Fanfic: Um passado no presente -Portinon- (Finalizada) | Tema: Portinon

Anahí

Eu ainda estava estática, em choque, paralisada. Parecia que meu corpo não respondia aos meus comandos. Estava sentindo um misto de sentimentos completamente surreal. Sentia culpa por ter sido covarde, raiva por não ter ficado ao lado de Dulce, tristeza pelo o que ela passou, remorso por tudo que sentimos, ansiedade para saber como isso iria acabar, um ódio absurdo da mãe dela, vergonha por tê-la criticando tanto, felicidade em saber que nunca fui traída, medo dela não me querer mais, medo de minha filha me rejeitar depois de saber a verdade… Eram tantas emoções juntas que eu achei que nada mais cabia aqui dentro. Mas quando ela, a mulher da minha vida se referiu a mim como o seu amor, falando aquelas coisas tão lindas, eu tive certeza que meu coração não havia errado em deixar de acreditar naquele amor. E depois segurou em minha mão na frente de todos, ali naquele momento eu senti como se só houvéssemos eu e ela. E quando eu achei que já não cabia mais nada dentro de mim, fui inundada por uma sensação totalmente distinta.

Dulce: Casa comigo Anahí? – Seus olhos ainda estavam molhados e vermelhos, sua respiração um pouco ofegante, sua voz um pouco tremula, mas seu pedido foi feito com vontade e sem medo.

Sabe quando você nem imagina que uma coisa possa acontecer e ela cai do céu diretamente no seu colo? Foi assim que eu me senti. Eu já estava completamente em choque, fiquei tão surpresa que tive certeza que mesmo que eu tentasse não ia conseguir falar. Fiquei parada olhando para ela, querendo dizer mil coisas, abraçá-la, beijá-la. Mas a única coisa que consegui fazer foi balançar a cabeça negativamente como se não acreditasse naquilo.

Dulce: Não tenho um anel de brilhante para te oferecer agora. – Ela prosseguiu vendo que eu não iria responder de imediato. – Não tenho um buque de flores, ou até mesmo um cartão. A única coisa que tenho é o meu amor, é a minha vida, é a minha palavra de que vamos sim ser muito felizes. – Ela sorria com os olhos que ainda estavam molhados.

Blanca: Mas que nojeira, eu não sou obrigada a ver esse tipo de coisa, se você prefere ficar com essa vadia lésbica do que ter uma mãe seja muito infeliz. – Ela disse pegando a bolsa e quebrando totalmente o clima.

Dulce: Olha aqui Blanca, nunca mais se refira a Ana… – Eu não sei de onde tirei forças, mas resolvi me pronunciar.

Anahí: Vai embora Blanca! – Eu gritei fazendo todos se assustarem. – Vai embora dessa casa, vai embora das nossas vidas, vai embora e não volte nunca mais. – Eu falava apontando para a saída. – Você já roubou nossa juventude, não vai roubar mais nada da gente.

Blanca: Quem você pensa que é para falar assim comigo? – Ela disse com um tom de superior.

Anahí: Eu? – Apontei para mim. - Eu sou a pessoa que fez e ainda faz sua filha feliz de verdade, se é que você sabe o que é ser feliz. Eu sou a pessoa que ama a Dulce como ela é, que a quer ver bem mesmo que não seja comigo, eu sou uma pessoa que tem coração e nunca faria mal a um filho por não gostar de quem ele esta amando. Eu sou alguém muito melhor que você. – Eu estava cuspindo as palavras na cara dela. – Sou uma mulher honesta, digna e trabalhadora, crio meus filhos sozinha e crio muito bem. E por mais que eu não aceite algo que eles façam eu nunca faria nem a metade do que você fez com a sua filha. Espero de verdade nunca mais ter que cruzar com você. – Eu voltei a apontar para rua. – Vai embora! – Eu apenas disse o que estava entalado na minha garganta, mas não sei se fiz certo ter expulsado ela assim, ainda mais que a mãe não é minha, a casa não é minha e nem a festa.

