Fanfic: Iпtεrпαto Fεmiпiпo- Continuação - Portiñon | Tema: Rebelde, Portiñon
Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas e, mais que todas as outras, as visuais.
— Aristóteles, Metafísica
OoO
O seu coração estava em um ritmo acelerado, ela tentou aspirar o ar em torno, contudo acabou engasgando nas suas próprias dúvidas e receios. Seus olhos estavam fechados para a verdade, talvez ela fosse forte demais para encará-la, ela precisava ser delicada, ou então ficaria cega com o que estava acontecendo. Assim como o pensamento platônico que visava olhar a verdade, contudo tinha que ser cuidadosa, pois ela poderia cegá-la. Carei sentiu um toque molhado na curva de seu pescoço e não conseguiu evitar os arrepios que cobriram todo seu corpo, erguendo seus pêlos, exibindo o efeito das ações de Viviane. Não podia mais negar, seu corpo a denunciava e isso a surpreendia. Não tinha como evitar e isso não surpreendia apenas o olhar exterior, mas sim sua alma que estava perturbada.
- Está tudo bem? – a voz rouca de Viviane a acordou. A mais velha parecia preocupar-se com o suor e a aceleração cardíaca da loirinha. Seus olhos esverdeados ficaram a observar o rubor que estava presente naquele rosto angelical.
- Ah, eu... bom... sim. – respondeu finalmente. Pensou por um momento em pedir para que se afastasse, todavia essa seria uma mentira. Queria saber mais sobre ela mesma naquele momento e estranhamente confiava na mulher a sua frente. Talvez estivesse a ver somente a projeção da verdade, mas não se importava, queria afundar-se naquele universo e encontrar as respostas que viviam martelando na sua mente.
- Se eu fizer qualquer coisa que não goste, apenas fale. Sim?
Carei balançou a cabeça positivamente. Viviane sorriu e puxou a garota pela mão, levando-a até a cama, onde elas se sentaram lentamente. A jovem escritora não ficou parada a olhar a garota trêmula a sua frente, pois sabia que o constrangeria e talvez ela pudesse fugir. Agora não era o momento para conversa ou então olhares compreensivos, mas o momento de abraços e beijos carregados de volúpia e desejo contido. O tecido que cobria o corpo de Viviane começou a escorregar pelos seus membros, acabando no chão de madeira do quarto e para realizar essa tarefa, a jovem escritora não deixou de beijar ou tocar Carei por nenhum momento. E quando ficou apenas com a roupa de baixo, Viviane parou um pouco, encarando aquele olhar em parte assustado. Eram duas garotas se beijando ali, não havia mistério, nada a além de sexo e desejo entre duas pessoas. Talvez fosse assim ao olhar de alguns, mas para Carei aquilo era um choque. A loirinha abaixou a cabeça, não sabendo como reagir, e inconscientemente ela abraçou seu próprio corpo, como se estivesse se protegendo ou então tentando amenizar alguma ferida interna.
- Não precisa ter medo de mim, eu não vou fazer nada que não queira. – observou Viviane, vendo aquele ato introspectivo. Talvez existisse mais alguma coisa dentro daquela garota perturbada.
- Sabe, eu... não é a primeira vez que eu estou assim... com outra... garota.
- Hum... não? – indagou com certa surpresa – Então já fez isso antes?
- Na verdade, eu não queria.
Sim, existia outra coisa que impedia a loirinha de se soltar. O olhar dela era de medo, Viviane podia reconhecer isso claramente, por isso colocou as mãos em cima de suas pernas.
- Quer falar sobre isso?
O silêncio caiu no cômodo, acabando com o contato visual e sonoro delas. Viviane esticou seus braços e abraçou Carei, caindo no colchão macio, ficando abraçada a ela com os seus rostos próximos. Seus lábios quase se tocavam, mas não se atreveram a passar daquele limite. E assim ficaram por um longo tempo, ambas de olhos fechados, seus corpos moviam-se levemente pela respiração compassada. O senhor do sono parecia lhes visitar, mas não teve a chance de levar aquelas duas garotas para seu universo da dormência e ilusões. Os lábios rosados de Carei se abriram, expelindo palavras baixas e hesitantes, contando sobre o antigo colégio e sua situação nele.
