Fanfics Brasil - Capítulo - 19 A Sombra de Gianni Iпtεrпαto Fεmiпiпo- Continuação - Portiñon

Fanfic: Iпtεrпαto Fεmiпiпo- Continuação - Portiñon | Tema: Rebelde, Portiñon


Capítulo: Capítulo - 19 A Sombra de Gianni

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Viviane passou a mão por seus fios negros, procurando alguma ponta dupla, enquanto Kirias olhava para a televisão em silêncio. Chegou um ponto que nenhuma tinha o que conversar, elas apenas se olhavam e ouvia o noticiário. Tudo estava ocorrendo muito bem, até que o noticiário acabou e começou um programa que falava sobre sexo. Mais precisamente sobre pessoas que não faziam sexo há muito tempo e agora estavam inseguras para acharem outro compromisso. Nesse momento, Kirias e Viviane cruzaram o olhar discreto. O entrevistador estava falando com uma mulher que se escondia das câmeras, relatando como sua autoconfiança havia sido perdida com o passar dos anos.


- Esses programas não ajudam em nada. – Viviane falou.


- Ajudam sim.


- No que?


- Pensa, se você está triste porque não consegue fazer sexo, você assiste esses programas para ver que existem pessoas pior que você. Isso é uma terapia.


- Está dizendo que os humanos sentem-se bem quando vêem a desgraça dos outros?


- Claro. E isso não é verdade?


- Você se sente assim, Kirias?


- Às vezes.– respondeu seco e você?


- Nunca pensei nisso, mas eu não posso mentir e dizer que não é uma verdade.


- Então concorda comigo? – indagou com um leve sorriso.


- Em certas partes sim.


- Eu só comentei uma parte. Disse que a desgraça alheia nos faz bem. Então você concorda comigo


- Você é sempre assim?


- Assim como? indagou, arqueando as sobrancelhas.


- Sempre querendo ter a razão de tudo


- Às vezes.


- Que resposta mais repetitiva. Você sempre responde assim, também?


- Às vezes. riu baixinho.


- Mais fácil ficar em cima do muro, não?


- Na verdade, eu não posso afirmar algo que eu só faço às vezes, Viviane - concluiu com uma voz baixa - não é sempre que a desgraça alheia me faz feliz e não é sempre que eu quero ter razão. Mas quem nesse mundo gosta de ouvir que está errado?


- Conversar com você dá muita dor de cabeça. Eu estou imaginando que você deve ser aquela bêbada chata!


- E você está conversando comigo de igual para igual. Imagine... Nós duas bêbadas que terrível seria!


Viviane mordeu o lábio inferior, ela não podia provocar muito Kirias, pois tinha uma resposta à altura de sua provocação. Ficou sem palavras e isso a fez rir descontroladamente, ela estava achando aquela garota divertida e agora entendia o motivo de Carei ter falado tanto mal dela. E novamente olharam para a televisão, ouvindo outros relatos de pessoas que estavam com dificuldade de se relacionar.


- Você namora? – indagou Kirias.


- Não e você?


- Não. E está gostando de alguém?


- Que pergunta mais pessoal, não acha?


- Eu sou direta.


- É sempre direta assim?


- Só com coisas que me interessam. – disse, lançando um olhar penetrante para a anfitriã que acabou por sorrir.


- Eu estava pensando em me relacionar com uma pessoa, mas depois de um episódio, eu vi que seria muita dor de cabeça.


- Posso saber o motivo?


- Não. Mas por que você não namora, Kirias? Parece ser uma garota decidida.


- Você fala como se fosse uma velha. Eu terminei um namoro que já estava terminado, entende?


- O namoro que já havia morrido há tempos, mas ainda não havia rompido com palavras?


- Exatamente. Agora eu estou procurando outra pessoa. 


- E é difícil achar alguém para se relacionar com uma pessoa como você.


- Como eu? – riu alto sim, sim, eu não sou muito fácil de se lidar, apesar de eu me achar bem mais sincera e integra que muita gente.


- Por que diz isso?


- Eu não traio, não minto, não escondo, não temo, não me isolo, não faço nada que deixe a pessoa sem confiança. Se eu quero algo, eu falo, se eu não gosto de algo eu também exprimo minha opinião.


- Mas nem tudo num relacionamento pode ser tão escancarado, Kirias. Que graça teria saber que você é louca por mim? Eu teria toda a confiança do mundo e te trataria feito cachorro, pois saberia que você sempre voltaria me lambendo.


- Tem razão nesse aspecto, mas eu esqueci de mencionar meus defeitos.


