Fanfic: A arte da sedução (adaptado) | Tema: Vondy

— O que significaria alguma coisa para mim seria um pouco de respeito, um pouco de liberdade. Você me tem aqui, contra minha vontade, e eu nem posso fazer compras sozinha.

— O que tem de tão importante em fazer compras? — Ele estava mantendo o nível de voz, mas Dulce podia escutar um tom de suspeita. — Você pode ter qualquer coisa que quiser entregue na casa, a qualquer hora.

— Não tem nada a ver com fazer compras — disse ela, pensando ter sido um erro chamar sua atenção para isso. — É que eu não quero ser vigiada o tempo todo — continuou, apontando para a câmera. — E não quero ficar trancada aqui toda hora.

— O que quer comprar que não posso ver? — pressionou ele. — Pensei que tínhamos concordado em não ter segredos entre nós.

— Não. Nós não concordamos com isso — rebateu Dulce. Estava prestes a perder a razão e sentiu lágrimas em seus olhos. — Como tudo neste casamento, você dita. Você anuncia como deve ser.

— Está na hora de voltar para casa agora. — Ele a olhava com os olhos tão frios que ela se arrepiou.

— Por quê? — perguntou ela, tirando a mão dele de seu braço e pegando Danny. — Por que você está dizendo isso?

— Porque Danny está ficando cansado. E esta conversa já foi longe demais.

Dulce o olhou por mais tempo, sentindo-se como se ele a tivesse enganado. Depois olhou para Danny. Ucker estava certo. Ele estava pronto para dormir.

— Você não sabe se ele precisa dormir! — disse Dulce. — Não pode simplesmente entrar na vida dele e achar que sabe do que ele precisa.

— Vamos voltar. — Ucker pegou o braço dela.

— Volte você, se estiver tão determinado. Não vou ainda. —Dulce colocou Danny no carrinho e pôs o cinto nele. — Eu o empurro para a sombra enquanto ele dorme, e então posso aproveitar a paz e o silêncio sozinha.

— Não vai ficar aqui sozinha — disse Ucker. — Não quando age tão erraticamente.

— Por que não? Esta baía é toda fechada. Não acha que vou tentar fugir nadando, não é? — Dulce se virou e olhou para o mar. De repente, ela viu um pequeno barco. Sem pensar levantou seu braço e começou a acenar. — Talvez esteja preocupado que eu chame aquele barco.

— Não seja ridícula. — Ucker segurou o braço dela e se moveu em direção ao portão.

Ele empurrava o carrinho e parou para dizer algo em grego ao interfone. Então, antes que Dulce pudesse recuperar o fôlego, ele estava empurrando o carrinho pela trilha.

O coração dela estava em choque e com raiva, quando escutou o portão se fechar. Ela se virou e olhou para câmera, mas nada aconteceu. Ela olhou para Ucker e o viu recuar.

Estava presa em sua propriedade de novo!

E ele estava indo com Danny! Ela começou a correr subindo o morro. Ele estava quase fora de sua vista. Ela virou a curva que dava para casa e viu Ucker levantando Danny.

— Não vai tirá-lo de mim! — choramingou ela. — Nunca o deixarei tê-lo!

— Estava simplesmente trazendo-o para dentro para ele dormir — disse ele.

— Estava tentando nos separar. Trancando o portão e tirando-o de mim...

— Se quisesse separá-la de Danny, eu a teria trancado para fora da minha propriedade, não para dentro — disse ele, virando-se e andando para longe dela.

Ucker empurrou a cadeira de seu escritório abruptamente e olhou através da janela. A vista espetacular costumava acalmá-lo. Mas naquela tarde não pareceu ter seu efeito calmante.

Ele se virou e olhou pela outra janela. Desde que retomaram da praia, seu humor ficava mais e mais sombrio.

Ele pensou sobre o comportamento de Dulce naquela manhã. Ela estava feliz e relaxada a princípio, mas, de repente, tudo tinha mudado. Parecia que ela estava tentando amimar uma briga com ele.

Era inaceitável. Ele não aceitaria aquele comportamento de ninguém, especialmente de Dulce. Ela concordara com o casamento e tinha entendido os termos, ou pelo menos ele pensou que ela entendera.

