Fanfic: Entre Acasos -Portiñón- (Finalizada) | Tema: portinõn

Anahí

Acordei sentindo o carinho de Dul, mas decidi não me manifestar. Estava magoada, com raiva... Triste.

“Já é hora de ir pra casa... Quero um banho, deitar, esquecer desses últimos tempos, esquecer Dulce, Lorena, Poncho, paixonite e desilusão! Esquecer...”.

Desenrolei-me da coberta, espreguicei demoradamente sentindo todos os músculos do corpo reclamarem. Vesti minhas roupas, peguei a bolsa em direção a sala. Minha esperança era que Dulce tivesse saído, ou estivesse no escritório, para que eu não precisasse encarar seus olhos. Mas, não deu certo. Quando saí do quarto, ouvi a voz de Dul, baixa, quase sussurrante. Caminhei devagar até o fim do corredor. “Não que eu queira ouvir a conversa ou bisbilhotar, mas...”

- Bom, não vou poder ir...  

“Deve ser o ‘amor’ dela...”

- Mais ou menos... A Marina e a Ana tiveram uma discussãozinha e a Ma está aqui comigo. 

“Mas a Marina e a Ana estão muito bem... e a Marina não está aqui! Mentindo! Que absurdo! Por que não fala logo de uma vez que eu estou aqui? Agora tem que ficar me escondendo?”

- Não, não... Nada sério...

Dul se virou e me viu encostada na parede do corredor. Surpresa e desconcertada, desligou o telefone rapidamente.

- Por que mentiu? – maior do que minha indignação era a minha curiosidade para a explicação.

- Aonde você vai?

- Te fiz uma pergunta, Dul... Por que mentiu?

- Não menti... – colocou o telefone em cima da mesa e sentou no sofá. Permaneci no mesmo lugar esperando a resposta que não vinha.

- Então, se não mentiu, por que disse que a Marina estava aqui?

- Sabia que é muito feio ouvir a conversa dos outros?

- Sabia que é muito feio contar mentiras?

- Você sempre vai me responder uma pergunta com outra? – a ironia pairava no ar...

- Sim, pelo menos todas as vezes que você não responder as minhas perguntas – cruzei os braços.

- Não tem jeito, você é pirracenta demais! Eu não menti, ok?! Eu omiti os fatos! – ergueu as sobrancelhas e um sorriso teimou em apontar nos seus lábios.

Não resisti e soltei uma gargalhada.

- Ah... Omitiu... Não sabia que inventar estórias agora se chamava omissão... Mas, se você diz quem sou eu para discordar, né?! – desencostei da parede e fui caminhando em direção à porta. – Obrigada pelo banho extremamente gelado, pelas cortinas abertas e por ter bancado a babá. Onde estão as chaves do meu carro? Aliás, onde está o carro?

- Nossa, e ainda é mal agradecida! Saiba que se eu não tivesse chegado lá, aquela mulher teria se aproveitado de você! – seu tom era sério, alterado.

- E você impediu isso? Ah, se antes eu estava com raiva, agora estou irada! Obrigada por atrapalhar minha noite! –mantive-me fria, mas por dentro achava graça da cara de Dul! “Ciúmes? Há! Isso mesmo, sinta ciúmes! Bastante... Bom ver que pelo menos isso você sente!”. Aproximei-me do sofá.

- Atrapalhar sua noite? Primeiro você sai desembestada por ai, depois você para no primeiro bar gay que vê, enche a cara e ainda ia cair na lábia da primeira “zinha” que aparece na sua frente? Tenha dó, Anahí! Não na minha frente, não comigo sabendo! – parecia realmente nervosa! Minha vontade era rir, mas me mantive firme.

- Ah, é? E por que você se importa? Esqueceu-se que sua namorada se chama Lorena? Você não tem nada, N-A-D-A haver com a minha vida, Dul! E não foi porque eu não quis! Lembre-se disso antes de estragar mais uma noite minha!

- Estraguei e estrago quantas for preciso! Não quero você caindo nas mãos de nenhuma ladra de rins ou de alguma depravada sexual!!! – disse se levantando. Sorri com ironia.

- As chaves do carro, por favor.

- Antes a gente precisa conversar...

- Não tenho mais nada para falar. As chaves – estendi a mão. Num movimento rápido, Dul puxou minha mão, meu corpo indo em direção ao seu. “Ai, meu Deus!”. Segurou-me pela cintura e me fez sentar no sofá.

- Estúpida! – esbravejei me ajeitando.

- Agora teremos uma conversa, você querendo ou não – disse sentando-se na mesinha, como no dia anterior.

- Ontem você não queria conversar, por que agora quer? Eu posso muito bem ficar calada, não sou obrigada a conversar!

- Bom, então você irá só ouvir. Any, a Lorena não é minha namorada. Sim, eu dei uma chance para ela, para nós nos conhecermos porque acredito que tenha muita coisa que não conhecemos uma da outra, eu preciso tentar.

- Só isso, posso ir embora? Eu já ouvi isso não sei quantas vezes!

- Deixa a pirraça e a criancice de lado e me ouve, Anahí - segurou meu rosto e me fez olhar em seus olhos... Naquela imensidão escura que me fez ficar praticamente hipnotizada. – Olha, tenta se imaginar na minha situação: eu tenho um chão com a Lorena. Todas as dificuldades que tínhamos ficaram para trás, junto com as indecisões, as pressões... E um final inexplicável. Eu preciso tentar, entende?