Fanfic: Um passado no presente -Portinon- (Finalizada) | Tema: Portinon

Dulce

Abri os olhos e a primeira coisa que vi foi Anahí, meio sentada, meio deitada, toda torta. Seus braços em volta de mim como se me protegesse do mundo lá fora. Ela estava dormindo tão linda, mas ao mesmo tempo tão cansada que me senti ainda mais egoísta por tê-la feito ficar comigo essa noite. Todo meu corpo doía, como se fosse a pior ressaca do mundo, aos poucos lembrei de tudo que passei no dia anterior e ainda consegui sentir um gosto amargo na boca, um gosto de tristeza e nojo.

Tentei me levantar sem que acordasse-a mas foi impossível, no meu primeiro movimento ela abriu os olhos um pouco assustada, respirou fundo olhando em meus olhos e sorrindo me trazendo a paz que eu precisava. Pelo menos parte dela.

Anahí: Como se sente? – Ela disse serena e eu tive vontade de voltar a dormir para não ter que enfrentar a realidade.

Dulce: Mal, mas com você aqui me faz com que esse mal estar seja diminuído pela metade. – Eu levei minha mão até o seu rosto e o acariciei.

Anahí: Então minha noite sem dormir valeu à pena. – Ela sorriu mais uma vez.

Dulce: Desculpa. – Eu me sentei com pressa e me sentindo ainda mais culpada. – Não deveria ter feito você dormir aqui, você estava cansada, estava tão… – Ela me interrompeu colocando o dedo na minha boca e fazendo ‘shiii’.

Anahí: Você precisava de mim e eu estava aqui para te ajudar, cansada ou não, eu passaria quantas noites em claras fossem preciso para te ver melhor. – Ela disse seria e me puxou para deitar em seus braços novamente. – Naquele dia em que eu passei a noite no hospital e você foi lá ficar comigo, você me disse que se fosse preciso iria até a lua me entregar oxigênio se soubesse que eu estava sem ar, e eu quero que você saiba que comigo não é diferente, eu ficaria todas as noites sem dormir só para te ver dormindo em paz. – Não tive o que dizer, apenas a abracei forte tentando fazer daquele momento eterno.

Dulce: Obrigada por tudo. – Tentei sorri para ela, mas acho que saiu meio forçado.

Anahí: Não precisa agradecer, quando a gente ama, a gente cuida. – Ela beijou minha cabeça.

Dulce: Sim, sempre. – Eu beijei sua face e me sentei novamente na cama. – Vamos descer e tomar café? O dia vai ser longo.

Tomamos um banho rápido juntas e descemos para o café. Minha cabeça ainda doía muito, e todo meu corpo estava em estado de alerta. Assim que entramos na cozinha vimos Sophia e Liz sentadas a mesa, trocamos ‘bom dia’ e nos sentamos juntas a elas.

Sophia: Como você esta mãe? – Ela parecia muito preocupada.

Dulce: Bem melhor. – Não da para dizer a verdade a minha filha, ela já passou por muita coisa e não precisa ficar se preocupando comigo a toa… Eu coloquei suco em meu copo em seguida.

Sophia: Mesmo? – Ela pareceu não acreditar na minha resposta.

Dulce: Mesmo Sophia! – Eu tentei sorri sem olhar para ela colocando o suco de volta no lugar, mas acho que mesmo assim não consegui convencê-la.

Sophia: Ta bom mãe, se você esta dizendo, quem sou eu para dizer que é mentira. Só quero que você fique bem de novo ta? – Ela sorriu pegando em minha mão. – Eu te amo muito!

Dulce: Também te amo minha filha. – Acho que dessa vez consegui sorrir de verdade, mas logo desvie o olhar pegando uma torrada.

Sophia: Bom, já que você disse que ta melhor, se não for pedir muito, pode responder umas perguntas? – Ela fez uma carinha linda como se tivesse medo de levar um tapa.

Dulce: Poder pode, só não sei se será possível responde-las agora. – Eu não estava no clima para um interrogatório.

Sophia: Juro que são só as que estão me matando de tanta curiosidade. – Ela sorriu meio tímida enquanto eu mordia a torrada e tomava um gole do suco.

Dulce: Ta bom minha filha, pode perguntar. – Disse meio de boca cheia.

Sophia: Vocês duas estão juntas desde quando? – Ela perguntou sem rodeios.

Dulce: Como assim? – Eu não entendi mesmo, se era a quantos anos nos amávamos, ou a quanto tempo tínhamos voltado a ficar secretamente.

Sophia: Bom, pelo o que entendemos, quando vocês eram jovens vocês eram namoradas, ai a vovó descobriu e fiz o Alejandro fazer aquilo com você ai vocês se separaram e tal. – Ela fez-me lembrar da maldita historia fazendo com que meu coração se apertasse. – Quero saber desde quando vocês voltaram a ter esse romance. – Eu olhei para Anahí que com os olhos me disse para não esconder nada, na verdade não tinha mais porque esconder, na verdade acho que nunca teve, não para elas.