- Ah, claro. – sorriu, ajeitando-se no sofá – então os seus defeitos ajudam a deixá-la ainda mais perfeita


- Certamente. Quer ouvi-lo? indagou, vendo que Viviane concordou 
– eu sou ciumenta, possessiva, briguenta, mal humorada, irritada e não gosto de ser tratada com desprezo ou com meias palavras.


- Então você sempre deixa a pessoa que quer embaixo de suas asas?


- Exatamente.


- Não acha que isso sufoca demais?


- Sim, mas se a pessoa permite que eu a trate assim, ela não pode mais reclamar.


- Concordo. Nós somos tratados como nos deixamos ser tratado. Se eu permito que você me bata uma vez, então todos os dias você irá me bater, como acontece em muitos casos de mulheres que apanham dos maridos.


- Eu não pensei em algo tão profundo, mas é assim que eu penso. Senão, a pessoa jamais se relacionaria comigo.


E a conversa continuou por um bom tempo. A chuva havia passado, mas Viviane não queria que sua hóspede partisse e nem Kirias tinha vontade de deixar aquela morena de olhos esverdeados sozinha naquela casa.


- Então você ainda gosta da Any? – indagou de repente.


- Um pouco. 


- Dulce não pode saber disso.


- Não me importo. Se ela relar o dedo em mim, eu a denuncio. Sou mais civilizada.


- Any ficaria triste.


- E sozinha. – sorriu - assim é mais fácil para mim. Acho que essa Dulce não seria tão estúpida.


- Ah, ela seria sim.– riu - Dulce não tem muito cérebro.


- Uma coisa que concordamos.


- Mas ela é minha melhor amiga. – disse - não vou concordar em falar mal dela. Apesar de ter os defeitos que todos nós temos, ela tem ótimas qualidades.


- Não desejo conhecer as qualidades dela, pois assim eu posso ficar falando mal dela à vontade, sem nenhum remorso.


 Kirias ergueu-se de repente do sofá, erguendo os braços e gemendo baixinho, espreguiçando-se. Ela moveu seu tronco de um lado para o outro, e moveu seus ombros. Depois olhou para a jovem escritora que observava.


- Acho que já te amolei demais.


- Pode ficar mais se quiser.


- Quer dizer que quer conhecer mais de mim? Onde está aquela garota que ficava falando que não queria ter amizade comigo?


- Ficou no café.- sorriu.


- Se quer que eu fique mais eu devo supor que quer algo de mim, certo?


- Não consegue deixar de ser tão direta sempre? Curta o momento.


- Esse papo de “deixar rolar” não combina comigo. – sorriu, caminhando até a sua anfitriã que continuava sentada - se quiser que eu fique, apenas diga e como resposta acho que você sabe o que eu vou querer fazer.


- Você não é romântica.


Kirias passou a mão por uma mecha que caía por seus olhos e balançou a cabeça negativamente. Viviane ficou um tempo pensativa e finalmente respondeu:


- Pode ficar.


- Eu não queria ir embora mesmo.


A loura ajoelhou-se no sofá, ficando no meio das pernas da morena, as duas pararam por um segundo, encarando-se em silêncio para no instante seguinte aproximarem-se, deixando seus lábios que há tempos não provavam outro sabor se unirem num beijo inicialmente calmo.


 


 OoO


 


No apartamento de Aziel.


A loura estava sentada no sofá da sala, assistindo um programa de luta livre quando ouviu sua campainha tocar, ela se ergueu preguiçosamente e foi ao interfone, onde ouviu a voz da sua irmã gêmea. Ela abriu o portão e já foi até a porta, onde sua irmã apareceu segundos depois.


- Que visita inesperada. – comentou, fechando a porta– você nunca mais veio falar comigo, amín. 


A menor foi caminhando até a sala, indo até o sofá onde se sentou, encarando a mulher ao seu lado, que tinha semelhanças físicas muito parecidas, apesar de não serem idênticas era notável que eram irmãs.


- Eu precisava conversar com alguém.


- Que bom. Agora que está com problema, você resolve vim falar comigo.


- Por que você acha que eu parei de falar com você? – indagou num tom elevado.


- Não sei, você deve ter sérios problemas.


- Eu? Aziel, francamente, você saiu de casa gritando com os nossos pais e comigo também.


- O que queria que eu fizesse? – indagou com revolta, dando um soco na parede lisa.


- Parasse de agir sem pensar. Nossa mãe queria que você fosse morar fora por um tempo para acalmar seu temperamento e como resposta você a agrediu.


- Eu só a empurrei! – disse.


- Ah, sim. Que inocente da sua parte, já olhou para o seu tamanho? Você a fez rolar escada abaixo!


