Fanfic: Um passado no presente -Portinon- (Finalizada) | Tema: Portinon

Liz

Estava tudo muito harmonioso, eu adorava estar com todos eles, todos mesmo. Eu sentia como se fossemos uma grande família. Nunca imaginei que pudesse, por exemplo, falar sobre meu relacionamento com um amigo de minha mãe. Ou que todos eles zoassem Sophia e eu de vez em quando. Gostava daquele clima de descontração e intimidade. Mesmo não tendo crescido com eles, eu os sentia muito próximos de mim. Pode parecer ridículo, mas minha mãe ter voltado a conviver com ele foi uma das melhores coisas que aconteceram em minha vida. Nina, Manuel, Christian, Ronald Sophia e eu, estávamos sentados em uma mesa conversando sobre Paco, com quem será que ele iria se parecer. Estávamos mais rindo do que falando para dizer a verdade… Mas mesmo estando naquele papo maravilhoso, entre pessoas que eu já não sabia viver sem, eu sentia o olhar de Dona Blanca, a avó de minha namorada, sobre mim o tempo todo, como se me analisasse e me reprovasse.

Liz: Sophia? É impressão minha ou sua avó não para de me olhar? – Foi inevitável todos da mesa não olharem para ela também.

Sophia: Não sei, não reparei. – Ela disse olhando rapidamente para a avó e voltando a olhar para mim. – mas deve ser impressão sua amor.

Liz: Não sei não Sophia, ela fica me olhando de cara feia como se não gostasse da minha presença. – Olhei rapidamente para ela de novo. – Será que ela tem algum problema comigo?

Sophia: Claro que não, ela é assim mesmo, meio estranha. Mas é gente boa, nunca faria mal a uma mosca. – Christian soltou uma risada quando ela disse isso.

Christian: Ela sabe de vocês duas? – Ela foi direto.

Sophia: Não… Eu acho que não, minha mãe disse que seria melhor não contar a ela, então eu nem contei, na verdade não era para ninguém saber, mas aconteceu…

Christian: Ela tem razão é melhor não contar mesmo. – Ele disse como se fosse a pior coisa do mundo contar isso a avó dela. - Mas pelo visto ela ta suspeitando de alguma coisa, é melhor tomarem cuidado. – Ele disse olhando para ela, parecia que a analisava.

Sophia: Porque diz isso? Uma hora ela vai ter que saber, não que eu queria contar isso agora, mas porque diz que é melhor não contar? – Eu também achei aquilo estranho, ainda mais que disse com tanta certeza.

Christian: Só ouve o que eu to te falando, não conte a sua avó. – Ele pensou por alguns segundo e continuou. – Se bem que vocês duas tem suas mães, mas se quiserem evitar aborrecimento, não contem.

Liz: Serio Christian, porque diz isso com tanta certeza, sabe de alguma coisa que não sabemos? – Eu perguntei já com aquilo remoendo em minha cabeça.

Christian: Não, claro que não. – Por mais natural que ele tenha sido, eu senti um pouco de nervosismo em seus olhos. – Só que… Ela nunca gostou de mim, sempre disse que eu não era um bom amigo para Dulce por ser gay, ela não gosta de pessoas como nós, cansou de me expulsar da casa dela, então você sendo neta dela, ela vai reagir ainda pior né? Adie o máximo que puder se vocês quiserem mesmo não se aborrecerem.

Sophia: Nem pensava nisso, mas pode deixar que vou evitar certas aproximações quando ela tiver junto.

Liz: Também acho melhor, não quero dor de cabeça logo agora, que estamos tão bem.

Nina: Nossa, agora que eu reparei. – Ela disse cortando o assunto. – Cadê minha mãe, o meu pai, a Anahí e o Benedito?

Manuel: Boa pergunta. – Ele se levantou. – Vou procurar para você.

Sophia: Minha mãe esta vindo ali. – Ela disse olhando para a porta que dava para o jardim.

Dulce parecia transtornada, seus olhos estavam vermelhos, lagrimas escorriam sobre sua face, suas mãos estavam fechadas em punho, se Maite não tivesse saído do caminho a tempo ela teria levado um belo de um soco. Ela andou, na verdade quase correu até sua mãe, que estava sentada em uma mesa sozinha, de pernas cruzadas e olhando para filha como se fosse a pessoa mais superior do mundo. Minha mãe apareceu logo atrás com Alejandro a puxando pelo braço, seu olhar estava perdido, como se alguém tivesse morrido. Seus olhos tão vermelhos e molhados quando os da mãe de Sophia. Eu não estava entendo nada, na verdade ninguém estava, o que será que aconteceu para elas estarem desse jeito. Na mesma hora em que Dulce chegou perto da mãe. Eu, Sophia, Christian e Nina nos levantamos como se já nos preparássemos para separar uma briga.

