Fanfic: Iпtεrпαto Fεmiпiпo- Continuação - Portiñon | Tema: Rebelde, Portiñon

Não passou nem cinco minutos e o celular de Any tocou, ela sorriu de lado ao ver que era sua namorada que com certeza a xingaria até a morte. Mas não ia fugir, pois sabia que isso traria maior fragilidade na relação. Ela atendeu.

– O que deu na sua cabeça, Any?!?

 – Eu não queria conversar.

 – Acha que vai poder fugir de mim?

 – Sim.

 – Pare de putaria. Venha para cá agora!!!

 – E se eu não for? Vá para sua reunião. Depois nós...

 – Anahi, eu estou muito nervosa. Eu estou falando sério.

 – O que vai fazer então?

 – Quer mesmo terminar tudo?

 – Não.

 – Então não fuja de mim feito uma medrosa! Sua idiota!

 – Eu vou para minha casa.

 – Eu também vou!!!

 – Como quiser, Dul Eu só acho que...

Any ficou falando sozinha, vendo que Dulce havia desligado. Ela suspirou, talvez não tivesse sido uma boa idéia sair correndo. Agora ela estava com medo de voltar para sua casa e deparar com uma Dulce mais furiosa. Por um momento ela parou no meio daquela calçada, sentindo os ventos frios bater contra todos seus pensamentos, tentando puxá-los para fora de seu âmago, mas não conseguia. Sua mágoa era crescente, mas tinha mais raiva dela do que de qualquer outra pessoa. Ela sentiu um forte esbarrão e viu que atrapalhava a passagem. As pessoas iam e vinham rapidamente, sem nem sequer olhá-la, ela não era significante para ninguém. Voltar para sua casa agora estava fora de questão, ela continuou andando, não fazendo a mínima idéia de onde estava. Ela não conhecia aquele bairro, mas talvez isso fosse bom, pois não encontraria alguém conhecido, ela poderia andar de qualquer jeito, sabendo que ninguém a abordaria a indagaria sobre seus sentimentos...

– Any!?

Ou talvez não.

A loira olhou para o lado e quase teve um ataque do coração ao ver uma louca de moicano que bebia um pouco de café. Kirias estava com um violão nas costas e ao seu lado havia duas garotas que também estavam com instrumentos musicais.

– Kirias... O que faz aqui? – indagou, com um sorriso nervoso.

 – Eu faço aula aqui. – falou, apontando para um prédio.

 – Ah, que coincidência! – sorriu. – “Maldição! Justo a Kirias!”.

 – O que está fazendo aqui? – indagou a loura, puxando Any pelo braço, tirando-a do meio da calçada antes que ela fosse atropelada.

 – Ah... eu estava... andando.

Kirias ergueu uma sobrancelha e depois moveu a cabeça para um lado e para o outro, como se estivesse pensando, logo começou a rir baixinho de um jeito irritante.

– Eu tenho que ir agora. Até mais. – Kirias avisou, acenando para as suas colegas. Ela bebeu o restante de café que ainda restava e jogou o copo descartável no lixo mais próximo. – Vamos, Any. Eu te levo para casa!

 – Não! – disse quase num grito.

 – Não quer ir para a própria casa? Você brigou com Leona ou com aquela idiota? – indagou, andando com as mãos no bolso.

 – Não.

 – Então por que não quer voltar?

 – Só quero ficar aqui. – respondeu, soltando toda sua respiração. De repente o seu celular tocou, fazendo Any quase ter um novo ataque do coração. Ela puxou o aparelho e viu que era Dulce que lhe ligava.

 – Dul? – indagou a loura, erguendo o pescoço para ver o nome da pessoa no identificador de chamada. – Ah, eu entendi. Brigou com Dulce e ela está na sua casa te esperando e você não quer falar com ela?

Any balançou a cabeça positivamente.

– Vocês só brigam! – reclamou.

Kirias puxou Any pelo braço até o estacionamento, onde seu carro estava. A dupla entrou no veículo e tratou de sair dali.

– Seu celular está tocando de novo.

 – Eu não quero atender.