OoO
O tempo foi passando naquela madrugada, onde a fina garoa caía pela cidade. Parecia que a umidade havia apaziguado os ânimos e desafetos, tudo era mais limpo, mais claro e talvez mais compreensível. Talvez aquela garoa fosse a verdade de que Platão falava, talvez ela fosse o agente impulsionador para a práxis contemplada que o filosofo tanto citava. E aquela noite foi passando, dando abertura a uma abóbada celeste num azul claro. Os ventos frios daquela manhã misturavam-se com a terra úmida, e o sol estava um pouco hesitante a aparecer, sendo coberto por algumas nuvens acinzentadas. No apartamento de tijolos laranja no centro da cidade. Um casal de namoradas estavam jogadas em meio a lençóis e roupas de baixo. A primeira a se levantar foi Anahi, bocejando ligeiramente, olhando para as costas malhadas da sua namorada, tocando levemente na tatuagem da carpa que ficava próxima ao seu ombro direito. Aos poucos a loira foi se levantando, pegando sua calcinha e um roupão de algodão cor de vinho que pertencia a sua namorada. Anahi gostava de usá-lo, pois tinha o cheiro da karateca. Ela foi andando pelo apartamento, sentindo o vento frio que vinha da janela aberta da sala, logo a fechou e voltou a bocejar. Passou a mão pela suas coxas, estava sentindo uma forte coceira pela região, ficou coçando por um tempo, vendo que sua pele ficou avermelhada.
- “Deve ser alguma alergia. Faz tempo que está coçando...” – pensou.
Ela ficou se coçando, distraída, quando olhou para baixo.
- “Hum... mensagem?” - mentalizou, olhando para o aparelho celular de sua namorada que estava piscando. Ela o pegou em cima da mesa de centro da sala, vendo que era de Amanda. – “Essa garota de novo”.
Dessa vez não ficou hesitante e abriu logo a mensagem, lendo seu conteúdo com atenção. E talvez com outros olhos, certamente que Anahi não podia ser tão cega à fidelidade da sua namorada, talvez Dulce não fosse tão correta como dizia ser.
A mensagem:
“Dulce, perdão por ontem. Quase falei merda, eu ia te ferrar. Mas pow, vamos marcar de sair para beber. Sua namorada é bacana, pelo o pouco que lembro. Amanda”.
- “Quase falou merda? O que isso quer dizer?”.
Anahi colocou o aparelho em cima da mesa e foi até a cozinha, começando a preparar um café. E enquanto a cafeteira fazia seu serviço, ela encostou-se a pia de mármore e ali ficou pensando nas mensagens antigas que havia lido no celular da sua namorada.
- “Será que ela poderia ser tão filha da puta?” – indagou de repente, após uma linha de pensamento.
Não queria ver a verdade, não almejava as ambições do pensamento platônico ou então da metafísica de Aristóteles, não desejava ver o mundo a sua volta, procurar sua essência para ver o verdadeiro mundo que a regia. E ali estava o motivo de seus pensamentos, Dulce adentrou na cozinha, usando um pijama preto, coçando seus olhos vermelhos de sono a karateca se aproximou e abraçou a cintura da sua namorada, beijando-lhe no rosto, enquanto sussurrava um arrastado “bom dia”. Any nada disse, apenas passou seu braço pelas costas, acariciando levemente, enquanto seu peito estava pesado. Estava insegura demais.
- Dulce... – sua voz saiu fraca, trêmula demais para sua personalidade.
- Hum?
- Eu... – guardou sua fala, sentindo seu peito acelerar.
- O que foi? – indagou, afagando os fios loiros, enquanto beijava a jugular da sua namorada.
- O que você fez com aquela sua amiga?
De repente o toque na cabeça de Any parou e Dulce tremeu levemente, arregalando seus olhos, por um momento agradeceu por Any não estar vendo sua expressão, pois ela revelaria tudo que queria esconder. Contudo, o que Dulce não sabia, era que Any podia perceber suas ações não somente com o olhar, mas sim com seu corpo. Com o olhar interiorano que vinha do pensamento de Santo Agostinho ou então de Merleau-Ponty, que diziam que o homem tinha um olhar subjetivo, interiorano que vinha de sua alma.
- Como assim? – indagou, tentando manter a voz firme.
- Dulce, diga-me que tipo de relacionamento você tem com ela.
- Somos amigas, Any. Aliás, colegas de academia.
- “Isso não parece verdade. Pelos Deuses, Dulce, não faça isso comigo”.