Aziel passou a mão por seus cabelos, sentindo a testa suada. Se tinha uma pessoa naquele mundo que podia tirá-la do sério com um único olhar era a sua irmã.


- O que quer aqui?


- Saber como você está.


- Disse que precisava conversar e eu sinto algo errado em você.


- Laços de gêmeos, nós sempre sabemos uma da outra.


- Você quebrou esse laço.


 Amín suspirou, vendo o olhar contrariado da outra, que parecia ser uma criança. Sempre brigando e xingando, nunca olhava para o mundo ao redor, somente para seu próprio umbigo. Talvez não pudesse corrigi-la.


- Tudo bem, você venceu.


- Obrigada. disse Aziel a porta está aberta para ir e fechada para voltar.


Amín se ergueu rapidamente, passou por sua irmã, esbarrando seu braço, fazendo um choque entre elas, algo mais mental do que físico, um sentimento forte as invadiu. Estavam longe há tempo demais, sendo que sempre viveram juntas, dormiam, tomavam banho, brincavam, todas as ações eram feitas em conjunto. Ela abriu a porta num único puxão, fazendo a madeira bater contra a parede e saiu sem olhar para trás. Apesar de Amín ser mais calma, ambas tinha um gênio difícil, eram irritadiças e não pensavam duas vezes antes de agir. A porta se fechou. Aziel ficou olhando para o vazio com raiva, mas logo se sentiu triste e sozinha. Ela calçou seus chinelos e saiu correndo, descendo as escadas, indo até a porta a tempo de ver o carro da sua irmã correr pelas ruas. Ela já havia partido. Ela voltou para o apartamento, sentou-se no banco que sua irmã havia sentado, mas não podia sentir o calor de seu corpo, pois havia expulsado-a tão rápido que nem seu cheiro ficou no lugar. 


- “Eu deveria parar de afastar as pessoas que eu amo de mim”. – pensou, olhando para seu reflexo na mesa de vidro do centro “eu só mato a minha saudade de você, olhando-me no espelho. Porque eu só consigo te maltratar quando estou perto de você. Pior que você estava triste, visivelmente abalada e eu te neguei apoio”.


A loura pegou seu celular e ligou para a única pessoa que conseguia suportar sua personalidade arrogante. Sua atual namorada que ela mesma pensou que não conseguiria viver por muito tempo.


- Oi, Aziel, tudo bom?


- Está ocupada?


- Não... Eu estava estudando.


- Eu posso passar na sua casa?


- Agora!? Digo, está tarde, meus pais não vão me deixar sair.


- Isso que dá namorar uma criança - falou com irritação.


– Aziel, desculpe. Tudo bem, eu vou sair sem eles verem e...


 – Não, não quero que crie problemas, depois eu vou acabar recebendo alguma visita de sua irmã.


 – Ela não vai mais te visitar! – falou com desespero – eu saio, eu já estou saindo, eu te espero na esquina!!


 – Até parece que eu vou deixar você me esperar numa esquina sozinha. Amanhã nos falamos.


 – Mas... Conte-me o que está acontecendo!


 – Boa noite.


 – Aziel, eu...


 


Desligou.


 


Ela suspirou, e ignorou o seu celular que começou a tocar. Foi até o banheiro, trancou-se e só saiu dali quando o banho quente que a recebia lhe relaxou.


 


– “Acabei chateando ela também”, – pensou – “eu acho que devia ligar e pedir desculpas”.


 


 


 OoO


 


 Num bairro mais nobre, onde uma grande casa se destacava das demais por sua beleza e o grande jardim que havia na sua frente, no interior desse domicílio havia um casal visivelmente embaraçado e um homem muito bem vestido, com um grande bigode branco.


- Nós iremos achá-la com certeza. – disse o detetive - apenas precisamos de mais tempo e acho que a mídia poderia ajudar também. Colocar a foto dela nos jornais e nos noticiários não será difícil para uma família de alta classe como a família Sabelio.


- Agradecemos pelo serviço, disse o homem que se ergueu se tiver alguma notícia, por favor, nos avise.


Eles apertaram as mãos e uma empregada acompanhou o detetive até a saída. Na sala, os pais de Leona se olhavam com tristeza.


- Será que ela está morta? indagou a mãe, exibindo as olheiras que nem os mais caros cremes de beleza conseguiam extrair.


- Claro que não, nossa filha é esperta. Ela está bem, com certeza.


- Como pudemos deixá-la sair assim? O que você tinha na cabeça!?


- Ah! Não venha me dizer isso agora! Gritou você não foi contra expulsá-la dessa casa. E mais, eu pensei que ela ia para a casa de uma amiga!


- Agora ela deve estar perdida por aí. – falou chorosa - por sua culpa!    – gritou.


