Fanfic: Par perfeito.

— Tome isto. — Christopher passou-lhe um copo d`água e um com­primido. — Vou lhe fazer um chá.

Dulce engoliu o comprimido e depois deitou a cabeça em cima dos braços, de forma que seus cabelos ruivos, mais vermelhos ainda pelo trato que lhe dera para a festa, se espalharam sobre a mesa. Sua cabeça parecia que ia estourar.

— Vejo que você ainda não aprendeu a beber com moderação — disse ele, encostando-se ao balcão da cozinha e olhando-a com franca reprovação.

— De um modo geral me controlo — murmurou ela, sem er­guer a cabeça dolorida.

Era verdade. Desde a noite em que Anahi completara vinte e um anos, ela tomava todo cuidado para não passar da conta, mas não estava com disposição de tocar nesse assunto em particular.

— Eu estava nervosa ontem à noite — foi sua explicação. — Acho que, sem perceber, bebi demais.

— Qual a razão de seu nervosismo?

Muito devagar, Dulce levantou a cabeça e apoiou-a na palma da mão. Não tinha como explicar sobre Luis ao Christopher.

— Não importa — disse. O barulho da chaleira a fez estre­mecer. — Por uma coisa tola que não deveria ser razão para me deixar nervosa. Mais nervosa fiquei pelo fato de você voltar sem avisar. Por que não me informou que estava vindo para casa?

— Tudo aconteceu tão de repente que não tive chance de avi­sar antes de sair. Quando cheguei a Heathrow telefonei para cá, mas ninguém respondeu. Concluí que você havia saído, quando, na verdade, dada a barulheira que aqui corria solta, ninguém ouviu o telefone tocar, claro.

Christopher fez uma ligeira pausa.

— Fazia três dias que eu estava viajando e tudo que eu queria era dormir. Quando chegasse em casa deixaria um bilhete avi­sando de minha chegada e cairia desmaiado na cama. Não me agradou nem um pouco encontrar meu apartamento coalhado de estranhos e meus vizinhos reclamando da barulheira para o síndico — concluiu inconformado.

— Não lembro bem do que aconteceu ontem à noite — Dulce confessou. — Isto é, lembro-me de você chegando, claro. — Disso ela lembrava bem, pois ainda podia sentir as batidas descom­passadas de seu coração. — Lembro-me de Anahi falar algo sobre lençóis... Eu fiz a cama para você? — ela perguntou embaraçada.

— Você tentou. - disse Christopher. Eu tenho que dizer que você não foi de muita ajuda, tropeçando naqueles fabulosos saltos altos, derrubando os travesseiros e caindo no tapete. Eu sou perfeita­mente capaz de fazer minha própria cama — ele acrescentou secamente —, mas você quis dar uma de anfitriã, para compen­sar o susto que sentiu ao me ver. Para mim bastava que você me desse uma toalha e me mostrasse onde eu ia dormir, mas não: embora desse a impressão de estar bem sem graça, toda hora puxando a saia e se desculpando, você fez questão de entrar no quarto comigo.