Anahi se afastou do abraço, indo até a cafeteira, desligando-a. Pegou uma caneca de vidro e colocou um pouco de café, olhando de canto para Dulce que estava em silêncio. Aquele silêncio não era comum entre elas, quando terminou de se servir, Any saiu com a caneca na mão, indo até a sala, onde se sentou no sofá. Dulce ficou um tempo na cozinha, olhando para o piso frio, sentindo seu coração bater como uma bomba relógio. Ela passou a mão por seu rosto suado e foi até sala, encontrando sua namorada assistindo um programa qualquer de culinária.
- Vai trancar o curso hoje na faculdade? – Dulce indagou.
- Sim. – respondeu seco, sorvendo seu café.
- Quer que eu vá com você?
- Não precisa.
- Eu vou te levar, aliás, eu mesmo não estou estudando direito depois dos problemas que passamos. – sorriu amarelo – A que horas quer ir?
- Não sei.
- Podíamos almoçar fora. O que acha?
- Pode ser.
Anahi suspirou, sentindo um nó na garganta, ela sentia vontade de chorar, a cada pergunta de Dulce, seu coração parecia entender o sentimento de culpa da sua namorada e na sua vã tentativa de agradá-la de todos os modos, ocultando assim os atos obscuros carregados de infidelidade do passado. Era uma hipótese que Dulce a houvesse traído, mas essa hipótese estava deixando de desempenhar seu papel, resvalando-se para uma verdade, uma afirmação. A karateca olhou para o parelho em cima da mesa, vendo que seu celular acusava uma mensagem e então sentiu uma linha fria correr por sua espinha dorsal. Ela puxou o aparelho e leu a mensagem, a mesma que Any havia lido anteriormente.
- Você leu minha mensagem?
- Sim.
- E por isso está criando coisas na sua cabeça?
- Que coisas, Dulce? – indagou com certa selvageria, mas isso era transmitido apenas com o olhar, pois não moveu um músculo sequer de sua face.
- Coisas, coisas. O que você está pensando?
- O que eu deveria pensar?
- Eu não sei. Mas aquela pergunta que me fez na cozinha não é normal.
- Não? Apenas perguntei qual era sua relação com Amanda. O que tem demais nisso?
- Você sabe qual é minha relação com ela!
- Sei? – indagou, erguendo uma sobrancelha. Any colocou a caneca em cima da mesa e se acomodou no sofá, sentando-se de lado para poder dar toda sua atenção a sua namorada.
- Claro que sabe.
- Por que você está tão nervosa?
- Eu não estou nervosa.
- Até alterou seu tom de voz.
- Você está me deixando nervosa.
- Desde quando eu te deixo nervosa, Dulce?
- Oras, pare de me encher com isso! – falou num tom alto, bufando e franzindo seu cenho.
Anahi se levantou em silêncio e caminhou até o quarto, sendo imediatamente seguida por sua namorada. A loira foi até o armário, pegando uma muda de roupas.
- Onde está indo?
- Por que está perguntando isso? Você está tão nervosa, Dulce. Tão nervosa... nervosa demais. – comentava baixinho, falando mais para ela mesma do que para a própria Dulce.
Any era lenta para perceber as coisas ao seu redor, ela era cega em relação a sua namorada. Acreditava que Dulce era a verdade e não precisava de mais nada no seu mundo, ela era seu pilar de sustentação, sua melhor amiga, era aquela que lhe dava amor gratuito, aquela que permita que fosse ela mesma. Mas toda essa verdade parecia desmoronar, parecendo que Dulce era apenas a projeção do real. A ingenuidade e o amor cego tinha seus limites.
- Eu vou sair um pouco. – falou, após ouvir Dulce indagar sobre seu destino novamente.
- Onde?
- Eu vou dar uma volta.
- Sozinha?
- Sim. Eu estou um pouco de tédio.
- Eu vou com você.
- Eu quero andar um pouco sozinha. Por que não vai para a academia malhar?
Any passou por sua namorada e jogou suas roupas na cama, retirando o roupão vermelho. Agora o cheiro de Dulce naquela peça de roupa a deixava enjoada, não queria mais senti-lo. E aos poucos vestiu um jeans e uma blusa preta. Cinismo, descaso e desprezo. Aqueles eram uma das atitudes que cabiam perfeitamente a personalidade de Any, e Dulce a conhecia muito bem. A loira apesar de ter um bom coração, um rosto amigável e sempre exibir sorrisos, ainda sim tinha uma capa protetora, um escudo impenetrável que sempre usava quando estava com raiva ou então desconfiada de algo. Any era assim quando se conheceram, não tinha como Dulce esquecer o seu jeito frio. A karateca puxou uma calça jeans que estava no chão e a vestiu, logo foi até seu armário e pegou uma blusa qualquer, colocando-a ao avesso a princípio, mas logo a arrumou, vendo que Any já estava calçando seu tênis.