- Pare de jogar os problemas para mim.


- Mas você é um estúpido. Matou minha segundo filha!


- Eu não matei ninguém! Cala a boca.


- Não? Não a matou? Onde ela está, Carlos? Ela está morta! Morta!


- Ela está por aí, logo vou achá-la. Agora pare de ficar me acusando, você está ficando louca!


- Se minha filha não voltar à culpa é sua!!!


- E SUA TAMBÉM! – gritou com toda sua força, fazendo a mulher parar de reclamar e abraçar seu corpo.


Carlos ficou vermelho e saiu da sala, com passos rápidos e foi para o andar superior, desejando ir tomar um banho para relaxar, mas ao passar na frente de dois quartos com a porta fechada, ele parou. Primeiro abriu a primeira porta, era o quarto de Gianni. Ele entrou e foi até a cama da falecida, sentando-se e pegando uma foto da sua filha que estava no porta-retrato. Ela estava usando uma roupa do time de basquete e ao seu lado lá estava ele, ajudando-a segurar o troféu.


- Eu acabei perdendo você. - sussurrou, falando com o retrato mudo e estático.


Ele ficou ali por alguns minutos, mas logo saiu, antes que fosse puxado para a amargura que consumia sua alma. No corredor, passou por mais uma porta fechada e aquela ali lhe trouxe maior aflição. Ele era o responsável dessa vez, ele que havia fechado aquela porta. Com a mão trêmula tocou na maçaneta e a abriu, entrando lentamente, vendo que havia muitos objetos fora do lugar, ele havia pedido para os empregados não arrumarem nada. Ele queria que tudo ficasse como se Leona ainda estivesse naquela casa. Ele desviou de alguns livros que estavam jogados no chão e foi até a cama da sua filha, que ainda podia sentir seu calor. Ele deitou seu rosto contra o travesseiro, sentindo o cheiro do perfume que ele havia dado para sua filha no seu aniversário. Seus olhos encheram-se de lágrima, era inevitável negar que não sentia saudade.
Na hora da raiva, não havia pensado nas conseqüências de seus atos. Ele queria dar uma lição na sua filha, mostrar que a vida dela não seria fácil se não seguisse o aconselhamento de sua família. Queria que Leona fosse de outro jeito, que negasse sua homossexualidade e vivesse dentro dos padrões que ele criou. Gemeu e soluçou, agarrando aquele travesseiro como se fosse a sua filha, mesmo que o corpo fosse menor, podia senti-la por inteiro. E num pedido baixo de desculpas, o seu choro ecoou por todo o quarto. Porém ninguém podia ouvir, nem sua esposa, nem os empregados, apenas ele mesmo, ouvia seu próprio choro bater contra sua consciência que lhe dizia. Você estava errado.


 


 


OoO


 


 


E Leona não ouvia o choro de seu pai, pelo contrário, acreditava que uma pessoa teimosa como ele jamais fosse capaz de admitir que estava errado. Seu pai não a amava, sempre foi muito frio, sempre preferiu a irmã mais velha, nunca negou isso e vivia jogando na sua cara como era inferior a Gianni. Sua mãe era mais carinhosa, apesar de lhe negar o afeto que desejava, pois agia de certa forma parecida com seu pai. Todavia, pensou que teria apoio dela quando a verdade apareceu, mas acabou sendo desprezada. Como foi a vida toda.


 Sempre foi substituível.


 A morena estava deitada na cama de Eduarda, com o corpo desnudo e cheio de marcas de dedos e dentes. Estava tentando dormir como a outra havia sugerido, mas não conseguia, sua mente estava cheia. Ela estava de costas para a criminosa, que lhe abraçava.


 – Ainda não dormiu? – indagou Eduarda. – Como está seu braço? Faz uma semana que tirou o gesso. Está com dor?


 – Não está doendo. Eu só não consigo dormir.


 – Está desconfortável? – indagou, beijando a nuca da menor – acho que está desacostumada a dormir num colchão macio.


 – Estou pensando apenas.


 – No que está pensando?


 – Na minha família.


– Você tem família, Leon?


 – Na verdade, não. – respondeu – na verdade, eu só faço parte de uma família por laço de sangue, mas... Sabe quando você não se sente parte da família?


 – Eu sei do que está falando. Eu não tive uma família, Leona, eu cresci nas ruas.


 Eduarda virou o corpo de Leona, ela se apoiou no seu cotovelo e ficou olhando para a bela face de sua nova amante.


- Você nunca teve uma família, você não me entende. Eu tive pais e uma irmã.


- Por que fala no passado? Eles morreram?