— Precisamos conversar.

Ele se virou e viu Dulce parada na porta do escritório. Seu rosto estava pálido, mas firme, e seu cabelo, preso. Ela usava o mesmo vestido de antes, o mesmo da primeira vez em que fizeram amor.

— Sim, precisamos — concordou ele.

Sua chegada silenciosa o tinha pegado despreparado, mas ele não se permitia demonstrar.

— Onde está Danny?

— Irene está brincando com ele — disse ela. — Não quero distrações enquanto conversamos.

— Bom. Nem eu — concordou ele.

Ela se acalmara, mas ele notou certa fragilidade em sua postura.

— Entre e sente-se.

— Não precisa. Quero ir direto ao assunto — disse ela, sem sair do lugar.

— Não vou ter uma conversa na porta. — Ucker pegou o braço dela e a puxou. — Você não entendeu nada sobre ser minha mulher, sobre discrição?

— Pare de me manipular! — Dulce puxou o braço e o encarou. Seus olhos com fogo e sua calma estavam se desfazendo.

— Então pare de me atormentar de propósito. — Ele fechou a porta e a olhou. — Quando se casou comigo, concordou em manter a aparência de um casamento normal e feliz.

— Não o estava atormentando. — Dulce suspirou, esfregando o braço onde ele tinha tocado. — E não houve acordo entre nós! Como tudo o mais, você me disse o que tinha de fazer!

— Bem, preste atenção ao que vou dizer. Vai se arrepender de arrumar uma briga comigo em público de novo. Na praia foi inaceitável, mas discutir em frente à minha governanta é impensável!

— Não estava tentando arrumar uma briga — disse ela. — Estava chateada.

Seu coração palpitava, e ela começava a se perguntar se vir falar com Ucker fora a decisão certa.

— O que você tem para estar chateada? — perguntou Ucker. — Eu lhe disse, não quero saber de disputas e calúnias.

Ela olhou para o rosto dele e se perguntou como ele iria reagir. Além do fato de já estar mal-humorado, ele não poderia ficar bravo sobre uma possível gravidez. Ele devia saber que era um risco de fazerem amor. Ela havia se esquecido da contracepção, mas ele era também muito experiente para ter cometido o mesmo erro.

— Bem? Vai me dizer o que a está chateando?

— Acho que posso estar grávida — disse ela.

— O quê? — Ucker a olhou em choque.

— Eu... Eu percebi na praia esta manhã. — Ela o olhou com olhos arregalados.

— Mas você toma pílula — disse Ucker. — Se esqueceu de tomar, tinha a responsabilidade de me contar.

— Não me esqueci. Não tomo pílula.

— Então o que está jogando? Por que me disse que estava tomando pílula?

— Não disse — insistiu ela, encolhendo.

— Você planejou me enganar ficando grávida de mim? — Uma sensação horrível o atravessou.

— Claro que não! — rebateu Dulce. — Nunca faria algo desse tipo!

— Então por que o fingimento? Por que me disse em Menorca que estava protegida?

— Não disse! — Dulce respirou fundo. Então ela colocou a mão na boca ao se lembrar sobre a conversa deles no hotel.

— Você afirmou que não teríamos de nos preocupar sobre proteção. — Ucker a encarou.

— Eu quis dizer que não seria um problema porque não planejava dormir com você! — Dulce mordeu o lábio e o encarou. — Sinto muito se você entendeu errado.

— Agora é tarde. O estrago já foi feito. Está grávida ou não?

— Como vou saber? — disse Dulce. — A culpa não é só minha, sabe? Se você não fosse tão implacável, isso nunca teria acontecido. Estou atrasada. Mas como não posso sair para comprar um teste de gravidez, não posso dizer com certeza.

— Verá o médico esta tarde, o mais cedo possível — afirmou Ucker, colocando a mão no bolso e pegando seu celular. Era insuportável não saber.

— Não! — A voz de Dulce estava firme. — Não vou ver um médico ainda. Quero a liberdade e a privacidade de descobrir isso por mim mesma.

Ucker baixou seu telefone e a olhou. — Quero um teste de gravidez caseiro — disse ela com convicção.