Fanfic: A garota e o soldado (Vondy) | Tema: RBD Vondy

   As semanas se passaram como se o tempo fosse irrelevante. Ucker já havia sido enviado em companhia de sua tropa a cidade de Timbuktu e seu coração apertava a todo momento. Parecia que ele era capaz de sentir o que Dul passava. Aquelas semanas tinham sido bem difícies para a ruiva, que passou por todo um treinamento necessário para ingressar de vez na Legião Estrangeira. Ela que quase morria em suas aulas de educação física para fazer flexões, abdominais e polichinelos, agora era uma profissional em exercícios militares. Tinha emagrecido alguns quilos e era difícil se acostumar com aquela comida que era servida no refeitório, ou com as bandejas de alumínio em que eram servidas. Mas o mais difícil de todas as dificuldades era ficar distante da família, dos amigos, de seu quarto, de sua cama. Era como estar num mundo diferente, estranho a si, onde você nao conhece ninguém direito, onde você não sabe em quem confiar. Onde você deita todos os dias sem saber o que esperar do dia seguinte, esperando uma ligação ou uma notícia ruim. Era horrível para Dul deitar todos os dias com dores musculares terríveis, sem ter ninguém pra conversar e lhe apoiar e ter que segurar o choro, como se fosse a mulher mais forte do mundo. Agora ela entendia o que Ucker passava e não via a hora de terminar sua fase de treinamento, para ser mandada para a missão onde, diziam pelo regimento, estavam os soldados dali.

- Ei, Saviñon. Chegou carta pra você. – Uma loira que Dul não recodava o nome, uma americana bem simpática e ótima enfermeira por sinal, apontou para o homeme que estava na porta com um monte de cartas empilhadas. Ela caminhou até o carteiro, tinha certeza que era Annie, Maite ou Juan, mas se surpreendeu ao pegar no papel e ver o nome de seu namorado. Seu coração falhou. Como Ucker sabia que ela estava ali?

- Ei! – Dul chamou o carteiro. – Você fala minha língua?

- Sim. – Ele sorriu. – Posso lhe ajudar?

- De onde veio essa carta? – Dul mostrou a carta ao homem e ele olhou.

- Não tem endereço. – O carteiro fez um bico. – Mas ela foi enviada para a sua casa e depois, reenviaram pra cá. Disseram que você agora morava aqui.

- Ah tá. – Ela suspirou, aliviada. “Pai”, pensou. Pensou em seu pai recebendo uma carta direcionada a ela e dizendo que agora a filha morava num quartel, na iha de Córsega. Dul sentiu o coração apertar. – Obrigada.

- Nada. – O homem piscou e saiu, Dul ergueu as sobrancelhas. Todos os soldados dali, de todos os cargos pareciam querer conhecer as enfermeiras novas, particulamente quando se tratava de Dul. Nem todas as enfermeiras eram bonitas e novas como ela.

   Ela rasgou o envelope com rapidez, encontrando uma folha amarela dobrada dentro. Quando abriu, viu a letra do namorado e seu coração acelerou. Ucker tinha escrito aquilo há mais de vinte dias e antes de ler, ela sentiu os olhos arderem.