- Acho que eles me mataram na verdade. – disse com tristeza como uma mãe e um pai podem preferir outro filho tão descaradamente? Não podiam ao menos fingir?


- Por que seus pais têm a obrigação de te amar?


Leona arregalou os olhos, não sabendo o que responder. Oras! Porque eles eram seus pais, essa seria a resposta. Porém desde quando pais têm que amar os filhos e vice versa?


- Porque eu sou a filha deles. – respondeu.


- Não é verdade. Nós só amamos as coisas que nós queremos, Leona. Não dá para você amar algo porque está subentendido que você tem que amar. Seus pais até podem ter fingido gostar de você, eles podem até odiar você.


- Odiar? Não, odiar não.


- Por que sua mãe não pode te odiar? Você a deixou gorda com estrias, cansada, você não é o que ela pensou que seria. Por que seu pai não pode te odiar? Você não é a capitã do time de futebol, não está trabalhando no mesmo ramo que ele. Existem vários motivos.


- Talvez... Tenha razão. - Falou num baixo sussurro, sentindo um nó na sua garganta - eles amavam minha irmã mais velha, mas ela morreu. E depois disso, minha vida se transformou.


- Então eles começaram a te amar?


- Na verdade, foi pior. Antes eles me ignoravam, eu corria para casa com as melhores notas do colégio, fazia desenhos bonitos, escrevia poemas de amor para minha mãe, mas eles paravam e falavam: “parabéns Leona, agora vá se lavar”. Alguma coisa assim: “bonito, bonito, agora me deixe trabalhar” ou então: “sim, sim eu já vi. Agora vá estudar”.


- Que pais cruéis. - sorriu, beijando a testa - eu não vou te tratar assim.


- Não quero que me trate diferente.


- Eu já disse para você que nós tratamos as pessoas como queremos e não como devemos. Eu quero te tratar diferente, eu sou uma mãe atenciosa e você será minha filha favorita.


Leona acabou sorrindo ao ouvir aquilo e assim recebeu outro beijo nos lábios. O que estava acontecendo ali era algo que qualquer psicólogo poderia esclarecer.


Uma mulher perigosa seqüestrou a sua vítima, que agora vivia no seu cativeiro, sob as suas ordens. Ela tinha que sorrir e obedecer para não ser morta e assim que não era morta e nem agredida, ela criava um certo laço com a criminosa. Um laço de confiança mental. “Você não me machuca e eu não faço nada que te desagrade”. E com esse tipo de sentimento que vai sendo desenvolvido pelo tempo de cativeiro, a vítima acaba se apaixonando pelo bandido, um amor doentio.


- Eu queria saber se eles realmente não estão se importando.


- Devem estar. As pessoas sentem remorso das suas ações, pois os outros vão virar para eles e falar: “vocês abandonaram sua filha!? Que horror”.


- Só por isso eles se preocupam comigo?


- Bom, se eles nunca se importaram. Por que eles teriam amor de um dia para o outro? Eles podem gostar um pouco de você e estarem mais preocupados com a consciência deles.


- Então eles vão me abraçar de alívio por não se sentirem mais culpados ao invés de me verem ao lado deles?


- Sim, é o que eu penso e pelo o que me falou esse é o resultado.


Leona suspirou e fechou os olhos, sendo novamente agraciado com os beijos quentes daquela mulher que lhe acarinhava.


- Mas você não tinha um namorado antes?


- Sim, minha prima.


- Com sua prima? – riu alto - vocês faziam escondido ou todos sabiam?


- Por que acha que eu fui expulsa? – indagou, abrindo os olhos novamente.


Eduarda ficou tão surpresa dessa vez que não conseguiu comentar. Pelo pouco que ela havia notado, isso porque era uma pessoa muito observadora, Leona era uma garota de classe média alta, estudada, educada e que pelo jeito de agir era o tipo que nunca causava problemas. E mesmo sendo assim, havia sido negada a vida inteira por seus criadores.


- Eu tenho pena de você. – falou de repente – mas fico feliz em saber que agora está num lugar melhor.


- Eu não tenho liberdade aqui. Como posso ficar melhor?


- Quer tanto sair?


- Claro que sim. – falou.


- Mas por que sua prima não foi ficar com você?


- Porque você me trouxe para cá antes que eu fosse falar com ela.          – disse com certa irritação.


- E sua prima te ama? Ela ia ter que ir contra a família.


- Claro que ela me ama.


- Claro? Isso é óbvio?


- Sim.


- Há quanto tempo estão juntas?


- Bom, somos primas, fomos criadas juntas.


- E de repente vocês se descobriram?


Leona suspirou e começou a contar em poucos detalhes sobre o relacionamento que tinha com sua prima. Eduarda ouvia atentamente e às vezes roubava alguns beijos da morena.


