Fanfic: A Donzela e o Monstro AyA (Finalizada) | Tema: AyA

 

  
-Meu senhor! -Anahí correu o trecho que restava para alcançar a seu 
marido e o grosso tecido de sua saia se elevou no ar ao fazê-lo. Não pôde 
ocultar o olhar de aborrecimento nem a amargura de sua voz ao elevar a vista a 
ele-. Gostaria de falar com você.

  
Alfonso assentiu com a cabeça e indicou com a mão a porta pela qual 
estava saindo a carreta com o corpo de Derrick. Respirou fundo, esperando a que 
acabassem.

  
Assim que voltaram a baixar a porta para impedir o passo dos homens do 
exterior, voltou para a carga, gritando com ira.

  
-Eu gostaria de falar com você, meu senhor!

  
Anahí recolheu a sobrecapa para não arrastar o tecido pelo barro; Alfonso 
estava em pé, silencioso, na paliçada, aguardando a que se aproximasse dele. As 
comissuras da boca ameaçavam tornando-se em um sorriso ao ver como movia os 
quadris com seu vestido de criada. Mesmo com seu aborrecimento, ver que o duque 
a olhava lhe fazia estremecer-se de prazer. Fazia tanto tempo desde aquela 
noite no sujo quarto. Cada noite lhe esperava, lhe desejando, tocando-se 
enquanto pensava nele. Tinha aprendido muito de seu corpo durante aquele tempo.

  
A luz do sol lhe coroou a cabeça ao olhá-la da altura da paliçada. 
Curvou os dedos um pouco sobre a escura pedra, lhe proporcionando equilíbrio ao 
inclinar-se para frente. Por um instante lhe acelerou o pulso, mas ignorou a 
excitação que lhe provocava e fixou os olhos nele. Seu marido tinha muitas 
coisas que lhe explicar. Não conseguia esquecer-se de seu olhar enquanto 
estrangulava a Ucker e partia a Derrick em dois... tampouco era por que o 
desaparecimento antes do tempo de Lorde Derrick de Drakeshore lhe incomodasse.

  
"Estou apaixonada por um monstro", pensou com o coração 
apertado.

  
As palavras de Ana Paula a respeito de preocupar-se com um homem que não 
lhe devolvia seu amor ressonaram em sua cabeça. A menina era muito jovem, mas 
lhe tinha bastado um par de minutos no castelo para compreendê-lo. Anahí 
ocultou seus sentimentos, igualmente como levava fazendo desde aquela noite em 
que estiveram juntos.

  
Olhou-lhe fixamente com a mão a modo de viseira. Um sorriso de 
suficiência delineava seus rasgos masculinos e se aproximou ainda mais para a 
borda. Olhando-a daí, atuava como se nada neste mundo lhe importasse. Olhava-a 
com curiosidade.

  
-Tenho que falar com você, meu senhor -disse Anahí ao ver que não lhe 
tinha respondido antes. Seus atrativos rasgos se elevaram em com sorriso 
diabólico e teria jurado que estava tratando de lhe olhar os peitos através do 
vestido.

  
Ficou em pé e se dirigiu para a escada. Anahí lhe seguiu e, em seus 
esforços para manter o passo, a ponto esteve de tropeçar-se com um desnível do 
chão. Chegou à escada e baixou preguiçosamente até onde estava ela.

  
-Quero respostas, e as quero agora -exigiu Anahí antes inclusive de que 
chegasse ao chão.

  
Alfonso elevou uma sobrancelha com gesto de frieza. Saltou da escada e 
se voltou para ela em um único movimento. Sorrindo como se não tivesse feito 
nada, apoiou o cotovelo na escada.

  
-Ana Paula?

  
Ana Paula? Faz uma semana que não falamos, esteve a ponto de matar a Ucker, 
e isso é tudo o que tem que me dizer?

  
-Sim, Ana Paula. -Anahí ficou olhando como se estivesse louco. Afastou o 
cabelo dos olhos e cruzou os braços sobre o peito, desafiante.

  
-Como vai? -perguntou Alfonso, e sua preocupação de pai apareceu nas 
bordas cansadas de sua expressão.

  
Bem! Que pense no que tem feito.

