Fanfic: A Donzela e o Monstro AyA (Finalizada) | Tema: AyA

-Meu nome é Ulric, minha senhora, e sou o senescal deste lugar. 
Arrumaram suas vestimentas, mas Haldana pensou que seria melhor não colocá-las 
para poder cuidar de suas feridas. Estou seguro de que foi a buscá-las.

  
Anahí assentiu com compreensão, ao tempo que puxava a colcha com mais 
firmeza, cobrindo os ombros com ela de forma que a pele lhe caísse pelas costas 
e a tampasse por completo.

  
-Se não lhe importar, minha senhora -continuou Ulric-, tenho um par de 
perguntas a lhe fazer. Talvez então possa responder melhor às suas.

  
Anahí voltou a assentir, com mais seriedade desta vez. Que outra coisa 
podia fazer? Sua nudez a mantinha apanhada naquela cama e, embora tivesse o 
valor necessário para fugir, não podia ver aonde dirigir-se.

  
-Quem sois? -perguntou-lhe-. O que fazias no bosque, sozinha, aos 
subúrbios do castelo? Por suas roupas, é óbvio que sois uma dama, o 
extraviastes de sua companhia de viagem?

  
Os olhos de Anahí se alagaram de lágrimas. Parecia um menino pequeno 
encerrado em um quarto escuro.

  
-Sim.

  
-Extraviaram-na? -insistiu Ulric.

  
-Sim.

  
-Sois uma dama da nobreza? -Sentiu que se aproximava para inspecioná-la.

  
-Sim. -Anahí enfocou os olhos para frente com a intenção de lhe 
convencer de que era uma dama e que estava por cima dele.

  
-Quem sois? Aonde os dirigias?

  
-Sou Lady Anahí, e ia a caminho de um convento da Anglia Oriental. 
-Tremeram-lhe as mãos ao falar. Obrigou-se a tragar o nó que lhe tinha formado 
na garganta e que puxava por lhe quebrar a voz-. Onde devo residir.

  
-A que convento? -perguntou Ulric com suavidade.

  
-O que há ao sul -mentiu Anahí fracamente. A verdade era que não 
conhecia o nome de nenhum convento da Anglia Oriental, claro que com o rei 
pagão recém convertido seguramente que havia algum. Só esperava que, fora quem 
fora o senhor daquele castelo, arrumasse para levá-la até ali-. Não acredito 
que lhe tenham posto nome ainda, pois é novo.

  
-Hmm. -A voz de Ulric ponderava suas respostas-. Assim já tomastes os 
votos? Sois uma monja?

  
-Não, devo ir ali a tomá-los. -Anahí afastou a cara; não podia mentir 
sobre algo assim, seria muito blasfemo. Já era bastante ruim que dissesse que 
ia fazê-lo-. Estou segura de que me aguardam, se pudessem arrumá-lo para me 
enviar...

  
-Já vejo -lhe interrompeu Ulric, meditando-o.

  
Anahí ficou pensando no alegre tom de suas palavras. Sua imprecisa 
figura se separava dela e voltava ao segundo. Afastou-se tudo o que pôde dele 
em sua incômoda cama.

  
-Por favor, bom homem. -Anahí suspirou e tratou de relaxar-se pois não 
acreditava que o  ancião fora nenhuma 
ameaça-. Me digas onde estou?

  
-Não sabéis? -Ulric riu brandamente, surpreso- Estás no castelo de Lago 
Azul. Lhes encontramos moribunda às portas do castelo; pensei que poderias nos 
dizer como chegastes até aqui e o que é mais importante, por que.

  
-Lago Azul? -Anahí ofegou horrorizada, baixou a cabeça e murmurou 
surpreendida-: Deixou-me aqui? Como pôde me deixar aqui?

  
-Quem lhe deixou aqui?

  
Anahí ficou tensa. Aquela voz irritada não era a de Ulric mas sim vinha 
de sua esquerda, aproximadamente da chaminé. Um formigamento lhe percorreu a 
pele e notou que o fogo queimava com mais força que antes. O homem tinha um tom 
de voz malvado e falava com acento estrangeiro; pronunciava os "q" 
com força.

  
-Sois...?-começou a dizer, mas teve que respirar fundo para acalmar-se. 
Não o conseguiu.

  
Estava esgotada. O coração lhe pulsava de medo ao ritmo da aguda dor de 
cabeça, e ressonava em seus ouvidos como um tambor de batalha. Estremeceu-se de 
medo; ardia-lhe tanto o corpo que não lhe havia estranhado estalar em chamas, o 
que lhe fez perguntar-se se não estaria em companhia do Diabo. Esfregou-se o 
queixo com a colcha para assegurar-se de que ainda lhe cobrira o corpo, e 
perguntou fracamente:

  
-Sois o monstro de Lago Azul?