- Então sua prima fica com você, pois você se parece com sua irmã? Mas que irmã desgraçada você teve, hein? Todo mundo a amava!


- Não fale assim, você entendeu tudo errado. Ou melhor, você só entendeu o que queria entender.


- Eu entendi que sua prima te tratava mal, pois você se parecia com a pessoa que ela ama.


- Amava, ela amava. Ela me ama.


- Não, ela ama sua irmã que morreu e por isso não pode deixar de amar, pois se você ama uma pessoa que morreu, o sentimento fica morto dentro do seu peito. Você não terá a chance de se decepcionar ou odiar a pessoa, você sempre irá amá-la.


- Eduarda... Você é cruel.


- Sou realista. Se você me ama, e eu morro, eu nunca vou te trair, dizer coisas que você não gosta, me separar de você, coisas assim. Então você sempre irá me idealizar como alguém perfeito. – sorriu ao ver o choque que suas palavras tiveram contra a mente de Leona – sua prima ama sua irmã. Ela pode te amar também, mas não é igual, talvez você seja apenas um alívio para a alma dela.


- Ótimo, agora ninguém me ama. – falou baixinho – é isso que quer dizer? Eu não acredito em você.


- Não disse que ninguém te ama. Ela pode te amar, não é uma mentira, mas ela está realmente amando a Leona ou a irmã de sua falecida amante?


- Eu quero dormir.


- Tudo bem. Acho que você deve descansar mesmo. – sorriu, voltando a beijá-la – talvez quando acordar eu não esteja mais aqui e só voltarei à noite. Tome um café na minha cozinha e a noite passe aqui novamente. Eu gostei de você.


Leona nada disse, ela fechou os olhos e se acomodou, sentindo o abraço da mais velha.


 


OoO


 


Longe dos conflitos que reinam a realidade das garotas do antigo Saint Rosre, um casal estava sentado em silêncio numa grande sala de cinema, assistindo o romance que passava na grande tela que ia do chão ao teto. 
Hudi ria baixinho toda vez que a personagem principal fazia alguma coisa atrapalhada. Motivo? Ela estava se identificando naquela história. Ao seu lado estava Miles, comendo sua pipoca em silêncio, tentando ouvir o diálogo que era em francês, felizmente não precisava ficar lendo. A ruiva suspirou e se acalmou, ela era a única que ria naquele cinema que estava quase cheio. Às vezes comentava alguma coisa com sua namorada, que simplesmente concordava com um balançar de cabeça. Ela não gostava de falar quando estava no cinema, odiava incomodar os outros.


- Não pode ficar quieta? – indagou a morena num tom baixo e calmo, olhando de canto para sua namorada que ficou surpresa com aquele pedido.


- Você só fala quando é para me reprimir.


Ela suspirou. Não devia ter pedido aquilo, agora elas teriam que sair daquela sala, pois sua amada namorada ia começar a discutir a relação. E como esperado Hudi virou seu corpo na sua direção e começou a reclamar baixinho, mas mesmo assim ela podia ser ouvida por algumas fileiras. A morena se ergueu, puxou-a pela mão, prendendo bem o braço rebelde que ela sabia que ia querer se soltar e se dirigiu para a saída, agradecendo por estar perto dela. Felizmente estava escuro e ninguém veria seus rostos. Elas iam sempre ao cinema, não queria que fossem marcadas. Hudi reclamava, contrariada, tentando puxar seu braço, ela até tentava ser discreta, mas seu cabelo cor de fogo já chamava a atenção, sem contar que as duas eram muito bonitas e havia algo que contrastava entre o casal. Miles era muito alta e Hudi muito baixa.


- Você poderia falar mais, porém só abre a boca para fazer sexo ou reclamar.


- Você só reclama de mim.– disse de repente.


- Ah, eu adoro quando você responde. – sorriu com satisfação. Ela estava conseguindo fazer sua namorada responder nas discussões que ela sempre provocava.


- Faz de propósito.


- Só quero te ver irritada.


- Por quê? – indagou secamente, buscando o cartão do estacionamento para pagar no guichê. 


- Porque eu me sinto melhor. Acho que você é muito reprimida, tem coisas que eu faço, você não gosta e não fala!


Miles parou de repente, soltou o seu braço e virou o tronco na sua direção. A ruiva cruzou os braços, sentindo um frio correr por sua espinha. Agora ela ia ouvir a morena lhe xingar e reclamar do comportamento infantil, ela esperava isso ansiosamente, apesar de no seu íntimo temer alguma discussão verdadeiramente séria. Os dedos longos e finos tocaram o rosto da menor com carinho, depois passou a ponta dos dedos por seus lábios.