- “Claro que tem alguma coisa a mais. Ela está tão nervosa... como eu sou idiota. Eu faço qualquer coisa e ela descarrega sua frustração no meu corpo, mas quando ela erra... eu apenas tenho o direito de me chatear,” – refletia – “eu não sei ao certo o que você fez, mas sei que fez. E eu vou descobrir”.
Any saiu do quarto, indo até a cômoda da sala, onde pegou a chave do apartamento e seus pertences, e antes que saísse sozinha, Dulce já estava ao seu lado, descendo a escada de piso frio até o térreo.
- Any! Pare de andar tão rápido! – pediu, puxando a namorada pelo braço.
- Eu estou no meu ritmo normal.
- Não está não. Onde quer ir? Eu te levo.
Any olhou para os dois lados e atravessou a rua, chegando a outra calçada, onde começou a caminhar em silêncio, Dulce cansou da brincadeira de gato e rato e o puxou com força, prendendo-a.
- Pare de me ignorar.
- Não estou.
- Claro que está. Que ridículo. Onde é a merda de lugar que você está indo?
- Eu só quero andar, Dulce Será que pode me deixar um pouco?
- Não mesmo, eu não vou te deixar sozinha.
- Por quê?
- Você está sensível demais esses dias.
- Ah, é por isso? – indagou, rindo baixinho. Aquela risada era fria e carregava certo deboche – Estou melhor agora.
Dulce ficou olhando para aquele sorriso irritante, sentindo seu coração se despedaçar. A resposta para suas perguntas estava ali. Se Any realmente descobrisse sua traição, todo aquele desprezo seria multiplicado e o peso redobrado Num relance o corpo menor foi puxado e abraçado, Any apenas ficou quieta, sentindo os braços fortes lhe envolverem, mas dessa vez não se sentia mais protegida, especial ou querida, sentia-se apenas como mais uma. Uma outra qualquer, um alguém ou um ninguém.
- Tudo bem. Leve-me para a feira do centro, eu quero fazer algumas compras.
- Claro.
Dulce puxou sua namorada até o carro, com certo alívio no peito. Any sentou-se em silêncio e cruzou os braços, ficando com os olhos fechados. O aparelho de som foi ligado, logo um som de guitarra invadiu os ouvidos do casal, tirando o silêncio incômodo que estava entre as duas.
Alguns minutos rondando a cidade e Dulce parou o carro numa rua esburacada, cheia de barracas coloridas.
- Obrigado. Pode me deixar aqui.
- Eu vou com você.
- Dulce! – gritou de repente, dando um tapa no painel do carro a sua frente – Já disse que quero andar sozinha. Não me enche o saco! Mas que merda!
Dulce não conseguiu reagir, paralisando todos seus músculos diante da fúria da sua namorada. Any a derrubaria dez vezes seguidas no ringue com aquele olhar.
- E não precisa me buscar, eu sei o caminho de casa! – disse no mesmo tom, batendo a porta do carro, postando-se a caminhar.
Logo o vulto preto se perdeu na multidão, Dulce não tinha mais como agarrá-la e talvez fosse melhor que deixasse de pressioná-la. A karateca encostou sua cabeça no volante do carro e ali ficou, parada por minutos, pensando na sua estupidez, remoendo-se na culpa, desejando voltar no tempo e apagar sua burrada. Não tinha mais volta. E a feira a frente não interessava a Any, ela apenas queria despistar sua namorada, pois seu objetivo era encontrar a pessoa que não saia de sua cabeça. Anahi pegou um ônibus na esquina seguinte, indo até a casa de Amanda, talvez fosse melhor tirar satisfação com a outra, pois Dulce parecia negar ter feito qualquer coisa. Já no ônibus, Any pegou seu celular e ligou para Amanda, ela havia pego o seu número no celular de Dulce. Esperou alguns segundos e ouviu uma voz sonolenta atender a chamada.
- Amanda?
- Sim. Quem fala?
- Aqui é a Anahi, namorada da Dulce.
- Ah! Anahi. Oi, tudo bom?
- Sim. Eu estou passando na sua casa, pois Dulce pediu para que eu entregasse um par de luvas que você esqueceu no porta-luvas do carro dela.
- Ah, é mesmo. Mas não precisa se preocupar.
- É que eu estou na rua de sua casa, então achei melhor fazer esse favor.