Blanca: É isso mesmo Dulce? – Ela se dirigiu a filha e eu tive medo, muito medo de na verdade eu ser expulsa.

Dulce: Você ouviu Dona Blanca. – Ela disse fria, agora já não chorava mais. – Vai embora da minha vida e não volte nunca mais.

Blanca fechou a cara, deu as costas e saiu andando como se nada tivesse acontecido. Só depois que ela partir eu me lembrei que não havia só nós três ali. Olhei ao redor e todos nos olhavam assustados. Minha filha coitada parecia tão confusa que estava pálida. Sophia a sua namorada apertava a sua mão com força como se buscasse algum conforto. Nina estava com uma mão na barriga e a outra no coração. Todos anestesiados, petrificados nos olhando com pontos de interrogações enormes nos rostos. Dulce olhou ao redor como eu, passou a mão no rosto limpando suas lagrimas, voltou a olhar em meus olhos e sorriu um pouco tímida, pegou em uma de minhas mãos e acariciou o meu rosto com a outra.

Dulce: Então Anahí, quer casa comigo? – Ela perguntou de novo fazendo-me sentir do mesmo jeito que antes.

Uma lagrima rolou de meus olhos, mas com tantas sentimentos juntos eu não sei exatamente o porque de ter chorado naquele momento. Eu não conseguia dizer sim e nem não, eu estava travada e cheia de medos. Com muita vergonha, de tudo, de tê-la criticado, de nunca ter ficado ao lado dela, de ter feito-a chorar… Abaixei a cabeça querendo enfiá-la em qualquer buraco. Mas ela a levantou com uma das mãos limpou minhas lagrimas, sorriu para mim me passando toda a segurança do mundo, me transmitindo a paz necessária para sorrir também. Mas mesmo assim eu poderia sentir, que meus olhos entregavam a culpa que estava dentro de mim.

Dulce: O que ficou no passado não tem volta, não temos que pensar mais nisso, não se sinta culpada por nada, eu fui enganada, você foi enganada. Não tem porque ficar remoendo toda essa historia, não tem porque sentir vergonha de absolutamente nada. Eu estou aqui com você e sei que esta comigo também. – Ela falava de um jeito que me acalmava por completa. – Perdemos alguns anos, mas isso não quer dizer que tudo esta perdido, ainda temos uma vida inteira pela frente e outras depois dessa. – Ela abaixou a cabeça, mas logo voltou a me olhar com muito amor, carinho e atenção. – Eu amo você, amo de um jeito que não tem como explicar e depois de hoje eu não desisto desse amor por nada nesse mundo… Fica comigo, fica… Só comigo. – Minha primeira reação foi abraçá-la com força para que nunca mais fugisse de mim, depois do abraço a soltei segurando suas mãos, olhei para elas e as beijei, voltei ao seus olhos e respirei fundo antes de dizer alguma coisa.

Anahí: Eu aceito Dulce.  – Eu disse sorrindo.

Cheguei a levar um susto com todos que aplaudiram, assobiaram e gritaram coisas do tipo ‘AE’, ‘Até que em fim’, ‘Beija’… Olhei para eles com a maior cara de vergonha do mundo, todos pareciam felizes, muito felizes, como se assistissem um final feliz de um conto de fadas. Mas logo voltei a olhar para minha Dulce. Ela sorria tão linda que exalava uma luz incrível, me trazendo toda a paz do mundo. Encarou meus olhos e depois minha boca, e sem pensar suas vezes, como se fossemos imas, me puxou pela nunca me dando um beijo digno de cinema. Ali sim todos gritaram para valer batendo palmas, eu sentia uma energia muito gostosa vir de todos, e tive certeza absoluta que minha vida estava apenas começando. Nos separamos do beijo segundos depois que sentimos um flash bater em nosso rosto e rindo olhamos diretamente para Poncho que estava com uma câmera em mãos, como sempre. Em um clima totalmente diferente do de minutos atrás, todos que estavam no local vieram em nossa direção e nos abraçamos em grupo, como uma verdadeira família.