Fanfic: A Donzela e o Monstro AyA (Finalizada) | Tema: AyA

 

  
-Alegra-me lhe ouvir dizer isso, minha senhora.

  
Anahí se relaxou ao ver que o rei não voltava a aproximar-se dela.

  
-Estáis grávida? -Sorria-lhe com seus amáveis olhos. Era um rei jovem, 
de beleza juvenil e forte, embora seu porte o fazia parecer mais velho.

  
-Sim, majestade -respondeu Anahí sem duvidar-. Estou em estado.

  
-Conhecia a Derrick. Acredito-me no que dizes dele, pois ouvi a 
histórias que contam desse homem -disse Pedro após pensá-lo um pouco-. Como é 
que decidistes te casares com o Alfonso? Não parece boa escolha para alguém 
como você.

  
-Como eu? -perguntou Anahí ofendida.

  
-Não, não pretendia lhe insultar, minha senhora. Simplesmente estou 
tratando de averiguar o que aconteceu. -O rei sorriu educadamente-. Não tenho 
nenhuma intenção de lhe pôr em  evidência 
diante dos cavalheiros pois se ficares aqui como duquesa, terão que seguir lhe 
respeitando. Não quero que lhe humilhem de maneira nenhuma, mas estavas 
começando a dizer coisas bem pessoais.

  
-Majestade, meu marido é uma pessoa nobre e respeitável, e me tratou com 
amabilidade. -Anahí se relaxou, apreciando a consideração do rei.

  
-De acordo com o que diz seu pai, arrancou-lhe a virgindade 
grosseiramente. Estáis segura de que não estáis sendo vulneráveis a seus... 
encantos? -Pedro arranhou a barba e a olhou com cepticismo.

  
-Não, majestade -negou Anahí com um sorriso-. Podes imaginar que os 
encantos do duque são bastante peculiares; não acredito que tenha tanto encanto 
para persuadir a uma mulher contra sua própria natureza.

  
-Bem pensado -assentiu o rei Pedro-. Então, tratou-lhe bem?

  
-Foi amável comigo, majestade. Não se deitou comigo até depois de 
pronunciar os votos. -Anahí avermelhou. Sabia que o rei não deixaria de fazer 
perguntas até que não soubesse toda a verdade-. E me deu a opção de me casar 
com ele. Não me forçou a fazer nada que não quisesse. A única coisa fez foi 
perguntar que era o que queria, e decidi me casar com Lorde Herrera voluntária 
e livremente.

  
-Entendo -assentiu o rei-. Então, é um amante amável?

  
-Sim -replicou, envergonhada.

  
-Não pretendo me intrometer e lhe envergonhar com essas perguntas, minha 
senhora. Deves compreender que há muito em jogo, e tenho que tomar a melhor 
decisão. Não se trata só de um assunto entre duas famílias; é um assunto entre 
dois reinos.

  
-Compreendo -assentiu Anahí, sem querer lhe olhar aos olhos-. Farei o 
melhor para meu marido e minha pátria.

  
-Alegra-meouvir isso -disse galantemente-. Sigamos, tratou-a alguma vez 
mal Alfonso? Em qualquer sentido?

  
Anahí tragou sem saber muito bem o que responder.

  
-Não foi injusto em seu trato comigo nem com sua gente e, apesar de que 
seus sentimentos estão bem escondidos, qualidade muito própria de um líder, 
tratou a todos os que estão a suas ordens com justiça se não com amabilidade.

  
-Acreditam que é um monstro -insistiu o rei-. Estáis de acordo?

  
-Não, majestade. -Anahí elevou os olhos para lhe defender-. Não negarei 
que quem acredita nas superstições tendem a acreditar no pior dele, mas não é 
um monstro. É um homem... um homem bom, leal e respeitável; e assim é como se 
comportou comigo e com você, majestade.

  
-O que aconteceu com sangue no lençol nupcial? Dizem que havia uma 
quantidade tremenda. -O rei a olhou fixamente e Anahí soube que aguardava ver 
se lhe mentia.

  
-Como Lorde Derrick me tinha golpeado até deixar-me sem sentido, pensei 
que talvez também me teria violado. Sem estar seguro, Alfonso me deu um frasco 
com sangue para que, no caso de que não fora virgem, ninguém se inteirasse. -Anahí 
tragou nervosa-. Meu senhor teve a amabilidade suficiente de me deixar dormir 
aquela primeira noite sem deitar-se comigo. Na manhã seguinte, esvaziei o 
conteúdo do frasco sobre o lençol nupcial para que meu pai não me levasse com 
ele. Temo-me que não sabia muito bem o que fazia, e devo ter feito algo errado.

