Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Dulce

Com os estresses da noite anterior, não consegui acordar cedo. Ao abrir os olhos, tateei o lado esquerdo da cama e não senti o corpo de Lorena ao meu lado. "Já deve ter ido embora".

Estiquei-me na cama, espreguicei e fui para o banheiro. A noite de sono havia me feito bem, porém, quando olhei no espelho, ainda estava com um inchaço na região da bochecha e o corte em meu lábio agora estava mais nítido. Senti o ódio me invadir.

Entrei no banho e demorei, pensando em como eu poderia resolver essa situação. "Não sou mulher de deixar um tapa assim, em branco... Nem meus pais levantavam as mãos para mim!"

Sai do banho e senti um cheiro bom vindo da cozinha. Fui até lá e encontrei Lorena no fogão. Parei na soleira da porta observando aquela imagem que eu nunca antes havia imaginado. Lorena cozinhando!

Ela era quase uma dondoca quando namorávamos. Não chegava nem perto do fogão! "Realmente é uma imagem muito engraçada... Um charme!". Lorena se virou e me viu parada a observá-la. Parecendo adivinhar meu pensamento, sorriu um sorriso moleque.

- Bom dia, dorminhoca! - caminhou até mim e beijou meus lábios. - Dormiu bem? Bom, como eu vi que você não come comida, resolvi preparar o almoço! Espero que esteja comível! - voltou para as panelas.

Sorri, me deliciando com aquela situação.

- Dormi bem sim! - aproximei-me das panelas, roubando um pedaço de cenoura e ouvindo os protestos. - Achei que você tinha ido embora. Olhei pra cama e tava vazia, nem sinal de outra vida em casa. E você? Dormiu bem?

- Na verdade, fiquei te olhando dormir. Você fala muito enquanto dorme, sabia? Não tinha essa mania!

- Falei muito, é? O que eu falei?

- Só um pouquinho... Mas você me deve uma conversa, Dulcinha. O que existe entre você e a decaptadora? - disse virada para as panelas, enquanto eu me sentava no banquinho do balcão.

- Nada...

- Nada significa o quê? Ela namora, você sente algo por ela, ela por você, vocês ficam e não tem um relacionamento?

Espantei-me com o modo natural como Lorena definiu minha relação com Anahí, mas fiquei mais tranqüila daquilo não virar uma discussão.

- Mais ou menos isso. Ela não sabe o que quer... Normal. É sempre confuso pra todo mundo.

Lorena parou de mexer com a comida e ficou de frente para mim, com o balcão nos separando. Olhou em meus olhos como se interrogasse cada um dos matizes do meu olhar.

- E você? Sabe o que quer?

"Não, não sei... O que eu respondo? Não adianta mentir! Não adianta correr de Lorena! Podemos ter mudado, mas ela ainda conhece minha essência, sabe que eu não gosto de mentiras. Quando as coisas dão para dar errado, dá de uma vez! É a lei de Murphy que me persegue! Se algo está ruim, tem como piorar! Meu rolo com Anahí, Lorena surgindo das cinzas, aquele imbecil, o maldito cliente que até hoje não decidiu o que quer... Ai meu Deus! Facilita as coisas pro meu lado, vai!".

Passei a mão pela testa, respirei fundo e me preparei para o que iria dizer a seguir.

- Não.

- Hum... - ergueu as sobrancelhas apertando os lábios e voltou para as panelas. - Vocês viram a cara do assaltante ontem?

- Não... Foi tudo rápido demais.

- Vocês reagiram ao assalto? - "Aonde você quer chegar com essas perguntas, Lorena?!?".

- Não... Ele ficou nervoso com o fato de não estarmos com dinheiro...

- Engraçado... A Anahí não quis mesmo ir a delegacia, né? Estranho isso... Mesmo vocês não tendo visto a cara do ladrão, a primeira coisa que nós queremos é entregar eles!

- É... a Anahí não gosta muito de delegacias...

- Vai me contar a verdade ou vamos continuar brincando de gato e rato? - foi direta.

- O que você quer que eu te conte?

- Por que você está com seu lábio cortado, por que Anahí foi sufocada a ponto de estar com marcas de estrangulamento no pescoço... Por que a troca de olhares quando o Poncho perguntou o que havia acontecido... Porque, se tivesse sido mesmo um assalto, vocês teriam ido a policia! Afinal, estão com marcas de agressão. E ai, vai me contar?

- Lorena, é um assunto delicado.

- Você está envolvida com drogas, Dulce Maria? - lançou-me um olhar de repreensão.