- Certo. Eu já vou descer na calçada.
- Obrigado. Até mais.
Anahi desligou e depois de alguns minutos desceu do ônibus, caminhando pela calçada úmida e arborizada, reconhecendo a garota de cabelos castanhos claros que estava encostada a um portão de metal. Quando se aproximou, ambas apertaram suas mãos e Amanda ficou olhando para Any, procurando o par de luvas que ela deveria ter carregado.
- E as luvas? – indagou Amanda.
- Ah, pois é eu sou esquecida, – falou cínica – deixei no carro de Dulce. Mas o importante é que eu estou aqui e queria falar com você.
Amanda não era tola, sabia exatamente o motivo da outra estar ali, todavia não sabia como reagir.
- O que queria falar comigo?
- Sabe, eu não queria estar aqui. Não mesmo, isso é humilhante. Mas eu quero saber o porquê de você ficar no pé da minha namorada.
As duas se encaram com desafio, certamente que Amanda quebraria a cara da menor, mas não estavam no ponto de encararem a violência como uma forma plausível para se entenderem. Apenas conversavam.
- Eu não fico no pé dela.
- Depois de alguns beijos e abraços, eu acho que você deve ter ficado apaixonada. Falou, jogando um “verde” na conversa, tentando arrancar alguma coisa, caso estivesse errada, apenas pagaria um papel ridículo com uma desconhecida.
Amanda ficou um tempo em silêncio e Any começava a pensar que talvez Dulce não a tivesse traído, talvez ainda pudesse acreditar que estava sendo enganada por sua intuição.
- Isso só foi uma noite, – Amanda falou – não era para ter acontecido. Nós não fizemos mais nada depois.
O mundo de Anahi caiu. Ela não conseguiu falar mais nada, apenas ouvia Amanda se explicando. Queria socá-la, mas ela não era culpada.
- (...) eu nunca tinha dormido com uma mulher antes, foi só para experimentar. Dulce veio e me ajudou e...
- Dormiu? Você transou com ela? – Anahi indagou de repente. Na sua ingênua cabeça, ela pensava que Dulce apenas tinha beijado e dado uns amassos na garota a sua frente.
- Ah... sim... – respondeu Amanda, sentindo seu peito acelerar. Talvez tivesse falado demais.
- Então Vocês transaram?
Amanda não respondeu, apenas moveu a cabeça positivamente. Anahi não disse nada mais, apenas virou-se e voltou a caminhar, olhando para o mundo através de lágrimas quentes e salgadas, chorando compulsivamente enquanto andava pelas ruas úmidas.
- “Sexo... você fez sexo com outra Dulce! Filha da puta!”.
Anahi andava rapidamente, desejando sumir, desaparecer daquele mundo. As palavras de Heimel, misturavam-se com as de Amanda, sujando seus pensamentos. A loira parou de andar ao ouvir um chamado, ela virou a cabeça para o lado e encontrou dois rostos conhecidos.
- “Que cidade minúscula do inferno!” – praguejou em pensamento.
Mas não tinha como Any não encontrar nenhum conhecido. Ela estava andando a dois quarteirões da faculdade e nesse horário, muito dos alunos estavam saindo. Contudo acabou encontrando duas pessoas que jamais desejaria falar naquele momento. Lá estavam a dupla, Juliana e Kirias, paradas na calçada, segurando um volume de livros enquanto conversavam. Any passou a mão por seu rosto, secando suas lágrimas, enquanto as duas melhores amigas da sua namorada se aproximavam.
- O que aconteceu? – indagou Juliana.
Kirias cruzou os braços e ficou olhando para a mais nova, tentando decifrá-la.
Any abriu um sorriso amargo. Juliana achou um pacote de lenço no seu bolso da calça, e deu para Any que aceitou, começando a se limpar em silêncio.
- Obrigada. – agradeceu pronto para voltar a andar, entretanto Kirias a puxou e Juliana entrou na sua frente. Certo! Elas eram curiosas
- O que aconteceu, Any? – Kirias indagou.
- Nada, apenas me deixem em paz.
- Onde está Dulce?
- Sei lá.
- Vocês brigaram? – a loura perguntou.
- Não, não. Olha, me deixem em paz, eu estou realmente irritada.
- Nós vamos ligar para a Dulce. Andar sozinha desse jeito pode ser perigoso. – Juliana falou.
- Não! – Any gritou – O que eu menos quero é vê-la.
