Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Dulce

Mais uma vez acordei com o celular tocando.

"Mas que droga! Será que as pessoas resolveram não me deixar dormir nunca mais?!? Eu preguei chiclete na cruz... só pode!" .

Novamente, com minha mais efusiva voz de sono, atendi o celular.

- Por favor, onde é o incêndio? Tenho que perder essa mania horrível de deixar o celular ligado durante a noite! - sequer olhei quem estava ligando, fui logo despejando meu mal humor.

- Noite??? Onde você está vendo noite, Dulce? Já são três horas da tarde e você está pensando em noite? Tenha dó! Levanta dessa cama e vem abrir a porta - em seguida, tudo que ouvi foi o "tu, tu, tu" do fone desligado em minha cara.

Encarei o relógio... "Droga! Não estou preparada para uma conversa com a Maite!", pensei enquanto me levantava em direção a porta.

- Bom dia, May... - disse coçando os olhos.

- Boa tarde, senhorita Dulce Maria. Poxa, estou aqui há meia hora tocando campainha e batendo na porta! - esbravejou enquanto entrava. Maite sempre foi muito tempestuosa, odiava esperar e sempre fazia um vendaval quando eu a deixava de plantão, como ela dizia.

- Desculpe, Ma. Acho que a campainha está estragada. Pedi o zelador pra vir olhar, mas acho que também não ouvi ele chamar. Nossa... Estou explodindo de dor de cabeça. Esqueci completamente que você viria - joguei-me no sofá, abracei a almofada e me aconcheguei fechando os olhos.

- Dul, você chegou que horas em casa ontem? Não me diga que aconteceu mais alguma coisa? - disse levantando a sobrancelha.

- Não, Maite... Não aconteceu mais nada. Quer dizer... Aconteceu um beijo. Só isso - encolhi-me com o travesseiro, apertando contra mim, como criança quando faz bagunça e está confessando seus atos para a mãe.

- Affe, Dul... Tenho medo que você se machuque mais uma vez, moça! Me conta, o que aconteceu? - disse se sentando ao meu lado e colocando minha cabeça em seu colo.

Contei tudo o que havia se passado, desde a madrugada em que Any veio me ver, até o momento em que a deixei em casa. O fato é que não consigo esconder as coisas da Maite por muito tempo e nem gosto. Depois de anos de amizade, e muita água correndo debaixo da ponte, as pessoas acabam se apegando demais as outras. Apesar do nosso conturbado affair, conseguimos manter uma amizade tão forte que muitas pessoas invejavam.

- Nossa, Dul... Você tem o dom, meu bem! Você só atrai heterossexuais! Cruzes! Você tem que se benzer! Isso não é normal! Mas tenho que admitir: ela tem atitude! Mulher de atitude... Quer saber?!? Gostei dela! - disse gargalhando. Sorri também.

- Mas, May, eu não quis! Sim, eu acho ela bonita, interessante, e eu sempre soube que ela seria alguém com quem eu gostaria de ficar, mas não tinha me apaixonado! Não tinha olhado exatamente como mulher!

- Não TINHA se apaixonado? - enfatizou a palavra tinha. - virou presente esse verbo?

- Não sei... Quer dizer, não! Não virou! Ai, Maite, eu tô confusa. Não sei como as coisas ficarão de hoje em diante. Não sei mesmo.

- Acho que vocês não têm que fazer nada. Como ela disse, de hoje em diante não tocarão mais no assunto. Estou vendo a mesma história se repetindo, porém com algumas diferenças minúsculas. Toma cuidado para não se magoar. Acho que você deveria começar a sair mais, sabe?! Procurar pessoas novas! Você fica a semana inteira enfurnada nesse apartamento, trabalhando, trabalhando, trabalhando! Dulce, você não tem vida, mais! Tive que ficar te implorando para sairmos! Quando foi a última vez que você se envolveu com alguma mulher livre, desimpedida, e descomplicada?

- Defina "envolver"! - brinquei e Maite me fuzilou com o olhar. - Desculpe. Sei que preciso... Vou ver o que faço.

- Não quero ser dura, meu bem, mas não quero te ver sofrendo também! Tem tantas mulheres sem complicações no mundo, dul, porque escolher as mais complicadas entre todas? Se fossem somente comprometidas, menos mal...

- Eu sei... Eu sei... Obrigada - nós nos abraçamos.

- Vamos sair hoje?

- Não posso. Deixei de terminar o site que preciso entregar amanhã. Acabei ficando distraída com a Anahí e não terminei. Tenho que terminar.

- Começou...  Está bem, mas semana que vem, está intimada!

Depois que nos despedimos, fui dar um jeito no meu aspecto quase fúnebre. Olheiras profundas e uma cara amassada de noite mal dormida, compunham meu aspecto. Tomei um longo banho de banheira, preparei um lanche e fui trabalhar.

Tentei afastar de todas as formas os pensamentos que envolviam Anahí, mas, vez ou outra, ainda me assombrava. Acabei trançando um parâmetro mental entre ela e Lorena, mas afastei, vendo o absurdo que era aquilo. Desliguei-me de tudo e me concentrei no trabalho.