Fanfic: Par perfeito.

— Eu estava sonhando com meu velho professor de biologia. Ele gritava comigo porque eu estava atrasada:

— Eu é que estava gritando. Mas de nada adiantou. No fim tive que levar você para a cama. A essa altura ela lembrou-se vagamente de ter tirado o vestido.

— Eu tirei os seus sapatos...

Enquanto conversavam, a água da chaleira ferveu e ele vol­tou-se para preparar o chá. Dulce aproveitou a oportunidade e tornou a deitar sobre a mesa. Até aquele instante, mesmo tendo tomado o comprimido que Chris lhe dera, não melhorara da res­saca. Se pudesse voltar atrás não tomaria nenhum coquetel.

Christopher pôs o chá numa caneca, deixou bem adoçado e deu para ela.

— Tome, vai lhe fazer bem.

Ela abriu um olho, depois outro, tomou um gole e fez a maior das caretas.

— Tem açúcar!

— Beba assim mesmo.

Dulce não quis contrariá-lo. As batidas em sua cabeça foram amainando à medida que ela ia tomando o chá devagarinho. Foi só quando acabou que percebeu que Christopher estava lavando a ba­gunça da noite anterior.

— Deixe que eu faço isso — ela disse timidamente. Ele olhou-a por cima dos ombros.

— Mal posso esperar o momento de vê-la capaz de se sustentar em seus pés e de enfrentar o batente — ele anunciou com a ironia de sempre. — Estou apenas liberando espaço para o meu desje­jum. Francamente, eu estou esfomeado.

Desjejum? Dulce foi acometida de um vigoroso enjoo, acom­panhado de uma careta.

— Eu não passei toda a noite engolindo coquetéis — ele disse — e não como nada desde que deixamos o Saara.

Dulce o viu abrir a geladeira. A expressão de enfado do rosto dele revelou tudo que ele pensava de seu conteúdo, mas con­seguiu desenterrar um pacote de bacon e ovos que Dulce espe­rava estivesse dentro do prazo de validade. Imagine se para co­roar toda aquela confusão ele pegasse salmonela. Nem pensar...

Christopher pôs a frigideira no fogão e começou a colocar os pratos e travessas sujas dentro da máquina, pouco se importando com o fato de o barulho que fazia ribombar na cabeça de Dulce.

— Sobre o que você e Any estavam discutindo ontem à noite quando você chegou? — Dulce perguntou, levantando a cabeça que pesava como chumbo.

— Any estava discutindo — ele corrigiu. — Ela estava di­zendo em alto e bom tom que o meu egoísmo não permitia que eu atravessasse Londres para ir dormir na casa dela e de Poncho. Eu compreendi que o que ela desejava era deixar o apartamento para você e aquele jornalista que estava com a língua dentro de sua garganta quando eu cheguei. Sinto ter atrapalhado seus planos, mas viajei durante três dias, meus voos atrasaram re­petidamente e, para ser franco, sua vida amorosa não ocupava um lugar de prioridade em minha lista.