   “Querida Dul, a saudade que sinto agora já não cabe mais dentro de mim. Sei que deve estar enlouquecendo querendo notícias minhas e que desde aquele dia na rodoviária não nos falamos mais. Me desculpe por isso. Estou bem, pelo menos até agora. No dia em que cheguei no regimento, mal pude guardar minhas roupas, eu e Chris fomos convocados diretamente pelo general para irmos numa missão suicida em Timbuktu com mais uma tropa de legionários de bases e regimentos diferentes. O nosso regimento foi o principal, como a elite dessa missão. O bom é que nos foi prometido que essa será nossa última missão. Assim, quando isso aqui acabar, não importa o dia, pode até ser antes de completar um ano, ele mesmo assina o meu contrato e me libera com uma medalha de honra dourada no peito. E eu não tenho opção, esse é o tipo de coisa em que te obrigam a ir. Missão suicida, foi isso mesmo que escrevi. Sei que não deveria usar esse termo, porque isso só vai te assustar mais ainda e lhe causar pesadelos a noite, mas não acho justo faltar com a sinceridade contigo. Você merece a verdade, mesmo que essa doa. Chris disse pra não se preocupar, que logo estamos de volta, lindos, inteiros e gostosos. Agora ele está aqui do meu lado, com mais dezenas de soldados, que nesse momento escrevem cartas desesperadas para seus familiares. Exatamente, aqui não há sinal para celulares, nem notebooks, nada que possa me manter em contato com você, além dessa folha de papel. É um deserto quente e seco, o ar é denso e sufocante. Me dá vontade de vomitar só de ver essa cor de areia, e eu caminho como se estivesse preso num globo, andando em círculos infinitos. Tenho que estar sempre atento, porque há muitos inimigos por aqui. Terroristas que tentam dominar esse território, armadilhas, animais e acima de tudo, o medo. O medo é meu maior inimigo e companheiro nessa missão. Para falar a verdade, eu nunca tive medo em nenhuma missão, mas essa me causa calafrios e às vezes, tenho que ter muito autocontrole para não deixar as mãos e as pernas tremerem. Temo que essa seja a última carta que poderei lhe enviar. Eu não quero me despedir, mas já que é uma questão de necessidade e segurança, gostaria que você soubesse o quanto foi importante pra mim e o quanto ainda é. Gostaria de abraçar você e beijar você e sussurrar em seu ouvido o quanto te amo. Mantê-la a salvo e em segurança para sempre e sempre e ter um filho com você, um não, uns cinco filhos com você. Te ver entrar de branco numa igreja, sob um tapete vermelho e comprido. Te beijar no rosto, no pescoço, nos lábios, mas principalmente, beijar você depois que nós dois disséssemos “aceito” no altar. Eu queria ter toda uma vida com você e sei que prometi isso diversas vezes, mas não sei se posso cumprir agora. Olho a minha volta e vejo que em tão pouco tempo já perdi alguns amigos, baixas já foram dadas e sangue de homens bons correram sobre a areia. É triste, eu imagino o quanto, mas por favor, continue sendo essa garota linda e maravilhosa pela qual me apaixonei e essa mulher forte e guerreira que eu amo mais do que tudo no mundo. Seja a garota do soldado, a ruiva que sorri e ilumina tudo, seja feliz por mim. Eu te amo, Dul, independente de tudo. Independente de suas escolhas, de nossas escolhas, independente do que acontecerá amanhã ou depois, você sempre será a única na minha vida. E o que eu mais queria agora era estar olhando nos seus olhos para ter certeza que tudo ficará bem. Você me traz paz, uma paz tão boa, um alívio para o meu coração. Eu só continuo lutando por você e obrigada por ter me dado a honra de ser seu, de ser o seu soldado. Sou um homem feliz, realizado e bem melhor por causa disso. Um dia nos encontramos, nessa vida ou em outra. A razão por que a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido e sempre serão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas, nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prólogo do que virá. Com amor, Christopher Uckermann.”

   Lágrimas caíam com muita facilidade do rosto de Dul e ela sentiu seu coração se despedaçar como migalhas, sua respiração acelerou e ela sentiu que seu corpo fraco logo ia desmaiar. Não tinha ar, não tinha chão, não havia nada em que se segurar. Havia apenas um vazio, um buraco, um torpor. Quando levou a mão até o peito, tentando abafar a dor que latejava, a notícia veio. Forte como brisa de tempestade, venho como se esperasse sua deixa, a notícia chegou.

- Dulce, Dulce! – A enfermeira que agora era amiga de Dulce, uma negra com olhos verdes, chamada Luna, entrou correndo no alojamento, gritando. Ela era a única que sabia o que levara Dul a se inscrever na Legião Estrangeira. – Nós vamos para Timbuktu, vamos para a missão em que os soldados estão. O general acabou de convocar nossa tropa, eles precisam de enfermeiras lá com urgência. Dul, você vai encontrar seu soldado! 

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