Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Dulce

Respirei profundamente, como se estivesse
absorvendo as palavras de Anahí e me sentei na mesinha de centro, de frente pra
ela. A verdade é que não sabia o que falar para ela.

Como explicar tudo o que estava acontecendo se nem eu mesma conseguia entender?



- Any... eu não sei o que te dizer.



Um sorriso irônico acompanhado de um balançar de cabeça foi a resposta dela
para o que eu havia dito.



- Você me disse que queria só a minha amizade e que iria tentar com o Poncho!



- E daí você foi correndo para os braços dela, né? Não, Dul! Essa era para ser
a parte onde você deveria ter paciência e esperar. E é como se você não
soubesse o quanto é difícil querer uma mulher! Prefiro que você diga que a quer
do que jogar a culpa em mim, pelo que eu disse! Se você a ama, ótimo! Case-se
com ela, mas me diga! Não me deixe ficar pensando que eu posso sonhar com
isso... Se você realmente acha que vale a pena ficar com ela, vai em frente,
fique! Mas saiba que ela não pode te dar nada mais do que já te deu. Vai ser
apenas um remix do que foi. Eu fui o quê? Seu desejo de levar mais uma hétero
pra cama? Foi isso? Foi apenas uma atração de momento, uma diversão? Você curtiu
e foi só?



- NÃO! Pára, Anahí! Não foi nada disso! Você não é só uma diversão! E eu não
estou jogando a culpa em você!



- Então, por favor, me explica! – ergueu os ombros. Seu olhar agora era triste.
Detestei profundamente ver a tristeza naquelas íris.



- Anahí, eu sei que te disse que não sentia nada mais pela Lorena e eu
realmente achava que não sentia. Quando vi ela na minha frente aquele dia, eu
fiquei confusa, minhas certezas caíram por terra! O que eu estou tentando dizer
é que eu ainda sinto algo forte por ela... Não queria sentir, não quero, mas
sinto!



- Não quer sentir? Então, como me explica o almoço em “família” de vocês hoje?
Por uma força do acaso vocês se encontraram bem na porta do restaurante e
entraram juntinhas? E não tinha mais mesas vagas e ela teve que se sentar com
você? Ah, me poupe Dulce... Eu não sou mais criança! Fala a verdade de uma vez!



- Any... – toquei suas mãos.



- Não me toca! – disse afastando bruscamente as mãos das minhas. – Eu só quero
a verdade, Dulce! A verdade sem rodeios, sem floreios e sem máscaras. Só a
verdade... Muito difícil para você?



- Ontem a Lorena me pediu uma chance para nos conhecermos novamente, para
tentarmos do zero e eu aceitei.



- ”ótimo! Era o que eu precisava saber – disse se levantando.



Segurei em seu braço e a puxei de volta para o sofá. Olhou-me com fúria e abriu
a boca pra dizer algo, mas a impedi.



- Ainda não acabei! Você não foi e não é nenhuma diversão para mim! Cada beijo
e cada momento que passamos eu estava lá, vivendo eles com você, com a mesma
intensidade que você viveu! Eu não quero te magoar, não quis em momento algum
isso. Você acha que eu não sinto vontade de te beijar? Acha que gosto de te ver
com o Poncho? Acha que não penso em você quando chego em casa e nos vejo
deitadas aqui, nesse tapete?



- Eu sinceramente não entendo, Dul... – colocou a cabeça entre as mãos, os
cotovelos apoiados nos joelhos. – O que você espera dela? – olhou dentro dos
meus olhos de uma forma que fez minha respiração parar.



- Eu não sei... Agora tudo está mais fácil, está ao nosso alcance. Agora pode
ser calmo, estável, sem ter que me preocupar com as incertezas dela, com os
outros...



- E comigo? Como seria?



- Instável. Anahí, você sabe que ainda não tem certeza do que quer... Com você
eu reviveria toda a angústia de você se descobrir, a aceitação da sua família,
a sua própria aceitação... Eu não quero viver a mesma história!



- Eu não sou ela, droga! Pára de comparar as situações, sempre! Não é porque
ela fez, que todas as mulheres farão! Sim, tem minha família, tem o mundo e
daí? Eu posso não ligar para a opinião dos outros, sabia?



- Mas você liga! Você sabe que liga...



Suspirou transparecendo cansaço. Balançou a cabeça e esboçou um sorriso.



- Seria mais fácil se simplesmente tivesse dito que não sente nada por mim.
Porque essa é a verdade.



Levantou-se e foi em direção a porta. Dessa vez não a impedi.



- Sabe, Dul... Até te conhecer eu achei que a vida era essa coisa insossa, mas
você apareceu... Seria mais fácil se tivesse esquecido o meu nome naquele dia.



Girou a maçaneta e saiu.



Fiquei alguns minutos estagnada na mesma posição. Sentia um nervosismo imenso
tomar conta do meu corpo e um gosto amargo em minha boca.



“Preciso conversar com ela!”.



Peguei a chave do carro e fui atrás dela.