  
-Mas o matrimônio já está consumado.

  
Anahí assentiu.

  
-E quanto a sua virgindade?

  
-Intacta, meu senhor. Ao menos antes.

  
Pedro assentiu meditando suas respostas.

  
-Continue com sua história então.  
Como decidiras se casar com Alfonso? Tinha-lhe visto antes de chegar 
aqui?

  
-Não, é certo que tinha ouvido histórias dele, mas nunca lhe tinha 
visto. Não podia me casar com alguém como Derrick, que me compartilharia 
gostoso com outros. Quando conheci o Alfonso, pareceu-me tão amável e bonito...

  
O rei riu mas não disse nada.

  
Anahí inclinou a cabeça, ignorando o cepticismo do rei.

  
-Que quando me pediu que me casasse com ele, aceitei. Naquele momento me 
pareceu boa idéia, e sigo pensando que foi a decisão acertada.

  
O rei seguia sem dizer nada.

  
-Majestade, posso lhe dizer algo?

  
-Por favor -disse Pedro.

  
-É uma boa aliança entre duas famílias nobres, e que melhor maneira de 
assegurar a paz que unindo duas proeminentes famílias? Seguramente que conheces 
a união de meu marido com a família do rei Victor: a filha de Alfonso é a neta 
do próprio Victor. Que melhor razão que essa? Derrick já não está e meu pai não 
poderá ter seu dinheiro. Alfonso tem maior título que meu pai, e apostaria a 
que é quase tão rico como ele. Além disso, espero um herdeiro dele. Preferirias 
ver-me rechaçada e que chamassem de bastardo a meu filho, para aplacar o 
aborrecimento de um só nome?

  
-Falas sabiamente para ser tão jovem -disse o rei com tranqüilidade.

  
-Então, por que não escolhes o lado da sabedoria? -insistiu Anahí-. Tens 
o poder de fazer que meu pai se dê conta de seu engano. Meu pai é um bom homem, 
e é leal a Wessex. Se o decretáis, obedecerá.

  
-Não há dúvida de que lhe ama. São uma combinação verdadeiramente 
extraordinária, embora estranha. Por que há tanto ódio entre os dois homens? -o 
rei tomou a mão nas suas-. Pois pressinto que aqui há mais que o que me 
contaram.

  
Anahí tomou ar com força e conteve as lágrimas. Vacilante, respondeu:

  
-É por sua filha, Lady Ana Paula.

 

***

 

Alfonso aguardou junto a Enrico em silêncio. 
Perguntava-se por que estariam demorando tanto. Sabia que podia confiar no rei 
mas, pela primeira vez, duvidou do que lhe dizia o instinto. O peito lhe ardeu 
de ciúmes ao imaginar ao rei aproveitando-se de sua mulher. Justo no momento em 
que decidia que não podia suportar mais a espera e quando estava a ponto de ir 
em sua busca, ouviu o som de suas pegadas.

  
Anahí parecia pálida e abatida. A pedido do rei, caminhou em silêncio 
junto a seu marido. Alfonso procurou em seu rosto algum sinal do que tivesse 
acontecido, mas não viu nada. Anahí voltou para seu lugar, entre seu marido e 
seu pai. Tomou a mão de Alfonso e a apertou com nervosismo.

  
-Ainda não tomei uma decisão -anunciou o rei solenemente-. Desejo levar 
tempo suficiente para refletir a respeito do que escutei. Além disso, terei que 
fazer umas quantas perguntas a umas pessoas antes de tomar alguma decisão.

  
-Meu castelo é seu, majestade -declarou Alfonso.

  
O rei sorriu brevemente à ironia do comentário e assentiu.

  
-Desejo falar com Dulce. Tenho entendido que estava presente quando 
minha senhora descobriu que estava grávida. Também quero falar com a parteira.

  
Alfonso assentiu. Anahí soltou a mão de seu marido e indicou a um 
soldado que havia perto que fora a procurar as criadas.

  
-Também desejo falar com Ucker, seu homem -declarou o rei simplesmente-. 
Também tenho alguma pergunta para ele; acredito que poderia me ser de grande 
ajuda.

  
-Sim -aceitou Alfonso com voz rouca. Anahí fechou os olhos.

  
-Meu senhor conde, voltes para o acampamento e me esperes ali. Hoje, as 
portas do castelo permanecerão abertas, e não haverá agressões por nenhuma das 
partes. -O rei voltou para seu lugar na plataforma. Tomou um gole de hidromel e 
anunciou-: Lhes direi qual é minha decisão esta noite. Isso é tudo.