 – Por que Dul está tão brava?

Any começou a contar toda a história, desde o começo quando Dulce começou a trabalhar até o episódio de poucas horas atrás. Quando terminou, Kirias já estava com o carro parado na frente do seu apartamento.

– Quer subir? – Kirias indagou. – Vai chover bastante agora e eu acho que a Dulce não vai voltar para casa hoje.

 – Eu acho meio arriscado.

 – Confie em mim, ela não vai fazer nada. – Disse, saindo do carro e levando Anahi até o apartamento do trio destruidor, que não estava lá tão desarrumado assim por causa da diarista que contrataram.

Quando Any entrou no local, ela sentiu os seus pêlos se arrepiarem ao sentir o cheiro de Dulce pelos cômodos. No sofá estava Juliana, lendo uma revista e bebendo um pouco de leite.

 – Any! O que faz aqui? – indagou a ruiva, erguendo sua cabeça.

 – Ela está precisando de conselhos, Juliana. – Kirias falou, sentando-se no sofá.

 – “Ótimo! Eu vou pedir conselhos para as melhores amigas da minha namorada na casa dela ainda. Que estúpida!” – pensou, sentando-se ao lado de Juliana com um olhar mal humorado.

 – O que houve? – indagou a ruiva. E Kirias começou a contar toda a história que Anahi havia lhe dito, com todos os detalhes, mas de forma mais rápida e isso durou poucos minutos. Quando terminou, a dupla voltou a olhar para Any.

 – Entendi, então você está brava pela Dulce nunca te dar sinal de vida, mas por ela ter tempo de sair com outras pessoas. – Juliana comentou – Eu te entendo, Any. Eu fico puta quando vejo a Leona saindo com aquele interesseiro.

 – Juliana! Nós estamos falando da Any agora. Nada de colocar os seus problemas na conversa!

 – Ah, é verdade. Eu acho que você deveria manter sua palavra, Any. Se você diz que vai terminar com a Dul, então vá e termine e depois pense no que quer. Claro que se quiser voltar, vocês voltarão. Agora não fale que vai terminar e depois mude de idéia em cinco minutos. – falou a ruiva. – Nós convivemos com a Dul faz muito tempo e sabemos que ela é do tipo que se estressa facilmente e que quando coloca uma coisa na cabeça, dificilmente conseguimos tirar.

Any ficou um pouco confusa com o conselho de Juliana, mostrando uma expressão fácil que demonstrava que não havia entendido muita coisa.

– O que a Juliana está querendo dizer é que a Dulce é uma idiota explosiva que precisa tomar uma vez na cara com muita força para saber que não está sempre reinando!

Juliana e Anahi se olharam e depois encararam Kirias querendo saber de onde ela havia arrancado aquele tipo de conclusão.

– O que eu faço agora? Eu sinto que sou a única a estragar tudo.

 – Não é verdade. – disse Juliana, para a surpresa de Any. Desde quando Juliana sabia aconselhar? Ou melhor, ela não fazia idéia que a ruiva podia ter esse tipo de maturidade, pois sempre se aconselhou com Kirias quando estava mal em seu relacionamento, mas isso vem do fato de sempre conseguir encontrar Kirias nos lugares mais incomuns no globo terrestre.

 – Mas eu estou sempre brigando.

 – Quando Dulce está sempre brigando, aí sim está tudo bem, certo? Olha, coloque sua cabeça no passado. Vocês sempre brigaram pela Dulce ser ciumenta e tentar mandar em tudo. Por brigar com você com coisas tolas e agora você não pode mais exigir esse tipo de relacionamento que ela mesma impôs, porque ela é a bola da vez.

 – Pensando bem, os papéis se inverteram. – Kirias comentou, chamando a atenção da loira. – Any sempre aparecia com uma garota querendo ficar com ela e a Dulce ficava louca e mandava tudo para o espaço com sua paciência dos deuses. Agora que ela está livre, rica, feliz, com fama e um monte de gente no seu pé, ela acha que pode agir de outra forma.