- Hum! Brigou com a Dulce. Já entendemos. – Kirias observou – Podemos ajudar em alguma coisa?
- Não, apenas poderiam me soltar.
- Eu te levo para casa. – Kirias falou – Andar desse jeito pela rua só vai causar algum acidente.
- Você está se saindo uma boa samaritana, Kirias! – Juliana observou com surpresa.
- Eu gosto da Any, tenho admiração por ela. – falou – O que tem demais em ajudá-la?
- Nada, nada. Apenas não vá enciumar a fera dela.
- Ah, Dulce fica enciumada com o vento. Ela não tem muito cérebro, - observou – quer que eu te leve para casa, Any?
- Você se esqueceu que o meu carro não roda hoje e que ia me levar também?
- Eu sei, Juliana. Bom, vamos todos para o meu carro.
Anahi foi praticamente arrastada pelos dois braços, talvez fosse melhor que ela fosse levada para casa, pois não conseguia nem mentalizar o bairro que estava. Ela não tinha noção do tempo, e se percebesse, ela estava andando há mais de uma hora.
Juliana e Kirias sentaram no banco da frente, deixando Any atrás, com um olhar cabisbaixo e choroso. A loura começou a dirigir, olhando a todo instante para trás, vendo Any pelo retrovisor.
- O que aconteceu, Any? – Juliana tornou a indagar.
- Eu descobri que... que... a Dulce transou com outra garota.
De repente Kirias pisou no freio, parando o carro lentamente, recebendo algumas buzinadas e xingamentos dos outros motoristas, mas ela estava pouco se importando. A dupla virou seu corpo para trás e encarou Any com surpresa.
- A Dulce?! Com quem?
- Com uma idiota da academia dela, Juliana. E depois me tocou... eu me sinto tão mal. – e falando isso, voltou a chorar.
- Mas... mas você tem certeza?
- Sim, Juliana, absoluta.
As duas mais velhas ficaram se olhando, não sabendo como reagir. Certamente que Dulce havia sido uma infeliz e apesar de serem amigas, elas não podiam acreditar e aceitar aquele fato de primeira.
- E onde você estava até agora? – Kirias indagou.
- Falando com a idiota.
- Você foi falar com a garota? Não acredito, Any!
- Ah, Juliana. O que você queria que eu fizesse?! – indagou num grito – Dulce ficou agindo estranho, que nem uma idiota, uma falsa filha da puta. No começo eu pensei que era coisa da minha cabeça, mas depois vi que eu era burra e cega demais! E eu achando que ela é toda certinha, mas esse ciúme dela é só uma máscara para suas verdadeiras ações! Ah! Que ódio!
Kirias resolveu voltar a dirigir ao ver que um guarda de trânsito se aproximava dela, a loura pisou no acelerador e saiu dali, enquanto ouvia Juliana tentando consolar a loira, mas era inútil.
- E o que você vai fazer, Any?
- Que Dulce vá pro inferno, eu não vou ficar mais com ela.
- Mas... vocês se gostam. – Juliana tentou falar.
- Ela vive me batendo se eu faço algo errado, ou então vem com o terrorismo dela e eu suporto tudo. Mas eu não sou idiota a ponto de sorrir para ela. Se ela quiser me bater, que venha, mas não vou ficar mais com ela.
- Você está com raiva, Any. Não pense assim e...
- Você está certa, Any! – Kirias falou de repente, interrompendo o discurso de Juliana.
- Está? – indagou a ruiva com surpresa.
- Estou?
- Sim. Eu faria o mesmo, ou então ia dar uns tapas na cara da Dulce, mas como não dá para fazer isso, eu acho melhor você dar um tempo e pensar.
- Ah... eu também acho. Mas eu não queria vê-la mais.
- Então ela fez mesmo sexo com outra?
- Sim... Hoje de manhã acordei com uma coceira estranha na minha coxa. – disse a loira com preocupação.
- No Saint Rosre as alunas tinham exame médico em dois em dois meses, sendo que para entrar naquele lugar, era necessária uma bateria de testes, - Juliana comentou – por isso nenhuma de nós não ligava para contraceptivos, mas nesse mundo exterior, muita coisa pode acontecer.
- Ah, mesmo no colégio tinha algumas que apareciam com manchas de pele de repente. Eu não sei se alguém já pegou alguma doença mais séria. – Kirias comentou – E Any, se estiver preocupada com alguma coisa, eu te acompanho a uma clínica.
- Eu quero. – falou, abraçando seu corpo, como uma criança amuada.