Dulce: Desde o momento em que voltamos a conviver juntas. – Eu disse lembrando do dia em que recebemos a noticia da novela, naquele dia eu soube que tudo ia mudar.

Sophia: Mas quando exatamente? – Ela insistiu e eu me irritei por nada.

Dulce: Ai Sophia, você quer o que? O dia, a hora, o local, como foi que aconteceu? – Eu fui super grosseira e sem motivo algum, era o estresse tomando conta de mim novamente. Ela se assustou e sua expressão foi de tristeza, na mesma hora eu me senti super arrependida. – Desculpa… – Fechei os olhos tentando me acalmar.

Anahí: Deixa que eu respondo Dulce. – Ela pegou em minha mão, fazendo com que voltasse a mim.

Dulce: Não, desculpa mesmo Sophia, eu to um pouco estressada. – Disse olhando para ela que ainda parecia meio triste.

Sophia: Tudo bem mãe, acho que não é o momento certo para falarmos disse, depois conversamos. – Ela não queria mesmo me chatear.

Dulce: Não, eu faço questão. – Tentei sorrir mais uma vez e logo comecei a contar. – Naquele mesmo dia em que recebemos a noticia da novela, em que jantamos fora e depois fomos para aquele bar. – Eu disse me lembrando de cada detalhe. – Quando fui deixar Anahí em casa, trocamos um beijo rápido no taxi.

Sophia: Nossa, mas assim tão rápido? – Ela disse surpresa e parecia feliz em saber da historia.

Dulce: Sim, mas foi um beijo muito rápido. Mas ali, naquele momento eu tive certeza de que tudo em que eu acreditava já não existia. – Eu olhei para Anahí que me encarava com carinho comendo uma salada de frutas.

Sophia: Nossa, que lindo mãe… – Era como quando ela era criança e eu contava historias para ela dormir, a mesma carinha de alegria e boas expectativas.

Liz: Eu lembro que… – Ela se pronuncio como se pensasse alto e tampo a boca como se não pudesse se meter. – Desculpa.

Dulce: Pode falar também Liz, até parece que não me conhece… – Eu ri do jeitinho dela e reparei que estava conseguindo esquecer de leve os problemas externos.

Liz: No dia seguinte, vocês estavam discutindo no quintal ali atrás… – Ela só disse, mas não perguntou nada.

Sophia: Exato, eu lembro também, vocês duas passaram pela gente com as piores caras do mundo, ai subimos para o meu quarto e quando olhamos pela janela vocês estavam discutindo. O que aconteceu? – Diferente de Liz ela perguntou na lata.

Anahí: Nos beijamos no banheiro… E que beijo… – Nem deu tempo de eu pensar em uma resposta. Ela disse meio rindo como se lembrasse do acontecido. – Estava ficando quente de mais o clima naquele banheiro, e quando Enzo bateu na porta chamando por mim, eu me dei conta da loucura que estava fazendo. Sai de lá como uma criança cheia de medo… – Ela sorria ao contar. - Ai depois discutimos no quintal por causa do acontecido, nada de mais. – Ela ainda sorria se lembrando. – Aquele sim foi o primeiro beijo dado depois de quase vinte anos.

Dulce: Sim, foi ali que começou de verdade. – Eu falava olhando para Anahí.

Sophia: Então continua, conta tudo! – As duas pequenas estavam como meninas de cinco anos, vendo seu desenho preferido.

Dulce: Depois contamos tudo para vocês, mas agora tenho que ir ver sua irmã, ainda tenho muitas cosias a se resolver hoje. – Eu disse me lembrando de Nina.

Sophia: Então só mais uma pergunta. – Ela disse com rapidez. – Porque não aceitou meu namoro com a Liz logo de cara?

Dulce: Essa é uma pergunta que nem eu sei a resposta. Mas acho que foi por medo, medo de vocês passarem tudo que passei. – Eu disse já me levantando. – Mais alguma?

Sophia: Não, agora não. – Ela disse parecendo triste por ter que esperar para saber de mais. – Depois conversamos.

Anahí: Eu vou buscar seu irmão na casa de Maite. – Ela estava de pé e falava diretamente com Liz. – Você vai comigo ou vai para casa depois?

Liz: Vou depois. – Ela disse sem pensar duas vezes.

Pelo o que reparei nesse pequeno tempo conversando com elas era que: logo logo eu teria que contar toda a minha historia de vida para essas meninas super curiosas. Subi para o quanto junto de Anahí, sabendo que minha conversa com Nina não iria ser nada fácil, mas era uma coisa que não tinha como adiar ou deixar para lá. Não dava para deixar minha filha achando que foi um peso na minha vida.