 – Mas o problema é que quando Any queria sair e se divertir com os amigos da faculdade, a Dul deu a louca e pediu para parar com tudo. Ela interveio e arrancou Any dos braços de qualquer pessoa e até a agrediu, como também a traiu quando ficou mais insegura. – Juliana disse, recebendo o olhar perplexo de Any que não acreditava que estava ouvindo sobre sua vida tão tranqüilamente sob o olhar daquela dupla. - Então elas voltaram ao normal, sendo a Dulce o macho do relacionamento e a Any quietinha ao seu lado...

 – Mas... – Kirias continuou o rumo da conversa, - agora tudo ficou invertido e ela não quer abrir mão do que tem para voltar a um relacionamento que também não está muito feliz. – Kirias comentou.

 – Não está feliz? – Any indagou nesse momento, sentindo seu coração apertar.

 – Claro que não está. Vocês vivem brigando, poucas vezes se encontram, quando conseguem ficar sozinhas, geralmente os amigos estão juntos ou então estão brigando. Isso não é nada feliz ao meu ponto de vista. – Juliana comentou, passando a mão por sua franja ruiva.

 – Concordo com você, Juliana! Any, eu já sei como acabar com os problemas.

 – Sabe? – Juliana e Any indagaram em uníssono.

 – Sim. Largue a Dulce e fica comigo, eu vou te fazer feliz e não vou te trocar por nenhuma ex-namorada e nem por um seriado idiota! – sorriu triunfante, enquanto recebia o olhar de morte de Any e Juliana.

Mas Kirias já estava com um novo relacionamento que parecia estar dando certo por enquanto. Portanto não falava sério. O celular de Any voltou a tocar, ela ficou olhando para o aparelho, sentindo calafrios correrem por seu corpo. Kirias puxou o aparelho de sua mão e atendeu para o desespero de Any e Juliana.

– Finalmente você atendeu! Onde você está!?

 – Oi, Dul!

 – Ki-Kirias? O que está fazendo... Ah! Esquece. Onde vocês estão?

 – Não te conto. O que pensa que está fazendo, Dul? Saindo assim com sua ex-namorada.

 – Ah, você também vai me encher o saco com isso? Olha, isso não tem nada haver com sua vida, Kirias, passe para Any.

 – Ela não quer falar com você. Não percebeu isso ainda?

 – Eu juro que vou te bater quando chegar em casa se você não deixar eu falar com a minha namorada!

 – Ah, tudo bem, com um pedido tão gentil.

Kirias estendeu o aparelho para Any que com cuidado o colocou na sua orelha.

– Alô...

 – Finalmente. Onde você está?

 – Não quero falar.

 – Acha divertido me fazer de gato e sapato? Eu estou na frente de seu prédio, embaixo dessa chuva te esperando há duas horas!

 – Você devia ter ido para a sua reunião.

 – Eu vou amanhã! Outro dia, que seja! Agora eu quero falar com você.

Any não sabia o que responder e seu olhar choroso comoveu Juliana que puxou o aparelho celular.

 – Oi, Dul!

 – Ju-Juliana? Mas... Ah! Esquece. Onde é essa reunião?

 – Se Any não quer falar, eu não vou fazer isso. Eu acho que você poderia se acalmar um pouco, ela está assustada aqui.

 – Ela que não devia me falar tanta besteira.

 – Como se você fosse uma santa, Dul!

 – Olha! Eu não quero minhas amigas me apunhalando pelas costas num momento como esse.

 – Que momento, Dul?

 – Por que estão todos contra mim? Minha namorada, minhas amigas! Todos querem que eu largue o que estou fazendo. Vocês não conseguem parar de pensar somente em vocês?

Any e Kirias se olharam quando ouviram essa parte da conversa. Dulce gritava alto suficiente para que as demais pudessem ouvir.

– Somos egoístas com quem gostamos, Dul, você devia saber disso. Any está infeliz com você e isso não vem de agora. Você sabia que seu amigo Marco pediu para a Any...

– Não, Juliana! – Any gritou.