- Não há nada que você faça que eu desgoste. – falou carinhosamente, exibindo um sorriso leviano que apenas Hudi tinha a felicidade e honra de contemplar – eu vou pagar o estacionamento. Vá comprar um doce para você naquela venda enquanto isso, eu já volto


Miles deixou uma nota em alto valor na sua mão e se afastou, deixando Hudi com a boca aberta. A ruiva não conseguiu dizer nada, ela moveu seu corpo mecanicamente até a venda de doces, como se fosse um robô que foi programado para tal coisa. Ela comprou o doce que gostava e algumas balas para sua namorada e ali ficou esperando-a, como ela havia pedido. Logo a morena se aproximou, sendo observada por alguns garotos que se derreteram com o charme da francesa. Miles passou a mão pelo braço da menor e a puxou dali com leveza, indo para o estacionamento.


- Você sempre me desarma. – murmurou, enfiando uma balinha de chocolate na boca.


- Qual o sabor?


- Recheio de morango. Quer?


Miles pegou uma balinha do saquinho e colocou na boca. Ela buscou a chave de seu carro e ambas entraram no veículo.


- Desculpe.


- Pelo o que?


- Eu nos tirei do cinema.


- Não é verdade. Eu que saí e te puxei.


Hudi riu baixinho com o jeito que Miles colocava as coisas. A morena sempre carregava a culpa de todas as brigas.


- Eu estava fazendo barulho, você simplesmente saiu para evitar o constrangimento.


- Não, eu que fiz você ficar chateada.


- Não, não, eu que fui te chatear.


- Não, você só tentou compartilhar a opinião do filme comigo, eu fui seca. Desculpe-me. - disse baixinho, puxando o rosto da menor para lhe beijar os lábios.


- Você não existe.


Miles arqueou uma sobrancelha sem entender.


- Você realmente não existe. Será que eu sou esquizofrênica e criei uma namorada perfeita?


A morena riu baixinho e ligou o som do carro, deixando o CD favorito da sua namorada tocar, logo o casal saiu do Shopping Center, pegando a rua sem nenhum trânsito, pois já se passava das onze horas.


- Será que vamos conseguir alugar o apartamento?


- Possivelmente.


- Eu gostaria de ter a Any como vizinha. – sorriu faz tempo que eu não converso com a turma.


- Vou fazer o possível para acelerar a documentação.


- Você está ansiosa?


- Sim.


- Ah! Que “sim” mais sem graça. – reclamou, sem verdadeiramente estar incomodada - vamos tentar de novo. Você está ansiosa para morarmos num lugar só nosso?


– Claro que sim.


 – Continuou no mesmo tom, mas pelo menos acrescentou mais duas palavras. – murmurou – eu quero decorar aquele lugar. O que você quer comprar primeiro?


 – Um piano.


 – Pi-piano? Mas vai caber na sala?


 – Espero que sim. Senão, eu não compro.


 – Não, não, nós damos um jeito de caber.


 – Sua mãe está de acordo com a mudança?


 – Ela te adora, Miles. Ela disse que você é uma influência positiva para o meu mal comportamento! – falou com a voz carregada de indignação – onde já se viu a mãe gostar mais da nora do que da filha!?


Miles apenas a olhou com um divertimento no olhar. Ela ficou nervosa quando foi levada para conhecer a família da sua amada namorada, mas acabou sendo muito bem recebida pela mãe e os tios de Hudi, que a encheram de doces, bebidas e histórias vergonhosas de sua namorada. No final, nem se importaram com a relação homossexual.


– Você gostaria de conhecer meu pai?


 – Não! – respondeu rapidamente.


 – Por quê?


 – Miles, eu ficaria tensa.


 – Tudo bem. Quando quiser, avise-me.


 – Mas se você realmente quiser... Digo, eu... Talvez possa ir vê-lo. Mas... Você disse que ele não aceita bem sua opção, certo? Então... Bom...


 – Não fique nervosa. – pediu, segurando a mão da menor por alguns segundos, antes de trocar de marcha


- É que eu... Eu...


- Eu já entendi, amor. Quando estiver pronta, eu irei apresentá-la.


- Ah, mas se você quiser muito...


- Não quero nada que você não queira, Hudi. Se não se sentir à vontade, nós deixaremos para outra ocasião.


- Desculpa. Eu vou pensar mais sobre isso e com certeza irei conhecer o seu pai. – sorriu amarelo – só espero que ele não seja fechadão como você, senão eu vou ficar muito nervosa.


- Eu sou parecida com ele.


