que aconteceu que vamos nos tornar amigas de infância! – disse arrogante, magoada.

- Ou, calma!!! Só ia te dizer que tivemos muita sorte por você estar lá. E outra, você deveria engolir esse ciúmes idiota e se perguntar se ela está bem.

As palavras de Lorena entraram em mim como agulhas!

- Como assim? O que houve com ela? – a preocupação tornou a me invadir.

- Você fica ai, trancada no seu mundinho egoísta e não vê nada que acontece em volta! – essa não era a primeira vez no dia que escutava alguém me chamar de egoísta e estava começando a acreditar nisso. – Ela foi para o hospital. Ainda não sei o que aconteceu, mas já liguei para a Maite para ela ir ficar com a Dul. Sinceramente, não sei o que ela viu em você, mas espero que não seja seu altruísmo!

Se afastou me deixando como um trapo. Me senti um lixo com as palavras de Lorena. Sabia que ela não estava errada.

Precisava de notícias da Dulce! Precisava saber como ela estava! Peguei o celular e liguei para Marina.

- Mai, o que aconteceu com a Dul?


- Ainda não sabemos... O médico disse que pode ser uma crise nervosa pós traumática, algo assim... Mas vão fazer alguns exames para ver se está tudo bem. Eles deram um calmante para ela e agora está dormindo. A Lorena não me disse direito o que aconteceu... Você está bem?

- Estou... – “muito envergonhada”, pensei. – Muito preocupada com ela...

- Você foi muito corajosa, Any! Obrigada!

- Não... Não fui... Eu sou é muito egoísta, Maite. Mas qualquer notícia você me liga? Promete?

- Ligo sim. Depois quero que você me explique tudo, ta bom?

Depois de pegar o endereço do hospital, me despedi e desliguei um pouco mais aliviada de saber que elas estavam cuidando da Dul.

Prestamos depoimento, contando quase tudo, exceto a parte do dossiê e investigações que fizemos. A polícia nos contou que Ricardo estava foragido, mas que agora todos os países estavam em alerta por estarem desconfiados de ser uma rede internacional que estava ligada a diversos crimes.

Lorena deu seu depoimento depois de nós. Pedi para papai que esperássemos por ela e a deixássemos em casa. Não poderia deixar ela voltar para casa sozinha e também queria me redimir da grosseria.

Papai estacionou na portaria do prédio de Lorena. Ela agradeceu e saiu do carro, em direção a entrada. Desci e fui atrás dela.

- Lorena... Queria me desculpar pelo modo como falei contigo... Eu estava nervosa...

- Não se preocupa, Anahí. Sei exatamente como você se sentiu... Está tudo bem.

- Não, é serio... Desculpa mesmo.



- Olha, eu sei que você é apaixonada por ela... Eu também sou. E isso nos torna hostis mesmo quando não queremos ser – ela falava com um ar cansado e resignado. Parecia conformada com a situação.

Balancei a cabeça afirmativamente e voltei para o carro. Papai e eu quase não conversamos durante o caminho. Cheguei em casa e fui direto para o banho, depois deitei na cama, mas não consegui dormir.

Fiquei pensando no modo como Lorena havia falado comigo. Por alguns segundos tive inveja dela. Sempre tão calma e tranqüila... Tão diferente de mim. Eu finalmente entendia o que Dul queria dizer com ela ser estável.

Acordei cedo pois apesar de quase não ter pregado o olho durante a noite. Precisava ver a Dulce... Precisava saber que ela estava realmente bem.

Tomei café e fui para o hospital.

Cheguei na recepção e perguntei por ela e me disseram que já havia tido alta. Senti um alivio enorme por saber que ela estava bem.

Liguei para Maite para saber se estava tudo bem.

- Oi, Any!

- Oi, Mai... Tudo bem?

- Pode parar de enrolar! – uma gargalhada – A Dul está bem sim, mas está descansando.

- O que aconteceu com ela ontem?

- Foi mesmo um efeito pós traumático. Só uma crise nervosa. Já está tudo bem.

- Será que eu posso ir ver ela?

- Acho melhor ela descansar, Any... Ainda tivemos que passar na delegacia depois que ela teve alta.

- Hum... Tudo bem. Pede ela para me ligar depois?

- Peço sim! Ela me contou tudo o que aconteceu... Realmente, guria, você é louca! Mas muito obrigada por ser!

- Que nada. Bom, vou para casa descansar também. Obrigada, Maite. Qualquer coisa me avisa, por favor.

- Não esquenta! Tchauzinho.

Passei o dia todo na cama, com papai indo algumas vezes ver se eu estava bem ou levar algo para que eu comesse. Olhava para o celular várias vezes para ver se ela ligava, mas nada. Meus dedos coçando para discarem os números dela, mas me segurei e não o fiz. Quando ela pudesse, ligaria.

Adormeci esperando.

Levantei com o corpo dolorido. A primeira coisa que fiz foi olhar o celular e ver se tinha alguma chamada. Nenhuma.

Já se passavam das onze e eu não iria mais esperar que ela me ligasse. Tomei um banho, me vesti, tomei café e peguei as chaves, decidida a me declarar para ela, a contar toda a verdade sobre o fim do meu namoro e sobre o que eu sentia por ela. Sem meias palavras, sem brincadeiras e sem brigas. Eu queria acabar com todo aquele mal entendido que tinha se instalado na nossa história.

Procurei papai, mas não encontrei. Acabei me lembrando que ele disse que iria na casa de mamãe, ver como ela estava.

Entrei no carro e dirigi apreensiva, sem pressa, mas determinada no que ia fazer. “Não posso passar mais nem um dia sem ela na minha vida. Não posso passar mais nenhum dia sem aqueles sorrisos ou sem aquela escuridão dos olhos dela.”

Estacionei na frente do prédio e sai do carro. Ao levantar os olhos, me deparo com Lorena e Dulce juntas, na portaria, presas em um abraço muito... Íntimo!

Sem pensar, entrei novamente no carro e sai dali, com uma dor enorme, incalculável!