Nesse momento ela puxou o celular da mão da ruiva que queria terminar de falar, Kirias entrou no meio da luta, tentando puxar o aparelho e pedir para Any e Juliana pararem de discutirem. Do outro lado da linha Dulce estava tensa, ouvindo a voz de sua namorada pedindo para devolver o aparelho, Juliana dizendo que tinha que contar “aquilo” e Kirias ameaçando bater nas duas. No final, Kirias venceu e ficou com o celular.

– Kirias?

 – Oi, Dul.

 – O que foi isso? O que a Juliana ia falar?

 – Ele ia falar que o marco... Ah! Any me larga! O marco... Juliana segura a Any ou eu vou bater nela!

 – O que tem o marco? Que saco!

 – Ela pediu para a Any... Ah! Droga, me solta, Any!

 – O que ela pediu para a Any?

 – Pediu para a Any se separar de você, porque você está muito chateada com as brigas que estão ocorrendo e que a Any está atrapalhando você por inveja e ciúme. Mas a Any não queria te falar isso para que você não se irritasse e...

 – Eu já sabia disso, ele me contou.

Kirias ficou paralisada diante daquela resposta seca, ela olhou para Any e Juliana que não haviam ouvido a resposta de Dulce, pois estavam mais entretidos se batendo.

– Você já sabia? – indagou, olhando para Any e Juliana que pararam de rolar no chão.

 – Sim, ele me contou. Marco não faz as coisas em segredo, ele me fala abertamente o que pensa e o que quer fazer.

 – E você nem sequer... falou com a Any sobre isso depois?

– Não era necessário. Any me entende.

 – Dul, você sabia disso e nem ligou para os sentimentos da sua namorada. Agora eu estou entendendo... Para quê falar com a Any sobre isso, não é mesmo? Talvez a Any quisesse conversar e desabafar e você estava ocupada demais para ver os outros a sua volta.

 – Não me venha com seus discursos, Kirias. Eu só quero a minha namorada agora. Será que dá para vocês o liberarem para mim? Ou eu vou ter que esperar na fila?

Kirias desligou ao ouvir aquilo, tratando de jogar o celular de Any em cima do sofá, ela fechou os olhos e massageou suas têmporas, tentando manter a calma.

– O que ela disse, Kirias?

– Você ouviu, Any, você ouviu, estava alto o suficiente para você ouvir. – falou, saindo da sala.

Juliana ajudou Any a se levantar, pois a mesmo estava estática após ouvir parte da conversa que Kirias teve com sua namorada. E nesse momento Any não se agüentou, ela deitou a cabeça no braço do sofá e ali mesmo começou a chorar.

– “Droga, eu não queria que tudo tivesse ido por esse lado. Agora eu sei que realmente podemos nos separar” – pensava com tristeza. – “Mas eu acho que serei a única a ficar triste com isso. Era mais fácil Dulce ter a mim, rica, apaixonada, idiota e cega por ela. E agora ela tem tudo. Pra quê ficar com a namoradinha de escola?”.

 – Any, eu não sei o que está pensando, mas eu imagino que esteja colocando defeitos em você e na Dul. Não se torture, vá até meu quarto e deite lá, não vamos te deixar sair desse jeito. – falava, enquanto puxava Any pelo braço, que aceitou tudo de boca fechada e cabeça baixa, deixando Juliana lhe colocar na sua cama. A ruiva retirou seu tênis e sua jaqueta jeans, ajeitando-a no colchão. – Eu estou vendo que você está pálida. Eu sei que não comeu nada e sei que não quer comer nada agora também. Mas um pouco de leite com chocolate vai te fazer bem, por favor, beba quando eu trouxer.

 – Tudo bem... eu beberei.

Juliana suspirou e saiu do quarto, quando chegou na cozinha, Kirias estava lá, pegando um pouco de água.

– Que complicação, não é mesmo? – Juliana comentou, enquanto preparava o leite para Any.

 – Dul acabou com tudo no final.

 – Mas somos amigas dela também.

 – Eu sei, todavia não temos que concordar com tudo que ela faça.

 – Mas podemos apoiar. Se ela não dá tanta importância a Any, então não tem o porquê de ficarem juntas. Elas só vão se magoar.

 – Ela foi bastante fria agora.

