Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Dulce

- Sabe, Lorena, você fez tudo muito perfeito... Você fez todos os nossos amigos acreditarem que você o amava, e todos me diziam isso com toda certeza. Se foi tudo um teatro, você conseguiu convencer a todos. Principalmente a mim. Engraçado isso.

- Combinamos que não teria sarcasmos nem metáforas, lembra?

- Desculpe. Não percebi que estava sendo sarcástica.

Silêncio... Silêncio torturante, ensurdecedor. Acho que odeio o silêncio, de alguma forma.

- Sabe, você disse que eu não tenho idéia de quanto você sofreu. Mas sofrer não é prêmio para ninguém, não é mérito. Seria mérito se estivéssemos contando como não sofremos. Mas já que estamos praticamente desabafando sobre quem sofreu mais... Às vezes, as pessoas causam estragos tão grandes na gente que não conseguimos nem saber quais estragos são. Às vezes, as feridas parecem fazer parte do que somos e nos acostumamos com elas. Então as deixamos lá e fazem como árvores. Criam raízes, galhos, folhas e depois... Começam a dar frutos.

- Essa sua amargura é culpa minha?

- Isso não tem nada a ver com amargura. Não sou amarga. Se sou assim contigo é porque você me fez ser assim com você. É tudo apenas um reflexo das suas atitudes. Olha, eu não duvido do que você diz, mas não consigo acreditar. Não sei o que sinto a respeito. Não posso falar com você que esperava que esse dia chegasse. Eu quis que ele chegasse, mas há muito tempo parei de querer - dei um sorriso sem graça. - Sabe, eu ficava deitada na cama, imaginando que você poderia aparecer a qualquer momento, dizendo que era tudo mentira, que queria ficar comigo, que estava só confusa e pressionada. Mas os dias passavam e você não vinha. Imaginava ver seu nome na tela do meu celular, e pensava em mil e uma conversas que poderíamos ter até dizermos que nos amávamos e ficar tudo bem. Mas eu sempre fui melhor pra imaginar coisas fora do mundo real do que dentro dele - senti um nó na garganta. - Depois do acidente dos meus pais, pensei que você finalmente iria aparecer. Eu precisava de alguém com quem eu não precisasse ser forte... Mas você não apareceu. E foi assim que eu fui perdendo a ilusão e a expectativa de esbarrar com você, ou de algum telefonema, sms, sinal de fumaça... E tive cada vez mais certeza de que nossas vidas não faziam mais parte da mesma coisa. Só isso.

- Eu soube do acidente. Quis muito estar perto de você, mas estava em Fortaleza - sorri depois do comentário.

- Pois é... Você estava em Fortaleza.

O silêncio invadiu novamente o espaço. Comecei a observar as pessoas ao redor. Os casais, os velhinhos fazendo caminhada, algumas pessoas caminhando com cachorros. Já era tarde, mas aquela praça sempre ficava cheia, por estar em um dos órgãos vitais da cidade.

- Dulce... - senti sua mão segurar a minha, um arrepio percorreu meu corpo e me fez lembrar a primeira vez que senti aquelas mãos nas minhas. Senti uma inquietação em mim, mas não consegui retirar minha mão debaixo da dela. - Eu não sei se tenho o direito, mas gostaria de tentar... De continuar de onde paramos.

- Não tem como continuar de onde paramos, Lorena. Porque nós paramos assim. Aqui.

- Então me deixe tentar de novo. Eu não quero começar com promessas nem com mentiras. Eu estou aqui, sem nenhuma máscara, sem nada para esconder... Estou querendo que você me veja da forma como estou. Preciso de você. Não sei como, mas sei que as coisas não morreram assim - olhei em seus olhos. - Dulcinha, eu sei que não morreu. Deixa eu te fazer feliz?

Senti seu rosto se aproximar do meu, seus lábios encostaram-se aos meus, transformando aquele contato em um beijo que parecia a muito, muito tempo desejado. Senti um gosto conhecido, sensações conhecidas, o jeito de segurar meu rosto enquanto me beijava, o modo como sua língua buscava a minha... Sem pensar, retribui o beijo com toda a intensidade e desejo que eu havia guardado por todo aquele tempo. Naquele momento, éramos as mesmas.