Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Dulce

As coisas fugiram do meu controle. Acho que já sabia que aquilo poderia acontecer desde o momento em que vi Any saindo do banho.

Quando senti seus braços ao redor do meu pescoço e aquele olhar indecifrável, meu corpo se rendeu completamente. Tentei dizer que talvez não fosse o mais... Digamos, sensato, mas nem eu daria credibilidade as minhas palavras naquele momento.

- Quero... Desde a noite passada não consigo parar de pensar em você...

Tentei argumentar, mas antes que eu conseguisse pronunciar qualquer palavra, senti nossos lábios se encostarem em um toque suave. Nossos lábios se tocavam docemente, em pequenos beijos, como se estivessem se conhecendo, sendo apresentados. Aos poucos, aquele contado suave, foi se tornando intenso, nossas bocas se abriram para uma exploração mais intima, uma sensação maravilhosa e perturbadora ao mesmo tempo. Nossos corpos cada vez mais próximos, como se fôssemos nos fundir. O beijo cada vez mais carregado de desejo e intenções.

Caminhávamos lentamente em direção a algum lugar que não sei qual era, total era a minha absolvição... Foi então que o barulho estridente do meu celular interrompeu tudo. Paramos de nos beijar e nos olhamos, sem fôlego e sem o que dizer. Sentia meu rosto ardendo, de desejo, de timidez... E de vontade de matar quem atrapalhou. Ainda abraçadas, tive que quebrar o silêncio.

- Deve ser as meninas... Acho melhor eu atender. - disse me sentindo mais envergonhada ainda pelo bendito celular não parar de tocar. Any apenas balançou a cabeça com um sorriso tímido. 

     ***       

Anahí              

"Maldito seja o ser humano que inventou o celular!" Foi o primeiro raciocínio coerente que tive desde que entrei naquela sala. Dul foi atender o celular e eu, com as pernas completamente trêmulas, me joguei no sofá esperando que ela acabasse de atender. "É... se for curiosidade, ainda não foi saciada. Como pode existir alguém assim? Tão doce, tão intensa... tão... excitante. Não sei qual parte eu não consigo aceitar, se é o fato dela conseguir me deixar assim só com um beijo ou se é o fato dela ser mulher e me deixar assim." Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Dul.

- Anahí, eram as meninas. Estão no bar esperando a gente. Acabamos perdendo a hora... - disse sorrindo, tímida como sempre. - Você... ainda quer ir?

- Queria... Porque? Você não quer mais ir? - disse me sentando no sofá e olhando para Dul.

- Não! Eu quero! Não é isso... é que eu pensei que... ah, deixa! Então vamos? - percebi que Dul havia ficado confusa e senti um pouco de medo disso. Achei que o certo seria eu ter ficado confusa, afinal, ela era sempre tão decidida, tão segura e agora se mostrava tão tímida e sem jeito com o que estava acontecendo. "Acho melhor controlar meus impulsos... pelo menos um pouco."

Entramos no carro caladas. O silêncio de Dul me incomodava.

"Será que fui precipitada? Talvez eu não devesse ter feito aquilo... mas ela parecia querer também e, se ela não quisesse, teria dado um jeito. Ai, meu Deus, agora eu fico aqui, sem saber o que fazer, como me comportar, o que dizer... Mas que beijo maravilhoso tem essa mulher! Se contenha, Anahí! As coisas não parecem estar a seu favor nesse momento. Quer saber? Vou é ficar quieta! Isso mesmo!".

Abri o porta-luvas do carro e procurei algum CD para diminuir o silencio constrangedor. Coloquei um que estava escrito "vários". No som, Paulinho Moska cantava Pensando em Você, e eu estava absorta na letra da musica e ainda com o gosto daquele beijo na boca.

- any...

- Sim... - disse com o coração aos pulos.

- Me desculpe... - Estava com os olhos fixos na rua, enquanto eu a olhava tentando adivinhar o que viria a seguir. - pelo que aconteceu na sua casa... Não quero que você pense que eu te chamei para sair na intenção de que acontecesse algo... Eu só... Queria me desculpar. Foi um erro... - Senti um nó na garganta ao ouvir aquelas palavras.

- Não precisa se desculpar. De forma alguma pensei que essa era sua intenção.- abaixei a cabeça e senti como se meu coração houvesse parado naquele momento. Minha vontade era de sair dali correndo, de gritar e brigar com ela, mas eu podia fazer o quê, se nem eu sabia ao certo o que estava acontecendo e o que eu queria.

Silêncio novamente. E agora o desconforto havia criado um abismo no qual tentava me atirar.  Fomos o resto do caminho assim, somente com o som de alguém cantando... Alguém que já nem me dava mais conta de quem era. Me sentia... triste. Sim, triste com a "desculpa" de Dulce... Magoada, com raiva. Me sentia idiota. "Será que ela não entendeu quando eu disse que não conseguia parar de pensar nela? Se é um erro, porque ela correspondeu ao erro?"

Chegamos ao bar, e o lugar parecia muito legal. Subimos as escadas e entramos num espaço enorme, com uma iluminação mais fraca, composta basicamente pelas luminárias nas paredes, um palco na frente e várias mesas dispostas no meio. Nas laterais havia alguns sofás com mesas baixas na frente e um bar que ocupava grande parte da parede direita do lugar. Tudo num estilo bem retrô. Gostei bastante do lugar e senti que o desconforto me abandonava.

Assim que entramos, Dul avistou suas amigas em um dos sofás que ficava perto do palco. Olhou para mim, pegou minha mão e fomos abrindo espaço no lugar que estava fervilhando de gente. Nos sentamos e ela me apresentou duas meninas que eu ainda não conhecia, as outras duas eu já conhecia pois convivia a algum tempo com elas.

Olhei ao redor e observei um pouco as pessoas. Gente de todos os tipos. Exceto os garçons, só havia mulheres. Depois fui descobrir que era a noite das mulheres no bar. Havia mulheres de todos os tipos! Femininas, masculinas, gordas, magras, altas, baixas...

- E ai, Any! Resolveu soltar o seu lado gay hoje? - disse Maite, uma das amigas de Dul que eu já conhecia, em meio a gargalhadas. Já havia acostumado com as brincadeiras de Maite e gostava bastante dela. Além dela ser a melhor amiga da Dul e quase sempre passar na faculdade, ela e a namorada saiam várias vezes com a gente.

- Pois é! Até me produzi para levar embora todos os corações femininos! - disse olhando pelos cantos dos olhos para Dul.

- Olha, se quiser uma ajudinha, posso te apresentar algumas moças bem interessantes! - disse em tom de brincadeira.

- Ah, não dispenso não! Ainda mais que meu namorado me trocou pelo trabalho essa semana inteira! Preciso de atenção! - Disse aos risos, enquanto via uma mulher muito bonita passando ao meu lado. - Maite, pode ser aquela ali! Muito bonita ela! - disse dando uma piscadinha para maite.

- E onde entra aquela história de que eu seria sua namorada essa noite, hein? - disse Dul séria.

- Você não quis. Esqueceu? - alfinetei-a enquanto ela me fuzilava com o olhar.

- De forma alguma! Eu disse que seria! Mas já que você está procurando alguém para isso, vou começar a procurar também! - disse olhando para os lados. Enquanto isso, as meninas se divertiam com nossa discussão.

- Quer saber? Vocês duas precisam de uma bebida! - disse Angel, namorada de Maite, chamando o garçom.