Kirias e Juliana se derreteram, sentindo vontade de abraçar a mais nova, mas se contiveram.
- Quer ir hoje mesmo? Podemos ir.
- Eu gostaria. – Any falou – Obrigada. Pensei que vocês fossem me encher o saco, mas estão me ajudando.
- Claro que íamos te ajudar, somos amigas da Dulce, mas também não somos idiotas. – Juliana falou.
E o carro esporte ficou andando pelas ruas, procurando alguma clínica para fazer a consulta. Elas acabaram parando na frente de um prédio branco, muito bem pintado e com uma aparência sofisticada. O trio entrou no lugar e Kirias foi até a recepção. Any se sentou com Juliana num banco de couro, observando as pessoas ao redor em silêncio, o lugar era vazio, pois o preço de uma consulta não eram nada populares e não havia convênio médico com planos de saúde populares.
- Any além da consulta você pode fazer o exame também, mas será daqui a uma hora. Tudo bem? Você tem que pagar no caixa e apresentar seus documentos.
A loira se levantou e foi até a recepção, sendo acompanhada de Kirias que a observava em silêncio, e quando terminaram, elas voltaram a se sentar.
- Juliana, quer que eu te leve para casa?
- Não, eu espero.
Any ficou com a cabeça baixa, ignorando a conversa das mais velhas, não querendo falar nada, apenas chorava baixinho. E de repente o celular da loira tocou.
- É a Dulce? – Kirias indagou.
- Sim.
- Dá isso aqui! – pediu a loura, arrancando o aparelho da mão de Any.
Kirias atendeu.
- Any eu...
- Não é a Any. É a Kirias.
- Kirias!? O que você está fazendo com o celular da Any?
- Eu estou com ela.
- Eu quero falar com ela.
- Ela não quer falar com você.
- Como assim? Passe logo para ela.
Kirias deu alguns passos para frente e foi até uma área aberta, onde as demais não pudessem ouvir a conversa.
- Ela já descobriu sua traição, Dulce. O que raios você fez, idiota?
- Co... como?
- Pela sua voz dá para ver que é verdade. A Any foi conversar com a tal da garota que você pegou. Como você pôde ser tão burra?
- Ela... ela... ela fez o que?!
- Isso mesmo, ela foi até a garota. Foi o que ela disse.
- Eu não acredito! Eu quero falar com ela.
- Ah, você não vai querer ver a Any. Ela está furiosa e não pára de chorar. Por sorte ela passou pela rua da faculdade e nós a vimos passando.
- Ela... está chorando muito?
- Claro, Dulce. Você é estúpida?
- Kirias... eu não queria ter...
- Pode ir parando com esse discurso. Vá falar isso com sua namorada, ou ex-namorada, sei lá...
- Ex-namorada? Não diga besteira.
- Ah, ela disse que vai terminar com você.
- Ela não pode fazer isso! Kirias, onde vocês estão?
- Ah, estamos numa clínica. A Any descobriu que você fez sexo com a garota e ela está neurótica com isso também.
A ligação ficou muda por um tempo.
- Dulce? Dulce, quando você ficou com essa garota?
- Há uma semana ou mais.
- Hum... um bom tempinho já.
- Me dá o endereço.
- Não. Depois eu a levo para casa. Agora eu vou desligar, Dulce.
- Kirias, por favor, a traga para casa depois.
- Eu te prometo que a levo e vocês conversam.
- Obrigada.
- Até mais, Dulce. E eu não queria ser tão estúpida como você.
Kirias desligou e voltou para o interior da clínica, encarando Any, que nem sequer perguntou nada a respeito da ligação, ela realmente não queria saber de nada que tivesse sua namorada envolvida. O tempo foi passando e Any finalmente foi chamada para a consulta com o ginecologista, Kirias foi agarrada pela mão da loira que a arrastou para dentro da sala, deixando Juliana do lado de fora, até porque a ruiva não estava muito interessada nesse tipo de assunto. Na sala, o doutor começou a conversar com Any, procurando saber o motivo. A loira falou em poucas palavras, que estava preocupada com sua saúde e que suspeitava de alguma doença sexual. Felizmente ela fez o exame no mesmo dia, isso porque era uma clínica particular, pois se fosse em algum hospital público, certamente demoraria meses para saber como estava sua saúde. Os exames foram um pouco constrangedores para a loira, mas ela estava determinada a tranqüilizar a sua mente. Desejava que o médico dissesse que não havia nada de errado com seu corpo, mas sabia que isso demoraria um tempo. Um tempo depois, Kirias e Any estavam olhando para o médico que tinha um olhar atento.