 – Ela está irritada, Kirias. Claro que vai falar coisas ofensivas, mas ela sempre foi assim. Nós três somos assim.

 – Eu tenho pena da Any, por isso sempre tive simpatia por ela. – Kirias comentou, sentando-se numa cadeira. – Ela nunca teve família ou amigos. Apareceu sozinha naquele colégio e conseguiu enfrentar tudo. Quando penso no que aconteceu com ela e a diretora, eu acho que Dulce tem um débito que jamais conseguirá pagar.

 – Aquilo foi feito com amor, coisas desse tipo não têm pagamento, não existe quantia, não existe nada que retribua tanta dedicação. – comentou, enquanto mexia o leite e o chocolate, misturando-os com atenção. – Mas somos novas demais para nos prendermos para sempre a uma pessoa.

 – Você fala de um jeito, Juliana. Então você tem a consciência que talvez não ficará com sua prima para sempre?

 – Se eu te disser que sim, você ficaria assustada?

 – Não, não ficaria, eu passei isso com minha irmã. Foi doloroso. – disse, enquanto mexia num dos brincos da sua orelha, puxando o metal para fora, causando um pouco de dor.

 – Eu tenho mais consciência sobre as coisas agora. Se eu ficar com Leona para sempre, eu serei muito feliz dentro dos sentimentos que eu tenho agora, por isso eu não brigo mais com ela, eu não tento forçá-la verdadeiramente a parar de ver aquele homem, eu quero que esse sentimento forte dure o máximo possível.

 – Você fala isso com grande mágoa, Juliana.

 – Eu sei que amores vêm e vão, Kirias. Eu já amei muito e perdi o amor da minha vida. Agora, eu amo muito a Leona, e quase a perdi também. Isso machuca e nunca cicatriza. – suspirou. – Eu sei que isso nunca vai cicatrizar, não tem como esquecermos as dores. Mas temos que ser maduros o suficiente para aceitar que as coisas têm um fim e terminar elas com dignidade.

 – Está falando de Any e Dulce de novo? – sorriu de canto. – Acha que elas deveriam perceber que viver brigando não vai conseguir congelar o sentimento que elas têm agora? Quer dizer que os sentimentos que elas tinham no colégio morreram e que agora elas têm que aceitar isso e dar um final nessa relação?

 – Seria o correto.

 – Mas nem sempre o correto é o certo a se fazer. Não somos perfeitos, nós humanos gostamos de ir ao limite, Juliana. Nós queremos sentir dor, amor, tristeza e a mágoa corroer nossos ossos até nos sentirmos satisfeitos ou então falidos. Sem sentimentos de grande peso, nós humanos não conseguimos viver. Ódio, amor, raiva, nós precisamos de tudo isso.

 – Você e sua filosofia. – riu baixinho. – Eu aceito sua opinião, mas não consigo concordar.

A dupla conversava sabendo que havia mais uma ouvinte naquela conversa, Any estava sentada no chão da cozinha desde o começo, ouvindo em silêncio, ficando surpresa com o jeito delas pensarem. Aquelas duas viviam a vida loucamente, elas tinham consciência que os sentimentos estavam soltos e que elas os pegariam com o passar dos anos, sabendo também que com o tempo tudo mudava e que nada poderia ser para sempre, mas isso não quer dizer que não fosse verdadeiro enquanto estavam vivendo. Viver um relacionamento feliz até que ele se acabe é perfeito, pois os sentimentos foram selados, mas diante da argumentação de Kirias, os humanos têm a necessidade de acabar as coisas com intensidade. Todavia a felicidade é sempre muito bem-vinda, então ninguém seria louco de acabar com a mesma, mas se forçá-la ao seu máximo, um sentimento paralelo de tristeza e ódio começa a se imprimir. Sentimentos nunca estão sozinhos, com esse pensamento nada é eterno, pois um anula o outro. Ódio, amor, raiva, compaixão, todos servem para equilibrar. Humanos nascem sozinhos, morrem sozinhos, talvez essa seria a resposta de todos os males, apesar de dolorosamente solitária.

