Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Dulce

A fila para o caixa estava gigante e isso me deixou apreensiva. Sabia que Maite me conhecia muito bem e sabia que ela tinha notado que havia algo diferente. Estava prestes a responder um interrogatório.

Conheci Maite no segundo grau. Tivemos uma relação um tanto quanto conturbada. Eu estava me descobrindo homossexual e Maite era minha melhor amiga. Achei que estava confundindo as coisas, mas, no final das contas, acabamos mantendo uma relação de um ano e três meses, cheia de discussões, outras pessoas e descobertas. Acabamos nos tornando amigas inseparáveis, irmãs.

- O que está acontecendo, Dul? - Maite disse levantando a sobrancelha direita. Algo que ela sempre fazia quando estava encucada com alguma coisa.

- Nada... Por quê? - fingi de desentendida procurando a carteira dentro da bolsa.

- Não se faça de boba, Dulce Maria! Eu sei muito bem que alguma coisa está pegando entre você e a Anahí! acha  que eu não vi as trocas de olhares, a discussão sobre ser ou não namorada por um dia, as pouquíssimas palavras que trocaram... Dul, eu te conheço.

- Ai, Maite... Não sei.

- O atraso de vocês não tem nenhuma correspondência com o trânsito, né? - fez uma pausa como se estivesse analisando a situação. - Vocês ficaram, não ficaram? - levantou a sobrancelha e foi inevitável não fazer cara de culpada. - DULCE! - disse balançando a cabeça em reprovação.

- Ai, Maite! Não briga, tá?! Já estou me sentindo culpada o bastante! Ficamos sim, mas não foi algo que eu provoquei. Aconteceu! Eu queria ter conversado com você antes de virmos pro bar, mas você estava na casa da Angel. Acabei deixando pra lá - arqueei os ombros.

Sempre considerei Maite a minha "consciência". Ela me dava conselhos e me ajudava nas minhas confusões, mas tinha muito medo das broncas dela.

- Vamos fazer o seguinte... Quando eu acordar passo na tua casa pra conversarmos, tá?

- Tá bom! - disse me dirigindo para o caixa.

Nos despedimos na saída do bar e Any e eu retornamos ao carro. Me sentia um pouco envergonhada, não sabia como agir... Estava com vontade de conversar, mas não sabia sobre o que. Nunca gostei do silêncio. Sempre achei que ele grita mais do que qualquer palavra que seja dita e, naquele momento, tive certeza disso. Tudo o que queríamos dizer, tudo o que pensávamos, parecia circular dentro do carro, deixando o ar denso e pouco respirável.

Olhei para Anahí através do retrovisor. Estava recostada no banco, com a cabeça virada para o vidro. Olhava para fora. Parecia distante, com pensamento e olhar longe. Pensei em uma forma para exorcizar aquele silêncio.

- Está dormindo? - perguntei em tom de ironia.

- Uhum.

- Isso significa "Cala a boca, Dulce Maria, porque eu não quero conversar com você!"? - indaguei com voz de resignação, tentando quebrar o clima tenso. Percebi que não haveria respostas. - Tudo bem. Eu fico calada...

Retornei meu olhar para o caminho, mas antes que eu pudesse raciocinar novamente, acabei dizendo algo que meu subconsciente queria revelar desde a noite anterior.

- Não quero me magoar. - disse sem tirar os olhos da estrada.

Any endireitou o corpo e ficou me olhando, como se tivesse engolido sem mastigar o que acabei de lhe dizer. Senti meu rosto enrubescer com aqueles longos segundos de observação.