Dulce: Como você pode fazer isso comigo? Como? – Seu tom de voz era alto, ela estava mesmo descontrolada. – Me responde mãe!

Blanca: Que agressividade é essa Dulce Maria? – Ela perguntou um pouco irritada, mas calma. Eu, Sophia, Nina e Christian fomos nos aproximando de minha mãe que ainda chorava e estava próxima de Dulce.

Dulce: Me responde mãe, como você pode acabar com a minha vida desse jeito? – Ela chorava, mas sua voz era firme. - Como teve coragem de fazer uma coisa daquelas? Uma barbaridade!

Blanca: Não sei do que você esta falando Dulce, mas pare de gritar, sou sua mãe e eu mereço respeito. – Ela disse com frieza.

Dulce: Cala a boca, não me mande parar de gritar, você não merece respeito nenhum. – Nunca havia visto Dulce daquele jeito, e pelo que estou vendo nunca ninguém viu.

Sophia: Calma mãe… – Ela disse se aproximando da mãe.

Dulce: Não de mete nisso Sophia, sai daqui. – Ela disse com ódio, com muito ódio. Na mesma hora Christian puxou minha namorada de perto delas a mandando ficar ali. – Quero que me fale mãe, porque você fez isso comigo? Porque estragou minha vida dessa maneira? – Ela ainda chorava. Eu estava aflita, pensei em perguntar o que aconteceu para minha mãe, mas ela parecia estar em outro planeta.

Blanca: Não sei do que você esta falando Dulce. – Ela continuou calma

Dulce: É claro que sabe mãe… – Ela respirou fundo e prosseguiu. – Você me viu ficar sem dormir por dias, me viu ficar sem comer por semanas, me viu chorar por meses e meses, me viu triste e sem esperança por anos e anos em minha vida. Me viu sofrer e agonizar, e em nenhum momento sentiu pena de mim, em nenhum momento você me disse a verdade… – Ela perdeu o ar. – O que você fez comigo não tem perdão. Me fez perder anos da minha vida acreditando em uma mentira.

Sophia: O que ta acontecendo mãe? – Ela estava agoniada, com medo e lagrimas nos olhos.

Blanca: Ainda não sei o que eu tenho haver com isso. – Em nenhum momento ela se mostrou alterada, continuou fria.

Dulce: O Alejandro me contou mãe, ele me contou tudo! – Ela gritou com raiva. – Para de fingir que nada aconteceu… Pelo menos assuma sua culpa.

Blanca: Não acredito que você me traiu. – Só agora ela se alterou e se levantou da cadeira apontando um dedo para Alejandro.

Eu estava confusa, muito confusa. Maite abraçava minha mãe, que estava estática olhando a discussão, minha namorada andando de um lado para o outro tentando arrumar uma maneira de chegar à sua mãe sem levar outra patada. Os outros apenas observavam o espetáculo de bocas abertas. Assim como eu que queria muito entender o que estava acontecendo ali naquele momento. Porque Dulce estava gritando daquele jeito com a mãe dela. O que ela fez de tão mal para deixá-la tão transtornada.

Alejandro: Me desculpa Dona Blanca, mas eu já não podia mais guardar esse segredo comigo, ele me fez mal por muitos anos. – Ele parecia não se arrepender do que contou.

Blanca: Eu confiei em você, não poderia ter contado isso a ela, nunca! – Ela aumentou seu tom de voz. – Não acredito que me apunhalou pelas costas desse jeito, e o pior, depois de tantos anos. Se guardou por 18 anos, que guardasse ele por toda a vida.

Nina: Que segredo é esse Pai? – Ela disse nervosa, mas acho que não ouviram.

Alejandro: Já esta feito. – Foi o que ele disse por fim.

Dulce: Me diz mãe, porque fez isso comigo? Porque estragou minha vida desse jeito? – Ela puxou a mãe pelo braço para que olhasse para ela.

Blanca: Eu só queria o seu bem. – Dulce gargalhou alto ao ouvir isso.

Dulce: Você só queria o seu bem. – Ela enfatizou o ‘seu’. - Você nunca pensou em mim, nunca pensou na minha felicidade, no que realmente me fazia bem. Sempre só pensou na sua imagem no que os outros iriam falar, que eu era uma aberração… – Eu queria realmente entender o que estava acontecendo.

Blanca: Eu fiz aquilo porque eu te amo minha filha. – Suas palavras ainda soavam frias.

Dulce: Nunca mais me chame de filha. Porque mãe que é mãe quer ver o seu filho feliz, independente do que aconteça. – Sua voz era meio tremula por causa das lagrimas. - Porque uma mãe que manda um cara colocar sonífero na bebida da filha, estuprá-la e engravidá-la, não é mãe é o diabo em pessoa… – Ela jogou as palavras na cara da mãe e quase todos em forma de coral disseram ‘que’.