- Deuses! Dois monossilábicos num mesmo cômodo? Eu vou surtar!


O carro entrou no estacionamento de um prédio velho, que pertencia a família de Miles, todavia ambas desejavam sair dali, pois o espaço era pouco e a vizinhança não os alegrava. Já no pequeno apartamento, Hudi retirava seu sapato, enquanto comentava alguma coisa sobre o filme, supondo como seria o final. Miles colocava seu pijama em silêncio, ouvindo-a.


- (...) Não acha? – indagou de repente, depois de seu falatório. Miles às vezes se desligava quando Hudi começava a falar, mas ela já tinha uma boa tática.


- Talvez, por que acha isso? – indagou, sem mesmo saber o assunto, mas esse velho truque sempre a ajudava.


- Porque a mulher parecia que ia conquistar o seu duque, então a outra ia querer roubar o homem dela.


A morena se inteirou no assunto com aquela explicação, ela sorriu e emitiu sua opinião, indo até sua namorada, puxando-a pela mão para ambas se deitarem na cama.


- Amanhã vejo a papelada na imobiliária.


- Sim, sim! Estou excitada com isso.


E ver Hudi sorrindo era o suficiente para que Miles ficasse em paz. Ela apagou a luz do quarto e a abraçou, beijando a curva de seu pescoço, enquanto sussurrava palavras carinhosas de amor.


 


 OoO


 


No mesmo clima romântico do casal narrado logo acima, Dulce e Anahi estavam jogadas na cama de casal do hotel. Nenhuma delas se atreveu a se levantar, nem mesmo para ir ao banheiro. Como haviam dormido a tarde inteira, agora que era de madrugada, elas não conseguiam dormir.


- Vai procurar outra academia? – indagou Anahi.


- Não.


- Não!?


- Por que a surpresa?


- Mas... Mas... Você vai continuar vendo àquela lá? – indagou com revolta, sentando-se na cama, olhando para a mais velha de cima.


- Só irei vê-la, contato visual. 


- Não mesmo!


- Mas é uma boa academia.


- Não quero. Você vai procurar outra.


- Acha que é fácil achar uma academia que tenha uma boa fama nas artes marciais? Eu não vou fazer apenas musculação, eu vou praticar.


- Pratique em uma academia meia boca, oras.


- Tudo bem. – suspirou – tem razão.


- Que bom que me deu razão. Eu estava começando a ficar nervosa.


Dulce começou a rir alto.


- Claro que eu ia mudar de academia, Any. Como você é boba.


Anahi ficou vermelha ao ver que havia sido pega numa piada, ela deu um soco com ligeira força no ombro da sua namorada, resmungo um palavrão.


- Que boca suja.


- Não brinca mais com isso.


Dulce esticou os braços e buscou o corpo menor, abraçando-a com toda sua força, como se Anahi fosse um bichinho de pelúcia.


- Dul, você está me sufocando!!!


- Você é tão gostosa.


- Lar-larga!!!


- Isso seria um pecado.


- Se você... Largar, eu... Eu te dou beijo.


Dulce afrouxou o abraço e sorriu. Anahi conseguiu respirar finalmente, mas foi por pouco tempo, logo teve que cumprir o que disse, o que para ela não era nenhum problema. Ela puxou o rosto da sua namorada e lhe beijou nos lábios.


A vida estava sendo doce naquele momento para as duas amantes.


 


 


OoO


 


 


Continua...


 



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Autor(a): lunaticas

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 61



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  • tammyuckermann Postado em 15/09/2015 - 20:47:38

    Leitora nova... Posta mais pf, to amando a fanfic, se vc não for postar mais aq entre em contato cmgo parae passar os capítulos pra mim ler. Bjoos.

  • ponnyaya Postado em 27/12/2014 - 18:21:27

    kd vc? volta apostar please

  • cmilla Postado em 08/03/2014 - 15:30:55

    adoro sua fanfic , ainda estou na metade mas tou adorando ;-)

  • cherry Postado em 04/03/2014 - 12:54:20

    O Capitulo ta bugado Ç.Ç

  • anyusca Postado em 27/02/2014 - 10:15:48

    Deu bug no cap

  • rafavorita Postado em 22/01/2014 - 09:49:12

    E essa fic aqui, como fica??

  • rafavorita Postado em 07/01/2014 - 18:28:29

    cadê Kirias, cadê?? POSTA POSTA!!

  • luanaaguiar Postado em 07/01/2014 - 10:20:20

    Postaaa maiss...

  • rafavorita Postado em 05/01/2014 - 09:35:03

    POSTA MAIS!!!!!

  • maralopes Postado em 23/12/2013 - 17:42:19

    posta mais.....bjaum lu


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