  
-Acaba de ver como seu pai parte em dois a um homem -rugiu Anahí com seu 
tom mais ameaçador. Pôs as mãos nos quadris imitando o gesto que tantas vezes 
tinha visto em seu marido. Deu um passo para frente e tratou de lhe intimidar-. 
Como achas que está, meu senhor?

  
-Anahí -começou a dizer Alfonso, advertindo-a. Não parecia nada 
atemorizado; de fato, parecia estar passando-o bem.

  
-Não -interrompeu Anahí, zangada-. Não uses esse tom comigo, meu senhor. 
É uma menina inocente e a envolves como à morte nesse... nesse sudário. Lhe 
dizendo que deveria ocultar seu rosto! É maravilhosamente encantadora... uma 
menina adorável. E não deverias fazê-la sentir-se de outra forma e, enquanto eu 
esteja aqui, a tratará como se fora a menina mais bonita do mundo. Mimá-la um 
poquito não lhe fará nenhum mal a essa pobre menina.

  
-Anahí -lhe avisou Alfonso, tratando de interromper-. Nunca disse que...

  
-Não se atrevas! -Anahí elevou a mão sem lhe importar os poucos homens 
que lhes escutavam. Os cavalheiros apareceram a borda da paliçada, esperando 
desfrutar de um novo espetáculo. Ouviu-lhes rir e elevou a vista para lhes 
observar. Os homens olharam sem pudor para o céu, e um inclusive ficou a 
assobiar. Anahí os ignorou, pois naquele momento pouco lhe importava sua 
insolência. Ao ver que o duque também elevava a vista, agarrou-lhe pelo queixo 
e lhe obrigou a voltar a olhá-la aos olhos-. Ainda não terminei.

  
-Sim, no momento, minha senhora! -disse Alfonso com voz baixa, e liberou 
a mandíbula de um puxão. Tomando-a pelo braço, levou-a pelo lateral do castelo 
para os jardins da cozinha, arrastando-a além das camomilas, que ainda seguiam 
murchas de quando a lançou contra elas para atacar a Ucker. Não se deteve até 
que chegaram a grande árvore que havia junto ao muro. Estavam sozinhos.

  
Anahí escapou com força de sua mão e continuou como se não tivessem se 
movido.

  
-E quanto a isso, o que está acontecendo? Por que se parece comigo? 
Acreditavas que não nos daríamos conta da semelhança? Quem é sua mãe? Pois não 
tenho irmãs mais velhas, só irmãos, e morreram todos ao nascer. E sei que não é 
minha. Ou sim que tinha uma irmã mais velha, ou uma tia? Casaras-se com uma 
irmã de minha mãe? Por isso se parece tanto a mim?

  
-Anahí -disse Alfonso com tranqüilidade. Seu tom era suave e sereno 
comparado com o dela. Sorriu ligeiramente enquanto a estudava-. Posso falar?

  
-Por fim -soprou Anahí. Pôs a mão na cintura e se voltou para lhe olhar 
espectador-. Mas mais vos vale dizer algo que mereça a pena, se não queres que 
lhe estrangule mais que você ao Ucker. E quanto a isso...

  
Alfonso tomou a sua zangada mulher entre os braços com um grunhido. Anahí 
ofegou quando pressionou os lábios sobre os dela com firmeza, interrompendo o 
que dizia. Tratou de afastar-se, mas seus braços eram muito fortes e a 
apertavam com paixão. Inclinou a cabeça para afastar-se e sentiu que lhe 
passava a língua pelo lábio inferior. Era muito. Não pôde evitar render-se e 
seu protesto foi substituído por um suave gemido. Massageou-lhe a boca até que 
a abriu e a beijou profundamente antes de soltá-la o suficiente para que 
pudesse respirar.

  
-Mas não hei... -queixou-se Anahí sem fôlego contra sua boca. Suas 
palavras não eram nada em comparação com sua avalanche. Incapaz de resistir, 
rodeou-lhe o pescoço com as mãos e passou os dedos pelas longas ondas escuras 
de seu cabelo. Fechou os olhos; desejava desesperadamente que a abraçasse 
assim.

  
Alfonso riu ante sua resposta.

  -... acabado -concluiu por fim Anahí. 
Afastou-se um pouco dele cheia de desejo-. O que acontece? Por que se 
mantivestes afastado tanto tempo?