Com o passar do tempo, Any tomou o seu leite e voltou para a cama de Juliana, ficando ali por um longo tempo, pensando nas palavras de todos e ouvindo seus próprios sentimentos até que adormeceu. Anoiteceu e a porta do apartamento se abriu, Dulce entrou ensopada, olhando para a dupla que estava sentada no sofá, assistindo a um programa de televisão. Dulce não disse nada, ela foi diretamente para seu quarto, logo tomou um banho e vestiu roupas leves, indo até o cômodo central, onde todas estavam. Ela sentou-se numa poltrona que ficava próxima a Juliana e ficou olhando para o programa durante um tempo. Às vezes Juliana comentava alguma coisa com Kirias e esta respondia e ambas riam. Dulce não ficou muito tempo atenta a suas amigas, seu celular tocou, ela atendeu a sua ex-namorada. Elas trocaram algumas palavras e Dulce logo desligou, tendo a atenção de Juliana e Kirias dessa vez.

– Era sua ex-namorada? – Kirias indagou.

 – E se for? Vai me recriminar agora? Eu estou puta com vocês!

 – Não deveria. Nós cuidamos bem da Any ela estava bem chateada. – Juliana disse, enquanto bocejava.

 – Fala como se ela fosse uma criança perdida na rua! Ela saiu do meu carro!

 – Eu sei, ela falou tudo que aconteceu para gente. – Kirias se pronunciou – Sabemos todos os detalhes, não precisa mais falar.

 – Ah, sabem os detalhes que ela falou.

 – Na verdade, ela se criticou demais. Disse que foi infantil e idiota, saltou do seu carro, quando você queria conversar como uma adulta. – Juliana comentou – Não, ela não tentou se defender e nem te acusar de nada, apenas disse que estava se sentindo sozinha e agiu imprudentemente quando te viu com sua ex-namorada, que por acaso ela não gosta.

 – Só porque ela enxergou seus erros, agora quer dizer que eu sou a culpada dessa história!?

 – Não, Dul. Ela é culpada também, assim como você. Todo mundo é, não existe o mais culpado e se existir, eu acho que vocês não deveriam perder tempo em procurar e tentar pensar em como ajeitar esse relacionamento sem se magoarem. – Juliana disse com impaciência.

 – Ah... você tem razão. – Dulce ponderou, passando a mão por seu cenho – Eu estou podre. Acabei indo para uma reunião, tive que ler um livro gigante que ainda não terminei, também falei com um monte de gente desconhecida e cheguei ensopada. Não é um bom dia.

 – Então vá dormir. – Kirias disse.

 – Eu queria falar com a Any. – disse, pegando seu celular, ligando para o número de sua namorada e para sua surpresa o aparelho de Any estava em cima da mesa a sua frente. – Ah... então... então... vocês estavam aqui!? – indagou com surpresa, pegando o aparelho.

 – Claro, se você pensasse um pouco, Dulce. – Kirias comentou – Eu estava na rua e a Juliana sempre vem para casa depois da faculdade. Juliana e eu não saímos nesse horário, o lugar que nós estávamos era silencioso. Claro que estávamos aqui!

– E você a trouxe aqui?

– Ela não queria ir para casa de jeito nenhum, ia chover, ela estava com cara de choro. Qual seria a melhor opção?

 – Hum... e você a levou para casa? – Dulce indagou.

 – Não.

 – Não!? Deixou ela ir sozinha depois de falar que ela estava sensível e chorosa?

 – Não. – tornou a responder.

 – Então Juliana a levou?

 – Também não. – Juliana respondeu.

 – Ela foi de táxi?

 – Não. – a dupla respondeu em uníssono.

 – Ela não saiu daqui?

A dupla balançou a cabeça negativamente. Dulce deu um salto do sofá e olhou ao redor, ela foi até o quarto de Kirias, vasculhou e não achou nada, depois foi até o quarto da ruiva, aproximando-se da cama, encontrando a sua namorada que dormia em paz.

– Eu queria mesmo dormir, então a leve para o seu quarto. – Juliana disse, entrando no cômodo.

OoO

Continua...