Fanfic: Par perfeito.

— Como sabe que Luis é jornalista?

— Ele teve a cara-dura de se apresentar.

Christopher acabou de encher a máquina de lavar pratos e fechou a tampa com uma força que fez Dulce estremecer.

— Ele não teve o menor escrúpulo em escutar nossa conversa e logo foi me dizendo que trabalhava para uma rede de televisão africana, cujo nome, diga-se de passagem, nunca ouvi antes, e para o Examiner e perguntou se eu, que testemunhara os acontecimentos em Usutu, poderia lhe dar maiores informações sobre o golpe.

— Que golpe? — perguntou Dulce franzindo as sobrancelhas.

— Céus, você não se lembra de nada do que aconteceu ontem à noite, não?

Christopher meneou a cabeça.

— Para uma pessoa `que trabalha em um jornal, você está muito mal-informada — ele comentou, cortante. — Havia muita agitação naquele lugar. Há semanas está assim. Achei que você devia saber que eu chegaria a qualquer momento.

— Eu tinha outras coisas na cabeça...

— O quê? Um almofadinha com casaco de couro? Dulce olhou-o friamente.

— O que aconteceu?

— Aconteceu que houve um golpe de estado e a oposição assu­miu o poder. Eu estava trabalhando num projeto de construção de estradas naquela região e esperava poder terminar antes que a situação ficasse insustentável, mas tive a sorte de sair de Usutu a tempo.

— Usutu? — perguntou Dulce espantada.

— Sim, Usutu, capital de Mbanazere — disse ele impaciente. — Você sabe.

— Claro que sei. E que...

Cinco anos e nada havia mudado.

— Eu não sabia que você vinha de lá. Que estranha coinci­dência. Ontem mesmo eu estava falando de Usutu...

— Com seu amigo repórter, sem dúvida — terminou Christopher com um acento sardónico na voz. — Para alguém que foi designado correspondente estrangeiro naquela área, ele não sabe nada de nada. Ontem, enquanto o pessoal se despedia, ele me crivou de perguntas.

O bacon já estava frito. Christopher quebrou dois ovos sobre ele, pegou umas torradas e sentou-se na mesa para comer. Depois continuou:

— Não que tivesse que ser muito útil. Eu estava no canteiro de obras quando o golpe ocorreu. Ouvi a respeito vol­tando à cidade. Soldados patrulhavam as ruas e eu fui posto imediatamente num avião da Real Força Aérea e despachado para cá.