- Estava certa, essa coceira que você está sentindo não é normal e nem uma alergia.
- O que... que seria então? – Any indagou, temendo algo que pudesse estragar ainda mais seu dia.
- Isso chama Pediculose Pubiana. – falou o doutor – Para entender melhor, é um piolho pubiano. Muitas pessoas pegam essa doença através do ato sexual ou através do meio de roupas de cama e toalhas.
- E... quais são os sintomas? – Any indagou, engolindo em seco.
- Esses piolhos ficam fixados aos pêlos nas regiões das coxas e nádegas. A senhorita irá sentir muita coceira e encontrar algumas manchas pelo corpo.
- Manchas?
- Sim, manchas que provém das picadas dos piolhos adultos.
- Eu devo depilar meus pêlos?
- Não será necessário, eu passarei um remédio. – falou, pegando um bloco branco de notas, começando a receitar.
Anahi ficou em silêncio, encostada à cadeira, desejando matar Dulce mentalmente. Quando o médico terminou, Any pegou a receita e se afastou com Kirias.
- Eu vou matar aquela filha da puta!
- Isso não é tão ruim. – Kirias observou – Você poderia ter pego algo mais sério.
- Ou então eu poderia não ter pego nada! – disse.
- Verdade, podia não ter pego nada.
- Que exame rápido.
- Rápido, porque é uma clínica particular, você gastou uma fortuna e dá para o doutor encontrar piolhos rapidamente. Sendo que você já deve ter algumas manchas. – comentou.
- Eu vou ter manchas no corpo todo, Kirias?
- Não, pois você está se cuidando, mas nas regiões de baixo, eu creio que você ficará.
- Mas vai sair?
- Sim, Any, não se preocupe, vai sair sim.
E o trio saiu da clínica, voltando ao carro. Primeiro elas deixaram Juliana em casa e depois Any pulou para o banco da frente.
- Vou levá-la para casa.
- Ahh...
- Não quer ir?
- Na verdade, não.
- Mas você precisa enfrentar sua namorada.
- Esse é o problema. Eu vou matá-la!
- Calma, calma... apenas fale o que está sentindo e vá embora. Qualquer coisa, você pode me ligar.
- Obrigada.
Minutos depois o carro estava na frente do prédio de tijolos alaranjados. Anahi desceu, apertando a mão de Kirias e agradecendo sua ajuda, a loira caminhou até o portão e adentrou, começando a subir as escadas lentamente, sentindo seu coração acelerar a cada degrau alcançado. Ela abriu a porta de seu apartamento lentamente, quando entrou acabou encontrando sua namorada sentada no sofá da sala. Dulce a aguardava.
- Nós precisamos conversar. – Dulce se adiantou.
- Ah! Que bom que concordamos com isso. – sorriu cínica
OoO
Continua...
Autor(a): lunaticas
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Juliana estava jogada no sofá da sala, olhando para sua prima, que conversava animadamente com sua mãe. Ela desejava poder levá-la para o quarto, contudo sabia que tinha que esperar. Momentos depois, Leona foi finalmente deixada e Juliana pôde se aproximar, com um sorriso sedutor, contudo conteve-se, jamais a tocaria em um lugar tão aberto. ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 61
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tammyuckermann Postado em 15/09/2015 - 20:47:38
Leitora nova... Posta mais pf, to amando a fanfic, se vc não for postar mais aq entre em contato cmgo parae passar os capítulos pra mim ler. Bjoos.
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ponnyaya Postado em 27/12/2014 - 18:21:27
kd vc? volta apostar please
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cmilla Postado em 08/03/2014 - 15:30:55
adoro sua fanfic , ainda estou na metade mas tou adorando ;-)
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cherry Postado em 04/03/2014 - 12:54:20
O Capitulo ta bugado Ç.Ç
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anyusca Postado em 27/02/2014 - 10:15:48
Deu bug no cap
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rafavorita Postado em 22/01/2014 - 09:49:12
E essa fic aqui, como fica??
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rafavorita Postado em 07/01/2014 - 18:28:29
cadê Kirias, cadê?? POSTA POSTA!!
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luanaaguiar Postado em 07/01/2014 - 10:20:20
Postaaa maiss...
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rafavorita Postado em 05/01/2014 - 09:35:03
POSTA MAIS!!!!!
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maralopes Postado em 23/12/2013 - 17:42:19
posta mais.....bjaum lu