Fanfic: A arte da sedução (adaptado) | Tema: Vondy

Dulce olhava paralisada para os quatro caixões na capela. Se não fosse pelo pequeno bebê Danny, em seu colo, nada pareceria real. Como poderia ser real? Como quatro pessoas que ela amava poderiam estar mortas?

Ela e Danny estavam sozinhos no banco da igreja. Dulce o colocou em seu colo para que pudesse olhar seu rosto, e, no momento em que fizeram contato visual, um enorme sorriso iluminou a feição dele. Dulce sorriu de volta e deixou que as palavras do padre se propagassem. Se ela ouvisse o que o padre estava falando, começaria a chorar.

Dulce não poderia pensar sobre sua amada prima Sophie e seu marido Leônidas, ou sobre sua tia e seu tio que a tinham criado. Não podia pensar sobre o terrível acidente na estrada que os matara e deixara Danny órfão, ou então a tristeza tomaria conta dela. Se ela se rendesse agora, talvez não parasse de chorar. Dulce tinha de ser forte por Danny.

Ele era tudo o que lhe restava.

Dulce se levantou e saiu da capela, carregando Danny perto do peito. Aos 25 anos, o outro único funeral a que Dulce tinha ido fora o de sua mãe. Mas ela era muito jovem na época e não se lembrava de nada.

Organizar os preparativos para hoje foi assustador, e ela teve de fazer tudo sozinha. Seu pai não ajudara. Ele nem pareceu comovido em vir quando ela o comunicou sobre o acidente e depois quando avisou sobre o horário do funeral. Ele quase parecera surpreso.

— Estou sem tempo — disse ele, então. — Estou cheio de trabalho.

— Mas é a família. — Dulce suspirou. Aprendera a não esperar muito do pai, mas sua intenção de ficar fora do funeral a chocava.

— É da família da sua mãe, não da minha — replicou ele.

— Minha família também. Dulce ouviu sua voz fraquejar enquanto falava. — Quando você se foi, depois que a mãe morreu, eles foram tudo que tive.

— Olhe pelo jeito você tem tudo organizado. Assim, não precisará de mim lá. Sinto muito pelo acidente, mas se eu for ou não ao funeral não fará nenhuma diferença para eles agora.

— Faria diferença para mim — disse Dulce ao telefone silencioso, depois que seu pai desligara.

Se, pelo menos uma vez em sua vida, ele estivesse lá...

Ela queria dizer a ele que tinha intenção de tomar conta do bebê de Sophie, Danny. Mas como um homem que abandonou a própria filha poderia entender?

Dulce ficou fora da capela, sob o ar gelado de novembro, e agarrou Danny. Boa parte do luto tinha desaparecido agora, e o que restava estava aos poucos silenciando. Ela inclinou a cabeça para baixo, para pressionar seu rosto contra os cachos macios de Danny, e suspirou longamente. Em breve poderia ir e levá-lo consigo desse lugar cheio de tristeza.

Ela não pensou além do funeral. Mas sabia que amava Danny mais do que as palavras poderiam dizer, e faria tudo que pudesse para fazê-lo feliz.

— Srta. Saviñón?

Dulce levantou os olhos e olhou para um homem maduro que nunca tinha visto antes. Ele a estudava com uma expressão tão fria e dura que ela sentiu calafrios.

— Meu nome é Cosmo Uckermann. — A voz dele era profunda e com forte sotaque.

Os olhos de Dulce se abriram em surpresa. Foi um choque perceber que ela estava frente a frente com o pai do marido de Sophie, Leônidas.

— Sinto muito pela morte de seu filho — disse ela, instintivamente estendendo a mão e tocando no braço dele.

No momento em que seus dedos tocaram a manga do longo e pesado casaco de inverno dele, soube que cometera um erro. Sua compaixão não era bem-vinda, assim como seu toque imprudente.

— Meu filho já estava morto para mim.

— Então por que está aqui? — Dulce manteve a voz firme, apesar das emoções desagradáveis que tomavam conta de seu peito.

Se ele realmente pensava tão pouco sobre o filho, por que se importara de viajar da Grécia para estar no funeral?

— Quando me ligou para falar sobre o funeral, percebi que havia algumas coisas específicas que eu tinha de deixar claro para você — disse Cosmo. — Especificamente sobre a criança que segura.

— Danny? — Dulce deu um passo atrás e o abraçou ainda mais forte.

— Como disse, meu filho estava morto para mim há muito tempo. Eu nunca reconhecerei esta criança como um herdeiro Uckermann. Este fedelho nunca verá meu dinheiro.

— Seu dinheiro? — repetiu Dulce, confusa.

Por que esse homem estava sendo tão hostil e falava sobre dinheiro?

— Sua prima era uma interesseira — afirmou Cosmo. — Tudo que ela queria era colocar as mãos em minha fortuna.

— Sophie não queria seu dinheiro. Tudo que queria era ser feliz e formar uma família. — Dulce sentiu os olhos se encherem de lágrimas ao pensar que a prima não viveria seu sonho. Ela não veria o filho crescer.

— Esta criança não é meu neto — disse Cosmo.

— Sim, ele é. O fato de você ser o avô dele me enoja, mas de qualquer maneira ele é seu neto, e não o deixarei dizer mentiras horrorosas sobre Sophie e Leônidas.

— Nunca o reconhecerei. E se procurar minha família mais uma vez, se arrependerá. — Sem dar chances de Dulce responder, ele se virou e se foi.

Ela o olhou depois, dando-se conta de que tremia. Escutara muitas coisas desagradáveis sobre a família grega de Leônidas, mas até então nunca entendera o porquê de ele odiar tanto seu pai.

— Está tudo bem. Nunca mais terá de ver aquele homem horrível — murmurou ela para Danny. — Temos um ao outro e vamos nos sair bem.